sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Inauguração da exposição "Pintura a Duas Mãos" de Rui Mantero e Manuel Pereira Bernardes, no espaço Santa Catarina

                                      

A exposição Pintura a Duas Mãos de Rui Mantero e Manuel Pereira Bernardes inaugurada no espaço Santa Catarina à Calçada do Combro, Lisboa,  atraiu pelas suas pinturas bastantes pessoas, e como quaternário bem fundamentado que é  gerou o quinário do "gosto-compro", e logo do sucesso, o trunfo pentagonal, a estrelinha da ventura assinalada por tantos artistas sobre a fronte ou cabeça.

   
 O feito é de se realçar porque, realizadas durante um ano, as 45 pinturas nasceram todas de um parto a dois,  realizadas a duas mãos,  com tal perfeição unitiva psico-somática e artística que qualquer observador mais analítico terá  dificuldade em discernir a autoria das sucessivas estações do processo criativo, agora fixadas nos quadros expostos no amplo rés-do-chão dum palácio setecentista,  metamorfoseado em galeria, dinamizada excelentemente pela Letícia Gonçalves, do Espaço  Santa Catarina.

Santa Catarina,  a mártir e protectora dos livreiros e impressores, com a sua Igreja e culto a uns escassos metros, e  mesmo uma procissão onde há anos participei sob o estandarte do Amor ao Livro, que naturalmente numa das pinturas surge representado com desdobramentos pluridimensionais bem originais e subtis.

A abertura às dimensões subtis e religiosas por parte dos dois artistas é evidente pelas ideias e arquétipos que os inspiraram e que estão patentes nas formas, cores, conjuntos, perspectivas, dinamismos e, naturalmente, os títulos ou legendas, estas inegavelmente um bom contributo para a leitura mais orientada e logo mais profícua do que os autores intuíram ou quiseram transmitir.

Lazarus foi o nome dada a uma das pinturas mais poderosas e que pode ser vista como um quaternário aberto, um portal pluridimensional, arrancando-nos das nossas identificações ao corpo físico-cerebral e  suas limitações espaço-temporais e impulsionando-nos ao ressuscitar no corpo espiritual, tal como Jesus realizou. Para mim, a melhor pintura, ou mais operativa, da Exposição.

A Barca de Isis, o Shaman, o Bem e o Mal, Lótus Azul, Dançar ao Luar, Lazarus e alguns outros convidam-nos pois a contemplar (e, idealmente, demoradamente), bem plasmados a duas mãos e almas arquétipos poderosos, belos, decisivos, sempre interpelantes, e a deixar-nos mover, raptar por eles, donde o culto imortal da Arte, ou como o notável pintor russo Nicholai Roerich escreveu «Através da Beleza oramos, através da Beleza unimo-nos!”

                         

A exposição estará visível de 3 a 11 de Outubro, das 14 às 20 horas, mas encerrada aos fins de semana.

O Manuel Bernardes, junto a um poderoso portal.

A Gabriela, e duas pintoras, a Maria Freitas e a Ana Ribeiro
                                                     

O pequeno ("small is beautiful", de Schumacher, sempre actual)  e muito belo catálogo da exposição contem um texto dos dois pintores, e da Joana Leitão de Barros e meu, que merece ser transcrito, por ora em parte:
«Todas
as pinturas são feitas a duas mãos pelos artistas Rui Leitão de Barros Mantero e Manuel Pereira Bernardes. Trabalham juntos desde 2018 e esta será a terceira exposição da dupla de artistas. Mantiveram o anterior processo criativo, em que cada um recebe a transforma o desenho e a pintura do outro, intervindo de imediato, em total liberdade, deixando fluir a criatividade. Tudo se passa «num observatório experimental, o nervo da espátula no ritual do improviso, até ao encontro luminoso entre o eu e o outro» escreve a MBRM, a entidade que nasce dessa proximidade. O processo foi comentado por Pedro Teixeira da Mota em 2019: «pinturas que resultaram de um trabalho a dois (...) e da entidade que eles geraram no seu tão artístico, fraterno e persistente conúbio alquímico (...) qualquer crítico de arte que visitasse a mostra-exposição não daria conta que as pinturas provinham de duas mão, duas almas que convergiram para o ovo primordial.

A alegria da transformação. Experiência a duas mãos, com troca simultânea e intervenção mútua, em plena liberdade, deixando fluir a criatividade.
Num observatório experimental, o nervo da espátula no ritual do improviso, até ao encontro luminoso entre o eu e o outro.
A procura da harmonia em duas fases, com aparições espontâneas do inconsciente
É a in
tuição que dá a vida à criação.»