sábado, 1 de julho de 2023

Dalila Pereira da Costa, "A Nova Atlântida", A Saudade e os Anjos. Com video de leitura e comentários de Pedro Teixeira da Mota.

A investigadora das raizes religiosas, mágicas e espirituais de Portugal Dalila Pereira da Costa (1918-2012) deu à luz em Outubro de 1977, na portuense Lello & Irmão,  a sua sexta valiosa obra, A Nova Atlântida,  muito rica de intuições e sugestões  pelo que resolvi ler, comentar e gravar (30 minutos, pano de fundo fixo) um dos pequenos subcapítulos, muito profundo na aproximação à saudade e muito subtil na aproximação aos Anjos,Intitula-se A Saudade e os Anjos, e pode ouvi-lo no fim deste artigo. 

O exemplar utilizado pertenceu a Aldegice Machado da Rosa, uma psicóloga Jungiana e comum amiga, que morara em Reguengos Monsaraz e depois no Louredo em Évora, onde a fui visitar em 2020, com o Alfredo Cunhal Sendim, para que este a pudesse conhecer já que ela fora uma grande amiga de Agostinho da Silva. Na altura ela ofereceu várias obras de Agostinho ao Alfredo e a mim esta da Dalila, que continha a sua dedicatória e um cartão (que vim a descobrir depois, com referências a Leite de Vasconcelos, Agostinho da Silva e Almir Bruneti), e que eu lhe pedira, já que emprestara e perdera o meu exemplar. Quanto às cartas que Agostinho da Silva lhe escrevera lamentou não as poder oferecer ao Alfredo, já que as queimara. A correspondência entre ela e a Dalila, essa sobreviveu já que a Dalila era uma excelente arquivista e copiou quase todas as cartas que escreveu ao seu luminoso círculo de amigos e amigas, preservando-as junto as que recebia. Espera-se para breve a publicação pela Universidade Católica do Porto, detentora do seu espólio.

"Para a Aldegice, minha amiga, na partilha dum amor e vida consagrada à nossa terra-mãe, com um abraço fraterno, Dalila."
A obra está dividida em quatro capítulos, em que a sua erudição comparativista espiritual dá as suas primícias, havendo até críticas já muito bem fundadas às limitações do budismo e do protestantismo. O I intitula-se Saudade e o Ouro de Delphos ou Apolo hiporboreo e o Santo dos Painéis. O II Seis poetas Portugueses. O III Para a Temática de Fernando Pessoa. E o IV Actualidade do Espinosismo e Tradição Portuguesa, todos eles contendo muitas análises valiosas a escritores e obras do  passado e conclusivos vaticínios, ou pelo menos aspirações e esperanças, para a grande alma portuguesa e a sua missão redentora.

                               

Foi do I capítulo que li e comentei um dos subcapítulos, A Saudade e os Anjos, e agora transcrevo apenas os parágrafos mais valiosos de serem meditados: primeiro, os dois iniciais: 

«Porque nunca os anjos foram tão activos como agora. É para isso que eles agora tão insistentemente apelam, chamam. Servindo, entre céu e terra, vida e morte, passado e futuro. E nestes, entre um mar e outros, o Mediterrâneo e o Atlântico.
São eles c
omo anjos da morte e da vida, do fim e do começo, que andam destruindo inexoráveis e violentos um mundo velho à nossa volta para os anúncios dum outro, novo.»

Um arcanjo guerreiro, por Nicholai Roerich.

Quão actual face à grande luta que se trava mundialmente entre o imperialismo anglo-americano e um mundo multipolar, mas também face a todos nós nas suas escolhas, modos de vida e mentalidades.

E dos parágrafos já para o fim: «E também então se revelará a verdade da saudade.
Como força de recordação e expectação. De ligar tempo, passado e futuro, e espaço, terra e céu. E então agora, verdadeiramente ela vai ser a "saudade do céu e da terra".
Depois
de ser nostalgia grega e saudade lusíada, mediterrânea e atlântica, ela vai-se também ultrapassar a si mesma. Tal como o homem [ou ser humano]. E terá um novo nome. De nós ainda desconhecido. Mas que os anjos, eles, já o sabem e agora. E o guardam no recesso do seu coração de fogo. Como palavra que por enquanto, se a ouvíssemos, ela nos destruiria.
Adivinhamo-la,
talvez, em momentos, de tremor, como ressonância, num certo frémito passado nas suas asas. Porque eles sabem, e esperam pelo homem que há de vir, mais sábio, poderoso, para quem, poderá e deverá ser revelado por fim essa palavra terrível, de força, angélica. Porque então  angélico também será o homem. Por isso, por enquanto, eles esperam, a calam e guardam. No segredo, do futuro. (...)».

Embora haja uma certa mistagogia na ameaça de destruição se soubéssemos o nome, derivado da carga das suas leitura bíblicas,  já o último parágrafo é muito certo intimamente, e sabe-o quem conheceu o Anjo, tal a Dalila  e, bem meditado, pode dar frutos de vida eterna, ou seja de acesso aos planos espirituais. Oiçamo-lo de novo: "Adivinhamo-la [tal palavra, essência e vibração que o Anjo detém], talvez, em momentos, de tremor, como ressonância, num certo frémito passado nas suas asas".

E quantas almas portuguesas estarão hoje prontas a intuir o nome, ou sermo, e qualidade consciencial e vibratória, e a realizar o vaticínio da nossa querida amiga Dalila Pereira da Costa?  

Não descuremos pois a oração e a meditação deste futuro desafiante e misterioso que  desafia um a um a realizar melhor o seu dever, swadharma

Muita luz e amor nela e no seu círculo subtil de almas amigas e irradiantes!

                   

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