Um texto escrito num diário de 2006, em 16 de Março, e agora transcrito e acrescentado no fim, como pode conferir.
Não há melhor maneira de acordar que ir descerrando as pálpebras e deixar o lume dos olhos dar com uma prateleira cheia de livros, que na luz crepuscular emerge palpitante de corpúsculos que nos atraem, e tentarmos intuir qual é melhor livro para lermos.
Estantes
pausadas ou serenas, amigos fiéis, de todos os tempos e mentalidades, eis os livros ao nosso dispôr.
Esticar a mão e colher um, trazê-lo até ao nosso peito, e abrir a portada e deixá-lo falar à nossa alma, na sua língua, na sua sabedoria e criatividade.
Com eles muito aprendemos pois, se falam verdade, retêm-nos, enlaçam-se e transmitem-nos os seus ensinamentos.
Há os que nos desafiam a vermos longe, a discernirmos as ascensões e quedas, as lutas e manipulações, as causas (frequentemente ocultas) dum país ou do género humano evoluir ou degenerar. São sempre actuais. Há outros que nos harmonizam, enriquecem, serenam, elevam e, finalmente, os que se dirigem à nossa profundidade anímica e tentam que consigamos senti-la e conhecê-la melhor, ressuscitarmos espiritualmente.
O
grande desafio intuitivo é sabermos escolher, ler e assimilar os
livros que serão mais úteis tanto à nossa harmonia e auto-realização como também
missão, ou seja, a inserção no tempo e espaço, circunstâncias e seres que nos tocam e que nós podemos tocar, melhorar.
Para tal convirá antes de estendermos a mão em direcção à prateleira e aos livros, meditarmos um pouco para sintonizarmos com o campo unificado de energia consciência e informação e logo podermos discernir o que mais quer se mostrar, dialogar, esclarecer-nos, despertar-nos ou intensificar as nossas compreensões, realizações e comunhões afectivas, gnósicas e espirituais.
Neste sentido, por exemplo, os livros com notas de posse, ou anotados, podem despertar duplamente o nosso amor e comunhão, pois são mais intimamente pontes e tornam-nos pontífices da união da terra e do céu, de nós e dos que já partiram, ou seja dos seus autores, possuidores e anotadores. Esta ligação unitiva do mundo visível e do espiritual, se é acompanhada de gratidão e adoração pode gerar iluminação ou mesmo júbilo-êxtase, unindo a Humanidade e a Divindade.
Bem aventuradas as almas que ainda erguem ou preservam entre a Terra e o Céu uma estante de livros e a cultivam, as que amam os livros e os lêem, reflectem, anotam, cuidam, partilham...
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