sábado, 24 de junho de 2023

Subba Row, o ocultista colaborador de Blavatsky e Olcott, e a sua morte precoce. No 133º aniversário dela.

Tallapragada Subba Row, 6 de Julho de 1856 a 24 de Junho de 1890. Aum!

No caderno diário da minha quarta viagem à Índia, que durou um ano, em 1995, na folha 20 anotei:
«Folheio à noite
os Esoteric Writings de Subba Row. Curiosamente morreu aos 34 anos com uma doença infeciosa de pele que em pouco tempo o desfigurou.
Um
homem considerado genial, um sábio, porque morreu assim tão
cedo, deixando uma jovem mulher viva?
Haveria algo de "castigo" pelas suas posições talvez demasiado orgulhosas ou realçadoras da posição do homem como espírito, acima de qualquer anjo ou mensageiro?
Ou
será que o seu espírito crítico recebeu reacções graves? Ou ainda o seu espiritualismo e misticismo, isolando-o eventualmente da mulher, cortaram-lhe certas forças que lhe permitiriam vencer as energias adversas?
Mistérios
, e a curta biografia que dele possuímos, da autoria de Olcott, não permite desvendar o panorama.»

Assim escrevia eu há quase trinta anos. Será que conseguiremos esclarecer um pouco mais a sua misteriosa vida e morte, dada a profusão de informação a que se pode aceder hoje tanto pelos livros como pelas publicações na rede electrónica?

A obra comprada na época encontra-se hoje 24 de Junho de 2023, dia de anos da morte ou desincarnação de Tallapragada Subba Row, ao meu lado, e com algumas indicações recolhidas na net vamos tentar clarificar o texto de 1995, e sabermos mais do destino de Subba Row, a quem desejamos muita luz e amor nos mundos espirituais.
No prefácio
da 1ª edição, de 1895, o teosofista T.T.,  lamenta não ter conseguido descobrir mais dados sobre Subba Row do que os apresentados pelo coronel Henry S. Olcott num artigo na revista The Theosophist, e lembra como Madame Blavatsky o considerava muito, consultando-o em questões complexas. E que a dado momento «lhe enviou os manuscritos da sua obra mais valiosa a Doutrina Secreta, para corrigir e alterar; mas ele declinou lançar-se em tal obra pois pensava que o mundo não estava ainda pronto a aceitar tais segredos que, por boas razões, cujo conhecimento tinha sido conservado por uns poucos de seres sagrados». 

Lembrando depois que Subba Row não escrevera  livro e só artigos para revistas, refere que em 1887, na Convenção da Sociedade Teosófica, em Madras, ele proferira umas palestras sobre a Bhagavad Gita que foram muito apreciadas e sendo por isso editadas (e podendo nós lê-las no Arquivo da Internet).
Acresc
enta que do conteúdo de tais conferências e nomeadamente por Subba Roy discordar da divisão septenária do ser humano e ter criticado a adoptada por Blavatsky, nascera uma controvérsia por escrito entre os dois, que foi incluída nos Esoteric Writings, obra que ainda assim tem 574 páginas, pois além de uns poucos artigos originais contém várias respostas ou instruções dadas por ele sobre temas filosóficos, ocultistas, budistas, vedânticos, históricos e que pode ver pela fotografias do índice deles que reproduzo:

                                    

E a seguir ao pouco elucidativo prefácio, e veremos até que noutras versões Subba Roy teria respondido que discordava de inúmeras partes da Doutrina Secreta e que se demarcava da obra, podemos ler a biografia obituária que Olcott redigiu para a revista Theosophist, em 1890.

Apresentando-o como um  jovem filósofo místico indiano brilhante, e será no fim do artigo que traçará brevemente a sua biografia, conta como ele em Abril de 1890 contraíra uma doença de pele misteriosa e que no «começo de Junho lhe enviara um pedido tocante de o ir ver, o que claro, eu fiz. Ele estava num aspecto lamentável [piteous sight]: o seu corpo era uma massa de crostas da cabeça aos pés, e não podia sequer suportar um pano sobre si, nem descansar em qualquer posição confortável, nem dormir bem. Estava deprimido e desesperado, e suplicou-me [begged] para tentar se o podia ajudar um pouco com mesmerismo. Tentei com toda a minha força e pareceu-me com algum sucesso, pois essa tarde começou a recuperar (mend) e, à terceira visita, ele e eu pensamos que já estava convalescente e assim informamos a infeliz família. Mas subitamente veio um relapso [ou retorno], a sua doença terminou rapidamente o seu curso  e a 24 de Junho às 22:00 ele expirava, sem uma palavra ou sinal para os outros acerca de si. [Tanto mais que desde o meio dia informara os que o rodeavam que iria intensificar o calor (tapas) da prática espiritual, e apenas um familiar se encontrava no quarto no momento da separação do corpo.]
Contudo Olcott anota:«ao meio dia desse dia, ele disse que o seu Guru chamara-o, e que ele ia morrer, e que ia agora começar a sua tapas (mystical invocations) e que não queria ser perturbado. E a partir dessa altura não falou com ninguém. Quando ele morreu uma grande estrela caiu do firmamento do pensamento contemporâneo indiano. Entre Subba Row, H. P. Blavatsky, Damodar e eu havia uma amizade estreita. Ele foi especialmente instrumental ao convidar-nos a visitar Madras em 1882 e ao induzir-nos a escolher esta cidade como a sede permanente da Sociedade Teosófica.»

H. S. Olcott refere depois brevemente as disputas ou polémicas com Blavatsky e de uma forma excessivamente curta, amaciadora e atribuindo-a terceiros:  «Uma disputa - de certo modo devida a terceiras partes - que se alargou para uma brecha, nasceu entre H.P.B e ele acerca de certas questões filosóficas, mas até ao fim  falou dela, a nós e à sua família, no antigo modo familiar. Quando nos vimos pela última vez tivemos uma longa conversa sobre filosofia esotérica, e disse que logo que ficasse bem, viria à Sede e redigiria várias questões metafísicas que gostaria que o senhor Fawcett discutisse com ele n' O Teosofista. O seu interesse no nosso movimento não abateu até ao fim, ele lia regularmente O Teosofista, e era um subscritor do Lucifer de H. P. B.». Veremos num próximo artigo que não foi bem assim pois as críticas que Subba Row fez ao manuscrito da Doutrina Secreta, para a qual Blavatsky queria que ele fosse co-autor ou co-editor, e as discordâncias doutrinais e metodolíco-divulgativas fizeram-no mesmo demitir-se da Sociedade Teosófica em 1888.

Henry Steel Olcott, 1832-1907.
Contudo, anos depois, nas suas memórias, consignadas nas Old Daily Leaves, vol. IV, 241-2, Olcott acrescenta outros dados sobre misteriosa morte: "No dia 3 de Junho, visitei T. Subba Row a seu pedido e mesmerizei-o . Ele estava em um estado terrível, com o corpo coberto de furúnculos e bolhas da coroa à sola, como resultado de envenenamento do sangue por alguma causa misteriosa. Ele não conseguia descobrir a causa em nada do que havia comido ou bebido e, portanto, concluiu que devia ser devido à ação malévola dos elementais, cuja animosidade ele tinha despertado com algumas cerimónias realizadas em benefício de sua mulher. Esta foi a minha própria impressão, pois senti uma influência estranha sobre ele assim que me aproximei. Conhecendo-o como o ocultista experiente que ele era, uma pessoa muito apreciada por H.P.B. e autor de um curso de palestras magníficas sobre a Bhagavad-Gita, fiquei inexprimivelmente chocado ao vê-lo em tal estado físico. Embora o meu tratamento de mesmerismo não lhe tenha salvado a vida, deu-lhe tanta força que ele pôde ser transferido para outra casa e, quando o vi dez dias depois, parecia convalescente, a melhoria datando, como ele me disse, da data do tratamento. A mudança para melhor foi, contudo, apenas temporária..."

Tallapragada Subba Row sentado com Blavatsky, em 1884.
As forças estranhas de elementais ou de magos que o teriam apanhado? Uma cerimónia realizada indevidamente? Mais simplesmente, o descuido ou azar de um contágio?  Ou o destino que lhe marcara um tempo de vida demasiado curto para o muito que sabia, segundo Helena P. Blavatsky, que na sua revista Lucifer partilhava também a sua visão do ocorrido, terminando com um católico que a terra lhe fosse leve, algo que até pouco esperaríamos de uma ocultista, que contudo nesta linha logo lhe deseja uma rápida reincarnação, e na terra dos Árias:
Lucifer, Agost
o de 1890: "Há poucos membros da Sociedade Teosófica que não tenham ouvido falar de Subba Row, o grande scholar [especialista-sábio] Vedântico; há poucos leitores da Doutrina Secreta que não estejam familiarizados com seu nome, como o talentoso autor das Lectures on the Bhagavad-Gita... O Karma tem maneiras misteriosas de alcançar os seus objetivos, que para o profano devem permanecer para sempre insondáveis. Só podemos lamentar profundamente que tal karma tenha atingido alguém cuja morte privou Madras de um intelecto gigante, e a Índia perdeu um de seus melhores scholar [erudito ou sábio].
Possa o seu próximo renascimento
ser rápido e que sua vida seja mais longa e, acima de tudo, que ele possa ainda nascer na Aryavarta [na terra dos Árias]. Sit tibi terra levis."["Que a terra te seja leve". Ou, diremos nós,  que o peso do karma terreno não pese no teu coração e corpo espiritual e te eleves bem no mundo espiritual e para o divino.

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