terça-feira, 12 de março de 2019

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. II: A Loja Branca.

                         
                                                          A LOJA BRANCA
«Com o nome "Loja Branca” tentou-se denominar em linguagem corrente o círculo de Auxiliares espirituais, e manteremos portanto essa designação, mesmo que os assim designados, apesar de a deixarem utilizar, de modo algum a aplicam a si próprios.
O seu pleno isolamento  do mundo exterior quotidiano parece poder justificar que se aplique à sua comunidade puramente espiritual o conceito de "Loja", o qual se tornou conhecido com a Maçonaria.
Trata-se da união mais singular deste planeta e entre os seres humanos não se encontra qualquer forma de associação de natureza  semelhante que possa oferecer uma comparação, e  mesmo que apenas num sentido figurativo.
Os membros desta união só se aproximam externamente e fisicamente em raros casos  de  necessidade forte e também quase nunca escrevem cartas entre si.
Mantêm-se no entanto em incessante ligação espiritual, em contínua partilha de pensamentos, em verdade numa absoluta comunalidade anímica...
Esta união não possui quaisquer lei exterior.
Cada um dos seus membros é igual aos outros e, portanto, cada membro conhece a posição que lhe foi reservada, a qual resulta da diversidade da natureza espiritual de cada um.
Todos porém subordinam-se voluntariamente a um "Regente" espiritual comum.
Este "Líder" não é "eleito" nem "nomeado" e, todavia, jamais um membro da união terá dúvidas quanto a quem seja este “Chefe”.-
A "admissão" nesta comunidade não pode ser obtida por lei, nem  por fraude ou imposição.
Leis espirituais ocultas e certas disposições espirituais que essas mesmas leis geram na natureza humana decidem por si só se um indivíduo está indicado para tal "admissão", e nenhum poder deste mundo poderá em tal caso impedir a sua “admissão”.
Os admitidos não estão vinculados porém por nenhum voto, nem nenhuma promessa...
Eles próprios são para si Lei e Norma!
Por nenhum sinal exterior, por nenhuma particularidade comum no modo de viver são reconhecidos os membros desta Comunidade espiritual.

Eles próprios, contudo, mesmo que desconheçam completamente as feições uns dos outros, reconhecem-se entre si - e sem precisarem de qualquer “sinal, palavra ou toque” - e, se for necessário, encontram-se um com o outro na vida exterior.
Devido à sua natureza esta união deverá permanecer oculta enquanto tal ao mundo exterior, se bem que muitos indivíduos e por vezes até povos inteiros estejam sob o seu influxo espiritual.
Nenhum caminho de ascensão aos objectivos supra-materiais mais elevados  foi trilhado sem que um dos membros desta união, ou  eles como um todo, tenham assumido o comando inperceptivelmente.--
Na grande maioria dos casos os que são guiados espiritualmente não sabem nem pressentem este influxo inperceptível, ao qual devem o seu melhor.
  Todavia onde se encontram indícios de despertar espiritual, então o influxo de auxílio espiritual é mais sentido,- só que ele é quase sempre atribuído, seja por desconhecimento seja movido por representações supersticiosas, a poderes supramundanos...

A imaginação poética de todos os tempos e povos deve a esse erro de interpretação, ainda assim  uma quantidade enorme das suas plasmações criativas.

A superstição foi sempre uma amiga do escritor, porque a Verdade nua é demasiado austera e simples para que se possa deixar enfeitar com os sumptuosos panejamentos da fantasia do poeta.
Não menos importante foi a interpretação incorrecta desta sentida ajuda espiritual que vinha, do círculo silencioso dos "Irmãos mais velhos" da Terra,  para o enriquecimento  das sagas religiosas do mundo.-
De tempos a tempos houve algumas pessoa conscientes da existência e acção da Comunidade invisível e contudo ligada a seres reais terrenos, - mas outros de novo soterraram os vestígios descobertos com dúvidas de todo o tipo, pelo que por fim só o murmúrio da lenda testemunhava que noutros tempos se soubera mais destas coisas, - que muitas pessoas tinham tido experiências significativas...
Nos nossos dias, algumas almas com uma disposição demasiado fantasiosa obtiveram conhecimento da existência da Comunidade, mas a simplicidade da sua essência e da sua acção espiritual satisfizeram tão pouco a capacidade imaginativa ricamente colorida destes entusiastas, que acharam necessário embelezarar os seus relatos com acessórios bizarros, e representar os Irmãos "mais velhos" (- porque espiritualmente mais velhos -) da humanidade como semideuses, ou no mínimo como grandes magos " que há muito sabiam" tudo o que a ciência moderna tenta ainda descobrir, e dotaram-nos generosamente até  de todos os poderes fantásticos com que os escritores de histórias exóticas sonharam.
É evidente que neste caso, com boas intenções, se quis e permitiu-se santificar os meios pelo fim desejado, procurando-se aumentar os pressentidos seres Inacessíveis muito acima de tudo o que é humano, no que se era confirmado por apropriados prodígios de faquir de mau gosto, pelos quais se acreditava que quem os perpetrava pertencia à "Loja Branca" ...
Os que porém deveriam ser nomeados com esse nome:- os verdadeiros portadores da Luz Primordial, - os Sacerdotes do Templo da Eternidade nesta Terra,- rejeitam naturalmente todos os efeitos deslumbrantes com a mais intransigente  determinação .

Eles sabem que são Homens iguais aos outros Homens e que apenas através da sua idade espiritual mais avançada permite-lhes exercer as funções da posição que ocupam na estrutura por degraus da hierarquia espiritual e fazer chegar até aos seus semelhantes os poderes espirituais, dos quais são transmissores [Lenker], - e não criadores!

A realidade mostra porém uma imagem bem mais digna e sublime, do que aquela que a mais colorida e lustrosa fantasia alguma vez poderia conceber...
O silencioso actuar dos membros da união estende-se a todos as áreas da evolução espiritual da humanidade.
Pelas suas mãos passam fios que frequentemente terminam nas mais altas expressões da criatividade humana, nos mais elevados desenvolvimentos do poder humano...
Conseguem na verdade mover montanhas sem mexer a falange de um dedo, porque a Vontade deles, através do mais puro conhecimento espiritual e purificada de todos os desejos pessoais, está por detrás de muitas vontades, que utilizam e movem outros cérebros e mãos!
Mas para as artes de faquir não há em verdade qualquer lugar no agir dos “Irmãos mais velhos" da Humanidade!

Eles trabalham simplesmente de um puro modo espiritual na realização do incomensurável plano de evolução, que uma lei cósmica eterna estabeleceu para a humanidade, e o seu trabalho não conhece qualquer interesse particular pessoal, nem qualquer preferência individual, mesmo que tal fosse justificável pelo motivo mais ideal.
Quem procura grandes "prodígios", não os encontrará aqui!
Os acontecimentos reais no agir dos "Irmãos mais velhos" podem  ainda assim ser por vezes verdadeiramente "prodigiosos", mas quanto mais merecerem esse atributo, mais protegidos permanecerão de olhares exteriores.-

No círculo de influxo deste agir espiritual encontra-se contudo cada ser humano terrestre que quer muito no seu coração alcançar nesta existência terrena o estado mais avançado que lhe é possível de desenvolvimento  espiritual.
Quanto mais pura a sua vontade é, - quanto mais liberta ela estiver de desejos egoístas, - tanto mais claro poderá ser nele o fluir do Espírito, e tanto mais forte sentirá rapidamente esse "in-fluxo" em si.
 
Inúmeros sentem-no, sem pressentir donde ele vem...»

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