O meu conhecimento da obra de Bô Yin Râ surgiu há já mais de 30 anos através do instrutor de Kriya Yoga em França, Rishi Atri, aliás Jules Champhy, e que no boletim mensal da associação de yoga e espiritualidade que fundara, Atma Bodha Satsanga, inseria alguns textos de Bô Yin Râ, publicando mesmo em livro uma conferência do seu amigo Robert Winspeare, intitulada O Ensinamento de Bô Yin Râ (Vida-Via-Verdade), na qual este narrava como chegara ao conhecimento deste valioso ensinamento que estava a traduzir para francês, no anos trinta do século XX.
Foi assim que vim a adquirir as primeiras obras na Librairie Médicis, em Paris, lendo-as e sentindo o seu valor e desde então este ensinamento entrou no meu caminho o qual, embora me levasse por diferentes ensinamentos, grupos, mestres e países, nunca deixou de o ter em alta conta e de certo modo o ir assimilando. Na verdade, seja a leitura seja a prática das suas indicações é eficaz e valiosa e, quanto às suas pinturas, especialmente expostas na obra Welten, Mundos, podemos confirmar que a sua contemplação é bem frutuosa.
Dada a dificuldade de traduzir do alemão, o meu entusiasmo pela sua obra levou-me então a traduzir, da versão francesa, A Oração, a qual circulou manuscrita por poucas pessoas, entrando com fragmentos de outros livros e mestres numa exposição sobre espiritualidade, no centro tibetano Pirâmide, no Porto, passando-a contudo a alguns alunos de Agni Raj Yoga e Meditação, que eu ensinava ou transmitia no restaurante e centro de práticas alternativas, Suribachi, ainda hoje a funcionar na rua do Bonfim, 136, Porto.
É pois com alegria que partilho a tradução portuguesa do primeiro e mais importante volume da obra de Bô Yin Râ O Livro do Deus Vivo, realização árdua, para ser o menos possível traição, e que esperamos correcta e útil. A uma primeira tradução, que teve em conta por vezes demasiado a versão francesa, pela Judite e Isabel Maier, seguiu-se a minha operação de traduzir o mais literalmente possível as expressões utilizadas e acertar os sentidos espirituais, com correcções posteriores de Julia Reich e de Fiama Hasse Pais Brandão a ajudarem a resolver cerca de meia centena de dúvidas.
Tal como a própria primeira versão alemã, que saiu em 1919 impressa em Leipzig, com um prefácio do conhecido romancista do oculto e do fantástico Gustav Meyrink (1868-1932), se viu alterada posteriormente, é natural que também palavras ou frases traduzidas por nós possam ainda melhorar na sua adequação ao ensinamento preciso do autor, numa futura edição, o que de facto se passa hoje, em 10 de Março de 2019, dezanove anos depois, quando tendo-a corrigido ao longo dos anos, estou de novo a trabalhá-la e a começar a partilhá-la na net, neste Blogger.
Bô Yin Râ, aliás de nascimento Joseph Anton Schneiderfranken, nasceu na zona da Francónia, Baviera em 25 de Novembro de 1876 e, depois de ter trabalhado como artista manual devido às dificuldades dos seus pais agricultores, estudou pintura em Frankfurt, Viena, Munique, Paris (1902), Berlim (1904-1908). Foi muito estimulado por três mestres de pintura valiosos: Hans Thoma (1839-1924), Fritz Boehle (1873-1916) e Max Klinger (1857-1920). Em 1903 casa-se com Irma Schönfeld, mas não têm descendência.
Bô Yin Râ quando esteve na Grécia, 36 anos de idade, em Delfos...
Viveu entre 1912 e 1913 na Grécia, e foi lá que se encontrou com o mestre oriental que o iniciou espiritualmente e que a sua experiência ou mensagem começa a ser transmitida em livros, surgindo o primeiro em 1914, Lich von Himavat, que será depois reformulado e incluído no Livro da Arte Real. Em 1915 expõe em Berlim as pinturas de paisagens na Grécia e pouco depois a sua mulher Irma, que o acompanhara na viajem à Grécia e que era uma conhecedora de arqueologia, morre de diabetes.
Na 1ª Grande Guerra esteve em na Silésia e depois em Görlitz, casando-se no fim da guerra com a mulher de um militar morto na guerra, Helena Hoffman, que já tinha duas crianças, nascendo em 1920 a sua filha Devadatti, que ainda visitei e dialoguei nos anos 90 na própria casa de Bô Yin Râ.
Em 1923 moveu-se então para a Suíça onde criou a família, tratando também da terra e do jardim, em Massagno, junto ao lago Lugano na Suíça. Nesse mesmo ano encontrou-se com Alfred Kober-Staehelin (1885-1963), que se tornou seu grande amigo e o editor da sua obra, na Kober Verlag, a qual foi dando à luz até 1939. Algo perseguido e vigiado pelo nacional-socialismo de Hitler, residiu em Massagno, terra neutral, até abandonar a cena terrestre em 14 de Fevereiro de 1943.
Bô Yin Râ, com o compositor austríaco Felix Weingartner (1863-1942), autor de um livro sobre ele que bem merecia uma tradução portuguesa...
O ensinamento de Bô Yin Râ é inegavelmente de primeira qualidade, a mesma que sentimos nos grandes Mestres da Humanidade, que ele próprio afirma serem seus irmãos na mesma Fraternidade de Radiantes da Arqui-Luz. A certeza que as obras transmitem, a claridade que trazem, a harmonia poética e mágica com que as palavras ressoam, as impulsões que lançam, tudo contribui para considerarmos esta obra como das mais valiosas sobre os mistérios da vida e da alma, e confesso que encontrei aqui a melhor descrição do caminho espiritual e da ligação a Deus, certamente difícil de ser realizada, mas verdadeira, inspiradora e prática.
A sua obra denominada Hortus conclusus (Jardim ou horto rodeado de uma cerca, fechado, concluído) de 32 livros de profundos ensinamentos sobre a Realidade última e os caminhos para a realizarmos, baseia-se no que nos diz no seu folheto Sobre os meus Escritos: «Eu comunico o meu conhecimento experimental das raízes do homem terrestre numa esfera de forças “espirituais” substanciais, que é inacessível aos sentidos físicos, sendo contudo alcançável duma maneira “sensível”, esfera na qual a consciência individual do homem pode já despertar nesta vida corporal terrestre, mas na qual ela despertará inevitavelmente logo que a sua existência terrena termine.
Eu comunico o meu conhecimento experimental da hierarquia de ajudas espirituais individuais, que parte do Arqui-centro mesmo da esfera das forças espirituais, que desce até à humanidade deste planeta e que se manifesta por certos homens preparados para esta missão já antes do seu nascimento terrestre.
Eu comunico o meu conhecimento experimental relativo à possibilidade de entrar em ligação espiritual com esta hierarquia, e mostro o caminho a seguir para se chegar aí.
Comunico finalmente de que maneira adquiri a experiência que me era acessível e porque é que eu devia chegar a ela».
Numa época em que são tantos os cegos guias de cegos, ou os fiéis estagnados nas suas religiões, e em que é tão grande o carnaval ocultista, ou a manipulação das seitas, ou a superficialidade do new age, este verdadeiro ensinamento certamente será muito útil, ajudando as pessoas tanto a aprofundarem as suas religiões como a discernirem melhor o caminho real, por entre tantas vias mistificadoras ditas esotéricas, que as impulsionará à sua realização própria e à união com Deus.
Mais não diremos, a não ser que idealmente a obra deveria ser lida na língua original, como o próprio autor recomendou e a casa editora reafirma, mas dado a raridade dos leitores portugueses de alemão, aqui sai à luz esta obra que esperamos que seja recebida como merece e que frutifique para a eternidade em todos os que a lerem e relerem com corações abertos e vontades determinadas a trabalhá-la criativamente.
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