terça-feira, 24 de junho de 2025

Do livro "Da Alma ao Espírito", transcrição do 1º cap. "Das Tertúlias e das Amizades, do Amor e do Conhecimento", melhorado.

Relendo há dias, numa espera de atendimento, os primeiros capítulos do livro, sob a tão bela e simbólica fotografia da Alice Batista, senti que o valor deles é perene e, como a obra é pouco avistada e comprada, resolvi transcrever e partilhar alguns dos 33 ensaios, quem sabe impulsionando até algumas pessoas a procurarem-na.  

     I – Das Tertúlias e das Amizades, do Amor e do Conhecimento. 

Por vezes somos mais confrontados com o mundo, a multiplicidade, a dualidade, os outros, o outro que ora se opõe e ataca ora nos quer compreender e dialogar, conhecer ou acompanhar, ser amado ou amar...
Mas, como não temos os mesmos gostos, afinidades e visões do mundo e dos seus acontecimentos, dos seres e de nós, somos obrigados a discutir ou a calar, e a separar-nos, sentindo que não conseguimos acolher toda a diferença, amar toda a gente, ou que a concórdia, mesmo entre poucos, é bem difícil...
Assim, aconselharíamos prudência: não te exprimas plenamente com toda a gente, já que não te podes dar bem com todos, pois muitos não aceitarão o que pensas ou dizes, e por isso guarda-te, não te reveles ou te expresses demasiado política e filosófica, religiosa e espiritualmente sem estares certo da afinidade e receptividade dos outros...
Eis o rescaldo de uma tertúlia e jantar [com Luís Furtado, Francisco Moraes Sarmento, João Botelho e Manuel Bernardes], com discussões talvez mais do que conversa filosófica e religiosa, esquinas das  almas que não se dão plenamente, ou que não se harmonizam muito bem...
Mas se admitirmos que:
O Amor é a essência divina, pois é a força de atração e coesão de toda a vida manifestada.
O Amar é a fluidez natural da essência do ser humano e logo o desejar o Bem de todos os seres.
E se o Bem não é o prazer ou o que cada um deseja, mas sim o que é melhor para a sua alma em evolução num Cosmos de origem e imantação Divina, ou seja, num Todo ordenado pela Sabedoria-Amor consubstanciante, então podemos amar todos os seres, ainda que possamos desejar ou pensar que alguns mereçam ser presos ou reeducados, pelo sofrimento que causam nos outros, no planeta, no Cosmos, e outros serem mais apoiados ou amados, o que em geral se verifica no amor dos familiares e dos amigos e amigas...
Desejamos mais Amor quanto sentimos que podemos ser ou estar com os outros em amor, ou seja, quando há reciprocidade amorosa ou pelo menos aceitação potencializante e, por isso, certos desentendimentos políticos e intelectuais, ou esfriamentos afectivos e emocionais, são fatais para possíveis uniões, descobertas e criações. 
Contudo, a ordem sábia do Universo ou Cosmos, o Logos, Anima Mundi ou Rita (na tradição indiana), na sua visão dinamizante mais profunda das potencialidades interrelacionais, escapa-nos com frequência e faz-nos perder face a cada situação a fluidez desprendida e criativa tão necessária à nossa evolução e, portanto, à aceitação de certas diferenças ou desavenças como fases de um processo dialogante que ainda assim vale a pena ser perseverado...
Entre os milhares de pessoas que conhecemos algumas, por evidentes ou misteriosas afinidades, destacam-se e criam laços subtis mais fortes, para onde tende mais facilmente a nossa capacidade de empatia, o diálogo estimulante e aprofundante e, logo, o amor, com maior ou menor reciprocidade, com maior ou menor consciência do valor dos fios e canais sintonizadores, descobridores, transmissores e por fim geradores.
Todavia, mesmo estes seres afins estão dotados da sua liberdade própria e escolhendo por si mesmos o seu percurso, seja de Amor aproximativo ou unitivo seja de solitária via interior ou recolhimento, última via esta então diminuindo ou cortando a ligação mais interpessoal que se poderia afirmar potencialmente, para desilusão de quem aspirava a um relacionamento mais duradouro, a um projecto de investigação e acção mais continuado, a uma relação amorosa aprofundante e plenificante.
Em verdade, os seres são atraídos ou tendem intimamente para o Bem  Divino ou Cósmico, que é a Verdade, o qual impulsiona o processo evolutivo no tempo e no espaço dos seres, com os seus instintos,  afectos,  pensamentos, intenções e ideais, chegando a todos os níveis do Ser e da existência embora, na realidade manifestada que a nossa consciência normal consegue hoje captar e entender, poucos seres intuem ou querem alinhar-se com tal elevado nível e preferem seguir o seu ego, ou o que as ideias-forças sociais e mediáticas tentam impor, desviando-se, dispersando-se e  enfraquecendo as suas mais altas possibilidades de auto-consciencialização e realização espiritual, e logo evolução e cooperação no Cosmos...
As amizades, tanto as livres por espontaneidade e criatividade, mais ou menos marcadas pelas personalidades e egos, como as mais puras e sintonizadas com o Amor e a Verdade, tornam-se então factores potencialmente iluminantes e algo divinizantes, ao fortificarem-nos e ao aproximarem-nos da nossa essência e missão e logo duma certa plenitude nossa a qual, na sua irradiação social com os amigos tende para a reinvenção de dias mais claros e noites mais profundas, parafraseando Manuel de Faria e Sousa (1590-1649), sábio historiador português, geradores de subtis interacções e aproximações à verdade e ao amor dos seres e das coisas...
O grande desafio dos nossos dias, tão caracterizados por um excesso de informação e de comunicação, é sabermos não apanhar ou mesmo acumular tanto lixo, manipulação e ruído, e antes aprofundar as afinidades electivas, aquelas que nos elegem, elevam e frutificam, ora com pessoas, livros, ideias e ambientes naturais, ora com profissões, criações e vocações, ora ainda pelas meditações e contemplações mais germinantes no mundo espiritual e divino...
A partilha convergente de recursos e capacidades foi, é e será um dos desafios principais, pois numa sociedade mundial em crises conflituosas mais do que nunca são necessárias ilhas, oásis, paraísos, grupos, centros onde as almas se possam encontrar, dialogar, recompor, clarificar, solidarizar, criar...
Sabemos pouco da intensificação, protecção e germinação que as pessoas mais amorosamente interelacionadas podem fazer espiritualmente aos seus planos e criatividades, e logo aos seus seres psico-espirituais, e por isso há que meditar e trabalhar mais os nossos relacionamentos e a nossa essência espiritual e a sua ligação com a Alma do Mundo, o Logos, a Maha Shuda Shakti (a grande energia primordial pura), com as suas formas de pensamento, psicomorfismos ou arquétipos e as suas correntes e seres subtis, as quais podem inspirar e intensificar as nossas melhores potencialidades e aspirações, intenções e realizações.
Esta é aliás uma das zonas do conhecimento humano mais em destaque, a da ligação do mundo potencial espiritual com a realidade cerebral e física, e sabemos como as neurociências e a física quântica estão, através de alguns dos seus cultores, a tentar descobrir, investigar e clarificar os processos e paradigmas unificadores do Alto e do Baixo, da super-informação cósmica e da mente humana, da mente subtil e do cérebro físico e neuronal, com alguns aspectos da física moderna a valorizarem a extensão do espaço vazio em cada átomo da matéria, do corpo ou do cérebro, apto assim a conter ou a ser atravessado por múltiplas radiações, nomeadamente as energéticas, psíquicas e espirituais, bem como a realçarem o facto de que o observador influencia a coisa ou sub-partícula observada,  comprovando o que Antero de Quental, entre nós, denominou pioneiramente a “unidade da consciência”, da qual o magnetismo e a comunicação do pensamento seriam manifestações, o que está hoje a ser muito investigado sob a designação do campo unificado ou unitário de energia, informação e consciência, e no qual se verifica o entretecimento ou emaranhamento das mentes nele.
Esta actividade é realizada por nós diariamente nos sonhos e nas intuições, nas empatias e telepatias, nos pressentimentos e nas adivinhações, nas meditações e contemplações, processos que devemos cultivar e aprofundar para que os nossos potenciais sentidos subtis se desenvolvam nos seus vórtices e nos permitam aceder à crista da onda do auto-conhecimento planetário, com a nossa entidade pequena e humilde mas trabalhadora e cooperadora, e irmos vencendo as limitações do tempo e do espaço, na unidade da luz e da comunicação super-rápida e fazendo diminuir a ignorância, a obscuridade e a violência...
Só poderemos então finalizar este texto inicial com o pedido humilde que Ela, a Divindade que sustenta a Manifestação, e eles, o grandes Seres, nos abençoem, e que a chama do coração espiritual arda e irradie mais sábia, corajosa e amorosamente em cada um de nós, para que o mundo se torne mais puro e cósmico, isto, é criativo e belo...

3 comentários:

Anónimo disse...

Muitas graças, Pedro. Vou reler a Alma e o Espírito e apreender mais nos ensinamentos escritos pelo Pedro

Anónimo disse...

Da Alma ao Espírito, retifico o título.

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças! Luz e criatividade.