Dia do Corpo de Deus, isto é, da celebração dos mistérios pluridimensionais da Eucaristia, como presença espiritual e divina, a que podemos aceder seja na Igreja na celebração da missa e na comunhão, seja em casa e nas igrejas, nas nossas devoções ou mesmo contemplações mais sentidas das custódias do Santíssimo Sacramento, seja esculpidas seja em imagens. tal a que partilhamos:
É uma gravura oitocentista impressa em Lisboa e vendida na Travessa de S. Domingos, nº 58, contendo na aura oval da custódia irradiando de forma flamejante a inscrição Bendito e Louvado seja o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, estando a hóstia ou partícula sagrada sobre o varil em forma de lua crescente dentro da ampola ou coluna em vidro, numa custódia de grande qualidade artística sustentada ou apresentada por um par de Anjos de joelhos, como que elevando a custódia no espaço e em nós, ou seja, no nosso peito e coração como habitação visível do espírito ou possível do influxo divino. E que se potencializa tão radiante e ardentemente seja pela intercessão de Jesus seja pela nossa fé e aspiração à acção salvífica da comunhão das espécies reais ou imaginais, ou na contemplação delas, ou mesmo até do espírito divino em nós.
De notar que na partícula representativa do corpo de Jesus vemos Jesus na cruz tendo S. João e a sua Mãe ao seu lado. O segundo nível da custódia contém um vaso e uma flor que se abre, e o terceiro nível é a ponta ou pináculo, que entra apropriadamente por entre os dois SS, vagamente lembrando a pomba do Espírito santo vista de frente. Relembremos a famosa e belíssima custódia de Belém, realizada pelo grande dramaturgo Gil Vicente, na qual o Espírito Santo como pomba trona ao alto, aqui provavelmente representada de uma forma mais esquemática. Diremos que a custódia da hóstia adorada ou venerada é também a do Espírito (santificante) em nós...
Nascendo na misteriosa última Ceia, tal como a conhecemos pelos quatro Evangelhos, em que Jesus terá instituído o sacramento Eucarístico, ou seja a comunhão das espécies, isto do pão e vinho, como corpo e sangue, de Jesus, ao princípio apenas como lembrança e acção de graças nas celebrações e refeições ou agapes dominicais.
Foi só lentamente que a doutrina da transubstanciação se foi desenvolvendo sendo afirmada dogmaticamente apenas no séc.XIII, em 1215, no 4º Concílio de Latrão: com a consagração da hóstia e do vinho, a partícula torna-se o corpo, e o vinho o sangue, em substância de Jesus. Pouco depois, em 1264, é instituída a festa do Corpo de Deus e intensifica-se assim o culto do Santíssimo Sacramento já que a Eucaristia não estava a ter tanta frequência ou sucesso; e a partir da Contra-Reforma, iniciada pelo Concílio de Trento (1545-1563) face à oposição dos Protestantes à ideia da transubstanciação ou presença real de Jesus nas espécies, o culto do Santíssimo Sacramento mais se acentua, suplementando o da Eucaristia, com muitos escritos, celebrações, imagens, devoções, exposições, procissões e confrarias ou irmandades. Entre as nossas sorores místicas dos séculos XVI a XVIII que tenho estudado houve várias que tinham grande devoção pelo Santíssimo Sacramento e que obtiveram a graça de visões das energias espirituais que dele irradiavam, sobretudo quando o contemplavam demoradamente.
Esta gravura, do século XVIII, com as dimensões de 14x8 cm, impressa e vendida numa loja lisboeta ao Rossio, deveria estar ligada a alguma irmandade ou confraria do Santíssimo Sacramento, e emoldurada belamente sob vidro num papel pintado terá servido como fonte de inspiração, protecção ou mesmo contemplação e comunhão com o mistério ou a potencialidade da hóstia e da custódia como fontes valiosas de ligação religiosa, seja a Jesus, seja ao Amor Divino, seja ao Espírito Santo, dada a sua beleza, forma, simbologia. Ou ainda com os Anjos, ou o Anjo da Guarda...
Como seria bom conseguirmos recuperar as experiência ou vivências dos devotos que tiveram este registo e o utilizaram, tais como as orações ou palavras que pronunciaram diante dele e os estados expandidos de consciência que alcançaram ou mereceram.
Sendo difícil tal clarividência ao menos pratiquemos nós alguns momentos a contemplação de olhos abertos ou fechados, o louvor bendito ou das graças, em sons e mantras, e tornemo-nos mais consciente do fogo do espírito e do seu corpo ou aura refulgente ou de Glória.
Que a saibamos meditar matinalmente e intuir que esta imagem registo da custódia do Santíssimo Sacramento da Eucaristia é um ícone teofânico do Espírito, uma avatarização ou descida do Espírito divino, ou ainda de Jesus Cristo, diante de nós ou dentro de nós...
| Que a presença espiritual e as bênçãos Divinas e de Jesus e dos Anjos estejam mais plenamente com os que aspiram a elas e os que mais precisam... |
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