Marie Coupal, na sua obra Le Guide du Rêve et de ses symboles. De A a Z, tous les sens de vos rêves, publicada em Ottawa, em 2004, num in-8º pequeno de 567 páginas, embora com alguns optimismos new Age quanto aos mundos e realidades subtis, ou exageros valorativos do Judaísmo e do Cristianismo, no extenso dicionário interpretativo de 500 páginas revela a leitura de Jung, Adler, Freud, além de boa sensibilidade mas, como todos os dicionários, dá várias vezes interpretações muito pessoais, ou imaginativas, ou limitadas a imagens ou símbolos que noutras pessoas teriam ressonâncias, leituras e causas ou fontes bem diferentes. Já a Introdução, de 40 páginas, é mais valiosa, embora com afirmações superficiais ou preconceituosas, e com alíneas sobre: Linguagem simbólica e projecção pessoal; símbolos inatos e adquiridos; princípio feminino e masculino; símbolos gerais, cores, aspectos musicais [elevar-nos-iam menos que as cores], arquétipos, dos povos antigos, do alto e do baixo, de palavras inductoras, sonhos recurrentes. Conteúdo manifesto e latente («o sonho desenha as nossas ideias, desejos, concepções, emoções, recalcamentos, obsessões, motivações, complexos e libertações»). Fenómenos de censura e de repressão. A deslocação, a condensação e a inversão. Personagens simbólicas: a sombra, o animus e a anima. Os tipos de sonhos. Sonhos em cores, e a preto e branco. Porquê trabalhar os sonhos. Para bem analisar o seus sonhos (Possuir algumas noções de psicologia, e Falar dos sonhos e pesadelos). Meditação.
Embora estas quarenta páginas introdutórias, resumidas acima pelos títulos das alíneas, sejam em geral valiosas, vamos transcrever algumas partes que sendo mais instrutivas são contudo por muita gente ignoradas, embora haja distinções que não se podem tomar à letra como regra geral ou verdade absoluta, tal como a autora tende a afirmar. Vejamos então o mais original: 1º Os tipos de sonhos. Diferenças entre o sonho mental e o astral: «O sonho mental é um produto de tudo o que toca as preocupações terrestres: amor, sexualidade, família, profissão. Ele estende-se à matéria e ao tempo. Os que só sonham em branco e negro devem-se questionar, pois estão a conjurar esta zona. Já o sonho astral é um produto de tudo o que nos religa ao cosmos numa comunicação mística, durante a qual o divino desce gradualmente no humano e vem progressivamente apagar o ego. Tal sonho toca o sobrenatural e o que nunca terminará. As suas vibrações estendem-se no espaço».
Há algum exagero no "Divino descer gradualmente", ou na utilização da palavra já em si tão polivalente de "mística", mas interessa tentar discernir melhor o que ela entende pelo sonho astral, e assim, após explicar que o
sonho mental, nascendo de deduções racionais e preocupações, utiliza símbolos a partir de experiências do passado, para prever (ou prevenir) e que nos fazem reagir com o ego, e para afirmar-nos e defender-nos, escreve que já
«o sonho astral relaciona-se com as preocupações de crescimento divino
em nós. Todos temos a mesma e única profissão, a de nos tornarmos
completos e divinos» e para esse reencontro com a Luz e o Divino vamos
sendo preparados por lutas e iniciações, em que vamos vencendo o astral
baixo e penetrando na Luz, até que o Si (ou Eu pleno) substitui progressivamente o
ego, a humildade faz o orgulho render-se e o desprendimento terrestre
impõe-se», certamente bons objectivos e ideais na vida e que de alguns modos vamos tentando e algo conseguindo realizar...
Na alínea do "Porquê trabalhar os sonhos", diz-nos sobre as vibrações que desencadeariam os sonhos: «Nós recebemos constantemente
vibrações que são também mensagens. Elas são-nos dirigidas e se queremos
não viver como hipnotizados, devemos aplicar-nos a reflectir, a
analisar estas ondas que se transformam em imagens ou em intuições pelo
milagre do funcionamento genial do nosso cérebro. É um modo de cessarmos
de viver passivamente e inconsideradamente. Nós lembramo-nos dos sonhos
se nos interessamos por eles, quando compreendemos que o sonho é uma
mensagem que nos diz respeito pessoalmente, então surge um interesse que nos
ajuda a memorizá-los». E, sem dúvida, conseguirmos discernirmos se essas vibrações (e logo sonhos, encontros e eventos) são do nosso inconsciente, ou se são do Cosmos, ou se são provenientes de outros seres ou entidades, é tão importante quão difícil, aliás que ela pouco também consegue discernir.
Da alínea final, "Meditação: um retorno às fontes", à qual se segue ainda uma pequena oração invocadora do Amor universal, transcrevemos como instrutiva uma parte:
«É muito importante saber retirarmo-nos pelo menos uma vintena de
minutos, conforme o degrau de tensão, para reentrarmos no nosso Eu
universal. Nós compomos o ovo humano que está a eclodir
progressivamente para a Divindade. Somos todos chamados a esta dimensão divina.
O sonho responde aos nossos pensamentos e avaliações quotidianos. O sonho
responde ao que questionamos. Essa parte do sonho que é chamada
acertadamente o sonho paradoxal permite uma reprogramação do potencial
genético humano em cada noite. Saídos do nosso corpo físico, os nossos
corpos subtis em crescimento recebem ajuda de conselheiros protectores.
No estado de vigília nós compreendemo-los pela intuição. Este fenómeno
que permite o diálogo com a Luz, é o sonho astral, enquanto que o sonho mental é um diálogo com nós próprios e o que nos rodeia.»
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