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terça-feira, 5 de janeiro de 2021
Paramahansa Yogananda e a sua "Autobiografia de um Yogi", no seu aniversário. Com um vídeo da época, divertido.
Paramahamsa Yogananda nasceu em Gorakpur, Bengala, 5 de Janeiro em 1894, de uma família kshatrya, de mais sete irmãos e irmãs, tendo aí vivido até aos 8 anos. Os seus pais eram discípulos de um grande mestre Lahiri Mahasaya, que os iniciou num tipo especial de Yoga, Kriya Yoga, com o qual Yogananda se viria a destacar, ao trazê-lo para o Ocidente. Mas já então Yogananda sentiu desse mestre (já no mundo espiritual) as bênçãos quando apanhou a cólera asiática e, a instâncias da sua mãe, recorreu a ele através de uma fotografia e ficou subitamente curado. Eis algo bem interessante para os nossos dias de covinagem...
A Autobiografia de um Yogi, publicada em 1948, quatro anos antes de morrer, é o seu melhor testamento biográfico e espiritual, pois tendo grande sensibilidade e amor e uma excelente memória narra episódios muito curiosos e instrutivos da sua vida (e de outros, por vezes de espantar), na qual esteve com grandes seres (tais como Tagore, Gandhi, Ananda Moyi Ma, Mahendra Nath Gupta, Jagadis Chandra Bose, C. R. Wright, Therese Neumann, etc.) observando, dialogando e meditando, conseguindo tornar tal obra um verdadeiro best-seller de espiritualidade (ainda que com algumas ideias ou afirmações discutíveis), bem mais elevado que qualquer dos best-sellers da nova Era, muitos deles completas mistificações, como são tantos de conversas com Deus, canalizações, mestres ascensos, regressões e reincarnações, mundo subterrâneos, pleidianos e merkabas.
Desde muito novo auto-consciente, conta-nos que tinha até vislumbres do que considerava serem memórias de vidas anteriores, tal a de um yogi nos Himalaias, sentindo também dolorosamente as limitações do corpo e da mente infantis, pois já tinha grande aspiração espiritual.
Reflectindo posteriormente sobre tal, escreveu: «as minhas memórias que tanto alcançam para trás, não são caso único. Conhecem-se muitos yogis que retiveram a sua
auto-consciência sem interrupção durante a transição dramática entre a vida e a morte. Se o homem for só um corpo, a perda deste termina a sua identidade. Mas se os profetas através dos milénios falaram com verdade, o ser humano é essencialmente uma alma incorporal e omnipresente». Talvez fossemos mais correctos substituindo "profetas" por yogis, místicos e sufis. E talvez a palavra "alma", que tem a sua corporalidade subtil, devesse ser substituída por espírito. Quanto à omnipresença, creio melhor ser reservada para a Divindade, mas aceitemos a expressão de Paramahamsa Yogananda, pois pela tradição Yoga Vedanta a que ele estava ligado Atmam, espírito individual, e Brahman, espírito divino e total-primordial, são um. Educado
apropriadamente com narrativas dos clássicos indianos pelos pais tanto piedosos como espirituais, iniciado e
treinado na práticas meditativas por um verdadeiro e valioso mestre
yoguico, Sri
Yukteswar Giri, alcançou boas realizações espirituais e partiu para a
USA
em 1920, quando tinha apenas 26 anos.
Dotado de grande aspiração espiritual, amor, dom da palavra e
afabilidade, conseguiu em pouco tempo juntar bastante
discípulos e fundar a Self-Realization Felowship, a Fraternidade da Auto-Realização, que iniciou milhares de
norte-americanos nas técnicas do Kriya Yoga, uma ciência de interiorização
pela manipulação mental das energias subtis da respiração ao longo dos canais e centros de
força na coluna vertebral. Escreveu além da Autobiografia dum Yogi, mundialmente conhecida, outras
obras menores, entre as quais a Ciência da Religião, onde a dado passo afirma: «O sentido de identificação com
o corpo transitório e a mente desassossegada são a fonte ou a
causa-raiz da miséria do nosso Eu Espiritual. Se concebermos Deus como
Felicidade ou Beatitude, então e só então podemos tornar necessária a
religião universalmente... Assim como Deus une todas as religiões, é a
realização dele como Bem-Aventurança ou beatitude (Ananda) que
une a consciência dos profetas ou mestres de todas as religiões». Esta afirmação bem verdadeira é realmente muito importante de ser realizada e só sobre tal base é que poderemos avançar mais para a unidade pacífica e dialogante das religiões. Várias
linhagens de instrutores e praticantes de Kriya Yoga, os Kryabans, existem no mundo, algumas das quais
conheci, como em França a de Rishi Atri (com o seu Atma Bodha Satsanga), e na Bengala, em Bhagalpur, a de Sri Tewarji, discípulo de Bhupendra Nath Sanyal, e que me iniciou, havendo hoje quem venha de vez em quando a Portugal, tal como veio nos anos 80 o brasileiro Huberto Rodhen, embora não nessa função de iniciar pessoas nessa técnica respiratória e seus complementos (que refere nos seus livros), proferindo palestras e convivendo em Lisboa e Guimarães, nesta cidade na quinta do Gilde, em S. Torcato. Talvez se tenha exagerado um pouco o valor destas práticas respiratórias, algo recorrente em certos grupos que pensam que se afirmarem ou repetirem frequentemente muitas vezes um mantra por um certo tempo, ou fazerem tantas saudações ao sol, ou prosternações, chegam a um estado elevado qualquer. Talvez o próprio Yogananda já tivesse exagerado tal valor e prática, quando explica e afirma o seguinte num parágrafo do capítulo 26, intitulado a Ciência do Kriya Yoga, do qual passamos a transcrever algumas passagens: «Kriya Yoga é um método psicofisiológico simples pelo qual o sangue humano é descarbonizado e carregado de oxigénio. Os átomos deste oxigénio extra são transmutados em corrente vital para rejuvenescer o cérebro e os centros espinais. Ao parar a acumulação do sangue venoso, o yogi é capaz de diminuir ou prevenir a decadência dos tecidos. O yogi avançado transmuta as suas células em energia. Elias, Jesus, Kabir, e outros profetas foram antigos mestres no uso do Kriya ou numa técnica similar, pela qual eles provocavam à vontade a materialização ou desmaterialização do seus corpos», esta última afirmação algo discutível, pois Elias e Jesus não desmaterializaram os corpos nas suas mortes com desaparecimento do corpo. Quanto a Kabir não sabemos...
Continuando, logo a seguir, escreve:«Kriya é uma ciência antiga. Lahiri Mahsaya recebeu-a do seu grande guru, Babaji, que a redescobriu e clarificou a técnica que tinha sido perdida na era escura (Kali Yuga). Babaji, deu-lhe um outro nome, simplesmente, Kriya Yoga. "O Kriya Yoga que estou a dar ao mundo através de ti neste século XIX", disse Babaji a Lahiri Mahsaya, " é um revivalismo da mesma ciência que Krishna deu há milénios a Arjuna, e que foi mais tarde conhecida por Patanjali e Cristo, e por S. João, S. Paulo e outros discípulos»... Se estranharmos a menção do fariseu perseguidor dos cristãos, Saul, subitamente a meio da estrada para Damasco, convertido por uma visão de Jesus em Paulo apóstolo dos gentios, Paramahansa Yogananda explica, segundo a sua compreensão, que «S. Paulo conheceu o Kriya Yoga, ou uma técnica similar, pela qual ele podia ligar as correntes vitais para, ou dos, sentidos. Por isso podia dizer:"Eu afirmo pela nossa alegria que eu tenho em Cristo, que morro diariamente" (Ep. aos Coríntios, 15:31). Pelo método de concentrar internamente todas as forças vitais corporais (que normalmente estão dirigidas apenas externamente para o mundo sensorial, assim lhe dando uma validade aparente), S. Paulo experimentava diariamente uma verdadeira união yogi com o "alegrar-se" (beatitude) da Cristo Consciência. Neste estado de felicidade ele estava consciente de estar morto para, ou livre das ilusões sensoriais, o mundo de maya.» Acrescentará as estâncias da Bhagavad Gita que mencionam o Kriya Yoga IV-1,2; IV-29; V-27,28, e nos Patanjali Yoga sutras estará referido em I-27, II-1, II-49. E considerando que a luz e o som são dois sinais da manifestação espiritual ou divina no ser humano, e que são onde o yogi se concentra após ter feito respirações, interiorizações ou o Kriya Yoga, diz-nos «Patanjali fala de Deus como o actual Som Cósmico de Aum que é ouvido na meditação. Aum é a Palavra Criativa, o zumbido do Motor Vibratório, a testemunha da Presença Divina. Mesmo o principiante no yoga pode ouvir rapidamente o maravilhoso som do Aum. Através deste encorajamento espiritual, ele torna-se convicto que está em comunhão com os planos celestiais ("supernal).» Explicará ainda, embora exagerando os resultados, que o Kriya Yogi dirige mentalmente a sua energia vital para a movimentar-revolver para cima e para baixo, à volta dos seis centros espinais (plexos coccígeo, sacral, lombar, dorsal, cervical e medular), que correspondem aos doze signos astrais do zodíaco, o Homem Cósmico simbólico. Meio minuto de revolução de energia à volta da sensitiva corda espinal causa progressos subtis na sua evolução; esse meio minuto de Kriya corresponde a um ano de desenvolvimento espiritual natural.». Eis um certo exagero... E mais não transcrevemos de um livro, que apesar de algumas superficializações e mistificações (tais como forçadas analogias com a Bíblia, onde a concepção de Deus Jeohva era tão primitiva e tribal), atribuindo a narrativas literais simbolismos de espiritualidade muito elevada) é dos bons ou melhores para nos apresentar a mundivivência yoguica, o caminho espiritual, a Índia eterna e espiritual, e a realização da aspiração à luz e a Deus. Possamos com as bênçãos dos mestres, dos Anjos e da Divindade, através das interiorizações apropriadas, ligar-nos mais ao espírito, ao amor, à Divindade e melhorarmos o estado da Humanidade...
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