Eis-nos
na décima segunda e última parte da entrevista, primeiro em diálogo
presencial e depois ampliada livremente para entrar no livro O Rosto e a Obra, Autores portugueses da Espiritualidade, 12 entrevistas, pelo António Paiva, dado à luz pela Espiral Editora, e ao ser transcrita para aqui, de novo, ampliada...
António Paiva – Estamos a chegar ao fim do nosso tempo. Obrigado por esta peregrinação. Uma pequena peregrinação por alguns aspectos da tua vida e da tua compreensão do caminho e da realização espiritual.
Pedro Teixeira da Mota – Sim, houve uma pequena partilha de certos aspectos e que foram ampliados pela revisão posterior. Poderia ter falado mais das pessoas que me impulsionaram ou apoiaram no começo do Caminho, em Portugal e no estrangeiro, umas mais velhas outras mais companheiras fraternas ou amorosas. O Caminho é também o resultado de muitos elos que nos permitem avançar mais luminosamente pelo que aos pais, a familiares e amigos devemos estar gratos e cultivar mesmo com regularidade alguma dedicação interior para as suas almas, onde quer que estejam. É o que se chama o corpo místico da humanidade, ou comunidade das almas afins, e é algo que ao longo da vida deve ser consciencializado e trabalhado com gratidão.
É claro que haveria muito mais a dizer sobre os seres, grupos e locais esotéricos ou espirituais que fui conhecendo ou dialogando ao longo do anos, dos quais alguns já partiram, outros desapareceram. O professor António Pedro, o engenheiro Manuel Lourenço, discípulo de José Racalho e de Maria O'Neil, Marcelle Costa Pina, ligada a Salemi do grupo Ondes Vives e à cosmogonia d'Urantia, os franceses Rishi Atri e Anusuya, que ensinavam o Kriya Yoga e o ensinamento de Bô Yin Râ em França, Agostinho da Silva, Sant'Anna Dionísio, Dalila Pereira da Costa e José V. de Pina Martins (na fotografia, junto a Pico della Mirandola) são os principais, sem mencionar agora os indianos....
Os mais influentes e mais ricos do sistema capitalista neo-liberal, liderados pelo Fórum Económico Mundial, estão a tentar implementar uma Nova Ordem Mundial cada vez mais ditatorial, com muitos políticos vendidos ao semi-secreto grupo da alta finança e às grandes empresas (das farmacêuticas e agro-química à indústria dos armamentos), de que qualquer governo da USA é em geral o principal porta-voz e opressor mundial, com aliados poderosos, como a Inglaterra, a Austrália e alguns outros.
Saibamos valorizar o trabalho interior, a sós e em pequenos grupos, associações e comunidades, de preservação e harmonização do planeta e da sua biodiversidade, e do ser humano na sua dignidade e liberdade, e é bom estarmos neste momento a conversar, no bom sentido que o Agostinho da Silva realçava, o de convergirmos numa unidade maior, num sítio como a Espiral, tão ligada à alimentação natural, à medicina não sintomática e às práticas psico-somáticas alternativas à sociedade mecanicista, materialista e tão manipulada que nos rodeia.
Tentarmos valorizar a potencial missão de Portugal de continuar a sua tradição cultural universalizante, iniciada nos Descobrimentos, com a realização mais profunda de uma verdadeira espiritualidade. ou seja, já não por dogmas nem mitos, nem nacionalismos, quinto-imperialismos ou sectarismos, nem mistificações de reincarnações, canalizações e quintas iniciações, mas pela fraternidade, pelo conhecimento verdadeiro e pela maior invocação, meditação, assimilação e comunhão com o nosso espírito imortal e com os mestres, anjos e a Divindade.
É necessário que haja mais procura de conhecimento harmonizador através de investigações sérias e debates construtivos e por competentes, para que decisões e medidas baseadas numa imparcial e alargada demanda da verdade e do bem comum sejam formuladas e implementadas a favor do bem dos muitos, e que sejam depois transmitidas bem pelos meios de comunicação...
Sabemos contudo que muito dificilmente o mundo dos partidos e dos políticos mudará, pelo menos rapidamente, pelo que a consciência da riqueza humana e espiritual potencial de cada ser, no meio de um património cultural valioso e duma natureza bela e fértil, como há em Portugal e em tantos países, deve por si só impulsionar-nos a desabrochar em trabalhos e criatividades valiosas a sós, em famílias e em pequenos grupos, algo indiferentes às negatividades e roubalheiras que nos rodeiam...
Eis-nos pois tanto num belo mas árduo caminho interior como numa luta exterior por ideais e realizações pelos quais vale a pena peregrinarmos e gerarmos sons e palavras, obras e livros, lutando, esforçando-nos com amor, no "talento de bem fazer". Mantermo-nos lúcidos e fortes e em sabedoria e amor, rumo ao mundo espiritual e à Divindade, pelo bem, eis a nossa estrela diária...
Aum Tat Sat...
António Paiva – Muito obrigado por esse propósito para a peregrinação da nossa vida
---------------- « » -----------------
Biografia de Pedro Teixeira da Mota.
Estudou em Lisboa nos Maristas, Colégio Militar e Liceu Pedro Nunes. Licenciado em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa.
Após duas estadias de um ano e dois meses na Índia onde foi um yogi, e em que foi niciado por alguns gurus, começou a ensinar a espiritualidade indiana, yoga e, em especial, a meditação, em Évora, Porto, Guimarães, Covilhã e Lisboa, contudo dentro de uma visão do caminho espiritual perene e não sectário nem de marketing. Tornou a estar um ano na Índia em 1995.
Em 1988 e 1989 foi co-director, com Lídia Caldeira Cabral, da Associação Waldorf de Lisboa, onde proferiu várias conferências e onde levou Agostinho da Silva a conferenciar.
Publica em 1988 e 1989, após consulta prolongada do espólio do Fernando Pessoa na Biblioteca Nacional, a Agenda do Centenário de Fernando Pessoa e o Livro da Sabedoria Portuguesa, e quatro livros de inéditos de Fernando Pessoa, comentados: Moral, Regras de Vida e Condições de Iniciação; A Grande Alma Portuguesa; A Rosea Cruz; Poesia Profética, Mágica e Espiritual.
Publica em 1998 O Livro dos Descobrimentos do Oriente e do Ocidente, de efemérides para cada dia do mês, a propósito dos Quinhentos anos do Descobrimento do caminho marítimo para a Índia. Encontra-se agora online no blogue, em doze textos, correspondentes aos 12 meses e muitíssimo ampliado e bem ilustrado.
Entre 2003 e 2005, foi co-fundador e animador, com Sofia Costa Quintas e Célia Costa Cabral, da Livraria e Galeria Pessoas e Saberes, em Lisboa, onde realizou várias conferências e meditações.
Em 2006, dá à luz a tradução comentada do texto sânscrito Cântico da Consciência Suprema, Astavakra Gita, nas Publicações Maitreya.
Em 2008 faz a tradução (com Álvaro Pereira Mendes), e introduz, comenta e anota o Modo de Orar a Deus, de Erasmo de Roterdão, nas Publicações Maitreya.
Em 2008 colabora com doze entradas de temática espiritual no Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, coordenado por Fernando Cabral Martins, da editorial Caminho.
Em 2010 participou na galeria Novo Século, de Carlos Barroco e Nadia Baggioli, na exposição colectiva de artes plásticas intitulada “O Amor é Cego”, com livros de artista manuais.
Em Maio de 2015 publica o livro de trinta e três ensaios intitulado Da Alma ao Espírito, nas publicações portuenses Maitreya e que, embora com pequenas tiragens, está na 3ª edição melhorada.
Em Junho de 2015 é co-prefaciador, com Anabela Rita, da Mensagem, de Fernando Pessoa, ilustrada por 25 artistas e editada pela Prelo Arte, e coordenada por José Maria Ribeirinho.
Trabalhou como especialista do livro antigo, catalogando e comentando em alfarrabistas ou leiloeiras lisboetas, de 1994 a 2020.
Tem proferido numerosas conferências sobre a Tradição Espiritual Portuguesa, e seus principais elos, em especial Jorge Ferreira de Vasconcelos, Antero de Quental, Wenceslau de Moraes, Fernando Pessoa e Augusto de Santa Rita, mas também sobre o Humanismo, em especial Erasmo, e ainda a sabedoria espiritual de outros povos, em especial da Grécia com Pitágoras e os pitagóricos, Índia, Irão e Japão.
Colaboração esporádica em jornais e revistas, destacando-se Raiz e Utopia, Arte e Opinião, Nova Renascença, Arte Ibérica, Agenda Cultural de Lisboa, Singularidades, Ar Livre, Nova Águia, Artes e Letras, Transdisciplinar, Pessoa Plural (nº 9, Oriente), Revista Portuguesa de História do Livro.
Página ou blogue: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com., e um canal no Youtube, também sob o mesmo nome, e algumas páginas culturais no Facebook. Investigações em curso: modos de vida para o séc. XXI, a espiritualidade mundial ou tradição perene, e mais particularmente a tradição espiritual Portuguesa, a tradição yogi indiana, a pitagórica e dos mistérios da Antiguidade, a mística iraniana e sufi, o shinto e o ensinamento de Bô Yin Râ, bem como as ligações entre ciência moderna e consciência, e a aprofundar a meditação e os mistérios do ser humano, do Cosmos subtil e da Divindade.
Sem comentários:
Enviar um comentário