sábado, 30 de janeiro de 2021

"O Rosto e a Obra", 12ª p. e última da entrevista a Pedro Teixeira da Mota por António Paiva.

 Eis-nos na décima segunda e última parte da entrevista, primeiro em diálogo presencial e depois ampliada livremente para entrar no livro O Rosto e a Obra, Autores portugueses da Espiritualidade, 12 entrevistas, pelo António Paiva, dado à luz pela Espiral Editora, e ao ser transcrita para aqui, de novo, ampliada...

António Paiva – Estamos a chegar ao fim do nosso tempo. Obrigado por esta peregrinação. Uma pequena peregrinação por alguns aspectos da tua vida e da tua compreensão do caminho e da realização espiritual.

Pedro Teixeira da Mota – Sim, houve uma pequena partilha de certos aspectos e que foram  ampliados pela revisão posterior. Poderia ter falado mais das pessoas que me impulsionaram ou apoiaram no começo do Caminho, em Portugal e no estrangeiro, umas mais velhas outras mais companheiras fraternas ou amorosas. O Caminho é também o resultado de muitos elos que nos permitem avançar mais luminosamente pelo que  aos pais, a familiares e amigos devemos estar gratos e cultivar mesmo com regularidade alguma dedicação interior para as suas almas, onde quer que estejam. É o que se chama o corpo  místico da humanidade, ou comunidade das almas afins, e é algo que ao longo da vida deve ser consciencializado e trabalhado com gratidão.
É claro que haveria muito mais a dizer sobre os seres, grupos e locais
esotéricos ou espirituais que fui conhecendo ou dialogando ao longo do anos, dos quais alguns já partiram, outros desapareceram. O professor António Pedro, o engenheiro Manuel Lourenço, discípulo de José Racalho e de  Maria O'Neil, Marcelle Costa Pina, ligada a Salemi do grupo Ondes Vives e à cosmogonia d'Urantia, os franceses Rishi Atri e Anusuya, que ensinavam o Kriya Yoga e o ensinamento de Bô Yin Râ em França, Agostinho da Silva, Sant'Anna Dionísio, Dalila Pereira da Costa e José V. de Pina Martins (na fotografia, junto a Pico della Mirandola) são os principais, sem mencionar agora os indianos....

Muito também se poderia reflectir sobre a nova Era e a espiritualidade de Portugal, nas últimas décadas e na época que atravessamos, na qual é preciso, mais do que entrarmos em grupos exploradores e mistificadores, e agora em online,  estarmos bem alinhados psico-somática e espiritualmente, praticando com regularidade a meditação e a religação divina, e com modos de vida ecológicos e sóbrios, assentes de preferência na alimentação e agricultura biológica, para podermos resistir às forças artificiais, massificantes e alienantes do sistema mundial neo-conservador.
Os mais influentes e mais ricos do sistema capitalista neo-liberal, liderados pelo Fórum Económico Mundial,
estão a tentar implementar uma Nova Ordem Mundial cada vez mais ditatorial, com muitos políticos vendidos ao semi-secreto grupo da alta finança e às grandes empresas (das farmacêuticas e agro-química à indústria dos armamentos), de que qualquer governo da USA é em geral o principal porta-voz e opressor mundial, com aliados poderosos, como a Inglaterra, a Austrália e alguns outros. 
A misteriosa estirpe do sar corona, provavelmente saída dum laboratório sino-ocidental de Wuan, veio aguçar esta situação, sendo por vezes visíveis propósitos e métodos autoritários e opressivos de transformação e escravatura da Humanidade, aos quais deveremos saber lucidamente responder, resistir, adaptar-nos, vencermos.

                                          

Saibamos valorizar o trabalho interior, a sós e em pequenos grupos, associações e comunidades, de preservação e harmonização do planeta e da sua biodiversidade, e do ser humano na sua dignidade e liberdade, e é bom estarmos neste momento a conversar, no bom sentido que o Agostinho da Silva realçava, o de convergirmos numa unidade maior, num sítio como a Espiral, tão ligada à alimentação natural, à medicina não sintomática e às práticas psico-somáticas alternativas à sociedade mecanicista, materialista e tão manipulada que nos rodeia.
Tentarmos valorizar a potencial missão de Portugal de continuar a sua tradição cultural universalizante, iniciada nos Descobrimentos, com a realização mais profunda de uma verdadeira espiritualidade. ou seja, já não por dogmas nem mitos, nem nacionalismos, quinto-imperialismos ou sectarismos, nem mistificações de reincarnações, canalizações e quintas iniciações, mas pela fraternidade, pelo conhecimento verdadeiro e pela maior invocação, meditação, assimilação e comunhão
com o nosso espírito imortal e com os mestres, anjos e a Divindade.

                A estrela do espírito individual imortal, num ornamento de Bô Yin Râ.
Nisto me distingo da  mindfulness, uma moderna (e algo superficial e comercial) apropriação de uma técnica, de origem yogi e budista, de recolhimento e observação da transitoriedade dos conteúdos psíquicos, e que é considerada hoje uma panaceia facilmente acessível e sem efeitos colaterais e que é contextualizada e praticada sem graça nem espírito, nem abertura e ligação ao Amor, ao mundo espiritual e à Divindade. É claro que tal prática de observação pode ajudar algumas pessoas a estarem menos agitadas ou deprimidas e ser um começo de um caminhar espiritual, mas para tal é preciso uma orientação humanista e uma visão do ser humano como corpo, alma e espírito que a mindfulness não possui em geral.
Se as pessoas conseguirem viver mais fraternalmente, superando egoísmos, separatismos e assimetrias tão grandes, será possível impulsionar-se a sociedade a escolher modos de gestão e de governo sensíveis e responsáveis, nos quais não sejamos apenas marionetas de interesses estrangeiros ou da alta finança, como estamos a assistir frequentemente com as sucessivas crises, destacando-se esta última do vírus gripal de 2020, e que está talvez a ser aproveitada para destruição dos mais fracos e para o crescimento da repressão e submissão.
É necessário que haja mais procura de conhecimento harmonizador através de investigações sérias e debates construtivos e por competentes, para que decisões e medidas baseadas numa imparcial e alargada demanda da verdade e do bem comum sejam formuladas e implementadas a favor do bem dos muitos, e que sejam depois transmitidas bem pelos meios de comunicação...
Sabemos contudo que muito dificilmente o mundo dos partidos e dos políticos mudará, pelo menos rapidamente, pelo que a consciência da riqueza humana e espiritual potencial de cada ser, no meio de um património cultural valioso e duma natureza bela e fértil, como há em Portugal e em tantos países, deve por si só impulsionar-nos a desabrochar em trabalhos e criatividades valiosas a sós, em famílias e em pequenos grupos, algo indiferentes às negatividades e roubalheiras que nos rodeiam... 
Utopicamente, e vencendo as distopias, massificações alienantes e autoritarismo, poderemos admitir que tais núcleos resistentes se irão alargando, como famílias, comunidades, grupos, apoiados numa agricultura e alimentação orgânica, na saúde defendida por meios preventivos e naturais, com práticas de oração, de meditação e de contemplação, por vezes até em sintonia de celebração com estações do ano, festas dos calendários religiosos, posicionamentos astronómicos, desenvolvendo assim modos de vida mais harmoniosos e holísticos.
Disto resultará uma melhor a ligação com os eco-sistemas e espíritos da natureza, com os anjos, santos e mestres, e com a Divindade, gerando-se uma vivência maior supra-local da fraternidade ou irmandade dos seres nos seus mundos e do Espírito Divino e das Suas qualidades que nos unem e abençoam.              Sem ser V Império nenhum, um mito demasiado queimado por nacionalismos e zelotas, tanto mais que o Império do dólar e da USA ainda não terminou, nem a nova era do Aquário será provavelmente mais que uma designação esperançosa para certos ideais e tentativas de mudanças de paradigmas e que poderão ser sobretudo apenas sub-campos mais luminosos na multidiversidade da grande alma da Humanidade e de Gaia.
Eis-nos pois tanto num belo mas árduo caminho interior como numa luta exterior por ideais e realizações pelos quais vale a pena peregrinarmos e gerarmos sons e palavras, obras e livros, lutando, esforçando-nos com amor, no "talento de bem fazer".                             Mantermo-nos lúcidos e fortes e em sabedoria e amor, rumo ao mundo espiritual e à Divindade, pelo bem, eis a nossa estrela diária...

                              Aum Tat Sat...

António Paiva – Muito obrigado por esse propósito para a peregrinação da nossa vida
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Biografia de Pedro Teixeira da Mota.
Estudou em Lisboa nos Maristas, Colégio Militar e Liceu Pedro Nunes. Licenciado em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa.
Após duas estadias de um ano e dois meses na Índia onde foi um yogi, e em que foi niciado por alguns gurus, começou a ensinar a espiritualidade indiana, yoga e, em especial, a meditação, em Évora, Porto, Guimarães, Covilhã e Lisboa, contudo dentro de uma visão do caminho espiritual perene e não
sectário nem de marketing. Tornou a estar um ano na Índia em 1995.
Em 1988 e 1989 foi co-director, com Lídia Caldeira Cabral, da Associação Waldorf de Lisboa, onde proferiu várias conferências e onde levou Agostinho da Silva a conferenciar.
Publica em 1988 e 1989, após consulta prolongada do espólio do Fernando Pessoa na Biblioteca Nacional, a Agenda do Centenário de Fernando Pessoa e o Livro da Sabedoria Portuguesa, e quatro livros de inéditos de Fernando Pessoa, comentados: Moral, Regras de Vida e Condições de Iniciação; A Grande Alma Portuguesa; A Rosea Cruz; Poesia Profética, Mágica e Espiritual.
Publica em 1998 O Livro dos Descobrimentos do Oriente e do Ocidente, de efemérides para cada dia do mês, a propósito dos Quinhentos anos do Descobrimento do caminho marítimo para a Índia. Encontra-se agora online no blogue, em doze textos, correspondentes
aos 12 meses e muitíssimo ampliado e bem ilustrado.
Entre 2003 e 2005, foi co-fundador e animador, com Sofia Costa
Quintas e Célia Costa Cabral, da Livraria e Galeria Pessoas e Saberes, em Lisboa, onde realizou várias conferências e meditações.
Em 2006, dá à luz a tradução comentada do texto sânscrito Cântico da
Consciência Suprema, Astavakra Gita, nas Publicações Maitreya.
Em 2008 faz a tradução (com Álvaro Pereira Mendes), e introduz,
comenta e anota o Modo de Orar a Deus, de Erasmo de Roterdão, nas Publicações Maitreya.
Em 2008 colabora com doze entradas de temática espiritual no Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, coordenado por Fernando Cabral Martins, da editorial Caminho.
Em 2010 participou na galeria Novo Século, de Carlos Barroco e Nadia Baggioli, na exposição colectiva de artes plásticas intitulada “O Amor é Cego”, com livros de artista manuais.
Em Maio de 2015 publica o livro de trinta e três ensaios intitulado Da Alma ao Espírito, nas publicações portuenses Maitreya e que, embora com pequenas tiragens, está na 3ª edição melhorada.
Em Junho de 2015 é co-prefaciador, com Anabela Rita, da Mensagem, de Fernando Pessoa, ilustrada por 25 artistas e editada pela Prelo Arte, e
coordenada por José Maria Ribeirinho.
Trabalhou como especialista do livro antigo, catalogand
o e comentando em alfarrabistas ou leiloeiras lisboetas, de 1994 a 2020.
Tem proferido numerosas conferências sobre a Tradição Espiritual Portuguesa, e seus principais elos, em especial Jorge Ferreira de Vasconcelos, Antero de Quental, Wenceslau de Moraes, Fernando Pessoa e Augusto de Santa Rita, mas também sobre o Humanismo, em especial Erasmo, e ainda a sabedoria espiritual de outros povos, em especial da Grécia
com Pitágoras e os pitagóricos, Índia, Irão e Japão.
Colaboração esporádica em jornais e revistas, destacando-se
Raiz e
Utopia, Arte e Opinião, Nova Renascença, Arte Ibérica, Agenda Cultural de Lisboa, Singularidades, Ar Livre, Nova Águia, Artes e Letras, Transdisciplinar, Pessoa Plural (nº 9, Oriente), Revista Portuguesa de História do Livro.
Página ou blogue: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com., e um canal no Youtube, também sob o mesmo nome, e algumas páginas culturais no Facebook.                                                                            
Investigações em curso: modos de vida para o séc. XXI, a espiritualidade mundial ou tradição perene, e mais particularmente a tradição espiritual Portuguesa, a tradição yogi indiana, a pitagórica e dos mistérios da Antiguidade, a mística iraniana e sufi, o shinto e o ensinamento de Bô Yin Râ, bem como as ligações entre ciência moderna e consciência, e a aprofundar a meditação e os mistérios do ser humano, do Cosmos subtil e da Divindade.

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