Marsilio Ficino à esquerda, Pico della Mirandola e Angelo Poliziano, fresco da época por Cosimo Rosselli |
Nestes dias dos 520 anos da sua morte (2019), eis uma tradução do latim (na edição parisiense de 1641, comparando com a discutível edição inglesa de 1994), que fiz de um excerto da sua longa carta escrita em 1478 em Florença para o cardeal João de Aragão, filho do rei Afonso de Aragão, e que bem merece a nossa atenta meditação:
«Eia, caminha de novo para o círculo lúcido da tua mente, de certo modo quase um espelho, e especulando e contemplando atinge no mundo e no extra-mundo a esfera intelectiva e a esfera do inteligível, cujo centro está em toda a parte, pois penetra todo universo infinito, mas a circunferência em parte alguma pois está infinitamente sobre-eminente ao universo..
Eia, contempla a forma divina, a fonte de todas as formas, a forma uniforme e omniforme. Vê esta forma apresentando-se a cada passo a todas as mentes, especialmente diante das puras como espelhos!
Agora, atinge-te fulgurantemente o Deus dos deuses, perante o qual nenhum deus é o verdadeiro.
Agora a bondade eterna do bem é exuberante, totalmente não participante do mal.
Agora brilha a imensa Luz das luzes do Sol e dos outros seres espirituais. À volta da qual circulam o sol, as estrelas e as almas, tal como a lua à volta do sol.
Os raios perenes deste Sol eterno, que eternamente são sempre os espíritos humanos, são envolvidos pela nuvem escura do corpo, mas reflectem em si o Sol, se o quiserem através da cogitação e do afecto.
Sem dúvida, eles contraem-se para o Sol, tal como originalmente brotaram dele.
Portanto, assim como eles podem refluir para o Sol em qualquer altura, uma vez que todos os impedimentos foram subtraídos pelo contemplar e amar segundo os ritos certos, pois claramente emanaram dele desde o princípio sem se separarem, é evidente que são sempi-eternos, próximos do eterno em si mesmo.
Eles patenteiam mais claramente a sua imortalidade quando valorizam as coisas mortais como mínimas, principalmente comparadas com as graças eternas.
Para além disso reconhecem o que é imortal como imortal e a imortalidade em si mesma, isto é, apreendem até certo ponto Deus, através da razão certa de tal imortalidade.
Deus providencia primeiro e acima de tudo para aqueles que vêem o Deus omnividente. Se Deus é (como certamente é) a causa de todas as coisas, ele está acima de todas as coisas.
Se ele é simplicíssimo, o que a suma potência manifesta, certamente então nele não é outra coisa ver que ser, pelo que ele é tudo e vê tudo nele. Sendo óptimo, o que não se duvida, então nele o ver é providenciar.
Assim vendo tudo, ele providencia universalmente perfeitamente, sobretudo para os espíritos que verdadeiramente o vêem em toda e qualquer coisa e o veneram acima de tudo.»
Possamos nós então conseguir tornar a nossa alma mais transparente à Divindade e mais capaz de a ver e a amar com persistência ou fidelidade, e logo acolhê-La viva no coração do coração, como Fiéis do Amor.
Sem comentários:
Enviar um comentário