sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Um texto português inédito do movimento "Iniciativa Planetária para o Mundo que nós escolhemos"

                                                                 

Em 1981 foi lançado e dinamizado um projecto de encontros, em vários países, de pessoas, comunidades e grupos   alternativos que trabalhassem para o que ficou como título do movimento, Iniciativa Planetária para O Mundo que nós escolhemos, o qual culminou num Festival com comunicações, exposições e seminários entre 19 e 21 de Maio de 1983 em Bruxelas e, num Congresso em Toronto,  de 17 a 21 de Junho, onde cerca de 475 pessoas de vinte países geraram conclusões e recomendações para os responsáveis políticos mundiais.

 Divulguei-o em Portugal no C.A.L., Comité anti-Nuclear de Lisboa, que, como grupo, dinamizado sobretudo  pelo António Fonseca e a Gertrudes Silva, assumiu o desafio, no qual o Afonso Cautela, e com a sua  "Frente Ecológica", também participou, realizando-se algumas reuniões no C.A.L., e um encontro alargado a 6 de Fevereiro de 1983,  no Centro Nacional de Cultura, do qual o Afonso deu notícia num comunicado da Frente Ecológica. Na dinâmica da Iniciativa Planetária em Portugal  geraram-se vários textos, uns que ficaram em manuscrito e outros dactilografados e policopiados. Este, ficou em manuscrito inédito, tendo-o eu escrito em Março de 1983, pouco antes da celebração do solstício no Jardim da Estrela e dois meses antes do encontro em Bruxelas do Festival pelo Mundo que escolhemos, da Iniciativa Planetária. Já depois de o ter transcrito agora em Setembro de 2025  encontrei uma versão muito semelhante, aperfeiçoada, dactilografada por mim, e que reproduzo no fim.

«Nós que andamos nesta vida a procurar sobreviver harmoniosamente com a Natureza, com os outros, com nós próprios, e com a Divindade, encontramos muitas dificuldades para o realizar. Ora o cansaço ora o desânimo ora a violência, ora a agitação ora a precipitação tomam conta de nós, [ainda que momentanemente,] toldando ou frustrando a nossa consciência.
Estes sofrimentos impostos à nossa alma (ao nosso ser interior) resultam pois (ou vêm) de relações incorrectas seja por nossa causa seja por causas exteriores e que estamos conscientes ou não.
Tem-se então erguido seres, grupos, métodos, para diminuir os factores negativos ou anti-vitais e fazer crescer os produtores de vida na sua pluridimensionalidade. Tal é a origem dos mais diversos trilhos naturais (naturistas), económicos, espirituais, culturais, sociais, ecológicos que têm procurado possibilitar aos seres humanos a sua libertação da ignorância, do sofrimento.
Se no nosso país a natureza não foi ainda totalmente destruída, e se os valores qualitativos e humanistas estão ainda vivos nas pessoas,  é motivo para darmos graças, ainda é mais urgente é agirmos para que as nossas crianças não sejam habitantes duma civilização de cimento, de fábricas e todos os artificialismos e alienações que a sociedade (consumista) vai largando nos anzóis que pescarão os peixes para separativismos, prisões e hospitais [doenças e fanatismos].
São então observáveis (Assim observam-se) em vários países reformulações da maneira de compreender e viver apropriada ao ambiente local, nacional, planetário e espiritual do momento presente. Assim têm nascido vários movimentos alternativos, entre os quais os de ecologia é um deles mas que poderemos citar, na base dos sectores do Festival da Europa para o mundo que nós escolhemos, a realizar em Bruxelas 27 a 29 [19 a 21] deste mês, os seguintes: consciência ecológica, auto-gestão, crescimento pessoal, não violência, dimensão comunitária, etc.»
Entre parênteses (.. ) estão variantes entre os dois textos e entre [..] um acrescento actual. O texto dactilografado foi escrito já depois do Festival de Bruxelas, pelo que desapareceu tal menção. É possível que os sectores não especificados no final manuscrito e já nomeados no texto dactilografado possam corresponder ainda a algum encontro no C.A. L. 


 
                           

3 comentários:

Maria Eiset-Andersen disse...

Olá Pedro Teixeira da Mota, encontrei este artigo e o seu blogue por acaso ao pesquisar informações
de Carlos Sombrio. Que recordação bonita, do C.A.L.-comite anti-nuclear de Lisboa e do grupo de amigos que faziam parte. Tantas iniciativas importantes tivemos e fizemos.

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças muitas, Maria Eiset-Andersen. Sim, sem dúvida, há uma história alternativa, ecológica, espiritual dessa época bem valiosa e que ainda está pouco trabalhada ou divulgada, apesar de contributos como os do António Mantas e do José Carlos Marques. Agora mesmo melhorei o contexto deste texto, e vários outros ainda deverei partilhar.

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Entretanto encontrei uma versão posterior ao Encontro ou Festival em Bruxelas, escrita à máquina e com diferenças, pelo que resolvi partilhar as imagens delas.