O filósofo Alexander Dugin, com a sua notável capacidade de visão geo-estratégica mundial e russa, comentou nestes dias do S. Miguel de 2025 as últimas declarações de Donald Trump acerca da Rússia, proferidas no seu discurso, como quase sempre de frases soltas, narcisista e imperialista, nas Nações Unidas.
Desde há muito crítico da suavidade com que a Rússia respondeu aos ataques da NATO, dos USA e da Ucrânia, exigindo melhores e mais duras estratégias Alexander Dugi tem reclamado como sendo necessária também a consciencialização por parte da população que a Rússia está verdadeiramente em guerra e não se pode distrair, superficializar nem liberalizar-ocidendalizar mas antes, unida, guerreira, agir sacrificialmente pela Justiça, a Mátria, a Tradição, a Religião, a Multipolaridade.
O núcleo do seu texto centra-se na afirmação de Trump de que a Rússia seria um "tigre de papel", observação complexa de ser entendida na sua causalidade e intencionalidade: quereria com isso Trump dizer que militarmente a Rússia não é muito forte e pode ser derrotada facilmente, ou mesmo que europeus e ucranianos não terão dificuldade de a derrotar, não sendo necessário uma intervenção directa norte-americana, que contudo pela beligerante NATO está sempre presente indirectamente, ou foi tal afirmação apenas uma das suas impulsivas valorizações da grande América imperialista?
Alexandre Dugin irá contextualizá-la dentro do estado da sociedade russa, embora talvez de um modo excessivamente crítico das orientações militares, geo-estratégicas e ideológicas do Kremlin e de Vladimir Putin, para ele (e para outros estrategas russos) demasiado contemporizador ou suave, algo que espantará a população ocidental alienada (e a portuguesa amilhazada) pela demonização que os meios de informação têm feito sobre um dos melhores líderes mundiais, Vladimir Putin, que na realidade tem evitado os alvos civis ucranianos e os perigos para os soldados russos.
Por outro lado, mostra tanto optimismo (talvez ilusório) quanto à intencionalidade de Donald Trump como confiança no povo russo e na sua liderança, e terminará no fim com um apelo enquanto elo ou mestre da Philosophia Perennis, tão presente, ainda que mais enraízada na tradição cristã ortodoxa,em Soloviev, Berdiaeff, Bulgakov e Florensky e a que podemos juntar a sua filha Daria Dugina (muita luz e amor na sua alma!).
Esperemos que os coligados mais beligerantes ou warmongers ocidentais não se excitem com a ideia da fragilidade russa, nem se auto-sugestionam e a tentem propagandear ("a Ucrânia está ganhar", repetem os vendidinhos Milhazes e Rogeiro), e avancem em mais opressivas e contraproducentes sanções da UE e dos USA, e na participação da NATO nos ataques à Rússia do regime banderita de Kiev, que deveria quanto antes desnazificar-se e neutralizar-se para bem do seu povo tão sacrificado à oligarquia infrahumanista ocidental que o está a usar contra a fraternidade eslava, a Rússia tradicional e a multipolaridade.
Oiçamos então o pai da tão notável filósofa martirizada Daria Dugina:

«O dito de Donald Trump acerca da Rússia ser um "tigre de papel" é certamente insultuoso. E, claro, falso. No entanto, ele atingiu um ponto sensível.
No início da Operação Militar Especial, demasiado na Rússia se havia tornado um simulacro [ou falsa aparência]. Somente quando confrontados com uma guerra real e brutal começamos a perceber gradualmente o quão negligenciado tudo estava — sobretudo na esfera militar, e em especial na sua liderança. Os exemplos são claros.
Não em Trump — pois que ele primeiro lide com a completa degeneração de sua própria sociedade, onde as coisas estão muito piores — mas aos nossos próprios olhos russos, as palavras "tigre de papel" não são totalmente falsas ou mera propaganda. Tivemos, criticamente, muita imitação; nós parecíamos ser o que não éramos. Descobrir isso foi perigoso. Contudo, veio à superfície.
Olhando para trás, e com certas ressalvas, há algo em tal julgamento incisivo que não pode ser descartado com a frase "não existem ursos de papel." De papel, pode-se cortar qualquer figura. As possibilidades de simulacros são vastas.
Ainda assim, eu tiraria outra conclusão dessa acusação hostil. Se, em certa medida, éramos um "tigre de papel" no início da Operação Militar Especial (certamente não completamente), agora com certeza não somos. Mesmo então, não éramos totalmente assim. Éramos um urso vivo e real, mas adormecido. Sobre o seu sono piscava um desenho animado grosseiro - esse era o simulacro. As elites hesitaram em acordar o urso, acreditando ser muito arriscado e pensando que poderiam gerir com o cartoon [ou simulacro animado].
Agora tornou-se claro que, sem verdadeiramente acordar o urso, não podemos vencer esta guerra. Meios puramente técnicos não serão suficientes. Tentamos, e falhou. Então, precisamente agora, um curso [ou caminho]foi traçado para se passar do simulacro à realidade; uma operação para despertar o povo está em marcha.
Os dois grandes desafios - Vitória e demografia - só podem ser enfrentados através do despertar, através da transição da imitação para a realidade. Esta foi a mensagem de Andrei Belousov quando assumiu o cargo de Ministro da Defesa: erros podem ser cometidos, mentiras não podem.
Não somos um tigre de papel. Não mais.
No entanto, isso requer ainda uma prova histórica firme.
Acredito que o Ocidente, que provocou esta guerra, reuniu através de seus serviços de inteligência e redes certas informações secretas de que o "tigre" era "papel." Isto não era totalmente verdade, mas também não era totalmente falso. A autenticidade pairava na borda da falsificação. A diferença estava na nuance, em poucos pontos percentuais.
Suportamos o momento mais difícil, quando o bluff desmoronou, e agora estamos claramente estabelecendo-nos - no campo de batalha e em casa, na diplomacia e na construção de um mundo multipolar - como algo real, sério e poderoso.
Ainda assim, vestígios do "papel" permanecem. Não de forma desastrosa, como antes, mas permanecem.
Se, ao rotular a Rússia como um "tigre de papel," Donald Trump estiver de fato a sinalizar uma retirada do apoio direto à Ucrânia, as coisas ficarão um pouco mais fáceis para nós. Mas devemos alcançar a Vitória em todas as circunstâncias - mesmo que não fique mais fácil, mesmo que fique mais difícil.
Vivemos num ponto de viragem na história. Estamos quebrando-o - e ele está tentando quebrar-nos. As balanças da Vitória oscilam.
Agora é vital voltarmos para a ciência e a educação. E a filosofia. Aqui estão as chaves para a autenticidade.
Hegel disse que toda grande potência deve ter uma grande filosofia. Sem ela, o próprio poder torna-se um simulacro - um "tigre de papel." Despertar significa o despertar do espírito.»
Saibamos e consigamos então nós, russos e filorussos, vencer os simulacros infrahumanistas e hegemónicos do Ocidente político corrupto e opressivo, pela acção abnegada e pela criatividade e o esforço filosófico, religioso ou espiritual, de modo a assim despertarmos a nossa consciência do Espírito, na multipolaridade equitativa e fraterna, e na religação criativa e libertadora de cada pessoa e da Humanidade à Divindade...



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