quarta-feira, 30 de agosto de 2023

A Rosa e a Violeta, sainete num acto, manuscrito de Higino da Costa Paulino. Pangim, Índia, começos do séc. XX. Inédito até hoje.

Esta pequena peça num acto, A Rosa e a Violeta, um sainete, na terminologia de origem espanhola, foi escrita em Pangim, Goa, Índia Portuguesa, nos começos do século XX, por Higino Augusto Mascarenhas da Costa Paulino, que ali casou com Maria Helena Gama de Noronha e foi o pai da minha avó materna Fernanda Maria, e onde viveu trinta  anos bem criativos e animados.

Jovem de vinte anos, em 1888, Lisboa.

Em Lisboa estudara Medicina mas depois deixou-a e dedicou-se mais às artes:  música,  poesia,  pintura,  piano, tendo sido director da revista lisboeta Gazeta Musical, Jornal Ilustrado Theatros, Musica e Bellas Artes, nos anos de 1886 a 1888, onde conviveu bem e publicou sob o pseudónimo de Gino várias biografias de compositores, pianistas e cantoras, algumas delas já transcritas para este blogue.

                                         

Conhecera a sua futura mulher Maria Helena Corrêa da Silva e Gama de Noronha em Queluz, mas que, nascida numa família há séculos na Índia em Goa  vivia, o obrigou, por indicação do seu pai D. José Joaquim de Noronha  a partir para esse Oriente de sonho, onde se casou e foi inspector dos Caminhos de Ferro, e pai de seis crianças (duas delas viriam a publicar dois livros de memórias da Índia), entregando-se à educação cultural, artística, moral e espiritual delas, e de outras crianças de Pangim, organizando récitas e representações teatrais, e escrevendo para tal mas também para outros fins,  poemas, alguns impressos em folhas volantes, como também realizava o seu amigo e mais famoso poeta Fernando Leal, o grande amigo de Antero de Quental (curiosamente casado com Guiomar, irmã da sua mulher Maria Helena) e peças teatrais, uma só impressa e que foi representada em benefício das crianças da Bélgica aquando da 1ª grande guerra, Pátria, que possuo mas que não está registada na Porbase, o catálogo online da Biblioteca Nacional e de outras bibliotecas públicas. Possuímos, além deste sainete que a minha mãe, sua neta, me transmitiu e que pude agora transcrever, outra peça inédita também representada «em récita a benefício das Crianças belgas» nas noites de 9 e 23 de Setembro de 1926 no teatro Vasco da Gama, em Pangim.
Nele Higino aborda o facto de duas jovens amigas terem de participar um baile com o objectivo de conhecerem os seus noivos e eventualmente de submeterem-se à vida permanente com outrem, e de quem podem nada saber ou gostar. Numa altura em que os casamentos eram na maioria arranjados pelos pais, tais escolhas segundo os interesses e sensibilidades deles frequentemente só traziam desilusões e sofrimentos para as jovens ou jovens forçados a casar-se. E na sociedade indiana, que rodeava a indo-portuguesa, isso era flagrante e frequentemente trágico, dadas as diferenças de idade e a eventual morte em pira da viúva, sati, contra a qual também se insurgira numa peça Tomás Ribeiro, que fora à Índia em 1870 (do que deixou uma boa descrição da viajem), onde esteve dois anos como secretário geral do Governador Visconde de S. Januário, e foi um dos fundadores do valioso Instituto Vasco da Gama.  

Higino da Costa Paulino escolheu este título A Rosa e a Violeta, dentro do princípio homológico de que  os animais e as plantas simbolizam e espelham tanto qualidades abstractas e naturais como as virtudes e fraquezas dos seres humanos, e que  portanto podem-se deles tirar correspondências instrutivas valiosas, tal como as fábulas, os contos e os livros de emblemata transmitem-nos.  Com elas, Higino expande e insere na Natureza e na Flora as duas jovens  Noémia e Sílvia,  com as suas  diferenças de personalidade, riqueza, sensibilidade, intencionalidade e vias futuras possíveis,  as quais se acentuarão e se transformarão pela sabedoria e o amor,  ou seja a relação com o Amor, com elas, o outro, os outros,  numa vivência individual inter-relacional própria mas influenciada pela educação, pelos exemplos, pelo ambiente, ou mesmo pelas conversas sinceras em almas abertas à procura da verdade,  conjunção esta denominada na Índia satsanga, de sat, verdade, sanga, companhia.  A peça tem claramente intuitos didácticos, axiológicos, em certos aspectos estará algo datada ou, melhor, reflecte uma época e meio, sendo demasiado moralista para alguns, mas é uma peça pequena, divertida e séria e nas duas páginas finais, Higino, num certo golpe de génio, dramatiza-a mais e coroa-a com um poema em que enaltece o amor-caridade, usando contudo  a palavra esmola, que há que compreende-la, não num sentido de superioridade e coitadinho, tanto mais que muitas das suas peças foram representadas para angariar fundos para causas sociais, mas na sua etimologia de acto realizado por partilha de bens ou do tempo por compaixão, piedade,  benevolência,  empatia e unidade, qualidades estas do coração espiritual que ao longo da vida devemos desenvolver, e por vezes em vitória árdua sobre a insensibilidade,  desconfiança e egoísmo que nos desalinham do Amor Sabedoria e da Unidade da Humanidade.
A quais dos seus filhos e filhas terá lido, quem a apreciou, no que frutificou? E hoje, haverá quem ainda vibre em alguns passos com ela? Bem, eu  senti alguns sentimentos, e espero que algumas poucas de pessoas, além dos descendentes, ainda apreciem esta peça que entra assim, modesto vaso de rosa e violeta, no reportório da história do Teatro Português.  E exprimo a saudação e gratidão anímica a um antepassado criativo bom e sábio que certamente nos planos espirituais sorrirá connosco. Lux-Amor!


A ROSA E A VIOLETA

sainete em um acto

 

Personagens


Noémia
Sílvia

Actualidade

por Higino da Costa Paulino.


A ROSA E A VIOLETA

sainete em um acto


Sala de estar (boudoir) elegante de menina rica. Toilette Pompadour (ao estilo, no séc. XVIII, da famosa amante de Luís XV). Observa-se alguma desordem na disposição do mobiliário. Vestidos e ao centro está um candeeiro acesso, com o respectivo abat-jour. Sobre andas espalhadas ao acaso sobre alguns móveis. É noite e na mesa mesa e toilette alguns ecrans com joias. Uma coluna de madeira sobre a qual assenta um vaso de flores, uma estatueta ou um candeeiro. Nóemia em elegante vestido de baile. Trata de cingir no pescoço um colar de pérolas, em frente do espelho.
Sílvia também em traje de baile, toda de branco, sem jóias, penteado liso, trazendo ao pescoço uma fita preta de veludo donde pende uma cruz de ouro, entreabre o reposteiro

CENA ÚNICA

Noémia e Silva.


Sílvia (Entre portas)
Pode-se entrar?
Noémia
(Em face do espelho, sempre preocupada com o colar) Pois não, já pronta?
Sílvia
Não é cedo.
Noémia
Como te enganas, minha Sílvia! Não devemos entrar no baile antes da meia noite, é o chic! Tua mãe onde está?
Sílvia
No salão pequeno, conversando com a tua. Mandaram-me para aqui, vim.
Noémia
E fizeste muito bem! Provavelmente elas desejam estar sós.
Sílvia
É possível, pelo menos assim parece... mas porque será?
Noémia
Nada sei ao certo, mas desconfio! Por mais que diligencie não consigo fechar este colar! Se tu me auxiliares, minha boa Sílvia...
Sílvia
Com muito prazer. É lindo... não t'o conhecia!
Noémia
Não admira. Deu-me o meu pai, há apenas três horas. É realmente um encanto. As pérolas são o emblema da mocidade, as joias únicas que nos são mais próprias, dizem, mas eu dou preferência aos diamantes, embora os moralistas proclamem que o seu brilho é um reclamo a quem os usa e por consequência impróprias à nossa idade. Mas minha querida Sílvia, tempo virá, em que elas façam parte da nossa corbeille de noivas.
Sílvia
Noivas?
Noémia
Noivas, sim!... então nós havemos de permanecer toda a vida solteiras?
Sílvia
Quem sabe...
Noémia
Credo: Longe vá o teu agoiro! (Reparando no traje de Sílvia) Mas como te vestiram para um baile: parece que vais tomar a primeira comunhão. E para rematar esta cruz ao pescoço, pendente de uma fita preta.
Sílvia
Então não estou bem assim?
Noémia
Só te faltam, minha Sílvia, o livro de orações, a grinalda de flores e o véu branco. Que ausência de bom gosto! Nem sequer um pequeno decote... os cabelos lisos... sem brincos... que esquisitice! Assim ninguém repara em ti, só pela excentricidade chamarás à atenção! Vou pôr-te uns brincos meus, e com eles ficarás melhor. (Vai buscar um estojo donde tira um par de brincos) Senta-te aqui. (Sílvia senta-se junto à toilette, Noémia põe-lhe os brincos). Já me pareces outra! E se tua mãe não se zangasse... vestia-te um dos melhores vestidos...
Sílvia
Não, não, isso não!
Noémia
Como queiras! Desconfio, porém que alguma coisa se trama, a que não somos alheias, embora nada nos tenham dito.
Sílvia
Também eu tenho algumas suspeitas
Noémia
Sim? Diz, diz, o que sabes.
Sílvia
Minha mãe recebeu, ontem, da tua duas cartas.
Noémia
Como soubeste?
Sílvia
Foi teu criado Ervafólio quem as levou. Eis o que se passou. Tinham anunciado o almoço, quando tocaram a sineta do portão. Eu já estava na sala da mesa, quando a minha criada Júlia entrando, me disse terem trazido uma carta para a minha mãe. Cheguei à janela e vi sair o Ervafólio. Perguntando à mamã de quem era a carta, respondeu-me indiferentemente, como quem não dá importância, nem ao facto, nem à pergunta. De tarde volta de novo o Ervafólio, e diz-me a Júlia – veio mais uma carta! Em vista, pois desta assídua e estranhável correspondência, suspeitei desde logo que alguma coisa de extraordinário se passava
Noémia
Também me parece
Sílvia
Esta noite...
Noémia
Uma terceira carta...
Sílvia
Não... Meu pai, que nada de expansivo tem, como sabes, e que fica sempre mal humorado, quando a mamã e eu saímos, abraçou-me com muito afecto, e disse-me: Desejo-te que te divirtas muito, minha querida filha! Ora eu não achei tudo isto, natural à nossa vida íntima?
Noémia
Tens razão! Eu também estou persuadida que não somos alheias a essa correspondência, e até à conferencia secreta que se está realizando! Alguma coisa se projecta a nosso respeito. Disseste, que ontem minha mãe por duas vezes escreveu à tua, e eu, pela minha parte, estranhei também, que ontem, notável coincidência, a condessa de Miramar, e que nos oferece o baile, duas vezes aqui viesse, encerrando-se no gabinete com a mamã, e em tão prolongada conversa, que me causou admiração, o que me prova haver caso extraordinário.
Sílvia
É de supor... pelo menos!
Noémia
Mas ainda não é tudo!
Sílvia
Sim?
Noémia
Hoje em vez de ser penteada pela minha criada como é costume, mesmo quando vou a qualquer soirée, fui penteada por um cabeleireiro, que mandaram chamar, e cuja presença me surpreendeu! Desconfio bem, minha querida Sílvia, que vamos ter noivos pela proa e que necessitamos de estar alerta!
Sílvia
Se assim é, é mal pensado, é mal feito!
Noémia
Pelo contrário... é lindo, encantador
Sílvia
E quando assim seja, supões que nós possamos imediatamente simpatizar com esses dois rapazes... que talvez nem sequer conheçamos?
Noémia
Simpatizar desde logo... não direi... mas com o tempo, tudo é possível.
Sílvia
E gostarão eles de nós?
Noémia
Eu te digo (tira dum ramo um malmequer, ramo que há num vaso sobre a mesa, e desfolha-o) Mal me quer bem me quer muito pouco nada! (Deixa cair a flor) Nada! Já vês... uma desilusão.
Sílvia
(Tendo seguido atentamente o desfolhar da flor) Perdão, faltou-te uma palavra! Malmequer, bem me quer, muito, pouco, apaixonadamente, nada! Apaixonadamente foi o que a flor disse!
Noémia
Alimentemos essa esperança!
Sílvia
Que é consoladora!
(Riem-se ambas e ouve-se meia hora no relógio)
Noémia
Falta-nos apenas meia hora, já pouco tempo nos resta. É pena que eu não possa abrir um pouco mais esse teu decote, e modificar essa toilette de educanda! Quem te fez esse vestido?
Sílvia
Uma costureira que há muito tempos temos em casa. É muito modesta, mas tem habilidade, talha bem.
Noémia
Talha bem... à moda do século passado! Mas enfim tua mãe assim o quer, faça-se-lhe a vontade. Persuade-se talvez que vamos dançar com alguns meninos do coro, ou aprendizes de clérigos! Queres tu que ao menos te ponha um bocado de carmesin nas faces?
Sílvia
Não... não!
Noémia
Pois olha, é assim que nos teatros as actrizes se tornam lindas... Faces, lábios, sobrancelhas, … tudo pintam.
Sílvia
Mas eu não quero! Prefiro parecer o que sou!
Noémia
Faz o que quiseres. (Outro tom) E se nós ensaiássemos a nossa entrada nos salões do grande mundo?!
Sílvia
Pois sim... mas como?
Noémia
Vamos ver! (Dispõe a perna como o melhor convier) Aqui as mães de família, as avós e outras matronas já reformadas: (Continuando a preparar a cena) Agora... aqui... as meninas solteiras, sob as vistas austeras de toda a veneranda parentela. (A Sílvia) Senta-te, Eu faço de condessa de Miramar e esta coluna será o visconde de Sousel teu futuro marido.
Sílvia
O visconde de Sousel... meu marido?
Noémia
Não te assustes. É por enquanto uma suposição. Vou conduzi-lo à transparência, e depois digo-te: Minha menina, eis aqui o senhor visconde de Sousel, que deseja ser-lhe apresentado. Tu levantas um pouco a cabeça, apenas por instantes, pousando logo e apenas por instantes, pousando logo em seguida os olhos no chão. E contudo indispensável sorrir e dizer: Tenho muito prazer em conhecer V. Exª. Ele em seguida, sem dúvida, pede-te a primeira valsa... Suponho que não te proibiram de dançar?...
Sílvia
Não, a mamã consultou a esse respeito o nosso confessor.
Noémia
Muito bem, está salva a honra do convento! Mas que respondes tu ao visconde?
Sílvia
Que concedo a valsa...
Noémia
Imediatamente? Sem mais uma palavra?
Sílvia
Pois que mais hei de dizer eu dizer?
Noémia
Ouve-me, minha Sílvia. Tu consultas em primeiro lugar o teu carnet (caderninho pessoal), dizendo ao mesmo tempo: Vou ver se ainda tenho alguma valsa disponível... e logo a seguir acrescentas, - apenas posso conceder-lhe o terceiro two steps (tipo de dança, e não fácil...). Naturalmente ele insiste, lamenta-se, e tu então, condescendente, dizes-lhe, que a primeira valsa está prometida a pessoa de família, ou de muita intimidade, e como tal, essa pessoa a teu pedido a trocará pelo two steps... portanto a valsa pedida é concedida.
Sílvia
E se valsando ele me falar?...
Noémia
Não te inquietes por isso! Eis palavras que a valsa inspira, ou as leva o vento, ou trazem um pedido...
Sílvia
Um pedido?
Noémia
De casamento
Sílvia
É possível... mas...
Noémia
Mas... o quê?
Sílvia
Conheces o meu padrinho o general Atouguia?
Noémia
Perfeitamente, é um velho rapaz, muito simpático, sempre muito apurado, que já conta três , e é por todos muito querido. Também sei, que não obstante a sua avançada idade, todas as damas se orgulham de entrar pelo seu braço em qualquer salão!
Sílvia
Esse mesmo! Ora no meu dia dos anos trouxe-me ela esta cruz, que aqui vês ao pescoço e disse-me: pequena conserva sempre esse aspecto inocente e tímido. É ele o verdadeiro encanto de uma menina da tua idade. A simpliciade e a modéstia conquistam sempre o respeito e a simpatia de toda a gente de bom senso.
Noémia
E que mais?
Sílvia
Disse ainda: Repara nessas criaturas vaidosas, garridas, que às vezes ainda no verdor da mocidade, se apresentam nos teatros, nas salas em toiletes quase descompostas, ornadas de diamantes, que mais provocam a atenção, e às quais os homens fazem então a corte, engrandecendo-lhes a vaidade com frases banais, compremetendo-as depois.... mas que só os idiotas escolhem para esposas.
Noémia (muito preocupada)
E depois?
Sílvia
Os homens em geral são menos frívolos, menos cépticos do que maioria das vezes se supões, ajuntou meu padrinho. No fundo do seu íntimo, com o que eles mais sonham, é com uma mulher simples, terna, delicada, que seja a apetecida companheira da sua vida, a alegria do seu lar, a veneranda mãe dos seus filhos. Conserva pois, minha Sílvia, esse teu ar cândido e tímido, tão natural à tua idade, assemelhando-se à violeta, a mais humilde das flores e cujo perfume se denuncia a distâncias quando mesmo o oculta na mais densa folhagem.
Noémia (muito pensativa)
Sim... sim, deve ser isso!
Sílvia
E certamente não se engana quem como ele tem vivido no turbilhão do grande mundo.
Noémia
Mas... (Num impeto nervoso, com sufocação de riso e de choro) Não, não, não pode ser. Teu padrinho desvaira, como todos os velhos carunchosos, mal humorados, que sofrem de gota e de reumáticos, e que não podendo volver à mocidade, veem o mundo a fugir-lhes, e com a cabeça metida até às orelhas no clássico barrete de algodão, e os pés em pantufas de lontra querm ransformar o universo num vasto e austero convento, onde todos orram de enfado e inanição! Os nossos encantos, a nossa juventude, a vida enfim que nos sorrie e nos deslumbra, não a devemos sacrificar a qualquer sujeito, que nos obrige a cozer-lhes as peúgas e a remendar-lhes as calças, isso seria um sacrilégio! Tenho pena de não encontrar agora aqui na minha presença esse senhor general Atouguia, que já se bateu em três duelos, para o mandar de presente a minha tia Hermengarda, que já enviuvou de três maridos, que funga rapé e que sofre de um catarro crónico! Provavelmente oferecia-lhe outra cruz com a competente fita preta, acompanhada de salutares conselhos sobre a aquisição de um quarto marido! (Ri novamente de desespero).
Sílvia
Mas, peço-te... suplico-te minha querida Noémia, qu não te apoquentes... não chores! Perdoa-me se as minhas palavras, ou antes as do meu padrinho te magoaram. Hei-de ralhar com ele.. muito, muito.
Noémia
Para que?
Sílvia
Ele certamente disse-me tudo isto para desculpar este meu todo acanhado, quase selvagem, pois que me estremece muito.
Noémia
Não duvido
Sílvia
Quanto ele gostaria de ter uma afilhada como tu! E como nós somos tão diferentes no génio. Tu destinada a fulgir na sociedade, onde pelos teus dotes de encanto e de vivacidade serás sempre uma figura de destaque, qual linda rosa, que pelo perfume e a beleza subjuga as outras flores, enquanto que eu tímida como sou, toda essa sociedade me assusta e me retrai! Viste já alguma vez, um ninho muito oculto na ramagem, onde pequeninas avesinhas abrem os biquitos amarelos à mãe, que sobre elas estende a asa protectora para as aquecer, enquanto pai volteia em redor à busca do sustento? Pois bem, é esse o meu ideal... o meu sonho dourado... uma felicidade modesta num lar humilde, ignorado, longe do bulício estonteante que nos cerca.
(Sente-se o ruído de uma carruagem)
Noémia
O teu amor é uma cabana... dos tempos pré-históricos. Escuta... uma carruagem que parou.
Sílvia
Efectivamente
Noémia
É sem dúvida, a a carruagem que vem buscar-nos. Pois minha querida Sílvia, é uma criatura sensata o teu padrinho, e nunca ninguém me falou assim.
Serei talvez leviana... sou... bem o conheço agora...e nunca procuraram reprimir os meus caprichos, estas criancices de hoje que amanhã serão defeitos incuráveis... e contudo chorei e choro ouvindo as tuas palavras tão dignas de respeito e de exemplo! És muito superior, a mim, minha boa amiga, e o teu coração e um diamante muito mais precioso do que todos aqueles de que se possa compor a nossa corbeille de noivas. Fui má, fui ridícula, e tu és um anjo! Toma este colar, (tira o colar dando-o a Sílvia) e em troca dá-me essa cruz, e essa fita negra...terão também esse prestígio, que tanto realça a tua candura (Sílvia hesita). Dá-me... dá-me essa cruz... não m'a recuses... empresta-me e com ela empresta-me também um pouco desse teu suavíssimo perfume, minha encantadora violeta.
Sílvia
Mas o perfume da rosa, como o teu, é mais activo, mais inebriante, mais sedutor:
Noémia
E o violeta mais modesto, mais casto e mais puro! (Trocam o colar e a cruz) Já me sinto outra!
Sílvia
E agora?
Noémia
Vamos ao encontro das nossas mães (Ambas avançam até ao fundo. Noémia, com galanteria à moda antiga, convida Silvina a sair primeiro) Vossa Excelência tem a bondade...
Sílvia
(Com igual galanteria) Não... não... primeiro V. Excª.
Noémia
(De repente, mudando de tom) Mas que delicadeza a sua! 
 
 
Noémia aproxima-se de Sílvia, segreda-lhe qualquer coisa e indica-lhe o público. Sílvia faz um sinal afirmativo. Ambas descem, avançando mais e Noémia recita os seguintes versos, enquanto a orquestra em surdina executa uma valsa lenta que se harmoniza com a recitação:

Nasce oculta entre a folhagem
a modesta violeta!
Receia os beijos da aragem
essa casta Julieta!

É triste e rasteira a planta,
onde a pobre flor assoma,
mas nessa humildade, encantador
o seu dulcíssimo aroma!

Também a flor Caridade
se brota numa alma pura,
retrai-se à publicidade,
secretamente fulgura.

E dessa mimosa flor
grato perfume s'evola
que se transforma em redor,
no perfume de uma esmola!

Essa esmola generosa,
vem da vossa mão discreta,
tem a beleza da rosa,
o perfume da violeta!

(Fim)

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Ignoto Deo, Ao Deus ignoto, soneto de Antero de Quental. Hermenêutica. Com a música de Vao: «Antagonia de Quental» - «Antero Antagony».


Ignoto Deo é sem dúvida um soneto bastante importante no conjunto da obra poética anteriana, pois é o 1º soneto dos doze publicados na 1ª edição de Sonetos, a de Sténio, em 1861 quando Antero era estudante em Coimbra. E igualmente, com pequenas variantes, é o primeiro a ser apresentado à alma leitora na edição final d'Os Sonetos completos de 1886.

Nos nossos dias este soneto musicado excelentemente por Vau, como pode  ouvir no fim deste artigo, merece leitura e consideração nossa pela sua qualidade de iniciadora gnose, por manifestar a aspiração à visão ou conhecimento de Deus no jovem de 19 anos, algo que perdurava de certo modo ainda no homem que aos 49 admitiu e decidiu, não tendo mais laços afectivos (à parte as duas pupilas e um ou outro amigo) a reterem-no, ou forças e missão para cumprir na Terra no regresso à Lisboa do passado, arrojar-se ao mar nosso ignoto do além na perigosa barca do suicídio.

Vejamos e leiamos, nas duas impressões, a de 1886 bem mais artística,  o soneto  Ao Deus Ignoto. 

                                               IGNOTO DEO

«Que beleza mortal se te assemelha,
Ó sonhada visão desta alma ardente,
Que reflectes em mim teu brilho ingente,
Lá como sobre o mar o sol se espelha?

 O mundo é grande – e esta ânsia me aconselha
A buscar-te na terra: e eu, pobre crente,
Pelo mundo procuro um Deus clemente,
Mas a ara só lhe encontro. . . nua e velha. . .

Não é mortal o que eu em ti adoro.
Que és tu aqui? olhar de piedade,
Gota de mel em taça de venenos. . .

Pura essência das lágrimas que choro
E sonho dos meus sonhos! se és verdade,
Descobre-te, visão, no céu ao menos!»

Breve hermenêutica: Na 1ª quadra Antero partilha a sua ideia ou visão de Deus, algo platónica porque faz logo a sua supremacia ou incomparabilidade em relação a qualquer beleza terrena, e estimula-nos a trabalharmos diariamente, seja na oração e meditação, seja na reflexão e escrita, pela melhoria da nossa compreensão  vias de aproximação e religação à Divindade, tão desconhecida da Humanidade, e que foi  por Antero invocada enquanto visão e evocada enquanto oração-poema,  sob o título Ignoto Deo, Ao Deus ignoto, Ao Deus desconhecido. 

Quando Antero de Quental escreve este soneto em meados do séc. XIX as concepções de Deus de base cristã, católica ou protestante, eram as predominante na maioria dos seres mais religiosos,  apenas postas em causa pelos adeptos do paganismo, do panteísmo e do panpsiquismo (que Antero valorizou),  e pelo que começava a brotar do Espiritismo,  do Budismo (também por ele apreciado) e da Teosofia, enquanto que nos não-crentes o materialismo, o ateísmo e o agnosticismo  cresciam bastante.

O que Antero, jovem genial (que não nas notas, onde chumbou até um ano) com 19 ciclos anuais do seu signo de Aries confessa, exprime e partilha de mais valioso é a  aspiração ardente da sua alma a conhecer Deus, o qual ele sente em "sonhada visão"  como o brilho ingente, isto é, não natural, não do tamanho da gente, do Sol tanto sobre ele como sobre o mar, e na 1º versão de 1861 evocado como o "mar anil", azul. Uma imagem tanto real no mundo físico como no espiritual, em que sobre as águas ou ondulações energéticas afectivas e psíquicas da nossa alma o Sol espiritual ou Divino pode infundir os seus raios ou reflectir-se, e para este desiderato ou  fim muitas práticas de oração  e meditação se ergueram ao longo dos séculos e muitos místicos testemunharam tal visão interior, com mais ou menos esplendor e impacto.

 Este soneto foi lido por Fernando Pessoa e embora não traduzido para inglês como fez a muitos outros,  pressentimos que a 2ª quadra possa ter tocado e influenciado Pessoa e logo vir ao de cima em alguns versos e personagens da Mensagem: o brilho ingente sobre o mar, o mundo é grande, a ânsia que arde nele...

A segunda quadra mostra-nos ainda a consciência forte que as aras ou altares dos templos não tinham para ele já suficiente energia vital, intelectual e anímica: não era nelas que o jovem revolucionário e em demanda de conhecimento filosófico, ecuménico e universal conseguia sentir ou intuir a Divindade, que denomina como Clemente, numa filiação etimológica romana, de bondosa, misericordiosa e que singrou no Catolicismo onde ele hauriu as primeiras luzes da adoração e aspiração ao Numinoso, muito sentido por ele também na poesia religiosa de Alexandre Herculano.


No primeiro terceto, Antero realça de novo tal face bondosa da Divindade pois cultua ou adora   a sua pietas, a sua doçura compassiva para que, face aos sofrimentos e venenos que experimentamos e que por vezes enchem dolorosamente a taça da vida, ela se derrama como mel ou bálsamo, nomeadamente pelo seu olhar  ou providência que nos agracia ou abençoa.

É uma visão divina bastante humana, e cristã, numa mescla da natureza paternal, filial e maternal, e sabendo nós como Antero amou fortemente a sua mãe ao longo da vida e que dedicou à Mãe Divina, à visão Dela,  em sonho, um poema cheio de piedade, intitulado À Virgem Santíssima, Cheia de Graça, Mãe de Misericórdia, e que também concluirá a edição completa dos seus sonetos em 1886, no fim da sua extenuante jornada,  com o soneto Na Mão de Deus, onde exprime o seu desejo de descansar o seu coração na "mão divina", qual "criança, em lobrega jornada que a mãe leva ao colo agasalhada",  podendo-se assim descortinar o valor da face Feminina da Divindade em Antero, e até interrogarmos se Antero teria alguma vez orado a Deus Pai e Mãe e se teria intuído e valorizado a Deusa Mãe, que para a maioria dos cristãos se subsumiu em Maria, e a quem Antero dedicou piedosamente o tal soneto À Virgem Santíssima, Cheia de Graça, Mãe de Misericórdia, que afectiva e conceptualmente complementa excelentemente o soneto Na Mão de Deus, que embora sendo de lavra de 1882 foi escolhido para o fim que coroa a obra, dos Sonetos completos, de 1886. 

O último terceto é também genial  pois, numa compreensão de que Deus pode brotar em nós enquanto essência ou destilação das nossas lágrimas, e enquanto imaginação ou idealização das nossas melhores aspirações, pede-Lhe que, já que na Terra, nos templos e religiões não se encontra facilmente, ao menos como uma visão no céu lhe possa aparecer, visão  interior pelo olho espiritual ou visão extraordinária ou miraculosa no céu exterior.

Sabemos que Antero de Quental não foi agraciado com tal desvendação divina, embora certamente tenha tido as suas iluminações relativas, sobretudo conceptuais mas também algumas, religiosas, poéticas e afectivas nos seus tempo mais juvenis. Foi  assim avançando para a sua amiga Morte, corajosamente mas sem plenitude de despertar espiritual, antes suspirando ou até esperando por descanso para os seus nervos e alma abnegados e desiludidos.

                                

A música de Vao, Antagonia de Quental, acompanhada do soneto e sua tradução em inglês, é bem poderosa,is e fortifica-nos na nossa aspiração e determinação persistente de podermos merecer pela nossa vida espiritual, criativa e amorosa a visão da Divindade ou, pelo menos, uma melhor ligação com Ela, para que o discernimento justo e o amor sábio vibrem mais em nós e irradiem na Humanidade e em Antero de Quental...

                           

domingo, 27 de agosto de 2023

Da Sabedoria Perene (2ª) que Antero de Quental transmitiu. Frases aforísticas.

                               
Antero de Quental (18-4-1842 a 11-9-1891), tendo recebido de António Molarinho (27-XII-1860 a 4-I-1890), jovem pintor, escultor, municipalista e poeta, uma compilação de poemas para apreciação, respondeu-lhe em 26-VIII-1889, portanto já quase no fim da sua passagem terrena,  com uma carta tão notável que se tornou o prefácio do  livro de poemas de António Molarinho, postumamente dado à luz em 1921,  abordado já por mim num artigo no blogue (https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2018/08/a-carta-de-antero-de-quental-antonio.html), mas que contém um trecho, em resposta a algum desalento de António Molarinho, de tanta sabedoria perene, que a realçamos de novo transcrevendo-a: 

«Creia que a virtude pode mais e é mais que a arte. E dura mais também: dura eternamente. As obras do bem, ligadas indissoluvelmente à substância do Universo, absorvidas, desde o momento da sua produção, para nunca mais saírem dele, vinculadas, pela cadeia duma casualidade superior, a todas as suas evoluções através dos tempos, dos espaços, dos mundos, vão aumentar o tesouro da energia espiritual das coisas, fecundá-las nos seus mais íntimos recessos e, sempre presentes, sempre activas, eternizam, nessa sua perene influência, a alma donde uma vez saíram. O Universo só dura pelo bem que nele se produz. Esse bem é às vezes poesia e arte. Outras vezes é outra coisa. Mas no fundo é sempre o bem e tanto basta.»

Saibamos mais meditar e discernir o Bem (que é também beleza, verdade e amor), e  praticá-lo criativa e constantemente, para os outros, para nós e em si, assimilando-o,  melhorando-nos e realizando-nos Nele!
 
Emanação do Bem primordial, por Bô Yin Râ.

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Caminhar sob as asas do Anjo e na aspiração à religação divina. Uma oração emblemática: Mostra-nos as melhores vias

A expressão e oração "Ó Senhor, mostra-me as tuas vias", é uma invocação dirigida a dois possíveis destinatários, o Anjo e Deus, e pode ser por várias razões, em especial  para que a via da religação com eles  possa estar a acontecer mais, e para que o nosso discernimento intua mais a cada momento qual será a melhor forma de verticalização e de sintonização com a melhor vontade cósmica ou como avançarmos nas veredas sagradas, pressentindo e seguindo as linhas de forças psico-espirituais que nos conectam mais

A imagem escolhida pelo autor da gravurinha foi a de Tobias criança em busca dum remédio para o pai a ser extraído do fígado de um peixe longínquo com o Anjo ou Arcanjo Rafael a guiá-lo em tal difícil jornada. É uma cena do Livro de Tobias, escrito por volta de 200.a. C, sem fundo histórico mas com intencionalidade de sabedoria moral, que foi incluído na Torah hebraica  mas que desde que foi adoptado na Bíblia e sobretudo depois da Reforma protestante, algo contra os Anos,  foi bastante pintada e no fundo cultuado tanto por ser a principal fonte de referência ao Arcanjo Rafael nas escrituras cristãs como por se ter considerado após o Concílio de Trento uma prefiguração do Anjo da Guarda, devoção que foi então bastante desenvolvida. 

Escrevi já um texto, creio que valioso, sobre o Arcanjo Rafael na história da Arte e que encontra no blogue (https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2017/06/o-arcanjo-rafael-e-tobias-na-historia.html). E anote-se que os protestantes, presos à literalidade das Escrituras e rejeitando o culto dos anjos, santos e Maria,  naturalmente não aceitaram como canónico este livro e no seu culto exagerado da fé na dita palavra de Dus perderam bastante o fogo do amor  no coração, que o culto ou a veneração de tais seres apoia, fomenta, intensifica. Quantos de nós aprenderam a orar de cor ou com o coração através da singela oração do Anjo da Guarda?

Ora como o discernir as melhores vias para cumprirmos as tarefas e objectivos da vida não é fácil, sabermos que há espíritos celestiais que nos podem inspirar é bem fecundo e assim a invocação do Anjo é  valiosa para nos interiorizarmos, meditarmos e intuirmos, aconteça a sua ajuda ou não, os caminhos ou vias em que não nos despistamos, mas antes caminharemos invocando e sentindo as bênçãos do Alto, dos Anjos, ou mesmo a imanência ou a compresença Divina, a partir da sua imanência ou transcendência, um valor que não devemos perder face ao materialismo transhumanista infrahumanista que a classe política ocidental tende a adoptar e impor.

Na gravurinha reproduzida as asas do Anjo tem uma forma e direcionamento bem interessante pois rompem mesmo a orla com a letra do emblema e quase que nos fazem assumi-las como linhas de força bem activadas na ligação e intermediarização dos mundos visíveis e invisíveis, mais concretos e mais subtis....

Talvez a ligeireza do passo que a gravura parece emanar do avançar do Anjo e de Tobias não venha só das asas em riste, da roupa leve dos dois ou do passo largo de ambos, mas também de caminharem na unidade amorosa ou mesmo divina, ao estarem determinados a realizarem aquilo que sentem com certeza ser o dever deles, o swadharma, a  missão a cumprir. 

Possamos nós diariamente realizar esta sintonização amorosa, este avançar à luz da mais justa actividade,  na invocação da Divindade sob que forma for,  sob a invocação  do Anjo e suas  asas.

Cada um deverá descobrir as vias melhores para nós, as que frutificarão mais em paz e justiça, criatividade, alegria e felicidade para a Humanidade e a Divindade e seus espíritos.


      Saudações do fundo do coração ao Anjo, orações com ele para o bem de muitos, e que ele faça chegar até nós mais as bênçãos divinas, mostrando as vias ou caminhos por onde o Espírito divino mais se manifesta e irradia beneficamente!

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Aleksandr Dugin: breve declaração sobre a natureza satânica do liberalismo da civilização ocidental moderna. Agosto de 2023.

Como sabemos Alexandre Dugin é hoje uma das almas e vozes mais autorizadas no domínio da geo-estratégia mundial, da filosofia política, da civilização Euro-asiática e da defesa da Tradição Ocidental, nomeadamente dos seus valores perenes, hoje postos tanto em causa pelos movimentos neo-liberais e globalistas que pretendem instaurar uma nova Ordem Mundial transhumanista-infrahumanista e nada humanista, negando a Divindade, o Espírito, a vida imortal, a dignidade, liberdade e fraternidade humana, as nações e suas tradições, a família, os géneros naturais, etc.

Daria Dugina Plantonova, uma mártir sob as garras do satanismo mais extremista.

Pai da notável jovem esperança da filosofia platónica e política na Rússia Daria Dugina, mártir (como o general Soleimani) desde que foi assassinada há um ano e dois dias por uma ucraniana em missão dos serviços secretos ucranianos, Aleksandr Dugin é uma voz corajosa e profunda da Europa e da Rússia perene e logo sempre renascendo, fazendo-nos lembrar Dostoevsky e Tolstoi e Soloviev, Berdiaev e Florensky, e  as suas palavras são sempre valiosas de considerarmos  pois apuram o discernimento nas almas na demanda do santo Graal da Verdade, do Amor e da Divindade...

 Oiçamo-lo então, em transcrição do artigo online, nestes dias de grande esperança com a Primeira Cimeira do BRICS, uma alternativa bem mais justa, fraterna e racional ou logoica, a realizar-se na ponta sul do Planeta, num continente Africano que está em aupicioso processo de libertação do colonialismo francês e do imperialismo norte-americano.

«O filósofo russo Aleksandr Dugin, no Congresso que recentemente abordou o uso do neonazismo pelo Ocidente, apontou que a ideologia liberal moderna é um mal absoluto, um sistema anti-humano que destrói propositadamente os valores tradicionais, as religiões, as nações, as famílias e até mesmo o género. 
 Aleksandr Dugin disse que é necessário compreender melhor a natureza satânica da civilização ocidental moderna – porque então a vitória sobre ela  será possível. Disse-o na conferência científica e de história prática actual Nazismo na Ucrânia: uma visão através do prisma da operação militar especial, realizada durante o II Congresso Internacional Antifascista, na Bielorrússia, em Agosto de 2023.
“Esse é o mal mais terrível que enfrentamos. O fascismo ucraniano é uma super-estrutura, é a ponta do iceberg. Precisamos de dar-nos conta da natureza satânica da civilização Ocidental moderna. Então venceremos”.
O filósofo chamou a atenção para o fato de que, no Ocidente, o liberalismo degenerou de uma tendência filosófica que implicava uma livre escolha de ideias para uma ditadura. E enquanto que em quase todos os países ocidentais qualquer indício de valores tradicionais é severamente suprimido, e o patriotismo saudável é exposto como fascismo, os governantes ocidentais têm sido surpreendentemente tolerantes (ou mesmo apoiantes) com o verdadeiro nazismo que foi criado na Ucrânia.
Aleksandr Dugin afirmou que essa atitude cínica é causada pelo desejo do Ocidente de usar o agressivo nazismo ucraniano para destruir o principal obstáculo à vitória do globalismo liberal – a Rússia. É por isso que os liberais, que não aceitam manifestações sadias de nacionalismo nos seus próprios países ao mesmo tempo oferecem ou bombardeiam com armas os neonazis que encaram o mundo pelo prisma do racismo puro e simples da Ucrânia.
Aleksandr Dugin enfatizou que o globalismo liberal, que se esconde sob a máscara do nazismo ucraniano, é um mal absoluto. Ele adquire características anti-humanas distintas, destrói propositadamente valores tradicionais, religiões, nações, famílias – e até mesmo coisas biológicas básicas como o sexo.
Ao mesmo tempo, o filósofo pediu vigilância, lembrando que a Rússia moderna não está livre desse mal, porque desde a década de 1990 esse mal penetrou com algum sucesso na sociedade russa e continua a tentar decompo-la por dentro.
Durante a conferência
, comentando-a, o vice-ministro da Defesa da Rússia, Aleksandr Fomin, disse que os neonazis da Ucrânia  estão a vanguarda da guerra civilizacional do Ocidente [traído e desgraçado pelos seus actuais dirigentes] contra a Rússia.»

Fonte: TV Zvezda. Tradução da novaresistencia.org, melhorada.

Os Anjos e suas mensagens. Iconografia angélica hermeneutizada...

                 Juntemos mais as mãos e abramos as asas da aspiração...


Trabalhemos para termos o coração e o olho espiritual mais despertos...
 
Que a paz conseguida, te ilumine e fortifique...

Da Sabedoria Perene que Antero de Quental conheceu e transmitiu. Frases: 1ª.

 Este artigo no blogue é destinado sobretudo à página Antero de Quental escritor, que tendo eu fundado há vários anos e que desfrutou momentos de relativo bom acolhimento e interacção, por causa da política bloqueadora, opressiva e fascizante do Facebook, está hoje quase morta, sendo me impossível publicar directamente na página, e apenas partilhar via blogue... Uma desgraça de pulhigrafice..


 1ª frase, de 1886 numa carta de Vila do Conde a sua irmã Ana:

«Eu estou aqui inteiramente só, mas como sempre me dei bem com a solidão, e tenho muito que estudar, estou sempre entretido e satisfeito.»

E nós, quanto tempo estudamos e reflectimos, investigamos e escrevemos sobre certos assuntos que gostamos mais e assim contribuímos com  conhecimento e a sabedoria tanto para uma Humanidade melhor como para a nossa alma espiritual?

Desperte mais as suas capacidades criativas e benéficas, e em uníssono com a alma espiritual luminosa de Antero!

domingo, 20 de agosto de 2023

A criação de valores éticos e espirituais na actualidade e no Cosmos.

                            

A ideia que a criação de valores éticos e espirituais é muito importante na vida não é fácil de se provar dada a sua intangibilidade, e porque, à parte casos raros de maior criatividade, a maioria das pessoas vive numa busca de satisfação das suas necessidades, desejos ou deveres e sem pensar em criar  valores, podendo quando muito cultivar alguns, tais a coragem, a perseverança, a sinceridade, a fé, o amor, a abnegação, o entusiasmo.
É certo que certos momentos de tais manifestações, ou a presença de tais qualidades quase que visíveis, podem ser exemplares e frutificar nuns quantos que se deixam atrair, encantar, iluminar e frutificar por tais irradiações de claridade, de coerência, de originalidade, de fraternidade, de devocionalidade, de espiritualidade.
Também é certo que a própria pessoa examinando a sua vida pode observar certas qualidades desenvolvidas, mantidas, preservadas e que são valiosas, valem para a luz e o bem no planeta, e sejam reconhecidas ou não auxiliam a harmonia dos seres nos planos visíveis e invisíveis do infinito universo, o Kosmos, que significa um todo ordenado e belo...
Simpatia interior, carácter optimista e altruísta, certas práticas diárias regulares, ou adesões a princípios ou leis, ou certos esforços, sacrifícios e dedicações maiores, são de facto manifestações de valores que se estão a assumir ou já assumidos e os que lhes dão vida ou cultivam são também alimentados por eles, numa reciprocidade anímica de se dar e de se receber e que algum modo as três Graças podem simbolizar, a terceira sendo a graça da gratidão unitiva. 

Em cada momento, ambiente, época, geração há certos valores ou qualidades que devem ser mais defendidas, manifestadas, desenvolvidas  face às muitas forças e tendências contraditórias que regem as mentes e almas da maioria, por vezes reforçadas em alianças corruptivas e em narrativas oficiais monolíticas, opressivas, falsas. 
Defender a lúcida demanda da verdade, a observação dos fenómenos nos seus processos e causas, exercer um livre ou independente pensamento, é fundamental nos nossos dias de extrema manipulação da informação massacrante e da consequente insensibilidade e quase alienação das pessoas que, sem se aperceberem, vão-se perdendo do caminho do meio ou da virtude, perdendo o discernimento do verdadeiro e do falso, do bem e do mal, e vão estacionando ou caindo em ilusórios paraísos de lugares comuns, de notícias falsas, de preconceitos e fobias, de diminuição das suas capacidades de serem lúcidas, gnósticas, justas e verdadeiras.
O despertar das consciências, a valorização da dignidade e integridade da pessoa humana e da sua possibilidade de vida justa, harmoniosa e criativa, a demanda incessante da verdade e de estados de maior amor, conhecimento e serviço útil ao Todo são então fundamentais de ser trabalhados diariamente, sem desistências, mesmo que sob as ondulações de ciclos e marés...
Para tal a meditação, a oração, a aspiração, o culto aos valores mais elevados como o Bem, o Belo, o Amor, a Verdade ou mesmo o Universal, o Divino, devem ser praticados de modo a que possamos resistir, crescer e estabelecer as antenas que permitem as inspirações e descida das energias e informações subtis e espirituais provindas de planos mais elevados que os da mera vida social  e que depois se manifestam no exterior e eventualmente tocam, atraem e inspiram outras pessoas e melhoram o nível dos grupos e sociedades...
Nestes sentidos os místicos e iniciados antigos falavam dos três inimigos da Alma espiritual: - a carne, o mundo e o diabo - , e de facto tais conceitos-realidades continuam fundamentais de ser equacionados ou controlados, senão perdemos a paz, a lucidez, o equilíbrio e as capacidades de ligação aos níveis mais transcendentais, seja imanentes, seja externos e elevados na infinitude do Cosmos.
E hoje a carne, ou instintividade corporal-animal, o mundo, ou tudo o que nos rodeia e tenta envolver, e o diabo,  vontade de domínio egóico ou mesmo violento, também denominado hubris, arrogância, desmesura, e estes são apenas alguns dos sinónimos interpretativos pois, por exemplo, Fernando Pessoa nos seus textos apresentou muitos outros, têm crescido muito, seja pelo relaxamento ou relativismo moral, seja no aumento imenso da tecnologia digital avassaladora das almas em sentidos frequentemente negativos, seja ainda no individualismo amoral tipificado no egoísmo de milhares de milionários, ou das grandes corporações, ou no imperialismo violento e excepcionalista que ainda controlam ou oprimem mais do que meio mundo...  

O desprendimento lúcido em relação ao mundo e a tanta informação, o controle das vagas psíquicas pessoais, a abertura à acção do espírito, divino ou santo, em nós, a aspiração à recepção energética e à comunhão intuitiva das ideias e realidades mais elevadas, são então importantes factores auxiliadores da operatividade da tão indispensável oração-meditação diária, da qual decorrem harmonizações, elevações, intuições, inspirações, determinações, criações e adorações que podem melhorar o estado da anima mundi, da alma nossa, ambiental, nacional, planetária e do mundo....

                                      
Perseveremos então serena mas ardente e invencivelmente nas nossas tentativas de vibrarmos em estados harmoniosos ou elevados de consciência e de cultivarmos, praticarmos, criarmos os tão necessários  valores espirituais, sejam reconhecidos e valorizados ou não, dos quais realçarei, para finalizar o conhecimento e o discurso verdadeiro, a não-violência e a serenidade,  a pureza e a beleza, o silêncio e a contemplação, a sabedoria e o ecumenismo, a invocação e comunhão com os seres e ideias que mais nos dizem, e a aspiração e adoração da fonte do Amor e da Vida, a Divindade, e no modo, forma ou nome que mais sentirmos.....