quinta-feira, 9 de março de 2023

Marcelle Costa Pina, uma esoterista luso-francesa, aprecia a ideia da não reincarnação em Bô Yin Râ no seu "Livro do Além"

Arrumando gavetas é uma tarefa importante para a ordem e o feng shui de uma casa e de uma alma,  e mais frutífera ainda quando uma estrelinha  inesperada e valiosa surge, no caso simples: cadernos diários ou de apontamentos, cartas in illo tempore em que se escreviam - e por vezes tão sentidas e magnetizadas, valiosas e duradouras - cartões e cartões de visita, fotocópias, radiografias, recortes de revistas e jornais. Vendo uma  caixa de cartão legendada Cartas que me foram dirigidas, interroguei-me se deveria perder tempo abrindo-a, ou deixá-la para mais tarde. Venceu a decisão de a examinar rapidamente e surgiu-me logo um cartão duma senhora francesa que, casando com um português, viveu em Lisboa muitos anos, na zona dos Anjos, donde se deslocava até à Sociedade Teosófica, ao ramo ou grupo semanal do irmão Manuel Lourenço, onde eu fui algumas vezes, já que o meu pai, engenheiro civil e militar, me apresentara ao irmão Lourenço, engenheiro técnico, pois sabia que ele era como eu um interessado e conhecedor da espiritualidade. [Muita Luz e Amor neles!] E assim vim a conhecer a Sociedade Teosófica, o ramo e nele a Madame Marcelle da Costa Pina que tinha uma predilecção especial por dois ensinamentos: o da Cosmogonia de Urantia, contida num calhamaço imenso que me emprestou com muitas recomendações de não o perder, e o de Jean- Claude Salemy e o seu grupo e revista Ondes Vives,  da qual me deu no fim da sua vida os números que tinha, chegando eu então a assiná-la, e vindo até encontrar-me em Paris e a dialogar com Jean-Claude Salemy, um especialista em simbologia, numerologia, etimologias subtis e profetismo, mas que contudo não me convenceu, sobretudo por um certo exagero numerológico e apocalíptico.
Já a Mme Marcelle Costa Pina era de uma gentileza enorme, de coração puro e nada impositiva:
pequenina, bem arranjada, uma senhora (vestida) à antiga, ainda (creio) com pó de arroz, batom, e com a sua voz  baixinha, suave ou doce mas lúcida e independente. E dialogávamos em francês na salinha da sua casa, tendo-lhe eu ouvido (e quem sabe se recuperarei através dos diários que conservo da época) algumas histórias dos seus encontros com espirituais antes de vir para Portugal e até com o espírito de uma amiga que acabara de falecer, pelo que já pensara algumas vezes que a devia recordar, homenagear, agradecer e, de certo modo, nestes momentos anímicos e imponderáveis, ressuscitá-la para a nossa história ainda de incarnados, graças ao blogue e à comunidade virtual que o lê, e assim o cartão de Marcelle Costa Pina foi mesmo uma bênção, pois já não seria só a memória e o coração a falarem...

E a carta é um bom documento porque trata de um aspecto que se discutia com frequência, o  haver ou não reincarnação ou vidas sucessivas. Eu conhecera há uns anos o ensinamento do mestre e pintor alemão Bô Yin Râ e emprestara-lhe o Livro do Além, onde ele tenta impulsionar as pessoas a interiorizarem-se para poderem sentir o que é o espírito em nós e como será a vida depois da morte, com os sentidos espirituais que tivermos desenvolvido, e como convém estarmos preparados para podermos, ao morrer, sair dos mundos fronteiriços e avançar para os espirituais, preparação esta que assenta, além da aspiração a Deus e à Luz, e a estarmos prontos para deixar tudo,  em não criarmos impulsões ou desejarmos mais do que podemos realizar. 
Também ensina que em geral a maioria dos seres não tem que vir uma segunda vez à Terra mas avança e vive nos mundo subtis e espirituais, mas próximos pelo coração dos que amam ou os amam aqui na Terra física, e que devemos contar com as ajudas dos guias, mestres e anjos, ou seja aspirarmos e abrir-nos a eles. Ou ainda, entre outros ensinamentos valiosos e que estão abordados neste blogue e no meu canal no youtube, que muitas vezes cremos que já vivemos outras vidas quando apenas temos no oceano das nossas forças anímicas algumas que já estiveram em acção noutras pessoas,  vidas e tempos, cabendo-nos agora controlá-las e unificá-las sob a nossa vontade de realização espiritual e divina, fundamental para uma vida no além mais consciente, livre e luminosa. Pois ela lera a obra, devolvia-ma e comentava assim no cartão agora reproduzido e  traduzido:

«Querido Amigo

Um grande agradecimento por me ter emprestado este livro que acrescenta mais um argumento para a não-crença na reincarnação na Terra. Todavia se todas as impulsões das quais nós somos os autores durante a nossa vida terrestre devem encontrar a sua realização apenas em vidas humanas posteriores, isso pode perturbar, numa certa medida, a nossa paz interior. É verdade que em compensação, somos levados a esgotar as impulsões emitidas pelos nossos predecessores. Mas, na realidade, tudo isso me parece bastante complicado.
Creio também que o uso de costumes ou práticas ascéticas é inútil para atingir um fim espiritual.
É evidente que o ser humano, em primeiro lugar, deve cumprir as suas obrigações terrestres antes de se consagrar às suas aspirações espirituais.
Estou também de acordo quanto ao que [Bô Yin Râ] diz a respeito do domínio [ou mestria] do pensamento.
Desejando-lhe um coração alegre, envio-lhe a minha saudação fraterna.»
                                     Marcelle Costa Pina. 

 Vemos assim,  em parte em uníssono com o ensinamento de Bô Yin Râ, um seu testamento: contarmos apenas com esta vida, cumprirmos as nossas obrigações, não dependermos especialmente de ascetismos, sermos mestres dos nossos pensamentos e actos e cultivarmos um coração, ou interioridade anímica, alegre, generosa, feliz... Demos-lhe graças! Aum...

Uma alma bem luminosa, vista por artista russa, homenageando Marcelle Costa Pina

2 comentários:

Maria de Fátima Silva disse...

Que bela mensagem, Pedro. Desde que o Pedro me deu a conhecer Bô Yin Râ, que tenho sempre em conta que o nosso crescimento se deverá fazer entre as nossas vivências diárias mesmo com aquelas que nos custam mais. Graças carissimi amicum.

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Sem dúvida, Fátima. Como disse o Paracelso "Ad Astra per aspera" e frequentemente teremos de saber morrer e renascer. Ou perseverar, aguentar e por fim ver a justiça realizar-se. Graças pelas apreciações e boas inspirações e realizações!