sábado, 25 de março de 2023

Swami Ritajananda, o mestre do centro Vedântico Ramakrishna, em Gretz, Paris. Um encontro em 1984. E posteriores desenvolvimentos.

                               

Breve descrição de um encontro com Swami Ritajananda (1906-1994), onde estive em 1984 um dia e meio no seu ashram, ou seja, o centro Vedântico Ramakrishna, junto a Paris, do qual é [ou foi] o 2º director, desde 1961, pois o 1º director e fundador Swami Siddheswarananda abandonara a Terra em 1957...
Transcrevo do diário:
«Transmite algumas das suas fortes energias de amor e de auto-consciência libertadora. Fora de quaisquer dogmas ou preceitos, antes num tipo de realização do que cada um é em si mesmo, e num certo respeito pelos costumes e aspectos da sociedade em que vivemos.
Falará da importância do mantra (nome ou som sagrado em que nos concentramos) para a procura duma transcendentalização (acalmia ou superação) do mental discursivo, e das suas ondas de pensamentos sucessivos.» 
Nesse sentido Patanjali, o codificador dos Yoga-sutras, começa o seu tratado clássico com três sutras: «I - Atha Yoga anushanam Vamos então expor o ensinamento unitivo. 2 - Yoga citta vriti nirodha, Yoga ou União é o controle ou a extinção das ondulações mentais. 3 - Tada drashtuh swarupe awasthanam, depois disso o observador estabiliza na sua própria natureza ou forma própria.»
Registo ainda num papel solto o rescaldo de uma das conversas com Swami Ritajananda no ashram ou Centro Vedântico Ramakishna, desde há 23 anos dirigido por ele e situado em Gretz  a uns 30 quilómetros de Paris, rodeado de um belo jardim e horta que a pequena comunidade trabalha:
                                       
Pergunto-lhe se o vegetarianismo é necessário ou não, e ele responde que foi educado numa alimentação vegetariana, mas outras pessoas não pelo que não devemos impor restrições. Recebe na sua alimentação os ovos e o leite por causa da proteínas que contêm. Não insiste muito sobre esse aspecto, mas pensa que um efeito importante da alimentação vegetariana é tornar as pessoas mais calmas.
Quanto a brahmacharia, o controle da energia sexual, ou mesmo castidade, a sua resposta pessoal é que cada ser tem a sua própria constituição, as suas tendências e que não se deve impor do exterior, senão criam-se problemas ou conflitos na nossa parte psíquica, sobretudo o inconsciente. Mesmo no hinduísmo observamos que sempre houve ou tem havido pais de família a alcançarem a realização espiritual. O ênfase não deve ser posto em restrições mas nos aspectos positivos, nomeadamente a irradiação de Amor, a alegria no trabalho. O ser que tem um ideal espiritual acabará sempre por vencer os problemas e limitações que encontrar na vida.
Japa, a repetição dum som sagrado ou dum nome de Deus, é um instrumento universal, presente em todas as religiões e tradições, mas a quem nos pede para ser iniciado devemos saber dá-lo ou ensiná-lo conforme o ideal de cada pessoa, ou seja, relacionado com Jesus ou Krishna ou Shiva ou Brahman, a Divindade sem forma (e houve sorriso em mim, por uma certa adesão interior...)
Japa, a repetição de um nome ou som sagrado ou mantra, é pois um meio de controlar os pensamentos e se for praticado ou dito intensamente é capaz de fazer a alma esquecer o mundo exterior e entrar noutro plano de experiência espiritual.
O interesse ou objectivo neste local em França foi o de se criar não um mosteiro mas um centro (ou ashram, como se diz em sânscrito) capaz de ajudar as pessoas que estão no mundo, e nesse sentido todos os Domingos pela tarde há uma conferência seguida de diálogo. Quando se realizam seminários ou retiros os homens ficam a dormir numa zona, as mulheres noutra e os casais noutra. É um centro capaz de ensinar a Vedanta (o fim dos Vedas), a visão filosófica ou sistema, darshana, assente nos Vedas e Upanishads, e que os mestres da Ordem de Ramakrishna ensinaram e seguiram, começando com o iluminado fundador Sri Ramakrishna Paramahansa (1836-1886) e em seguida com os seus discípulos swami Vivekananda (1863-1902) e outros que trouxeram o Vedanta para o Ocidente. 
A brochura divulgadora do centro ou ashram contém  de Sri Ramakrishna o dito ecuménico universalista «Quantas as crenças, quantos os caminhos», e de Swami Vivekananda: «Toda a alma é em potência divina. O objectivo [principal da vida] é de manifestar exteriormente e interiormente a nossa natureza. Realizai isto pelo trabalho, a adoração, o controle psíquico ou a filosofia - por um destes meios, por vários, ou por todos  - e sê livre! Tal é a essência da religião. As doutrinas, os dogmas, os ritos, os livros, os templos as formas, tudo isto são apenas detalhas secundários.»
Swami Ritajananda, além das muitas conferências, escreveu alguns livros em francês e inglês, disponíveis, e um deles traduzido no Brasil, num ensinamento claro e simples.
Tendo eu agradecido a sua amistosa recepção e diálogo, e as meditações e refeições, respondeu-me num cartão de 15 de Maio de 1984: «Meu querido Pedro. Estou muito tocado pela sua carta de Guimarães. Esteve aqui muito pouco tempo, mas não se esqueceu de nós e pensou em nós. Creio que os seus estudos de Yoga são satisfatórios e passa muito bem os dias  em Portugal. Se tiver tempo podereis ver os nossos amigos no ISSASHRAM, Rua Vasco da Gama, 12, A, 2825 S. João da Caparica, Portugal.
Escreveu-me que esperava vir a França, uma outra vez. Então, teremos a alegria de vos ver. Com todo o meu afecto, Ritajananda.» 
E assim será, pois em Fevereiro de 1986, estive novamente em conversa com Swami Ritajananda, que então me assinou e dedicou o seu livro La Pratique de la Méditation, onde explica bem a  repetição ou japa (e recomenda 20 a 30 minutos diáros, pelo menos), considerando que objectivo do mantra é sempre o de permitir a uma pessoa concentrar-se nesse nome sagrado como saudação ao ideal escolhido, seja Krishna, Shiva, Brahman ou outro nome de ser ou mestre e, ao repeti-lo com o máximo de amor, concentração mental e vontade, atingir a paz interior e o acesso ao plano espiritual.... Possamos consegui-lo... Aum, Om... 
Anote-se que em 1995 acabaria por ser iniciado nesta linha Vedântica da Ordem de Ramakrihna, pelo então vice-presidente Swami Ranganathananda, em Calcuta, com uma boa meditação em seguida.

                  Muita luz, amor e felicidade, Jyotir, Prema, Ananda neles e em nós! Ommm..

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