sábado, 14 de janeiro de 2023

O ensinamento da Verdade por Jesus e os Mestres, por Charan Sing e outros, comentados em texto e em vídeo por Pedro Teixeira da Mota

Após este preâmbulo, poderá ouvir uma breve leitura comentada que nasceu de, ao estar a trabalhar os ensinamentos e mistérios do Cristianismo, ter encontrado uma citação, de difícil hermenêutica do Evangelho de S. Tomé, ao abrir da obra Light on Saint John, já na 5ª edição, em 1985, escrita pelo então mestre vivo Maharaj Charan Sing (1916-1990), o 4º mestre da Radha Soami Satsang Beas, um grupo espiritual indiano, nascido no Punjab, e que a imagem inicial mostra nos seus mestres iniciais. Significamente, quando peregrinei a Índia há muitos anos estive com um dos mestres vivos da tradição Radha Soami, familiar deste Charan Sing e, anos mais tarde, em Portugal, nas Janelas Verdes, fui iniciado por outro mestre desta linha do simran, Thakar Sing (1929-2005)...

Esta tradição está baseada em práticas espirituais que ligam com a Luz e o Som ou Verbo, e que são sobretudo a repetição (simran) do mantra (umas tantas palavras ou sons sagrados) recebido na iniciação, a entrada na prática persistente da meditação de manhã e de noite, a contemplação da Luz interna no olho espiritual e a audição do som ou sons internos, sendo denominada Surat Shabd Yoga

Maharaj Charan Sing

Ora Maharaj Charan Sing comenta o Evangelho de S. João com bastante sabedoria de realização espiritual por vivência interior, e com originalidade face aos exegetas cristãos, algo que outros mestres indianos, tal como Sadhu Sundar Singh (1889-1929), Sri Yuktesvar giri (1855-1936) e Paramahansa Yogananda (1893-1952) já tinham igualmente ensaiado. Na gravação, embora tenha lido alguns parágrafos da obra e comentado,  exprimi  apreciações sobre outros mestres e ensinamentos, livros e mistificações.

Transcrevamos agora alguns parágrafos, o primeiro talvez mais discutível para os Ocidentais, já que o Cristianismo se tornou uma religião nova, e a compreensão do Pai ficou algo antropomorfizada, embora certamente não seja evidente que o conceito que Charan Sing  faz, tal como a que vários pensadores e teólogos cristãos alcançam do Pai, seja perfeita ou exacta, tanto mais que na realidade há diferenças entre a Divindade Absoluta, o Poder Criativo, o Pai,  ou ainda a concepção de Jeová, Allah.

«Os Mestres podem nascer e qualquer nação, raça ou religião, mas todos pregam a mesma religião. Não vêm para condenar qualquer religião nem estabelecer uma nova, mas para criarem em nós uma aspiração pela Realidade; e eles explicam-nos os métodos e os meios de o realizar. Tem todos a mesma mensagem para darem, a mesma Verdade espiritual para partilharem connosco. Cristo, também nos Evangelhos  refere-se a esta verdade e chamou a nossa atenção ara o Pai, o Poder criativo e sustentador interior.»

Eis-nos com uma visão diferente do Pai, que pela oração do Pai Nosso ficou demasiado lá nos céus e não discernido e sentido interiormente como o Poder ou mesmo a Presença espiritual interna; contudo, há sempre níveis mais profundos ou nuances  e diferenças que fogem a comparações demasiado lineares, tal como veremos também no parágrafo seguinte, quando finaliza com o Tao, algo menos rigorosamente talvez, já que embora denote o Poder primordial ou divino,  será forçada a sua equiparação ao som, do qual ele cita várias designações dos místicos indianos e sufis:

«Diferentes místicos, em tempos diferentes, referiram-se ao mesmo Poder através de diferentes nomes: Palavra, Logos, Espírito, Nome de Deus, Espírito Santo, e a Voz de Deus. Místicos Persas e Árabes denominaram-no Kalma, Bang-i-Asmani, Nada-i-Sultani, Ism-i-Azam, Sultan-Al-Azkar, e muitos outros nomes. Místicos indianos chamaram-no Akash Bani, Ram Nam, Ram Dhun, Nirmal Nad, e, geralmente mais Shabd (som) Nam (palavra). Os Chineses chama-lhe Tao. Este Poder Divino é conhecido por muitos outros nomes.

Hazrat Nur Ali Shah, our persian master... Nur!

«Todos os verdadeiros místicos apontam para esta mesma realidade graças à qual a Divindade criou o universo. Esta mesma Realidade é a própria Divindade ou o Senhor, que é a verdadeira fundação de tudo o que esta manifestado e mantém a criação em existência. Quando realizamos tal dentro de nós, tornamo-nos completos e puros, e merecedores de nos tornarmos um com o Senhor.

Quando os mestres deixam o mundo  as pessoas desviam-se dos seus verdadeiros ensinamentos, e ficam emaranhadas em ritos, rituais, cerimónias, que as exteriorizam. Assim acabamos por detrás o ensinamento real em compartimentos estreitos e pequenos e damos-lhe as formas de religiões, nações e países. E depois começamos a lutar uns com os outros».... 

Acrescente-se que dois versículos evangélicos são citados quanto à captação ou sintonização com a vida divina, através do olho e do ouvido espiritual, e portanto da luz e do som: o mais clássico e evidente: "se o teu olho for simples, todo o teu corpo será luminoso" (Mat 6,22-24), e  o menos lembrado e meditado, quanto ao som, em João 3, 8 "o vento sopra onde quer, escutas o seu som, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim acontece com todos os nascidos do Espírito.”...

Onde parece forçar algo a realidade é quando equipara João Baptista a outro Mestre vivo e perfeito, outra incarnação do Verbo ou Logos, a anterior a Jesus, já que na sua tradição tal transmissão de um para outro em vida é fundamental.

E eis o vídeo, quando fazendo o istixara persa, ou abrindo o livro à sorte, comentei o que li:

                         

2 comentários:

Celia Coelho disse...

Obrigada por mais uma partilha de excelente nível.
Sempre a iluminar caminhos.
Que o seu lhe seja leve e frutuoso.

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças muitas, Célia, pelos auspiciosos votos (que retorno) e a apreciação, que me obrigou a reler o que publicara de noite e que mereceu agora algumas correcções e até um acrescento final. Aum Sat Nam...