E como muito do que sentiu, pensou, escreveu, questionou é tão valioso e actual resolvemos comungar com ele e sua dialéctica, sabedoria e amor, cinco dias depois do seu nascimento capricorniano a 18, no numericamente especial 23-1-23, certa numerologia que ele apreciava e cultivava nos seus livros, capítulos e exemplares numerados, transcrevendo cinco núcleos do livro e assim partilhar uns raiozinhos para as poucas almas que se alçarão a esta comunidade de amantes da Sabedoria e dos livros, e da demanda do Bem e da Divindade.
Não
vamos pois resumir por palavras nossas ou comentar mais do que umas
palavras entre colchetes, e sim apenas deixar, como queria Erasmo, em vez
de Verbo e ele Pina Martins gostava de relembrar, o seu Sermo, a sua vibração individual e íntima, caldeada talvez pelo rio natal Alva,
ardente no seu cristianismo e socialismo juvenil (e nesse sentido
Pascal e Antero de Quental eram então referências fortes, e pelo último poderá ter tido problemas), chegar até
nós e inspirar-nos e fortificar-nos. E, se quiser, ouvindo a bela voz ou
palavra da Emerelle, que encontra na ligação musical final.
«O
homem é, de feito, como pregou o messianismo de Nietzsche, uma entidade
que deve ser ultrapassada. - Ultrapassada porém pelo seu esforço de
realização humanística, em todos os estádios da sua actuação.
Assim, há uma ética do esforço que postula essencialmente a realização
humanística: a ética cristã [que se encontra nas outras religiões pois, segundo S. Agostinho, a religião Cristã sempre existiu e seria a religião natural, retomada por Marsilio Ficino e Pico della Mirandola como a Prisca Theologia e Philosophia Perennis, que Pina Martins veio a valorizar muito, e na qual Zoroastro, Moisés, Hermes e Pitágoras seriam alguns dos elos antes de Jesus Cristo].
Faltando ela, fatalmente o humanismo falhará pela base e será, então,
antropolátrico, demolátrico, estatolátrico ou qualquer coisa similar
[como querem com a Nova Ordem Mundial]; porque não pode compreender-se o
ser humano num quadro de isolamento individualista, sem se atentar em
mais altos valores, coordenados ao seu próprio valor intrínseco e
metafísico.»
O Y pitagórico: ou te esforças ou podes cair |
II - «Feuerbach sustentou que Deus é a soberana aporia [questão, mistério] da humanística afirmação, pela racionalidade; sendo o homem, daí, a cuspíde de aderência de qualquer processo afirmador. O comunismo, começando por anular Deus e reduzi-lo ao negativismo de um mito, - acabou por negar o homem, reduzindo-o à nulidade de um bruto.
Somos antes de tudo o
mais, homens: conexado como problema do nosso humanismo está o problema
da nossa religião e da nossa moral e, numa esfera diferente, o problema
da nossa posição de homens e crentes perante o mundo dos oprimidos, dos
fracos, dos pobres, dos malogrados. Eis porque somos católicos; e
porque somos socialistas também. [Grande coragem nesta afirmação em
pleno Estado Novo, e cremos que por ela teve problemas pelo menos com um
professor da Universidade que o tentou silenciar, pois seria um cristão pouco ortodoxo.]
Depois, vem o problema da grei, das pátrias, da nação: o nosso nacionalismo é ainda uma consequência do nosso humanismo teocêntrico e anti-antropolárico [e só polarizado no ser humano].
Finalmente, outras atitudes vincularão o nosso ser a princípios soberanos, porque o
ser humano que não se vinculasse, pelo acto, aos caracteres
incandescentes da vida, deixaria, automaticamente de ser humano. São
vinculados os ateus ao seu ateísmo (se é que ele existe); vinculados
serão os apátridas à pouquidade do seu materialismo incolor; vinculados
são, e dos mais opressoramente, todos aqueles que não adorando nem
seguindo a mensagem da Verdade increada, adoram e seguem a mensagem das
mentiras criadas.
O vínculo do homem [e da mulher] ao eterno é uma necessidade, por
imperativo ético; mas ainda quando o não fosse, seria uma realidade
querida ou não querida, pela índole mesma da nossa dependência de
humanos.
Só o vínculo do Amor, portanto, adregará de remir.
Tem fome o mundo moderno, de pão e de luz, de justiça e de comida.
Não é só a míngua do corpo que tanto aflige a humanidade: é sobretudo a míngua de plenitude espiritual.»
III -
«O mundo contemporâneo oferece, aos nossos olho pávidos, um sombrio
panorama de colisões odiosas. Assiste-se ao embate fragoroso de forças
que um desvio precipitou e que um acto de amor poderia haver unificado,
para a valorização progressiva das
capacidades humanas.
Os homens desconheceram-se um momento; porque se desconheceram, deixaram de se querer o bem que reside imanente
na sua estrutura pessoal; e, porque um momento apenas deixaram de se
querer, uns aos outros, o bem que o preceito divino lhes impõe, deram em
resvalar, pelo declive do ódio, para o abismo insondável da morte.
Afinal, as tragédias sangrentas não passam de uma fase, activamente
desordenada, do profundo drama das consciências.»
IV -
«O ser humano é definível pelo seu atributo, o amor, porque possui a
sensibilidade. Deus é definível pelo seu terceiro atributo positivo, o
amor, porque resume, acto puro, o consumado de todas as perfeições.
Quanto mais perfeito for o objecto amado, tanto mais profundo será o
sentimento amoroso. Deus ama-se infinitamente, porque sendo perfeição
infinita, é também amor infinito. As suas criaturas são, no plano
existencial, a demonstração ontológica de um dos seus atributos
relativos: o poder criador. Logo, Deus ama as suas criaturas, desde a
eternidade, porque da eternidade as criou no tempo, num acto pleno de amor.
O ser humano é livre, responsável, racional: senhor de um destino, timoneiro
de uma nau através do mar da vida, condutor de um rumo através da sua
material e espiritual existência, - quanto mais perfeito for, mais amado
será do Amor integral; quanto mais quiser o bem, mais do Amor se irá
aproximando, numa ascensão radiosa para os cumes. [Excelente visão do
Amor divino e da sua dinâmica entre os humanos, de certo modo o corpo
místico da Humanidade].
Há porém uma lei inapelável: a aliciação do pecado [ou do mal, da violência, do ódio] faz do homem um grave, pendendo eternamente para o abismo. Mas há também uma força poderosíssima: na plana metafísica, como o bem é difusivo de si mesmo (Bonum diffusum est sui...) do Bem participado promanam perfeições que afirmarão as realidades participantes. É neste sentido que deve interpretar-se a afirmativa luminosa de S. João: Deus é a caridade (Deus charitas est). Diga-se todavia, de passagem, que a santidade, a justiça, a misericórdia são antes notas compreensivas da vontade divina, do que atributos morais da sua essência infinita.»
E vamos concluir as valiosas citações do nosso querido amigo José Vitorino de Pina Martins, com uns pensamentos que nos fazem lembrar muito Leonardo Coimbra, e algo Teixeira de Pascoaes, que apreciara assim em carta a 1ª obra poética de Pina Martins, e que este transcreveu na contracapa do Amor Redenção do Mundo Moderno: "Li os seus poemas com o maior prazer espiritual. São cantos nascidos e não feitos, denunciando o ímpeto espontâneo da inspiração, que é, julgo eu, a característica dos poetas autênticos... Por lhe reconhecer as virtudes dum poeta verdadeiro, o felicito sinceramente..."
V
- «Pesa sobre todos nós, uma ingente missão. Amanhã, noutras esferas, o
mundos era o que hoje formos. Lembremo-nos de que não é malbaratando a
nossa riqueza pessoal de força voluntária; dispersando, em aventuras
fáceis, a nossa potencialidade afectiva; reduzindo, à tacanhez de um
objecto banal, o tesouro do amor com que Deus nos dotou naturalmente - que nos afirmaremos.
Valores mais altos e mais puros esperam a nossa devoção, para que os homens
sejam mais homens, no influxo da nossa humanidade; para que a nossa Fé
seja mais viva, ao contacto com a nossa Fé veemente de quasi-crianças;
para que as estrelas brilhem no céu mais cristalinamente; para que as
flores, com a mais capitosa fragrância deliciem e com mais policromados
matizes nos ensinem a amar; para que no paul dos lodos haja reflexos de
oiro, sorrisos de Deus e beijos do Infinito; e para que toda a reza seja
um bater de asas, subtil e largo, sereno e profundo, para as alturas
radiosas da Graça, por graça da nossa Graça, rapazes!»
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