Emília de Sousa Costa (1877-1959) foi uma notável artista, escritora, professora, feminista, protectora da infância, natural de Lamego e a família de Vila Pouca de Aguiar, que trabalhou na Caixa de Auxílio a Raparigas Estudantes Pobres, na Tutoria Central de Lisboa e no conselho central da Federação Nacional dos Amigos das Crianças. Casou com o "juiz" e escritor Alfredo de Sousa Costa, de quem teve descendência, Deixou-nos muitos contos infantis, cheios de ensinamentos e boas emoções para todos e para sempre: uma literatura perene, que bem mereceria alguma antologia.
Um neto dela, no seu blogue Velharias, num valioso artigo de 11-VII-2016, intitulado Um porta-retratos antigo por preencher recenseou na Porbase da Biblioteca Nacional, 120 obras da sua autoria e dá até o seu nome de nascimento, Emília da Piedade Teixeira Lopes e assinala que deve ter sido por ela que a notável republicana, feminista e espiritualista Maria Veleda (a quem consagramos recentemente um artigo neste blogue) passou a trabalhar na Tutoria da Infância, pois fora criada pelo seu marido Alberto de Sousa Costa, para além de que a sua irmã Margarida casara-se em 1909 com o poeta Cândido Guerreiro, de quem Maria Veleda tivera uma paixão juvenil e um filho. Uma "discordância" senti contudo, pois a partir de uma ou outra fotografia, admite que a sua avó "não parece ser bonita", o que talvez não seja o caso, como vemos na imagem que reproduzo. Quanto ao belo, ou ao bonito, lembremos que a visão da beleza, ainda que haja parâmetros clássicos e bastante subjectiva pois vem sobretudo da alma que vê, e esta transfigura quem gosta ou ama, e pode chegar mesmo ao ponto de - tal como diz o nosso Luís de Camões, cavaleiro e fiel do Amor e frequentemente um neo-platónico ou quase um bhakta indiano, na sua cosmovisão -, poder causar o: "transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar"..., mas sem deixar de querer concretizar na matéria e no corpo tal ligação anímica com a "linda e pura semideia", como diz no fim do poema, pois "o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma".
Imagem do http://mulheresilustres.blogspot.com/2011/06/emilia-de-sousa-costa.html, um espaço com boa iconografia. |
A sua abertura ao Japão neste conto é bem valiosa, havendo talvez alguma influência de Wenceslau de Morais (1854-1929), ou mesmo alusão a ele, ao ser referido um oficial da Armada, ou Marinha. Wenceslau que, na sua vasta obra, menciona mais de uma vez o espírito-deidade, ou kami, Inari e as suas raposinhas ou kitsune terá sido possivelmente lido pelo casal Sousa Costa.
A Triste Vida a de uma Raposa!, com sugestivas ilustrações de Raquel Gameiro, teve a 2ª edição em 1943, na Editora Educação Nacional, no Porto, e que tem ao todo oitenta e seis páginas, da qual fotografámos o 1º capítulo, já que se passa no Japão, pois a kitsune vem depois para Portugal, para o Douro vinhateiro, junto ao nosso sacro rio, e entra neste blogue numa linha de partilha de algumas das relações entre o Japão e o Portugal que tenho encontrado em livros, revistas, jornais e manuscritos, e também para uma (dona Liliana) ou outra amiga que têm crianças que conseguem manter a pureza e a naturalidade necessária a elas gostarem de ouvir contos de encantar e logo deixarem-se tocar, formar e comungar com as raízes tradicionais de qualidades, virtudes, arquétipos e seres espirituais.
Outra destinatária é a página-grupo no progressivamente mais opressivo Facebook, ligado ao Shinto e ao Japão que eu fundei, Shinto em Portugal e no Mundo, On Shinto, the way of the Kami, além da necessidade de fortalecer nas pessoas uma maior sensibilidade às boas relações e diálogos entre os animais e os homens. E particularmente com a raposa, kitsune, consagrada e considerada no Japão animal auspicioso e propiciador da fertilidade dos campos e das culturas, nomeadamente a do arroz biológico e sempre presente nos milhares de santuários de Inari, o espírito- deidade da agricultura, do arroz, da fertilidade mas também dos ferreiros e guerreiros.
Outra destinatária é a página-grupo no progressivamente mais opressivo Facebook, ligado ao Shinto e ao Japão que eu fundei, Shinto em Portugal e no Mundo, On Shinto, the way of the Kami, além da necessidade de fortalecer nas pessoas uma maior sensibilidade às boas relações e diálogos entre os animais e os homens. E particularmente com a raposa, kitsune, consagrada e considerada no Japão animal auspicioso e propiciador da fertilidade dos campos e das culturas, nomeadamente a do arroz biológico e sempre presente nos milhares de santuários de Inari, o espírito- deidade da agricultura, do arroz, da fertilidade mas também dos ferreiros e guerreiros.
Há no Japão milhares de santuários, grandes ou pequeninos, dedicados a Inari, basicamente deidade feminina, cuja etimologia se considera ser ine-nari (arroz crescer), e um dos mais famosos é o de Fushimi, junto a Kyoto, fundado em 711, e onde estive em peregrinação duas vezes, tendo gravado alguns vídeos que estão no Youtube. As raposas sendo o seu animal e as suas mensageiras espertinhas na Terra, surgem assim em estátuas, frequentemente em par, diante dos altares, como protectoras e inspiradoras.
Mais recentemente, hoje mesmo 4-X-2022, a Inês Carvalho de Matos partilhou para a rede social, ao contrário da VK.com, tão censuradora do Facebook, e mais concretamente para a página já referida Shinto em Portugal e no mundo, um texto e algumas belas imagens do ritual do casamento das raposinhas primordiais e com afirmações finais etnológicas valiosas: «Em Minowa no Sato, na região de Gunma, realizou-se o ritual Kitsune no Yomeiri: "o casamento da raposa". Os figurantes recriam o episódio mitológico do casamento das raposas, que na cultura popular japonesa (com origens no Shintoísmo) é o evento que provoca chuva súbita em dias de sol e também clarões inexplicáveis durante a noite ou no meio do campo.»
Possamos nós presenciar tais fenómenos, muito raros nas cidades, claro, mas ocorrendo nos campos de Portugal ou do Japão, como propõe a Inês, e que são bem transfiguradores para quem os sabe contemplar unificadoramente....
Uma bela história de Emília Sousa Costa, certamente sem rigor de erudição shintoísta mas com bastante sensibilidade, para crianças mas não só e, capaz de nos emocionar, ainda que apenas neste primeiro capítulo, fazendo-nos viajar ao Japão e sentir a sua gente e costumes...
Uma bela história de Emília Sousa Costa, certamente sem rigor de erudição shintoísta mas com bastante sensibilidade, para crianças mas não só e, capaz de nos emocionar, ainda que apenas neste primeiro capítulo, fazendo-nos viajar ao Japão e sentir a sua gente e costumes...
Desfrute então de algumas páginas de uma história luso-nipónica de Emília de Sousa Costa e que se pode ter originado em Wenceslau de Morais, oficial da Armada, consúl de Portugal em Kobe e apaixonado pela civilização e duas mulheres do Japão, Ó-Yoné e Ko-Haru, título aliás de uma das suas magníficas obras, das melhores descrições nipónicas no Japão antes da II Grande guerra e do absurdo de Hiroshina e Nagasaki.
Alguns erros na descrição do panteão do Shinto, pois Tien, é céu. A frase correcta seria: "a religião oficial venera os deuses (kami) do Tien (céu) e outros deuses (kami) inferiores ou menos primordiais, entre os quais o simpático kami Inari Sama, isto é, o Senhor ou Dom Inari....Uma descrição da delicadíssima hospitalidade e a culinária do Japão....
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