Volta e meia, uma alma amiga surge a interrogar-me sobre certas questões que a dividem, ou que ela duvida, e a partir da sabedoria que venho demandando há já algumas décadas tento responder o melhor possível.
Neste último caso tratou-se de saber se Platão reencarnara em S. Francisco de Assis e o que pensava eu de tais hipotéticas reencarnações, que alguns grupos ou instrutores ligados a teosofias, teurgias e mestres ascensos afirmam.
Expliquei então a essa jovem amiga luminosa, que animicamente sendo as pessoas constituídos por partículas que já estiveram noutras épocas e vidas, por vezes, ao serem sentidas em sonhos, intuições e preferências, ou ao acreditar-se nelas nas tão subjectivas consultas astrológicas, leituras de aura ou regressões, elas fazem-nos crer que já fomos egípcios, ou indianos, ou mesmo qualquer figura histórica, mais santa ou menos santa, assunção contudo errada ou ilusória, ao tomar-se uma parte, algumas partículas anímicas, pelo todo, o de uma alma espiritual.
Não pude deixar de criticar alguns instrutores, que dos seus saberes, tratados e mestres apregoam com tanta certeza tais múltiplas vidas das pessoas, incomprováveis e que de certo modo só diminuem nas vidas individuais a responsabilidade e as possibilidades de, nesta vida que cada ser tem, alcançarmos o mais possível do essencial, do fundamental,
Referi mesmo como um dos pais dessa mania das reencarnações o teósofo inglês Charles Leadbeater (1854-1934), que se afirmava clarividente, e que se tornando o reverendo bispo da teosofista Igreja Católica Liberal conservou alguns gostos sexuais perversos que o levaram a estar preso uma ou duas vezes e a ter suscitado a saída de dezenas de membros da Sociedade Teosófica inglesa e mundial.
Mas muitos outros instrutores se abandonaram a essas tão subjectivas clarividências como são as da vidas passadas, como foi o caso de Rudolf Steiner que, embora com uma profundidade, pureza e abrangência bem maior e genial, também parece ter tombado nessas mirabolantes reencarnações que de igual modo tocavam ou envolviam colaboradores, algo que Leadbeater verdadeiramente abusara ao distribuir reencarnações valiosas a todos os que o rodeavam ou que procurava aliciar (e alguns pouco depois abandonavam a Sociedade Teosófica, para sua desilusão), fazendo ainda variar ou alternar o género com que reencarnavam, outra visão e entendimento que pode ser mesmo nocivo, contribuindo para a linha de força facilitadora actual da mudança de identidade masculina ou feminina, sem se darem conta que provavelmente o espírito, o núcleo individual que somos, é de origem e para sempre ora masculino ora feminino e é tendo em conta essa especificidade que devemos assumir os caminhos e práticas de vida e de realização espiritual, sob pena de não os conseguirmos realizar depois.
Nos nossos tempos tem havido bastantes grupos especializados em genealogias fantasiosas de reencarnações, e basta lembrar Elizabeth Claire Prophet, da Summit House e o movimento dos mestres ascensos, e de quem ainda assisti a uma sessão na av. de Roma em que a senhora debitou ou canalizou mensagens de Buda, Jesus, Maria e não sei mais que mestres em poucos minutos de palco e de banalidades.
Entre nós correram em livro de um grupo espírita, e julgo que também do Centro Lusitano de Unificação Cultural, essas sucessivas reencarnações incomprováveis de santos, heróis e pensadores, em que se destacam em geral D. Afonso Henriques, S. António, Gualdim Pais, rainha Santa, Infante D. Henrique, etc.
Mas outros grupos, seja de origem brasileira, seja de canalizações extra-terrestres ou do interior da terra, seja de mistificações individuais, seja de palpites astrológicos, têm impressionado e atraído muitos seguidores, devido a essas reencarnações e iniciações fabulosas, por vezes obtidas em zonas de Portugal consideradas as Mecas do pseudo esoterismo lusitano.
Contudo tudo isto é folclore, carnaval, um materialismo espiritual, a que se associam ensinamentos muito complicados, tabelas de correspondências cabalísticas e planetárias e esquemas iniciáticos ao estilo dos graus maçónicos e que em geral a nada correspondem na realidade.
E quando as pessoas morrem pouco ou nada levam dessa salgalhada de doutrinas secretas que andaram a ler e a ouvir, se não é que ficarão presas por muito tempo nas zonas ribeirinhas do além, nas malhas da egrégora, ou campo psico-energético, da seita, grupo ou instrutor, pois como já dissemos nfrequentemente tais maluquices de reencarnações ou tais abracadabrantes iniciações e ensinamentos só diminuem as possibilidades que cada ser tem de realizar o
mais possível do essencial.
E o que é este essencial: uma vida justa, sadia, ecológica, abnegada, criativa e em amor, com o menos possível de violência, mentira, inveja, preguiça, superficialidade, e simultaneamente uma prática meditativa, contemplativa, silenciosa de religação e identificação ao espírito íntimo, sob a invocação e cultivando-se perseverantemente a ligação vertical com os antepassados, os Mestres, os Anjos e a Divindade, de modo a que se vá desenvolvendo um corpo anímico-espiritual luminoso, com o qual sairemos mais ou menos conscientemente e para zonas ou níveis psico-espirituais mais elevados ou menos, ao morrer o nosso corpo físico.
Eis o essencial, e que frequentemente acaba por ser abafado, em termos de compreensão geral ou enfraquecido no interior das pessoas, por tanto turismo e folclore de nova Era, por tanto ocultismo e especulações intelectuais incomprováveis e por tantas patranhas, mistificações e explorações que correm pelo esoterismo de pacotilha, hoje em dia tão vulgarizado e formatado, tão transmitido por pessoas quase sem qualquer realização espiritual ou equilíbrio de vida e que de certo modo matam quase os melhores gérmens das pessoas, ou abrem-nas a forças e entidades não verdadeiras nem elevadas...
Viva mais no aqui e agora, em sabedoria e amor, e na consciência, aspiração e ligação ao espírito, aos mestres e ao Ser Divino e acautele-se com os instrutores e seus cursos, mesmo que online... Seja livre...
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