quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Interrogações animicas e demanda espiritual. Como resistirmos e o que desenvolvermos espiritualmente. Um contributo.

 Este texto, concluído em 25-11-2021, que seria para o livro em preparação Ensaios Espirituais, é dado à luz antes no blogue, pois talvez seja mais lido do que em livro, uma realidade que teremos contudo de avaliar futuramente, pois poderá um dia, e  aprofundado, ter lugar nele. Cinco pinturas de Bô Yin Râ, bastante apresentado já neste blogue, e um Y pitagórico, ilustram-no.
- Por quanto tempo mais estaremos nós, tu e eu, vivos e com capacidades transformadoras?
- Quantas décadas aguentará o planeta a carga poluente e esgotante da vida moderna humana, e sobretudo das sociedades capitalistas mais ricas ou industrializadas, e das zonas de lutas e guerras constantes? 
- Quanto tempo mais as pessoas aguentarão a manipulação e opressão dos media e dos governos? Ou, pelo contrário, até quando é que haverá resistentes às narrativas, opressões e massificações sociais em curso?
- Como é que pode haver mais seres humanos, comunidades e grupos despertos e harmoniosos com a Natureza, os seres animais, os humanos e angélicos seres e com a Divindade na sua multidimensionalidade? 
 
 Eis algumas das perguntas que ressoam dentro de mim e de ti,  no peito e na cabeça, e em algumas conversas, livros, grupos, reuniões...
A força destas ideias-questões virá provavelmente, para além de serem de toda a humanidade, do espírito suscitá-las ou sustentá-las, não as deixando desvanecerem-se. E por isso elas ultrapassam  as barreiras da efemeridade e manipulabilidade do quotidiano e amoldam-se poderosamente ou subtilmente nos  recônditos do nosso ser e sensibilidade da alma de tal modo que intuímos que nos lançam tarefas profundas: participarmos na alquimia de tais questões e demandas, lutas e desafios actuais.
 Pessoalmente sinto ser uma tarefa  exigente, tanto quanto a afinidades grupais como à forte interiorização e individualização requerida, bem  contrária ao ritmos dos nossos dias, em que predominam as pessoas apressadas ou as turísticas, por vezes tensas, e desgastadas embora  tentando conservar a cabeça erguida, face aos receios dos vírus, que açaimam muitas, a maioria fatalmente arrastada pela luta  pela sobrevivência, mais ou menos egoísta, e que em geral provoca o esquecimento dos seus níveis e estados de alma mais profundos.
Hoje é bastante raro conseguirmos estar com alguém em paz, sabedoria e amor profundos, deixando os corpos e níveis anímicos e espirituais virem ao de cima, em silêncios, olhares, tactos, sentimentos e palavras ressoantes.  No trabalho, as vibrações psíquicas stressadas, as palavras que saem dos carretos ou cânones, as lutas pelo poder e invejas, afectam-nos. O ambiente internacional está igualmente tão perturbado pelo covid, as vacinas, os lockdowns, os desequilíbrios sexuais, as cargas policiais brutais, o imperialismo norte-americano, o sionismo israelita e a criminalidade saudita no Yemen, que ondas de sofrimento e indignação cruzam muitas almas e por vezes tocam-nos.
Reentrarmos então a nossa vista para dentro tentando debruçar-nos a pique e deixar-nos cair-entrar nas profundezas, nos níveis das raízes medulares onde fermentam energias e sensações semi-ddesconhecidas, ou aspirarmos às altitudes da alma, para os níveis das florescências onde despontam pensamentos, visões e intuições, é tarefa que temos de realizar com persistência e diligência, até para trazermos alguma ideia, compreensão ou metodologia nova que nos clarifique e ajude as pessoas a harmonizarem-se, a estarem mais calmas, lúcidas e a conseguirem ligar-se  ao Espírito, à Felicidade, à Divindade, ao Amor...
Se me relembro das  vezes que consegui atingir ou desencadear uma vivência e depois compreensão mais forte do nível espiritual ou ainda da unidade cósmica através da minha interioridade, e a penso partilhar, quantas pessoas a aceitarão valorizando-a minimamente?
Mesmo assim, falemos do que pode acontecer nas meditações, em que com o decorrer da nossa vida na Terra e entrada na curva descendente da força do corpo físico, se nos abrem mais  vistas subtis  sobre espaços interiores, florestas, árvores, flores, plantas e pedras. Ou até  animais, que nos revelam significações, em intuições rapidíssimas a passarem pela consciência lúcida  que as vê como numa espécie de filme em miniatura projectado no nosso ecrã interior,  animais que correspondem humanamente a sentimento destilados, ou a hábitos mantido por longos anos, ou  pensamentos erguido laboriosamente.
"Surpresa, surpresa", exclamaremos nós, face ao sentimento interior discernido e ao que se gera de compreensões, tais como a de que textura e formas dos suspiros das pastelarias têm certas afinidades com alguns sonhos e desejos subtis das pessoas,  capazes de gerarem ondas ou pombas brancas a voar no firmamento interior.
Podemos compreender também a origem dos animais fantásticos nas  obras de Hieronimus Bosh,  ou como o dar nome aos animais dos mundos interiores corresponde a conseguirmos identificá-los, consciencializá-los e, logo, controlá-los, sublimá-los, utiliza-los adequadamente, tal como é o cavalgar o dragão ou o tigre...
 Compreender também que estamos constantemente em encruzilhadas,  que nos fazem ora entrar ora sair de nós próprios, que são desafios sociais, televisivos ou interneticos que tentam atrair-nos, envolver-nos, captar-nos e frequentemente massificar-nos, para passarmos a ser um dos milhões que estarão a ver (e a sofrer) tal programa na televisão, ou tal notícia nas redes sociais, ou a consumir tal produto propagandeado.
Assim a cada momento, a cada escolha, a cada adesão, desistência ou repulsão estamos a sinalizar ao Cosmos e seus seres e a nós próprios  que nível realizamos na ponte entre a terra que somos e o céu de que somos parte e ao qual aspiramos.
                                  
Esta aspiração, este fogo interior, é o que nos faz deter em certos momentos, em encruzilhadas, pelos antigos pitagóricas simbolizadas no Y ou bivium, a forquilha da escolha  de um dos dois caminhos, num dos quais nos densificaremos ou obscureceremos. Assim podemos criativamente escolher como iluminar as nossas  almas e ambientes pelas mais opções mais coerentes, éticas, ecológicas ou harmoniosas, que põem e acção  capacidades  ou actividades de manifestação do espírito divino, luminoso e feliz, que é a nossa essência e para a qual o famoso e tão discutido (e diminuído...) livre-arbítrio fundamentado é fundamental...
Mas como melhor esclarecer  práticas, ou descrever metodologias, que possam em verdade e concretamente ajudar as pessoas e a Humanidade a tais consciencializações e harmonias?
Aproximemo-nos da alma, da luz, do céu, das cores, dos seres subtis...

Este céu interior, que nos chega de quando quando em visões de azul imenso e dourado, é accionado pele espírito, pois é ele e a abertura dos centros da alma que se tornam as portas para a Divindade, para as Suas Faces divinas, para os mestres, anjos e arcanjos  nos poderem tocar já que eles emanam vibrações e imagens tão ricas de cambiantes, significados e impulsões que  ficamos muito deslumbrados e gratos quanto tal merecemos...
Se fechamos os olhos e persistimos em deixar passar ou assentar as nuvens e neblinas dos pensamentos superficiais e quotidianos, podemos por vezes receber certas cores e formas, ou captar certas correntes minúscula de imagens, ou ainda aperceber-nos dum ouvir interno que, mais do que os diversos sons do exterior que chegam, regista o som do rio perene que corre pelo nosso crânio e que, sintonizado pela nossa consciência, nos pode  servir como fio de meada para a desejada comunhão com o mítico som primordial, vibração ou palavra divina.
  Sim, a subtil música das esferas de Pitágoras, ou o misterioso Reino de Deus, subtil mas firmemente, dizem-nos: - "Para além de todas as dores e dificuldades que atravessas na tua vida humana, lembra-te que pela audição do silêncio, pela aspiração à verdade, ao bem e à misteriosa Divindade, te aproximas da comunhão interior com os mundos e seres espirituais."
Quando sentimos isto podemos quase verter lágrimas, sobretudo quando atravessamos momentos difíceis e constatamos que não somos esquecido do Alto interno, profundo e universal. E há que fazer então algumas sintonizações do silêncio e da respiração e logo voos ou subidas para o Alto neste espaço silencioso tanto  interior como exterior que é o substracto do imenso e variado Mundo, tanto das ondas e partículas como dos sonhos, visões e actos, e que tão pouco conhecemos conscientemente nas suas características e causalidades.

Alguns gestos ajudam-nos, e em todas as religiões e tradições os encontramos, assim o erguer os braços é-nos natural, embora por vezes as dores das fracturas e feridas os baixem de novo à terra e humildemente tenhamos de reconhecer o valor da purificação em todo o caminho de conhecimento e de verdade. Mas claro, respiração e gesto ou movimento, como no Tai-Chi ou Hatha Yoga, ou nas nossas criatividades são meios valiosos para nos alinharmos, fortificarmos ou harmonizarmos...

Todavia, a imobilidade é o que permite mais entrarmos interiormente no coração em oração de gratidão e conciencializar-nos dos ritmos numerosos que atravessam os corpos físico e subtil, e deixarmos que eles venham ao de cima e respirem ou suspirem de alívio, graças à restauração das circulações em zonas do corpo afectadas, e que se libertam assim da lividez das sobrecargas, tensões, medos e más posições do quotidiano. É pela respiração aprofundada e o coração sintonizado que descobrimos uma pulsação ou ritmo por todo o nosso ser silencioso e sensível, o qual pode abrir-nos a sentirmos ou intuirmos, nos níveis subtis da alma, energias e inspirações luminosas.

O nosso coração pode tornar-se então uma grande abertura onde ora um sol dourado esparge os seus raios ora um oceano sem limites envolve-nos,  convidando-nos a uma natação suave e beatífica.

Também a fronte abre-se em olho e pode tornar-se ora um telescópio que nos faz ver o longínquo no sistema solar e no Cosmos, ora um caleidoscópio onde belas cores ou formas voltejam.

Se nos verticalizamos bem, somos como que arrancado a nós  próprios e a alma sente-se como energia cósmica presa como um papagaio colorido por um cordel ao braço ou âncora do corpo, qual barca da glória ou no caminho para a Luz, Kvarnah ou Xvarnath, na tradição zoroástrica e persa.

Podemos sentir então a paisagem ou ambiente da alma como uma foz,  e vamos numa barca, entre o rio e o mar, por entre remoinhos rítmicos, e subimos e descemos até de repente sentir-nos já como uma gaivota célere, livre, aspirando ao divino e infinito.

Por vezes, no vento que nos empurra,  vemos imagens ou intuímos  palavras sob a forma subtil de correntes energéticas nas quais, ao mergulhar ou entrar, podemos identificar as proveniências particulares: se uma constelação celestial ou um espírito celestial poderoso, ora ainda os mundos arquétipos e geométricos derramando virtudes divinas em raios e formas geométricas... 

Transformadoras e benéficas  são estas descobertas, estas vivências internas, pois quando abrimos de novo a consciência à horizontalidade da vida e do quotidiano observamo no nosso ser amor e paz profunda e até olhos, corações e ouvidos como que tremelicam ou latejam ainda com as cintilações donde viemos, e sentimo-nos com mais capacidades e vontade de ajudar os que nos rodeiam e que sofrem e aspiram a harmonizar-se e iluminar-se mais...
Assim vamos vivenciando o que foi ensinado pelos instrutores e mestres, ao longo dos séculos, dum modo que não nos perturba nem egotiza, antes ganhando sempre forças e paciência para as descidas às caves do nosso ser, às contas do passado, às dores e sofrimentos corporais e afectivos, às injustiças, sofrimentos e opressões e inépcias político-sociais, que tanto sanguesugam o melhor da Humanidade e de Gaia.
E a cada provação, a cada boa meditação,  o nosso ser perene vai talhando a sua consciência e forma e emanando harmonias. A certeza da vida futura no post-mortem e a da realidade do espírito e de Deus tornam-se medulares, ou colunas, do nosso ser e por vezes podemos tentar até introduzir tal consciência nos nossos  ainda assim frágeis e tão esquecidos ossos, de modo a verdadeiramente ressuscitarmos ou animarmos as nossas pedras de fundação últimas corporais.
É importante compreender que a vida é uma aventura, uma missão espiritual para todos os seres, mas que quase todos acabamos por a encerrar em limites tão estranhos aos seus fins originais de religação e libertação, e tão estreitos face a sua dimensão infinita e universal que quase todas as religiões e filosofias se tornam as práticas e os recreios de escolas primárias ou, vá lá, secundárias, embora nelas alguns mais devotos ou conhecedores as aprofundem muito bem pelo amor e a sabedoria, para a fraternidade, a liberdade e o Divino...
Com poucos seres poderemos compartilhar esta sabedoria que em nós renasce constantemente, pois a maioria  deseja ainda muito as ilusões e atracções externas da vida: riqueza, poder, prazer, posses, prestígio, distracções...
Temos então de deixar apenas que essas energias superiores passem  por nós, ou se ergam em centros específicos internos, e irmos pelos dias e ruas ora como aves em voo sereno, ou caminhantes peregrinos na calma atenta e forte que só se expande mais na afinidade com algum reencontro mais luminoso e afim, seja humano, da natureza ou da arte...
Certamente que por vezes devemos escrever, focalizar no papel, gerando mapas, as correntes subtis e profundas do oceano da alma, alertar algumas pessoas para estas lutas e explorações tão importantes e significativas para o auto-conhecimento, a realização imortal e  a harmonia dos seres. Como se as explorações ora fascinantes ora alarmantes dum comandante Cousteau tivessem o seu acompanhamento condigno nos níveis invisíveis, com tantas fossas do Mindanau inacessíveis à luz dos olhos, cheias de fogos subterrâneos, paixões e fanatismos que urge compensar com educação para a não-violência, ética e descidas da Luz mais divina e amorosa..
Escrevo assim porque me parece curial e transmissível o apelo espiritual que eternamente nos penetra, mas a que tão pouco ligamos, pois também nas alturas se travam batalhas para que a poluição terrestre não só não estilhace a camada do ozono e aqueça demasiado a terra, como pela sua densidade e confusão psíquica a humanidade não seja isolada das energias luminosas que tentam elevar e espiritualizar as consciências humanas, ainda tão sub-animalmente limitadas e destrutivamente desequilibradas por múltiplos hábitos e interesses egoístas.
Entrem pois as correntes espirituais, musicais e luminosas pelas nossas almas, peitos e ambientes. E como seres espirituais ergamo-nos para as tarefas e desafios que nos cabem, sabendo inter-comunicarmos e agirmos unidos e luminosamente, e em cada novo dia conscientes de podermos manifestar mais qualidades divinas que podemos e devemos desenvolver para uma melhor peregrinação e evolução de todos rumo à Divindade...
Eis o propósito final deste escrito, que deposito na sua alma leitora e afim. 

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