quinta-feira, 23 de novembro de 2023

As mensagens dos cisnes chegarão perenemente aos jardins das almas, mesmo nas épocas de maior manipulação e opressão...

"O cisne (hamsa, e os paramahamsas são as grandes almas) retorna ao jardim de Nala" e transmite a mensagem da amada Damayanti, de um episódio do Mahabharata... Pintura Pahari, c. 1800,  Museu Nacional de Nova Deli, onde comprei há muitos anos esta reprodução..
O aumento do custo da vida, a luta mais apertada pela sobrevivência, a agitação, a velocidade, a superficialidade, o ruído, o excesso de informação e contra-informação, a censura e perseguição ao pensamento livre por grupos de pressão, a globalização, as lutas políticas, os conflitos internacionais, a mortandade de crianças e mulheres, os extremismos e neo-liberalismos opressivos e a derrocada moral e ética da União Europeia e do Ocidente norte-americanizado tendem a tornar muitas pessoas mais inquietas, superficializadas, dispersas, frustradas. E assim enfraquecidas, tornam-se mais desconfiadas e menos genuínas, estáveis ou auto-conscientes da presença espiritual em si mesmas ou, que seja, de uma certa paz, calma, alegria próprias da alma pura...
Para não se perder o discernimento próprio e não se ser tão  manipulado e contaminado, há que resistir a tal mau tempo nos canais, a tal furacão de desinformação e corrupção, de insensibilidade e arrogância, evitando verem-se os canais televisivos de manipulação e, antes, recolhendo-nos mais e reagindo menos à pressa, perseverando-se no pensar, escrever, orar, meditar e intuir o que é o mais certo ou apropriado, justo ou verdadeiro. E realizá-lo...
E para que coração não se vá tornando traumatizado, insensível e petrificado é importante cultivarmos tanto gostos, altruísmos, amores, passatempos instrutivos, investigações, actividades artísticas e criativas, como algumas amizades ou amores maiores por onde ele se possa expandir, irradiar e melhorar os seres e o mundo...
Não se deixe portanto ir abaixo pela desilusão, a impotência, a inércia, o sofrimento e antes transmute e expanda a sua alma e consciência com regularidade, frequentando mais a  natureza, as artes, a criatividade, a espiritualidade, os diálogos estimulantes.
Foi o mestre indo-persa Dara Shikoh, um sufi universalista, pioneiro do comparativismo religioso, príncipe mogol semelhante ao príncipe indiano Nala representado na pintura, quem escreveu uma obra intitulada A Bússola da Verdade apontando para a necessidade da sintonização e meditação interna para discernirmos os melhores caminhos, ligações e realizações, alertando-nos para perseverarmos no trabalhar, aspirar, aperfeiçoar e partilhar.
O Caminho evolutivo e espiritual faz-se caminhando interiormente e exteriormente, ajudando, meditando, amando, e não tanto intelectualizando  ou "proselitando", e devemos relembrar-nos que a luz do Sol visível não dura sempre e que no além, se não desenvolvermos o corpo espiritual, poderemos estar semi-cegos para a luz do Sol Divino.
Assim não percamos muito tempo com o que não é essencial, com o que não contribui para o nosso despertar e iluminar, para o alinhamento criativo, aperfeiçoador e dinâmico com o corpo místico da Verdade e do Amor, da Humanidade e da Divindade.
Saibamos recolher-nos nos jardins da alma e da Natureza e neles receber as energias e ideias, aves e luzes mensageiras da alma mundi, dos mundos espirituais e da Divindade.
Saibamos ser lúcidos e livres, fraternos e verdadeiros, aspirando ao alto, aos mestres e santas, anjos e deuses, e sobretudo amando a Divindade e acolhendo suas aves, sinais e mensageiro(a)s...

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Tolstoi, 113 anos da sua morte. Pensamentos libertadores, extraídos de "A Anexação da Bósnia e da Herzegovina pela Austria", traduzido por Jaime de Magalhães Lima. 1909.

 Pensamentos bem simples, directos e verdadeiros, mas que parecerão muito utópicos ou revolucionários, de Tolstoi, e partilhados para comemorarmos o dia do seu aniversário de libertação da Terra, 20 de Novembro. Extraídos da tradução e apresentação por Jaime de Magalhães de Lima [1859-1936], anteriano e tolstoiano, pois peregrinara à  Iasnaia Poliana e encontrara-se com ele (e publicando sobre isso), do livro a Anexação da Bósnia e da Herzegovina pela Áustria, dado à luz em 1 de Janeiro 1909, na popular A Editora, ao Largo Conde Barão, 50.

«Estamos tão acostumados a pensar que alguns homens devem governar a vida dos outros que as leis emanadas de alguns deles, mandando aos outros crer ou proceder de certo modo, não nos parecem estranhas. Se os seres humanos podem publicar tais decretos e serem obedecidos é porque não reconhecem nas pessoas aquilo que é a verdadeira essência de todo o ser humano – a Divindade da sua alma, sempre livre e incapaz de se submeter a qualquer coisa que não seja a sua própria lei, isto é, à consciência e à lei de Deus...» p. 9-10.

[Eis uma afirmação altamente revolucionária mas baseada na realidade e verdade íntima do ser humano. Por isso tanto afã nos mentores e defensores da Nova ordem Mundial, do transhumanismo infrahumanista de negarem o espírito e a imortalidade da alma-espírito, e tentarem impor as mais diversas derrogações da leis naturais da Ordem do Universo e o seu Logos divino, isto é a Inteligência amorosa ou compassiva.]

«O patriotismo, para todo o membro de um grande Estado e para mim, um russo, não somente envolve a ausência de simpatia com milhares e milhões de homens, polacos, fínios, judeus, e várias tribos caucásicas, mas também resulta em que eu seja o objecto do ódio dos homens, aos quais não fiz mal algum e com os quais nenhum contacto tenho. Para as pequenas raças ou nações escravizadas é ainda pior: pelo lado espiritual é a causa justificativa do ódio a um povo que lhes é estranho, e pelo lado material produz toda uma série de opressões, perdas e sofrimentos; e este sentimento obsoleto, grosseiro, e moral e materialmente pernicioso é advogado e insinuado por todos os meios, da parte daqueles a quem aproveita, e é ingenuamente aceite como virtude e bênção por aqueles aos quais é manifestamente nocivo...». p. 22.

«Os povos devem ter consciência da sua dignidade humana, igual para todos, incompatível com o domínio de alguns sobre a vida dos outros, ou com a sujeição desses outros a qualquer. Esta consciência é unicamente possível para os homens que conhecem o seu destino na vida e seguem nos comportamentos a direcção que deriva daquele conhecimento. E só conhecem o seu destino na vida e seguem nos actos ou comportamentos a direcção que daí deriva, aqueles que tem religião [ou religação], ou que estão a nascer de novo permanentemente para o amor e o bem..
  p. 24
 

«Hoje ainda vivo; amanhã, provavelmente, já não existirei, mas terei partido, para sempre, para o lugar donde vim. Enquanto vivo, se estiver em relações de amor com os homens, será isso para mim a alegria, a paz e o bem...» p. 25

 «Para um ser humano que acordou para a compreensão religiosa ou espiritual da vida, o que se chama a autoridade do governo consiste meramente na atribuição, que a si mesmo fazem certos homens, de uma importância imaginária, que carece de qualquer justificação racional, mantendo a sua vontade por meio de violência. Para o homem acordado, esta gente desvairada e, em regra, venal, que coage os outros, é como salteadores de estrada que prendem os viajantes e os violentam. A iniquidade desta violência, as suas dimensões e organização, não pode alterar-lhe o carácter essencial. Para o homem que despertou, aquilo que se chama o governo não existe, e não há por conseguinte justificação alguma da violência cometida em nome do Estado, e não pode ter parte nisso. A violência dos governos será abolida, não por meios externos mas unicamente pela consciência dos homens que acordaram para a verdade».
  p 26.

 [Um certo idealismo utópico foi fortemente afirmado por Tolstoi, e hoje no século XXI, com os Estados cada vez mais organizados e opressivos nos seus actos, damos conta como os meios externos revolucionários são muitas vezes necessários pois a democracia instalada está rota e é nociva. Mas quantos acordam para algumas verdades externas e para a realização da sua verdade e missão íntima? Muito poucos, tanto mais que há milhões de limitados ou falsos pregadores ou instrutores, pelo que o discernimento do caminho da Verdade é bem difícil. Meditemos bem e seja a nossa acção ditada pela nossa justa e sã ideia ou convicção, e manifestada com inteligência e amor para o Bem...]

«A relação com a fé fazia com que a maioria dos seres humanos, não reconhecendo em si qualquer autoridade espiritual independente que os guiasse, submetia-se cegamente à direcção de uma minoria escolhida, tanto na compreensão da vida como na direcção das suas acções, enquanto a minoria, atribuindo-se qualidades supernaturais, considerava-se com o direito de dirigir simultaneamente a vida espiritual e a corporal da maioria.» p. 35.

 [Auto-conhecer-nos, e tornar-nos independentes, não perdendo as nossas forças em submissões erradas e nocivas.]

  «A consciência de que a lei velha  está antiquada, gasta e que levou-nos à maior miséria e anormalidade de vida, e de que a nova lei de liberdade e amor revelada há dois mil anos exige aplicação e realização, tomou-se agora tão íntima dos seres humanos, não só no nosso mundo cristão mas em todo mundo, que um despertar em relação à escravidão e à perversão, nas quais se vê mantido há tantos séculos, pode, julgo eu, surgir de repente. Porque na verdade, este acontecimento iminente, imensamente importante como é, depende não de quaisquer acções externas, que podem encontrar obstáculos invencíveis, mas inteiramente da consciência dos homens - que é sempre livre e nunca pode ser estorvada. De nenhumas façanhas ou acções difíceis em conflito com os inimigos mais fortes carece agora o povo do mundo inteiro para a sua emancipação, mas só de uma coisa, a coisa mais natural e normal ao homem - nem mesmo um acto, mas meramente uma abstenção - não fazer coisas contrárias à nossa convicção. E nem a convicção nem a abstenção de acções contrárias à convicção de cada um podem ser impedidas.»
p. 46 

[Eis pensamentos ou linhas de força para despertarmos e nos libertarmos mais: Não agir em desacordo com as nossas ideias, ideais, princípios, convicções...]

  «O ser humano pode libertar-se imediatamente de toda a posição difícil, se apenas se lembrar de que Deus vive dentro dele. Deixai apenas que os homens concebam clara e firmemente o que eles são: deixai-os conceber o que foi ensinado por todos os sábios do mundo e o que foi ensinado por Cristo: que em cada homem, - como em todos, - habita o espírito livre eterno, todo-poderoso de um filho de Deus; que o homem não pode governar nem estar sujeito, e que a manifestação desse espírito é Amor. Deixai que os seres humanos concebam isto (e já estão preparados para o reconhecer) e deixai  que eles procedam
em harmonia - ou antes, deixai que eles somente não procedam ou ajam contrariando a sua consciência, e rapidamente, da maneira mais simples e pacífica, todas as dificuldades se dissiparão...» p 49.

«O mal não pode ser suprimido pela força física do governo. O progresso moral da humanidade não é provocado só pelo reconhecimento individual da verdade mas também através do estabelecimento da opinião pública…» 

[No interior e exterior dos seres deveria a Verdade brilhar e fluir mas sabemos como a opinião pública é ou está completamente manipulada, enganada, oprimida, pelo que nos resta trabalharmos pela auto.realização interior e a irradiação possível no exterior, no ambiente, nos grupos e pessoas mais afins...]

E terminará assim o livro: «Os seres humanos só podem [ou devem] submeter-se aquela lei suprema do amor que dá o maior bem estar a cada indivíduo e a toda a humanidade. Só o reconhecimento, da parte dos homens e mulheres, do princípio espiritual que neles está, e o reconhecimento consequente da sua verdadeira dignidade humana [conforme Pico della Mirandola acentuara já no dealbar do Humanismo], pode libertar e libertará da servidão de uns e outros. Esta consciência vive já no género humano, e está pronta a manifestar-se em todo o momento.»

No bosque de faias da Iasnaia Poliana...

 Que estas corajosas, lúcidas e tão verdadeiras quão poderosas palavras e ensinamentos do Logos, inteligência-amor, e de Tolstoi nos fecundem e nos inspirem, tanto para  nos transformarmos como para impulsionarmos os outros a se descobrirem, iluminarem, realizarem e logo as pessoas, os ecosistemas planetários e a Humanidade melhorarem...

"Angelis". Exposição de pintura de Maria De Fátima Silva, com texto meu, na galeria municipal da Ericeira. Imagens da inauguração.

                               Dos Anjos nos dias de hoje....
Quem contemplar com olhos curiosos, indagadores, as pinturas de Maria De Fátima Silva não pode deixar de reconhecer a sua destreza artística em chamar e harmonizar nas telas tão criativa e admiravelmente a pluridimensionalidade e interelacionalidade dos elementos e seres da vasta Natureza, que se alonga desde o reino mineral e animal até ao angélico e ao divino.
   Face à crescente artificialidade e materialismo do transhumanismo-infrahumanismo que vai tentando reger opressivamente as almas humanas, negando-lhe as suas raízes naturais e espirituais, são muito
importantes os criadores que evocam nas suas obras tais seres e forças subtis e espirituais, como é o caso de Maria De Fátima Silva que, na sua carreira ou senda, vai prosseguindo no desbravamento das brumas misteriosas do passado, do presente e do futuro e perseverando na aproximação e desvendação da riqueza pluridimensional do ser humano e do angélico.
   Embora já nas suas exposições, Mitos e Lendas (2008, 2009), Atlantis (2012, 2014, 2015, 2016) e Inês e Pedro (2016, 2018, 2019), o Anjo surgisse ocasionalmente, foi a partir da sua recente residência artística em 2020 durante dois meses em revisitação trisemanal da igreja de Fandega da Fé, em Safaruxo, Encarnação, próxima da sua casa e a 14 km da Ericeira, e onde houve outrora uma evocação e irmandade de S. Miguel e as Almas, que ela se dedicou mais artistica e animicanente aos Anjos e à sua presença na história de Portugal e seus monumentos e na nossa vida, locais de trabalho, questões de saúde, família, educação, práticas de yoga, comunhão com a Natureza, peregrinações, amores, etc. E em 2021, no Porto, realizou  uma primeira exposição sob o tema Angelis, e com os primeiros trabalhos.
    Embora a generalidade dos portugueses ao longo dos séculos tenha acreditado na existência dos Anjos, poucos os têm conseguido ver na sua visão espiritual pelo que a necessidade de pinturas e gravuras sempre foi sentida e deu origem a muitas obras belas ou inspiradoras, sobretudo desde o século XVI, nomeadamente em esculturas, pinturas e gravuras dos Anjos na vida de Jesus, do Arcanjo de Portugal, dos Arcanjos S. Miguel, Gabriel e Rafael, e ainda do Anjo da Guarda, devoção esta acelerada após o Concílio de Trento, no movimento de Contra Reforma, já que a Reforma protestante abolira a reverência ou culto dos Anjos, de Nossa Senhora, dos santos e santas, e em especial da suas belas imagens, por se tornarem ídolos, algo que o mais destacado dos Humanistas na Europa no começo do séc. XVI, Erasmo, embora crítico das superstições, lamentou quando consequentemente foram queimadas pelos protestantes dezenas e dezenas delas em 1529 em Basileia, além de se proibir a missa, forçando-o a trocar tal cidade pela católica Friburgo.
Foram pois os católicos que conservaram tal culto icónico intercessório através de pinturas, gravuras, ou dos registos emoldurados artisticamente nas paredes ou oratórios das casas, mas
será já só no século XIX que a posse individual de imagens, ditas santinhos, com os Anjos se vai democratizar extraordinariamente e
assim muitas das crianças para a 1ª comunhão recebiam santinhos, com a representação de Jesus, a Eucaristia, o Anjo da Guarda, aprendendo ainda desde tenra idade, e assim se tornando uma de cor,
ou de coração, sempre pronta a brotar em nós, a oração típica em quadra popular, com variantes: "Anjo da Guarda, minha doce companhia, guardai (ou inspirai) a minha alma de noite e de dia".
Nos nossos tempos de muito maior número de imagens acessíveis, infinitas mesmo pelos meios digitais, e numa época em que a Humanidade na sua evolução cada vez mais pode compreender, se não se distrair e alienar, a interioridade, imensidade e pluridimensionalidade do universo e dos seres, é importante realçar
que os Anjos não foram desmistificados ou mortos (tal como queriam e querem em relação à divindade) pelos positivismos, materialismos, cepticismos, post-modernismos e novas ideologias transhumanistas-infrahumanistas, mas continuam a inspirar, motivar ou impulsionar nas pessoas uma busca, uma aspiração, uma devoção, uma comunhão amorosa que justificam o aparecimento de tantos testemunho,  livros obras e de arte que deles se tentam mais acercar, intuir, conhecer, recriar, evocar, para melhorarmos as nossas vidas, intuições e religações à Divindade.
                                     
Maria de Fátima Silva, preparada pelas suas investigações no mundo da arqueologia e da história da arte, pela sua proximidade e peregrinação de locais sagrados ou angelizados, pela sua espiritualidade interior, pelo seu incessante e quase omnipresente amor a Inês e de Pedro e pelos seus dotes artísticos seria naturalmente levada a sondar e alargar os mistérios do relacionamento dos espíritos celestiais com os humanos através da sua criatividade e assim oferece-nos esta série de visões e recriações dos Anjos na história, no amor, no dia a dia humano, proporcionando aos que os admirarem alguns eflúvios da sua elevada ou alada essência, bem como da subtil dimensão em que vivem e em que nos envolvem ou mesmo transfiguram, já que todos estamos entretecidos no infinito campo de consciência, energia e informação cósmica, e todos temos, nos corpos, almas e espíritos de luz e amor e que assim se podem transfigurar, angelizar...
                                       
Ao não se deixar prender nos modelos correntes das representações e
tipificações dos Anjos, e antes manifestar uma tão criativa diversidade de perspectivas e aproximações aos Anjos e Arcanjos e às pessoas, símbolos, seres e monumentos a que ela os vê associados ou criativamente interelaciona em formas e cores tão belas, resulta um vasto horizonte de potenciais reacções, percepções, leituras e hermenêuticas das suas pinturas e consequentemente uma intensificação da presença angélica e da beleza divina pelos sentidos
nas nossas mentes-almas e logo uma expansão de consciência dos Anjos e da nossa natureza angélica e divina, a qual pode então ser mais sentida permeando e penetrando os corpos, as pedras, as aves, os burricos, o espaço, a história, a humanidade em diálogos infinitos...
   Este alargamento consciencial é obtido pela Fátima na sua arte sem ter de estudar e seguir doutrinas ou dogmas sobre o mundo angélico,
embora seja conhecedora dos textos sagrados ou históricos em que entram, mas apenas sentindo ou discernindo nos locais, nas pessoas e
nos acontecimentos a presença subtil ou possível deles e intuindo as
representações ou materializações plasmáveis, que depois vêm fixar-se impressivamente nas telas graças à sua boa destreza manual e excelente domínio das cores, sombras, formas, texturas, estruturas,
planos, movimentos, perspectivas.
   Maria da Fátima da Silva oferece-nos então nesta exposição Angelis, Para os Anjos, à contemplação dezassete ícones grandes e quatorze pequenos invocadores e evocadores dos Anjos e Arcanjos, e da dimensão angélica humana e do Amor, apresentando-os sob diferentes identidades, ângulos, regiões, dimensões, uniões e momentos históricos, e cada um de nós que os admirar, apenas na exposição, no blogue ou ao adquirir algum, para quando quiser nele se poder harmonizar ou inspirar, participa com ela nesta dinâmica humanista e espiritual da Humanidade que não quer ser reduzida a uma dimensão animal e quantitativa e opta com o seu livre arbítrio por cultivar os elos intermediários da ligação com o mundo espiritual e com o mistério supremo e íntimo da Divindade que são tanto os Anjos e Arcanjos, como os santos e santas e as grandes e humildes almas.
  E que na Ericeira e em Portugal sempre houve e sempre foram acolhidos com amor e que agora graças à Fátima são reactualizados com o grande dinamismo e profundidade, alegria e impacto com que ela os consegue assimilar e transmitir humanamente, e na actualidade do aqui e agora mais luminoso e transparente, poderoso e pacificado, unificado e universalizado....
                                             Pax Angelis!
       Imagens da inauguração, a18-XI-2023. A exposição na Galeria Municipal Orlando Morais e casa da Cultura Jaime Lobo e Silva encerra a 10-XII.
O Presidente da Câmara Municipal de Mafra, Hélder de Sousa Silva (e que homenageou o seu homónimo galerista Hélio Alfaiate, recentemente falecido)  e o vereador do Turismo, Pedro de Carmo Silva, vieram acalentar a Cultura, já que acreditam que é por ela que avançamos, que melhoramos...
Margarida Marcelino, com a sua autêntica lira grega, a pedido do presidente da Câmara, tocou para toda a gente em silêncio uma música que angelizou ainda mais as almas por momentos....

Uma instalação feita pelo Nuno e o Simão, marido e filho da Fátima.
Saudemos e demos graças, com muito amor, aos Anjos e Arcanjos, em especial aos nossos!

sábado, 18 de novembro de 2023

Daria Platonova Dugina: resistir e avançar no Optimismo Escatológico, face às opressões modernas. Um excerto, bilingue, do seu livro "Optimismo Escatológico"

                             

Um valioso excerto do recente livro Optimismo Escatológico, infelizmente póstumo, por ter sido assassinada a sua brilhante e tão esperançosa autora Daria  Platonova Dugina, aos 30 anos, filha do famoso ideólogo tradicionalista da Eurásia e da Filosofia Perene, Aleksandr Dugin, e da professora Natalia Melentyeva.

Daria  Platonova Dugina, em poucas linhas, aborda duas das raízes filosóficas, Bergson e sobretudo Popper,  da triunfante ideologia do liberalismo transhumanista ou, mais exacta, infrahumanista, tão dinamizado e globalizado pelo Fórum Económico Mundial, de Klaus Schwab, e pela Sociedade Aberta, de George Soros, grupos de pressão insidiosos que influenciam a maioria dos governos e políticos ocidentais, ou do eixo do mal imperial norte-americano e da sua escravizada União Europeia, desgovernada por Ursula von Pfizer... 

Estamos muito orgulhosos de termos penetrado (ou corrompido) em quase todos os gabinetes politicos mundiais, e em especial na escravizada União Europeia

Desmascara também a opressão a que tal aparente abertura liberal conduz, pois é só para os que aceitam as suas ideologias desequilibradas, e que tendem a massificar-se pelo controle que elite financeira exerce sobre quase toda a comunicação social, e de muito da ciência, cultura, filosofia e religião. Tal liberdade condicionada e manipulada, que tem exemplos no passaporte digital e vacinal universal da Organização Mundial de Saúde (graças a Deus não aprovado nas Nações Unidas), nas censuras e bloqueios nas redes sociais das vozes dissidentes, e nas Cidades de 15 minutos, uma Disneylandia de cores do arco-íris, graças ao Logos, ou Inteligência-Razão-Amor substancial, está a ser posta em causa fortemente pela Rússia e outros países que defendem um mundo multipolar e não corrompido e oprimido pela oligarquia possuidora do dólar infinitamente impresso...

                                 

Não se pode deixar de referir as discricionariedades que alguns governos (neles se destacando os ingleses e autralianos)  exerceram ou desejaram aquando da pandemia, tais os campos de concentração para os não vacinados, nem os constantes bloqueios do Facebook, Meta, Youtube, Instagram e Twitter-X aos que não seguem as suas directrizes farmacêuticas, ou de géneros, ou as anti-russas e anti-palestinianas, ou aos que querem discutir abertamente tudo o que interesse ao bem do género humano.  Oiçamos então Daria Platonova Dugina :

Resistir, lutar, meditar, confiar, vencer!

 «Na crítica ao historicismo e ao cientismo, na compreensão-visão da sociedade de Popper, podemos ver um apelo à mesma abertura que encontrámos em Bergson. Nisto reside a identidade das teses de ambos os filósofos sobre a "sociedade aberta". Mas há nelas uma diferença importante.
Na sua abordagem à ciência, Popper defende algo bastante análogo ao "impulso da vida" e rejeita dogmas prescritivos. Neste aspecto, é coerente. Mas, ao transferir este princípio para a sociedade e ao formular a ideologia liberal, depara-se com um paradoxo: a recusa de prescrever qualquer proibição ou restrição a determinados pontos de vista, em que consiste a essência do liberalismo clássico, transforma-se imperceptivelmente, para Popper, em medidas proibitivas contra os que classifica como "inimigos da sociedade aberta". 

Acontece que para ele só pode ser livre quem concordar com os princípios básicos do liberalismo, ou seja, com a sua interpretação muito específica ou definida da liberdade. Quem pensa de modo diferente é deliberadamente colocado na categoria dos privados de quaisquer direitos. Assim, o protesto contra qualquer prescritividade e qualquer historicismo termina na dura diretiva de ter de se seguir as normas da ideologia liberal, já que esta é vista como a coroa do progresso e desenvolvimento históricos.»

   Saibamos pois não nos deixar silenciar pelos bloqueios e  censuras, nem iludir por falsas promessas, e perseveremos no culto das tradições valiosas locais, familiares e nacionais, da harmonia com a Natureza, da alimentação natural e de preferência de agricultura biológica, da solidariedade, da Ética viva, das vias de arte e cultura, religiosidade e espiritualidade, nomeadamente da auto-consciente religação ao espírito individual e imortal, aos Anjos e Mestres, ao Bem, à Verdade e à Divindade e, sobretudo nestes tempos de manipulações e conflitos ferozes, lutando pela justiça e a liberdade fraterna e luminosa...

Original in english, translated from the russian, via Pravda Editions and VK.com: «In the critique of historicism and scientism in Popper’s understanding of society, we can see a call for the very same openness that we found in Bergson. In this lies the identity of both philosophers’ theses on the “open society.” But there is an important difference here.

In his approach to science, Popper defends something quite analogous to the “life impulse,” and he rejects prescriptive dogma. On this count, he is consistent. But by transferring this principle onto society and formulating liberal ideology, he runs into a paradox: the refusal to prescribe any ban or restrictions on certain views, of which the essence of classical liberalism consists, imperceptibly turns with Popper into prohibitive measures against those whom he classifies as “enemies of the open society.” It turns out that only he who agrees with the basic principles of liberalism, that is, with its very definite interpretation of freedom, can be free. Whoever thinks otherwise is deliberately placed into the category of those deprived of any rights. Thus, protest against any prescriptiveness and any historicism ends in the harsh directive to follow the norms of liberal ideology, for the latter is seen as the crown of historical progress and development.»

Muita Luz, Força e Amor divinos em Daria Dugina, e em nós!

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Anotações à contemplação (2ª p.) da pintura "Encontro na Luz", do mestre alemão Bô Yin Râ (1876-1943).

Quanto ao segundo livro, Aus meiner Malerwerkstat, Da minha oficina de Pintor, destaquemos das informações sobre a sua obra de pintor, sucintamente e numa tradução rápida, que «vejo-me na obrigação de dizer de uma vez por todas que nenhuma dessas pinturas "místicas" tem algo a ver com "misticismo" ou  a "aparência" corretamente designada como "mística", e que todas, sem excepção, foram criados da maneira perfeitamente normal em que toda verdadeira obra de arte é criada, ou seja, com base na habilidade adquirida honestamente através de incontáveis ​​estudos preliminares e experimentações e numa luta artística árdua.»
Diz-nos Bô Yin Râ ainda que «essas composições de cores dinâmic
as, que crescem a partir de estruturas lineares, são algo semelhantes, como designs artísticos baseados nessas formas e cores que - em termos comparativos - às vezes se tornam visíveis sob o microscópio em espécimes vivos, ou, talvez mais corretamente, representações de estruturas de formas e cores que, devido à sua natureza dinâmica, podem ser comparadas de acordo com as "figuras sonoras chladnianas" [formas ressonâncias sonoras em cordas ou areia) - embora tenham sido criadas num nível incomensuravelmente superior, já que são a representação de eventos espirituais eternos e substanciais». 
Comparará o seu tipo de experiência e busca de cores à de Johann Bach com os sons na música e pensa que Goethe teve a mesma capacidade de experiência que ele face à Natureza.
«De todos os nomes que poderiam ser dados à minha produção artística, que foi fundada na experiência puramente espiritual e apenas fertilizada por ela, a designação de pinturas "espirituais" parece-me a menos enganosa.
Mas nesses painéis não mostro nada para além do que experimento conscientemente como resultado do meu desenvolvimento espiritual substancial da consciência em regiões que são acessíveis apenas internamente e que penetram todos os mundos dos fenómenos.
Além disso, no entanto, as regiões de onde vêm os modelos para as formações de minhas pinturas espirituais não só conhecem as nossas três dimensões externas e terrenas, que são universalmente válidas, mas também uma tal multiplicidade de dimensões que o olhar terrestre só experimentaria confusão se quisesse ver esses mundos multidimensionais por conta própria, tentando entender da maneira habitual.»
Das suas batalhas demoradas para conseguir traduzir em forma e cor a multidimensionalidade dos eventos representados, confidencia-nos: «Entre os milhares de observadores das minhas imagens espirituais, haverá muito poucos que serão capazes de formar uma ideia de quanta agonia e tormento, quanta luta e ansiedade, quanta felicidade e decepção, quanta segurança e entrega repentina são exigidas, tal como o esforço num jogo difícil, e cuja vitória finalmente  essa imagem representa.
Não se trata da reprodução de "aparições" e "visões", mas sim da representação de um evento no qual se está no meio, e que não é de forma alguma registrado de forma análoga à visão através do olho físico, mas no organismo substancial espiritual e que é vivenciado de acordo com todas as sensações, acrescentando ainda que no seu livro Welten, Mundos dá informações mais detalhadas sobre esta forma de experiência.
E dir-nos-á então que «forma de linha, cor e tom são apenas os valores expressivos de tensões internas, esforços, ameaças que podem ser vivenciados substancial e espiritualmente». Ou, criticando as hermenêuticas estruturalistas, que «qualquer tentativa de esclarecer intelectualmente o que está representado é errado e será absurdo, por exemplo, assumir que qualquer forma significa algo e que toda a pintura pode ser "explicada", se apenas se souber o "significado" de todas as formas e cores que ela contém.
Uma pessoa só pode “explicar” algo que ainda não está claro ou foi escurecido, ou seja, tornou-se obscuro. Mas o que se apresenta nestas, minhas imagens espirituais, é em si mesmo clareza original, porque é a matriz de todas as aparências: - o evento original, como ocorre como a causa de todos os eventos em todas as áreas cósmicas, de eternidade em eternidade.
Para comunicar, não
 é necessário avaliar-medir uma capacidade artística completamente incomensurável, mas apenas reconhecer que as minhas pinturas encontram o que existe na alma, do mesmo modo que uma fuga de Bach, que também conta coisas que só a alma conhece.
Qualquer pessoa que alguma vez já se familiarizou com a ideia da situação em que as minhas imagens espirituais são criadas, certamente não se deve  surpreender-se que continuem a emanar dos desenhos e suas cores vibrações semelhantes às das estruturas espirituais primordiais na representação escolhida, vivenciada num momento de tendência criativa e assim finalizada.
Basicamente, as transmissões vibratórias possibilitadas pela representação artística dos efeitos coloridos e lineares de forças espirituais primordiais substanciais são nada mais nem menos do que a "magia dos signos" conhecida desde os tempos pré-históricos - e estes melhores do que hoje -, mesmo que nas minhas imagens espirituais os "signos" não estejam isolados no que significam pois há um efeito no seu contexto "orgânico" de ser.» 

                                           
Dirá ainda quanto à composição das suas pinturas:
«O que experimentei no meu organismo espiritual-substancial e, como resultado de minha forma inata de apreensão, principalmente orientada opticamente, e baseada principalmente nos seus valores de cor, fornece apenas o material para a criação da imagem, a qual em toda a sua estrutura permanece também a minha composição, tal como toda a imagem de uma paisagem, a qual é determinada apenas pela experiência para a qual quero abrir o caminho para a alma de quem a vê.
Também tenho de usar os elementos da forma e cor da paisagem de maneiras muito diferentes, dependendo se a imagem deve transmitir paz e tranquilidade, ou uma ajuda encorajadora para o observador.
Os mesmos componentes objetivos de uma paisagem exigirão um tratamento significativamente diferente se eu quiser pintar um clima de tempestade forte do que se for uma questão de tornar tangível a sensação da manhã orvalhada.»

                      
Quanto aos títulos das suas pinturas, dirá, alertando-nos para não nos deixarmos influenciar por eles mas antes tentarmos sentir a verdade anímica deles em nós, já que em geral tais pinturas nos representam:
«Devo advertir contra a adição de um significado ao nome pelo qual torno as imagens identificáveis ​​para a linguagem!
Se um tipo diferente de designação me parecesse apropriado para as obras individuais, então eu certamente não lhes daria quaisquer “nomes” - ou apenas o consideraria necessário nos casos mais raros.
Tal imagem só pode ser "sentida" quando é experimentada pelo observador, e só pode ser experimentada pelo observador quando ele mergulha a sua própria consciência na pintura: - ele mesmo, nas formas e cores da imagem, encontra a sua própria alma, que está representada nela, como é geralmente o caso...»

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Teachings communed with Autumn and the trees. Traditions or superstitions, Nature spirits and the mission of each one. Translation from the portuguese original.

 Translation in english from my original in portuguese :  "Ensinamentos comungados do Outono e das árvores. Tradições ou superstições, espíritos da Natureza e a missão de cada um."

Autumn, Autumn, October, November and December, nights with noises, groans and prayers, in souls and houses, in fields and forests, between recurrent or unexpected downpours and blessed openings or calms.
After the walnut and hazelnut trees have been harvested, the last tree, and still organically grown, the chestnut tree, gives up its fruit, dropping it to animals and men, covered in the armour of a porcupine. On St Martin's Day, with the friendly fireplace, they will be consumed with the blood of wine in memory of fraternal self-denial, and they remind us how we must be protectors of nature, of human, animal and plant life, and how hard life is and how we must work and co-operate to reach the valuable fruits and break through the coverings that hide or imprison them.
The northerly or south-westerly breezes come in damp, cold and gather up the leaves and debris of the year in heaps that the whirlpools, those very special formations of the winds, make dance in ascending and descending spirals, causing us to sometimes sense the presence of playful spirits, or vague desires to leave, to dance, to rise in those subtle invisible currents..
People give thanks for the well-deserved end of an annual cycle, for what they have received from the harvest, or for the money, and, looking around, they see the slow internalisation of the winter that is beginning and which they must partly follow...


On the longest nights, when the sun goes down, or sinks in the ocean, anyone who has to go or dares to cross the fields and hills, sometimes hears strange crackles or noises that may sound like footsteps, voices, groans, lamentations. Small animals, wild boars or foxes, trees that are about to die, spirits of the harvest that are disappearing, souls from the other world lamenting the evils that have been done or are being done here, or that are coming to haunt those who will soon be released from the earth, who can discern or have the right intuition about the origin of such sounds?
It is said, however, in some villages in the mountains, less influenced by modern communication, that just as certain animals hibernate, such as snakes, so certain spirits of nature, when they have to lose the vigorous forms that spring and summer have intensified, in order to become more entrenched in the earth and in the roots of the trees that they will now support in winter, lament themselves and may be audible to some of the most sensitive people. Are they complaining about not being able to see, except through the barrier of the earth that surrounds them, the fields and the sky, as well as human beings or even the heavenly devas?
It is also said of the trees cut down at Christmas to make a communal fire or to be sold in towns, that such a sacrifice serves to free some of nature's elementals who will be able to ascend to higher stages of their evolution, with some even believing that their souls can be incorporated into those of animals or even humans, but when asked how they know this, which is not unanimous, the villagers or shepherds who echo this old lore, reply that it comes from the wisdom of the ancients, who certainly sensed subtly much more than we do today the interior and soul of nature, in its many forms and beings...
"So do you think that trees and animals have souls like men?", I asked them. "Without doubts," they replied in unison. And one of them goes on to tell me how he saw the little ox crying before it went into the slaughterhouse, or the tears from the sap that the trees let fall to the ground when men cut them down, especially without telling them and thanking them before killing, or still the suffering of some animals when their owners are ill. And they tell me also stories of woodcutters who have died because they didn't respect centuries-old trees, which surely have a spirit of nature of their own.

Then I would set off up the mountain, alone, to commune with the trees, sometimes conveying my love to them, sometimes leaning my forehead against them and asking them to cleanse it, sometimes hugging them from the front or the back, sometimes tuning in through my hands to the powerful forces that they channel between heaven and earth, sometimes sipping the scents of the mosses. I even speak to them sometimes, addressing the spirit of nature that dwells in them deeply and subtly, and they seem happy that most people are unaware of them and don't disturb them premeditatedly.

I contemplate longer some trees and observe the rotations and spirals generated over the years, the subtle forms of the spirits of nature that have revealed themselves and I admire the perseverance with which they put down roots in the rockiest terrain and stand like true columns and axes between Earth and Heaven, accepting all natural difficulties with equanimity or indifference, or even the conversations and disharmonious vibrations of the humans who pass by them, blind to their beauty and strength.
But there are some that are true masters, such is their grandeur, beauty or suggestiveness, truly impressive, whether seen from afar, when you approach them and when you touch them and lean against them.

I've tried to sit next to them and meditate with them. Perhaps the most important thing I have felt, understood or intuited is still the powerful energy of Gaia, of the Earth that bursts green with them, the inspiring richness of their canopies, the geometry of their leaves and branches, and the exemplarity of their vertical, solitary and firm position, beaten by the winds and fogs. And, even though they're locked away in their mountain hermitages, crying out to the world:

"- Oh men and women of weak wills, when will you learn to persevere more in the connection between Earth and Heaven, the natural world and the divine world, your personality and the spiritual spark? Don't you see us here day and night connecting the distant worlds and the earthly depths, resistant to storms and adversity? And you, any wind or cold, nightmare or disappointment knocks you out of your creative love, and you no longer know your roots, essence and the fruit you must bear?"

One of the highest lessons that trees give us is to discern the seeds that we contain and should bear fruit. To do this, we need to water and strengthen them, and not allow ourselves to be distracted, alienated or discouraged from the tasks, duties or missions (the swadharma) that are the responsibility of every human being incarnate on the earth's crust and which are based on spiritual self-knowledge (we are spirit, with soul and body) and the fair use of abilities or gifts that are useful for the Common Good and the Truth, not for ego, pleasure, competition or vanity, but for the good, beauty and harmony of Humanity, the Mother Earth and Divinity.
" Thus, they encourage us to guess or discover the seeds, trunks and shoots that are potentially contained in us and in those around us, and which can become useful flowers and fruits, or which really want and long for us to realise these impulses and potentialities...
In order to do this, we have to get up early, weed, give water, feed and fortify, and not allow ourselves to be distracted, alienated or discouraged from the simple or complicated, banal or extraordinary work that we have to do in our uniqueness as spiritual beings incarnated on the earth's crust, so that from all this work opens the fruitful flower in which the Divine Spirit springs from itself and harmonises and strengthens, inspires, cheers and propels us towards the Light and the Source...
 So, in communion with Nature and its trees and beings, let's strive to know how to deserve the best realisations of love and beauty, health and peace, ecological and spiritual life...

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Anotações à contemplação (1ª p.) da pintura "Encontro na Luz", do mestre alemão Bô Yin Râ (1876-1943)

                                                    

 Bô Yin Râ é o nome espiritual do pintor alemão Joseph Anton Schneiderfranken, nascido a 25 de Novembro de 1876 em Ashendorf, e que, após os estudos secundários e o trabalho de sobrevivência, foi aluno de Hans Thoma (1839-1904), Fritz Boehle (1873-1916) e Max Klinger (1857-1920), formando-se no Städelsche Art Institute, de Frankfurt, em 1899, viajando depois por algumas cidades europeias em aprendizagens, até em 1912-13 residir na Grécia e, graças a uma iniciação espiritual, começar a partilhar as suas vivências e compreensões dos eventos arquétipos dos mundos espirituais em exposições e livros, destes surgindo o primeiro, Luz de Himavat, em 1919 e o trigésimo segundo, o Hortus Conclusus, Jardim Fechado, em 1936, o qual fecha o seu ensinamento, havendo ainda onze livros sobre arte, cultura e a sua missão, perfazendo os quarenta e três publicados, até deixar a Terra em Lugano, em 14 de Fevereiro de 1943.

A sua casa em Lugano, agora fundação-museu.
Um deles, Welten, isto é, Mundos, está constituído por um conjunto de vinte duas pinturas representando uma viajem ao Ser e mundo Divino e às suas manifestações, nomeadamente a emanação, queda e ascensão do ser humano, das quais oferece em palavras a correspondência espiritual pintada uma a uma,  mas da maioria das suas obras, excepto as contidas no Mundos, só deu uma indicação pelo título, não desejando provavelmente cercear por  explicações e interpretações intelectuais o sentir anímico unificante do contemplante.

Uma das pinturas não incluídas nesse livro, intitulada Begegung um Licht, Encontro na Luz, da qual tenho uma reprodução grande adquirida há muito na Librairie Médicis, em Paris, emoldurada, foi escolhida para ser contemplada com alguma regularidade durante algum tempo e anotadas as intuições, sensibilidades, pensamentos e reflexões, disso resultando um conglomerado de textos, de que partilho as primeiras partes.

Já depois de ter praticamente finalizadas as anotações, li na obra do seu amigo e biógrafo Rudolf Schott, Bô Yin Râ der Maler, publicada em 1927, que ele teria recomendado lerem-se os seus livros Gespent der Freiheit e Aus meiner Malerwerkstat, para melhor se compreenderem as suas pinturas. Na primeira, em português, O Fantasma da Liberdade, lemos indicações de carácter geral e que pouco têm a ver com a pintura, mas podemos transcrever resumidamente algumas ideias valiosas e bastante actuais devido ao seu incumprimento: - A Liberdade serve a Necessidade, o Todo Universal com a sua ordem, e ela não é irresponsabilidade nem incumprimento da nossa missão de nos darmos forma. A colectividade deveria tornar-se progressivamente Comunidade, de seres inteiros, íntegros e conscientes do seu valor posto ao serviço de todos. Já a autoridade que não dá garantias de que a liberdade individual será protegida está desequilibrada. Mas no capítulo sobre a Mentalidade partidária, a propósito de que uma verdadeira comunidade só poderá nascer do sentido espiritual de reunião, na verdadeira Liberdade que a Necessidade exige, diz: «toda a influência do Espírito supra-terrestre que a alma humana seja susceptível de captar aqui em baixo tem sempre por objectivo "reunir o que estava perdido"», e dará o exemplo dum caso extremo contrário, a loucura de se querer dissolver em ácido uma estátua sublime para fazer uma obra nova.

Valoriza também no capítulo Concorrência a busca do melhor e mais perfeito, tanto no produtor como no consumidor, estando tal sempre associado ao amor que se sente e à utilidade benéfica, e condena as cliques ou grupos de pressão que exploram e arruínam os outros e espalham impulsões funestas à humanidade, acrescentando mais à frente que os piores criminosos são os que tem os seus objectivos ou vistas orientados para as profundezas abismais da pré-humanidade terrestre, enquanto que nós devemos ter como visão o ser humano Espírito eterno e sermos os artesões conscientes do futuro, em especial no além ou vida depois da morte do corpo físico, para Bô Yin Râ muito importante de ser demandada na profundidade e elevação do nosso auto-conhecimento espiritual e vida criativa e fraterna.

Também no capítulo Religião, a propósito da representação do herói ou santo cultuado em capelas ou santuários, e que tanto o pode ser pelo que há de divino nele, ou por nele se honrar o Homem-Espírito, dirá em analogia quanto à erradicação de antiquadas ou supersticiosas formas: «Tal como uma pintura antiga, que o fumo e a poeira da igreja tornaram quase irreconhecível, só pode ser limpa pela mão de um perito para logo resplandecer no esplendor antigo, assim também é preciso mais do que uma necessidade de claridade racional para que a religião seja limpa da mancha que ameaça de destruir a sua face clara. Terá que se pagar muito caro a purificação do dogma se forem limpos demasiado depressa, por uma ignorância tola, os "sinais", que um dia será necessário reinserir trabalhosamente no quadro, para que ele possa falar ainda aos que o saberão interpretar de novo, o que não fora compreensível aos homens dum período intermediário.»

Tal como na sua obra escrita Bô Yin Râ fala dos sinais patentes nos seus quadros e que as pessoas deveriam sentir e intuir, esta pequena citação alerta-nos para estarmos atento a cada pintura, na sua totalidade e ambiente, mas também para os sinais inseridos e que serão correspondências das realidades dos mundos espirituais, estimulando-nos a religar-nos por esse meio a eles. 

Também no capítulo Ciência, alerta para a importância de sabermos interrogar a linguagem, pois mesmo a própria ciência toda ela se alimenta ou ergue da linguagem que «é a representação fonética da modelação interior da força de luz física transformada, e que por tal interrogação se desenvolve», lembrando que «mesmo quando pensamos ter relação com as coisas em si mesmas, elas não são mais que imagens interiores  correspondentes, criadas pela força da luz transformada, que nós dispomos como objectos de observação e cuja representação fonética é a linguagem (...) e que portanto, o nosso ver é apenas uma transformação concentrada das partículas de força luminosa em substância de forma, a partir da qual se constrói todo o nosso mundo interior, o único onde vivemos verdadeiramente, ainda que pensemos viver apenas no mundo exterior», e nisto está muito actual face às descobertas quânticas da física moderna e das neurociências quanto aos modos ou processos pelos quais vemos, recebemos, reagimos, transformamos, assimilamos.

Esta valorização de discernirmos melhor quanto nos apoiamos em partículas luminosas que transformamos interiormente em formas substanciais pode ajudar-nos a sentir mais intensa e pulsantemente como nós somos ou estamos constituídos animicamente, e o que nos rodeia e, graças às palavras e pensamentos que se geram a partir dessa auto-consciência mais profunda, intuirmos melhor os sentidos e o dinamismo dos seres e das formas que contemplamos ou com que interagimos.

(Continua...)