que têm o seu ser
mais no Ser,
Ornamento espiritual de Bô Yin Râ. |
Livros, Arte, Amor, Religião, Espiritualidade, Ocultismo, Meditação, Anjos, Peregrinar, Oriente, Irão, Índia, Mogois, Japão, Rússia, Brasil, Renascimento, Simbolismo, Tarot, Não-violência, Saúde natural, Ecologia, Gerês, Nuvens, Árvores, Pedras. S. António, Bocage, Antero, Fernando Leal, Wen. de Morais, Pessoa, Aug. S. Rita, Sant'Anna Dionísio, Agostinho da Silva, Dalila P. da Costa, Pina Martins, Pitágoras, Ficino, Pico, Erasmo, Bruno, Tolstoi, Tagore, Roerich, Ranade, Bô Yin Râ, Henry Corbin.
Ornamento espiritual de Bô Yin Râ. |
Deixar-nos-á as Lendas Narrativas e os
seus romances históricos bem caldeados de erudição e recriação
ambiental, plenos de ensinamentos éticos e que ganharam um merecido espaço curricular nas escolas portuguesas ao longo dos anos, iniciando ao gosto da História gerações sucessivas de jovens, a par das suas Poesias, românticas majestosas, inspirando muitos, tal como Antero de Quental que as valorizou referindo a forte impressão causada pela leitura em criança da Harpa do Crente, de 1838.
A sua História de Portugal, em quatro volumes, dados à luz de 1846 a 1853,
será a primeira portuguesa com critérios mais científicos, e lê-se com bastante agrado e proveito, embora só vá até ao tempo e reinado de D. Afonso III, evidentemente hoje muitíssimo mais ampliada ou completada por tanta investigação e historiador posterior.
Na História da Origem e Estabelecimento da Inquisição, 1854-1859, obra pioneira, e que lhe trouxe bastantes ataques, mostra até
onde pode ir a ignorância e a crueldade, e nesse sentido apelará noutra
ocasião a uma cruzada santa contra as tendências guerreiras,
interrogando o porvir: «Nesses dias, que porventura tardam menos do que muitos
pensam, que destino darão os sacerdotes da bombarda, da lança e da
espada aos seus deuses fulminados? As palavras façanha, glória
guerreira, conquista, como serão definidas nos dicionários das línguas
vivas, dentro de um ou dois séculos? Como julgará a história os milagres
inventados para santificar o derramamento de sangue»? Outrora
conquistadores, hoje pequenos, «para obtermos consideração basta que os
nossos progressos intelectuais e morais mostrem à Europa que sabemos,
queremos e podemos regenerar-nos pela ciência, pelo trabalho, pela morigeração».
Dirigiu também a recolha e publicação de documentos e códices manuscritos sob o título Portugaliae Monumenta Historica, de 1856 a 1873.
Os seus estudos e polémicas fortes, mais a colaboração em várias revistas, foram compilada nos seus dez valiosos tomos de Opúsculos, editados pela Livraria Bertrand, sob os títulos: Questões públicas, Controvérsias e Estudos Históricos, e Literatura.
Dois extractos: «A História pode comparar-se a uma coluna polígona de mármore. Quem a
quiser examiná-la deve andar ao redor dela, contemplá-la em todas as
suas faces. O que entre nós se tem feito, com honrosas excepções, é
olhar para um dos lados, contar-lhe os veios da pedra, medir-lhe a
altura por palmos, polegadas e linhas. E até não sei dizer ao certo se
estas indagações se têm aplicado a uma face ou unicamente a uma aresta.
Mas é semelhante trabalho desprezível? Não por certo. Este exame miúdo, feito com consciência, tem grande aplicação, e ainda em si é importante;mas dar-se isso como a história da nação é,salvo erro, enganar redondamente o género humano; é não perceber os fins da história, a sua aplicação como ciência; é sobretudo fazer uma coisa, a que podemos chamar novela, distinta somente daquelas a que se dá tal título, pelo tedioso, árido e sem sabor da leitura que oferece» pp. 103-4. Tomo V dos Opúsculos. Controvérsias e Estudos Históricos. Tomo II
Frontispício de um exemplar da 2ª edição, com o preço editorial ainda marcado, 600 reis, e que pertenceu à biblioteca do meu bisavô paternal, na casa da Cruz, em Gagos, assinado por ele. |
E do II Tomo, Questões Públicas, tomo II, p. 6, eis o começo de um dos seus bem profundos textos, Monumentos Pátrios, de 1838, que provavelmente inspirou ou tocou Antero de Quental e o seu grupo, sobre a missão não só da Imprensa e da defesa do Património cultural, como também de cada um de nós enquanto almas envolvidas pelas narrativas oficiais, o egoísmo e os aliciamentos superficializantes, mensagem hoje ainda muito actual pois a demanda conscienciosa da verdade e a integridade escasseiam enquanto a parcialidade, a cegueira interessada e a corrupção, com os progressos tecnológicos opressivos, intensificam-se:
«Diz-se que uma das mais belas missões da imprensa é defender a boa razão, a arte, e a honra e glória da Pátria.Imagina-se ampla colheita de renome, de bênçãos, de vantagens de toda a espécie para o escritor que alevanta a voz a favor do bom, do justo e do belo, se a voz do que escreve é assaz poderosa para se esperar que mova os ânimos dos seus concidadãos. E com efeito, indicar a estes o recto caminho, quando transviados; tentar afeiçoá-los a nobres e puros sentimentos; fazê-los amar o solo natal; despertar-lhes afectos pelo que foi grande e nobre na história do país, parece que deveria produzir frutos de bênção para o escritor que o tentasse. Não é, todavia, assim. Há para isso um obstáculo quase insuperável; a superstição pelas ideias e tendências do presente, mais cega que a superstição pelas crenças do passado. As paixões são mais enérgicas do que as reminiscências, as aspirações que as saudades. Glória, lucro, respeito, bênçãos são para aquele que afaga com palavras mentidas as preocupações populares; para aquele que, sem discrime, louva, adorna ou repete como eco as opiniões que ao redor dele, talvez por cima dele, esmagando-lhe a consciência, passam como torrente. Tumultua o género humano correndo ao longo dos séculos: o louvador, às vezes o promotor do túmulo, se a natureza lhe concedeu imaginação e talento, vai adiante como capitão e guia da geração que corre ébria: incita-a, arrasta-a, deslumbra-a. As coroas voam-lhe do meio do tropel sobre a cabeça. Verdade é que ao cabo de tanto lidar ele se despenhará com essa geração no abismo do passado;verdade é que o abismo se fechará para ele com o selo de reprovação de cima, e que, porventura, não tardará a que o futuro passe por ali a sorrir, ouse afaste com tédio do sepulcro dealbado do erro ou da vilania. Mas isso que importa? O homem que vendeu ao século a consciência e o engenho, que Deus não lhe deu para mercadejar com ele, foi benquisto e glorificado enquanto vivo; foi antesignano [porta-bandeira] do progresso, embora este seja avaliado algum dia como progresso fatal!
Mas que pode esperar aquele que, nessa longa e ampla estrada do tempo, por onde o género humano corre desordenado, quiser vir, do lado do futuro e em nome do futuro, dizer à geração a que pertence - "parai lá"? Embora a sua voz troveje; embora as suas palavras devam fazer vibrar todas as cordas do coração e despertar todas as conviçções da alma: não espere ser ouvido. As multidões continuarão a passar desatentas. Escarnecido, amaldiçoado talvez, dormirá esquecido na morte, e os sábios e prudentes cultores de uma filosofia corrompida e egoísta dirão, com insultuosa compaixão, ao passar pelo que jaz no pó - «Pobre louco, recebeste o prémio e querer contrastar o século»!
E continua logo a seguir, num novo parágrafo, a transmitir a sabedoria ético-moral pitagórica (com o Y das duas vias) e verdadeiramente religiosa, a que nos religa à nossa consciência íntima e à consciência colectiva-impessoal (ambas tão demandadas pelo seu discípulo Antero de Quental), e ao espírito e Divindade:
«O que havemos dito é crua verdade; mas é a verdade. Há nesta época dois caminhos a seguir: um estrada larga, batida, plana, sem precipícios, mas que conduz à prostituição da inteligência; outro, vereda estreita, tortuosa, malgradada, mas que se dirige ao aplauso da própria consciência. Aqueles cujas esperanças não vão além dos umbrais do cemitério e que aí veem, não o termo da sua peregrinação na Terra, mas o remate da existência, que sigam a fácil estrada. Nós, porém, que guardamos para o além da vida [o mundo espiritual, que brilhe em nós] as nossas melhores esperanças, tomaremos o bordão do romeiro e iremos rasgar os pés pela vereda de espinhos [Ad astra, per aspera, como dizia Paracelso, ou seja, para vislumbrarmos o mundo espiritual, ou para mais tarde entrarmos bem nele, temos de nos esforçar]. Resignar-nos-emos nos desprezos e, como os soldados [da 1ª cruzada à Terra Santa] do eremita Pedro, que, pondo a cruz vermelha [fonte templária] no ombro para irem morrer [se tivesse que ser] na Palestina, clamavam- "Deus assim o quer! Deus assim o quer!" - diremos também - soframos o menoscabo e o vilipêndio: soframos que assim o quer Deus».
Talvez esta visão do Destino, da Moira, que Alexandre Herculano ainda partilha, seja, para além do valor estóico, algo incorrecta pois a fatalidade (de fatum) é mais dos actos humanos (mais ou menos voluntários) e suas consequências, o Karma na tradição indiana, do que de um querer ou vontade de Deus, pois são antes as almas humanas que, deixando-se envolver, prender ou obscurecer na ignorância e egoísmo, inveja e ódio, causam os males e menoscabos que afligem tanta gente...
Encerremos este parágrafo final de Alexandre Herculano, já algo intervencionado hermeneuticamente, e no qual nos partilhou com beleza de peregrino ou romeiro, a sua crença e esperança na vida e na justiça post-mortem, com um terceiro lema, o dos frades e cavaleiros Templários: Non Nobis, Domine, non nobis, sed Nomine tuo da Gloriam, ou seja numa tradução livre espiritual, Que a Luz brilhe gloriosa na vibração e presença Divina em nós. E no Alexandre Herculano, Antero de Quental e noutros dos seus discípulos e amigos...
Tempo
devorador calmo da luz de cada dia
Espaço
tentativa de fazermos ordem e beleza
Macrocosmos
tudo o que nos envolve até ao céu último
Microcosmos
eu, tu, centelhas em aspiração de comunhão
Desafio e missão
aqui e agora sermos plenos e felizes
Criatividade e individualidade
estar em amor a todo o momento
erguer o arco-íris na alma e ambiente
Amor
olhos marejados na gratidão e união,
sabermos harmonizar do mundo a discussão.
Respira fundo
Fecha os olhos
Une as mãos
Adora a Fonte
transcendente
e
imanente.
Ó Divindade,
Ó Anjos e Arcanjos
Ó mestres e santas
Ó almas afins
amadas e
mais amada,
comunguemos
na
Unidade
Divina,
e
discernimento, justiça
e paz no mundo!
Pintura do mestre Bô Yin Râ. |
Dara Shikoh em jovem, com um dos seus principais mestres, Mian Mir (1550-1635). |
A primeira obra escrita pelo faquir sufi e príncipe mogol Dara
Shikoh, nascido no equinócio da Primavera de 1615, a 20 de Março, e que hoje comemoramos com muito amor, havendo outros artigo no blogue e gravações no Youtube) intitula-se Safinat-ul-Awliya e foi escrita quando tinha 25 anos, em 1049 a. H., ou 1640, e nela apresenta-nos curtas biografias e alguns ditos, asceses e contemplações, dos Amigos de Deus, os
Awliya, os mestres ou santos mais vizinhos (na expressão de Erasmo) da Divindade, presentes em
todas as tradições religiosas ou espirituais e que devemos estudar e cultivar, embora nesta obra Dara apenas convoque os islâmicos, começando no profeta Maomé. Eis o seu belo e auspicioso
começo, que traduzimos e partilhamos como um presente de anos de Dara Shikoh, neste dia auspicioso também do equinócio da Primavera:
- "Este escritor humilde
acalentou sempre uma reverência e obediência plena ao grande
corpo místico dos Amigos de Deus. Dia e noite ele não tinha outro
pensamento senão o deles, e considerava-se a si próprio como um dos
seres que acreditava neles e os procurava alcançar.
Por
esta razão ele resolveu começar um breve compêndio dos seus ditos
e actos. Porque se não temos a fortuna auspiciosa do contacto
pessoal com tais amigos, ao menos se
meditarmos sobre as boas qualidades destes amigos e falarmos deles, conseguiremos manter a mente firme e luminosa [e assim mais aberta ao espiritual e à Divindade].
Sobre tal, do fundador da nossa religião há um dito (hadit):
"Sabe
que a seguir aos Mensageiros ou Profetas de Deus há os grandes
Mestres, os Auliya ou Awliya, os Amigos de Deus, acerca dos quais diz
o seguinte verso no Livro, Alcorão:
- «Eles são simultaneamente os
amantes e os amados de Deus».
Este grande corpo místico
existiu sempre no passado, existe no presente e continuará a existir
no futuro. E o mundo é permanente e perdura estabelecido
firmemente graças às bênçãos destes seres santos. [Que bela descrição duma realidade também expressa por Marsilio Ficino, Pico della Mirandola e Erasmo]
Deste modo Pir Ali
Haywari escreveu no seu livro Kashaf-ul-Mahjub:
"A Divindade nunca
deixa este mundo sem conservar nele alguém que dará testemunho e
prova da Sua existência. E Ela nunca deixa a sua gente sem um
Mestre."
Há um dito tradicional mencionado na literatura dos Hadits
com a mesma ideia. Diz o Profeta abençoado (Maomé): "A minha gente nunca
estará desprovida de um grupo de pessoas que andarão sempre no
caminho da rectidão, e essas quarenta pessoas pertencerão todas à
minha religião, terão as características do profeta Abraão."
Portanto,
a seguir aos profetas, não há outras pessoas mais próximas da
Presença de Deus Omnipotente do que esses. Não há pessoas mais
respeitadas que eles ou que estejam mais na confidência de Deus. Não
há seres mais compassivos, mais magnânimos nem mais independentes
do que eles, e nenhuns mais sábios e perfeitos, mais eruditos e ao
mesmo tempo práticos, humildes e gentis, heroicos e caridosos, do
que os membros desta hierarquia.
Um dia perguntaram ao sheik Abu-Abdullah Salami (possa a paz de Deus estar nele): Como é que as pessoas reconhecem os amigos de Deus, os Auliyas, a partir da massa da Humanidade?
Ele respondeu: "Um Mestre é conhecido pela doçura da sua língua, pela sua disposição alegre, pela frescura da sua face, pela generosidade do seu coração, pela ausência da tendência de descobrir defeitos nos outros, pela capacidade de perdoar as ofensas, por uma benevolência plena para todas as criaturas de Deus."
Portanto amar os Mestres é verdadeiramente amar a Deus, estar próximo deles é estar próximo Dele, procurá-los é procurá-Lo, unir-nos com eles é unir-nos com Deus, e mostrar o respeito por eles é mostrar respeito por Deus.
Neste sentido disse o Sheik-ul-Islam Hazrat Khwaja Abdullah Ansari: "Ó Deus, que grande estatura deste aos teus amigos, pois quem os procura encontra-Te, e enquanto uma pessoa não Te ver, não os reconhecerá".
Nesta obra, biografa e cita, com grande simplicidade e claridade, na 1ª secção, cronologicamente, o Profeta Maomé e depois a sucessão dos califas, os doze Imans shia, e outros mestres. Nas secções seguintes biografa os sufis das diferentes ordens, sisilas ou tarikas, começando na dos Qadiri, seguindo-se a Naqsband, a Chisthi, Kubrawi, Suhraswari, os santos de ordens mistas, e termina na última secção com as mulheres santas: as mulheres do profeta, as filhas, entre as quais a radiosa Fátima ou Zahra, e outras mulheres.
Cita cerca de vinte e duas obras ou fontes e introduz algumas das suas peregrinações, sonhos (tal um em que se encontrou com quatro dos Imans shia), diálogos e experiências espirituais. E dá a sua visão ou compreensão da hierarquia dos Amigos e Amigas de Deus: muito numerosos os discípulos solitários, depois um grupo de 40.000, os Maktum, onde alguns dos quais não estão conscientes do seu estatuto, e nomeia depois como mais elevados 130, os Akhbar, os vigilantes da corte Divina, seguindo-se dois grupos de 40 pessoas cada, denominados Rahyun e Abdal, e depois sete mestres chamados Abrar, e acima deles quatro, os Autad, e por fim, o Kutb ou Ghaus, que é o polo, eixo, cabeça ou chefe da hierarquia, tendo à sua esquerda e direita dois Imans.
A proveniência desta informação tão detalhada sobre a Hierarquia dos mestres, escreve Dara Shikoh, são os livros dos antigos sábios, sem especificar quais, mas é possível que algumas das fontes principais sejam Ibn Arabi e Suhrawardi, tal como alguns dos bons estudiosos das suas obras poderão discernir.
Dara Shikoh terminará o seu livro, afirmando que é através das bênçãos da Hierarquia que se pode obter a fé e a graça de Deus e, considerando-se o mais baixo dos faquires ou sufis, fecha a obra com um verso:
"Eu não tenho esperança, por causa dos meus actos e pensamentos.
A minha confiança está só na Tua misericórdia, ó Divindade amada."
- Que demandada por nós, Ela nos agracie também!
A imagem anterior, numa reunião em Samarqand, de vários chefes de Estado não alinhados com a imperialice norte-americana, foi censurada pelo google e blogger. A legenda era: |
«A vida é uma subida de montanha,
de dia, solar, racional, consciente,
de noite, lunar, de sentimentos,
semi-consciente ou mesmo inconsciente
e mais visível nos sonhos.
Assim morres e renasces diariamente.
Conseguires tornares-te um eixo entre a terra e o céu
entre o inconsciente e o supra-consciente,
é o Caminho, que te desvenda
como alma luminosa e fraterna
e como espírito ígneo,
centelha divina em irradiação.
Isto és.»
Pedro Teixeira da Mota...
Um poema de religação ao Anjo, escrito a 14 e 15 de Março de 2023, para a harmonia dos seres e dos mundos e no amor ao Anjo da Guarda, aos Anjos e Arcanjos e à Divindade...
Escrito à volta de um desenho ornamento de Andreas Lambert, para a revista Janus, ano II, fascículo IV, Paris, Ed. Les Belles Letres 1924. Demos graças.
Os Anjos apontam
para o alto, a fonte,
a Divindade.
É no silêncio da adoração
que ele vibra connosco
e o seu bater de asas
impulsiona-nos a erguer
mais a nossa aspiração.
II
Poucos veem o Anjo
em vida, porque não
se esforçam por tal.
Mas esta entidade subtil
que connosco vive e sente,
se a respiramos e amamos,
manifesta-se por luzes e imagens internas.
III
Se logo na alvorada
o respirares e o chamares
com amor e na adoração Divina,
ele te abençoará com pensamentos e flores
e durante o dia te acompanhará sorrindo em ti!
Arrumando gavetas é uma tarefa importante para a ordem e o feng shui de uma casa e de uma alma, e mais frutífera ainda quando uma estrelinha inesperada e valiosa surge, no caso simples: cadernos diários ou de apontamentos, cartas in illo tempore em que se escreviam - e por vezes tão sentidas e magnetizadas, valiosas e duradouras - cartões e cartões de visita, fotocópias, radiografias, recortes de revistas e jornais. Vendo uma caixa de cartão legendada Cartas que me foram dirigidas, interroguei-me se deveria perder tempo abrindo-a, ou deixá-la para mais tarde. Venceu a decisão de a examinar rapidamente e surgiu-me logo um cartão duma senhora francesa que, casando com um português, viveu em Lisboa muitos anos, na zona dos Anjos, donde se deslocava até à Sociedade Teosófica, ao ramo ou grupo semanal do irmão Manuel Lourenço, onde eu fui algumas vezes, já que o meu pai, engenheiro civil e militar, me apresentara ao irmão Lourenço, engenheiro técnico, pois sabia que ele era como eu um interessado e conhecedor da espiritualidade. [Muita Luz e Amor neles!] E assim vim a conhecer a Sociedade Teosófica, o ramo e nele a Madame Marcelle da Costa Pina que tinha uma predilecção especial por dois ensinamentos: o da Cosmogonia de Urantia, contida num calhamaço imenso que me emprestou com muitas recomendações de não o perder, e o de Jean- Claude Salemy e o seu grupo e revista Ondes Vives, da qual me deu no fim da sua vida os números que tinha, chegando eu então a assiná-la, e vindo até encontrar-me em Paris e a dialogar com Jean-Claude Salemy, um especialista em simbologia, numerologia, etimologias subtis e profetismo, mas que contudo não me convenceu, sobretudo por um certo exagero numerológico e apocalíptico.
Já a Mme Marcelle Costa Pina era de uma gentileza enorme, de coração puro e nada impositiva: pequenina, bem arranjada, uma senhora (vestida) à antiga, ainda (creio) com pó de arroz, batom, e com a sua voz baixinha, suave ou doce mas lúcida e independente. E dialogávamos em francês na salinha da sua casa, tendo-lhe eu ouvido (e quem sabe se recuperarei através dos diários que conservo da época) algumas histórias dos seus encontros com espirituais antes de vir para Portugal e até com o espírito de uma amiga que acabara de falecer, pelo que já
pensara algumas vezes que a devia recordar, homenagear, agradecer e,
de certo modo, nestes momentos anímicos e imponderáveis, ressuscitá-la para a nossa história ainda de incarnados, graças ao
blogue e à comunidade virtual que o lê, e assim o cartão de Marcelle Costa Pina foi mesmo uma bênção, pois já não seria só a memória e o coração a falarem...
«Querido Amigo
Um grande agradecimento por me ter emprestado este livro que acrescenta mais um argumento para a não-crença na reincarnação na Terra. Todavia se todas as impulsões das quais nós somos os autores durante a nossa vida terrestre devem encontrar a sua realização apenas em vidas humanas posteriores, isso pode perturbar, numa certa medida, a nossa paz interior. É verdade que em compensação, somos levados a esgotar as impulsões emitidas pelos nossos predecessores. Mas, na realidade, tudo isso me parece bastante complicado.
Creio também que o uso de costumes ou práticas ascéticas é inútil para atingir um fim espiritual.
É evidente que o ser humano, em primeiro lugar, deve cumprir as suas obrigações terrestres antes de se consagrar às suas aspirações espirituais.
Estou também de acordo quanto ao que [Bô Yin Râ] diz a respeito do domínio [ou mestria] do pensamento.
Desejando-lhe um coração alegre, envio-lhe a minha saudação fraterna.»
Marcelle Costa Pina.
Vemos assim, em parte em uníssono com o ensinamento de Bô Yin Râ, um seu testamento: contarmos apenas com esta vida, cumprirmos as nossas obrigações, não dependermos especialmente de ascetismos, sermos mestres dos nossos pensamentos e actos e cultivarmos um coração, ou interioridade anímica, alegre, generosa, feliz... Demos-lhe graças! Aum...
Uma alma bem luminosa, vista por artista russa, homenageando Marcelle Costa Pina |