Pouco se sabe do barão Roberto Winspeare, para além de ser siciliano, nascido em Nápoles em 11 de Outubro de 1887 e ter-se casado com Eugenia Davidovich, tendo três filhos, e sobretudo ter sido o primeiro tradutor em francês de livros do pintor e mestre espiritual Bô Yin Râ (1876-1943), em 1929 pronunciando duas conferências sobre Bô Yin Râ, na Sorbonne, a famosa universidade parisiense, no IV Congrès Psicosociologique, e no Institut Pranotherapique de Paris, em 10 de Julho de 1929. Deixará a Terra em 1 de Junho de 1954. A última conferência sobreviveu à volatilidade do verbo graças à sua publicação por escrito, que acolhemos com gratidão neste texto. Intitula-se Esquisse sommaire de l'Enseignement de Bô Yin Râ, e foi editado pela prestigiada Librairie Orientale et Americaine Maisonneuve Frères.
Nela se pode sentir a boa compreensão dos ensinamentos de Bô Yin Râ, com bastantes citações mas mesmo assim realçando os aspectos segundo a sua sensibilidade e vivência, e caracterizando-se humildemente como um dos discípulos comentadores, menos qualificado. E não diz ter conhecido pessoalmente Bô Yin Râ, pelo menos na época, embora já tenha lido que se conheceram...
De mais importante o que diz, auxiliando-nos no caminho espiritual, pois é tal o mais essencial desta nossa vida efémera e frágil e simultaneamente tão rica e poderosa?
Considerando-se um indigno intérprete em francês da sua obra, realça tratar-se duma doutrina de sabedoria fecunda e de amor activo, baseado no conhecimento interior das leis da manifestação cósmica, desde a Arqui-Causa, a Primordialidade, até aos aspectos mais palpáveis e concretos.
Em contacto com tal sabedoria, diz, foi-se transformando até sentir que a sua consciência individual era de certo modo o suporte e o centro de acção dinâmica da Consciência Universal.
Com grande serenidade, paz, alegria e confiança face a tudo, começou a traduzir a obra de Bô Yin Râ e recebeu em 1929 o primeiro convite para conferenciar sobre o ensinamento, o qual impresso na época, como já dissemos, foi reimpresso em 1976 pelo instrutor francês de Kriya Yoga, Rishi Atri, meu primeiro mestre de Kriya Yoga e que me ligou ao ensinamento de Bô Yin Râ, pois publicara no seu centro em Neuvy-en-Champagne, onde peregrinei, esse livrinho que ainda hoje guardo: L'Enseignement de Bô Yin Râ (Vie-Voie-Verité) Exposé du Baron R. Winspeare. Atma Bodha Satsanga-Diffusion, 1976.
Considerando-se um indigno intérprete em francês da sua obra, realça tratar-se duma doutrina de sabedoria fecunda e de amor activo, baseado no conhecimento interior das leis da manifestação cósmica, desde a Arqui-Causa, a Primordialidade, até aos aspectos mais palpáveis e concretos.
Em contacto com tal sabedoria, diz, foi-se transformando até sentir que a sua consciência individual era de certo modo o suporte e o centro de acção dinâmica da Consciência Universal.
Com grande serenidade, paz, alegria e confiança face a tudo, começou a traduzir a obra de Bô Yin Râ e recebeu em 1929 o primeiro convite para conferenciar sobre o ensinamento, o qual impresso na época, como já dissemos, foi reimpresso em 1976 pelo instrutor francês de Kriya Yoga, Rishi Atri, meu primeiro mestre de Kriya Yoga e que me ligou ao ensinamento de Bô Yin Râ, pois publicara no seu centro em Neuvy-en-Champagne, onde peregrinei, esse livrinho que ainda hoje guardo: L'Enseignement de Bô Yin Râ (Vie-Voie-Verité) Exposé du Baron R. Winspeare. Atma Bodha Satsanga-Diffusion, 1976.
Na sua revista Atma Bodha, Rishi Atri apresentou assim a obra do Barão Roberto de Winspeare que editava:«Este pequeno livro expõe o essencial do ensinamento deste mestre ao qual frequentemente nos referimos. Como o próprio Bô Yin Râ sublinha no seu livro A Arte Real: «Se dás ao teu guia o nome de Mestre, sabe que um só e mesmo Mestre exprime-se em cada um de nós." Este livro é uma excelente introdução à obra de Bô Yin Râ, da qual se pode dizer que ela é Vida, Caminho e Verdade, fora e além de toda a doutrina. Ela exprime e manifesta, sem espírito de capela, o que Paramahansa Yogananda desejava: a Igreja de todas as religiões.»
Tradutor e comentador, mas com as suas insuficiências, dirá Roberto Winspeare, pois apenas lera, desde que o conhecera há cinco, vinte e cinco das suas obras (as que na altura, das 32 do Hortus Conclusos, mais as oito extra-conjunto, estavam publicadas) e teria que ter assimilado o ensinamento, tal como recomendava Bô Yin Râ, pois ele não é um sistema filosófico ou ciência «mas verdade, caminho e vida!...
Tradutor e comentador, mas com as suas insuficiências, dirá Roberto Winspeare, pois apenas lera, desde que o conhecera há cinco, vinte e cinco das suas obras (as que na altura, das 32 do Hortus Conclusos, mais as oito extra-conjunto, estavam publicadas) e teria que ter assimilado o ensinamento, tal como recomendava Bô Yin Râ, pois ele não é um sistema filosófico ou ciência «mas verdade, caminho e vida!...
Ora tal exige uma vontade inquebrável de luz, uma tensão de todo o ser para o objectivo a ser atingido, que é o despertar da centelha divina que dorme no fundo do nosso eu, a fim de que ela retome a consciência da sua identidade espiritual, da sua potência ilimitada, da sua missão de amor e da sua unidade com o Espírito criador universal.»
Eis um belo resumo, quase mântrico, da parte mais subtil, íntima e difícil do Caminho...
Eis um belo resumo, quase mântrico, da parte mais subtil, íntima e difícil do Caminho...
Eis em poucas palavras, quase no início da conferência, mostrando a espontaneidade de Roberto Winspeare, a essência do caminho real do ensinamento de Bô Yin Râ. Todavia, acerca da dificuldade de escrever, partilhar ou mesmo traduzir e comentar, Robert de Winspeare lembra que Bô Yin Râ refizera sete vezes um livro porque tocava em aspectos dogmáticos religiosos que poderiam levar o seu ensinamento a ser sentido como herético, mostrando a cautela e cuidado com que Bô Yin Râ se movia na transmissão do ensinamento de acordo com o meio e a época, nos princípios do século XX e já não muito longe do nascimento do trágico Nacional-Socialismo e consequente nazismo.
Será algo que deveremos provavelmente ter em conta: certos aspectos do seu ensinamento assumiram formas com alguns compromissos, seja de apreciações em relação ao antigo e ao que se acreditava, seja de enunciações ousadas de verdades ou realidades, mas que foram de algum modo mitigadas ou adaptadas para não ferirem demasiadas susceptibilidades, embora em geral Bô Yin Râ não se coíba de se afirmar como um dos raros e verdadeiros mestres, criticando certas noções muito aceites...
Quanto aos que se queixam de haver uma doutrina de Bô Yin Râ, Roberto Winspeare contrapõe que o «seu Conhecimento extrai de todas as doutrinas os conceitos e símbolos que correspondam ao que ele sabe por uma ciência certa ser a Verdade e, com esses materiais ele constrói o seu Ensinamento da Realidade Cósmica integral.» E que ele não é intolerante prova-se pela sua afirmação de que mesmo as doutrinas mais perniciosas não foram inúteis quando delas nos libertamos...
Uma nota ou cena histórica é acrescentada por Roberto Winspeare, ao dizer que participara num Congresso recente na Universidade parisiense da Sorbonne onde falara de Bô Yin Râ e aí o apresentara não como um filósofo ou ocultista mas como «um verdadeiro mestre predestinado da Realidade Cósmica interior», procurando ajudar os humanos a religarem-se com a Divindade.
Conta também que Bô Yin Râ teria sido guiado ou inspirado pelos Mestres desde criança e que o nome que lhe foi dado aquando da sua iniciação, Bô Yin Râ, «não é um pseudónimo arbitrariamente escolhido, mas aquele que os seus augustos irmãos lhe revelaram como sendo o seu verdadeiro nome na Eternidade, como sendo a expressão verbal da sua individualidade espiritual, pela qual é ele uma «Palavra na Arqui-Palavra»....
.
O seu contacto com Bô Yin Râ fora obtido graças a um amigo que lhe pusera na mesinha de cabeceira o Das Buch vom Glück, O Livro da Felicidade, no ano de 1924 e, lendo-o. logo sentira a força interior e claridade que dele emanavam.
Ora desenvolver esta sensibilidade e discernimento interior é muito necessário quando é tão grande a feira do ocultismo, esoterismo e nova era, com tantos mistagogos de segredos e rituais, cabalas e templários, canalizações e curas, tantas vezes a explorarem as pessoas... E isto diziam ambos eles apenas nos anos 20 do século passado... Como não se admirariam hoje....
O ensinamento de Bô Yin Râ nada disto contém na sua simplicidade, diz Roberto Winspeare, e pede sobretudo corações abertos que consigam «ler em paz, com grande atenção e o mais completo abandono de todo o seu ser, afim de que o sentido, tornando-se vivo no coração e no seu espírito, ajude o pensamento a seguir na mesma direcção.»
Em verdade, quem o estuda ou lê deve evitar constantes comparações com outros ensinamentos, pois o principal é sentir e viver interiormente e não, como muitos outros ensinamentos, constituir uma mera documentação externa, uma acumulação de informações, por vezes até tão manipuladas em vários aspectos como sabemos acontecer frequentemente...
Cita Rudolf Schott, como um dos discípulos de certo modo autorizados do mestre, autor de alguns livros sobre a vida e obra de Bô Yin Râ, e que realçava o facto do ensinamento não estar ainda submerso ou distorcido pelos comentários. E para quem considerava que havia poucas novidades nele, pois tudo estaria já nas diversas religiões e doutrinas, Roberto Winspeare realça que o «ensinamento sabe tornar magicamente perceptíveis ao coração humano as verdades que ele já talvez conhecesse o enunciado, mas que não sabia já sentir. E é graças a uma tal restauração da vitalidade dos símbolos e dos dogmas essenciais no coração do ser humano que este pode chegar a transformar todo o seu ser, assimilando os preceitos do ensinamento, que então se torna efectivamente Vida, Caminho e Verdade».
Assim verdades antigas «adquirem um sentido vital interior, uma vida intrínseca, que invade o nosso ser como uma torrente de água viva».
Os princípios de todas as Religiões, puros, deformados ou fantasistas, provém da mesma fonte, a Alta Comunidade dos Radiantes da Claridade Primordial, da qual ele é um membro adequadamente eleito, denominando-os também como os «Sábios do Oriente, os Auxiliares Espirituais, os Irmãos sobre a Terra, ou os Sacerdotes do Templo da Eternidade», os quais «vivem espiritualmente no coração do Oriente, rodeados de contrafortes do silêncio», como vemos na pintura seguinte, intitulada precisamente Himavat!
Roberto Winspeare explica então que vai esforçar-se em seguida por delinear a estrutura essencial do «tema fundamental e o objectivo deste ensinamento: o nascimento do Deus vivo no “Eu”», sem dúvida o coração ou essência e mais elevado objectivo deste valioso ensinamento.
Será num segundo texto, a publicar, que findaremos o resumo, com leves contextualizações, da conferência pronunciada em Paris a 10 de Julho de 1929, por Roberto Winspeare, no IV Congrès Psycosociologique, a convite do professor Varma.
Será algo que deveremos provavelmente ter em conta: certos aspectos do seu ensinamento assumiram formas com alguns compromissos, seja de apreciações em relação ao antigo e ao que se acreditava, seja de enunciações ousadas de verdades ou realidades, mas que foram de algum modo mitigadas ou adaptadas para não ferirem demasiadas susceptibilidades, embora em geral Bô Yin Râ não se coíba de se afirmar como um dos raros e verdadeiros mestres, criticando certas noções muito aceites...
Quanto aos que se queixam de haver uma doutrina de Bô Yin Râ, Roberto Winspeare contrapõe que o «seu Conhecimento extrai de todas as doutrinas os conceitos e símbolos que correspondam ao que ele sabe por uma ciência certa ser a Verdade e, com esses materiais ele constrói o seu Ensinamento da Realidade Cósmica integral.» E que ele não é intolerante prova-se pela sua afirmação de que mesmo as doutrinas mais perniciosas não foram inúteis quando delas nos libertamos...
Uma nota ou cena histórica é acrescentada por Roberto Winspeare, ao dizer que participara num Congresso recente na Universidade parisiense da Sorbonne onde falara de Bô Yin Râ e aí o apresentara não como um filósofo ou ocultista mas como «um verdadeiro mestre predestinado da Realidade Cósmica interior», procurando ajudar os humanos a religarem-se com a Divindade.
Conta também que Bô Yin Râ teria sido guiado ou inspirado pelos Mestres desde criança e que o nome que lhe foi dado aquando da sua iniciação, Bô Yin Râ, «não é um pseudónimo arbitrariamente escolhido, mas aquele que os seus augustos irmãos lhe revelaram como sendo o seu verdadeiro nome na Eternidade, como sendo a expressão verbal da sua individualidade espiritual, pela qual é ele uma «Palavra na Arqui-Palavra»....
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O seu contacto com Bô Yin Râ fora obtido graças a um amigo que lhe pusera na mesinha de cabeceira o Das Buch vom Glück, O Livro da Felicidade, no ano de 1924 e, lendo-o. logo sentira a força interior e claridade que dele emanavam.
Ora desenvolver esta sensibilidade e discernimento interior é muito necessário quando é tão grande a feira do ocultismo, esoterismo e nova era, com tantos mistagogos de segredos e rituais, cabalas e templários, canalizações e curas, tantas vezes a explorarem as pessoas... E isto diziam ambos eles apenas nos anos 20 do século passado... Como não se admirariam hoje....
O ensinamento de Bô Yin Râ nada disto contém na sua simplicidade, diz Roberto Winspeare, e pede sobretudo corações abertos que consigam «ler em paz, com grande atenção e o mais completo abandono de todo o seu ser, afim de que o sentido, tornando-se vivo no coração e no seu espírito, ajude o pensamento a seguir na mesma direcção.»
Em verdade, quem o estuda ou lê deve evitar constantes comparações com outros ensinamentos, pois o principal é sentir e viver interiormente e não, como muitos outros ensinamentos, constituir uma mera documentação externa, uma acumulação de informações, por vezes até tão manipuladas em vários aspectos como sabemos acontecer frequentemente...
Cita Rudolf Schott, como um dos discípulos de certo modo autorizados do mestre, autor de alguns livros sobre a vida e obra de Bô Yin Râ, e que realçava o facto do ensinamento não estar ainda submerso ou distorcido pelos comentários. E para quem considerava que havia poucas novidades nele, pois tudo estaria já nas diversas religiões e doutrinas, Roberto Winspeare realça que o «ensinamento sabe tornar magicamente perceptíveis ao coração humano as verdades que ele já talvez conhecesse o enunciado, mas que não sabia já sentir. E é graças a uma tal restauração da vitalidade dos símbolos e dos dogmas essenciais no coração do ser humano que este pode chegar a transformar todo o seu ser, assimilando os preceitos do ensinamento, que então se torna efectivamente Vida, Caminho e Verdade».
Assim verdades antigas «adquirem um sentido vital interior, uma vida intrínseca, que invade o nosso ser como uma torrente de água viva».
Os princípios de todas as Religiões, puros, deformados ou fantasistas, provém da mesma fonte, a Alta Comunidade dos Radiantes da Claridade Primordial, da qual ele é um membro adequadamente eleito, denominando-os também como os «Sábios do Oriente, os Auxiliares Espirituais, os Irmãos sobre a Terra, ou os Sacerdotes do Templo da Eternidade», os quais «vivem espiritualmente no coração do Oriente, rodeados de contrafortes do silêncio», como vemos na pintura seguinte, intitulada precisamente Himavat!
Roberto Winspeare explica então que vai esforçar-se em seguida por delinear a estrutura essencial do «tema fundamental e o objectivo deste ensinamento: o nascimento do Deus vivo no “Eu”», sem dúvida o coração ou essência e mais elevado objectivo deste valioso ensinamento.
Será num segundo texto, a publicar, que findaremos o resumo, com leves contextualizações, da conferência pronunciada em Paris a 10 de Julho de 1929, por Roberto Winspeare, no IV Congrès Psycosociologique, a convite do professor Varma.
2 comentários:
Muito interessante saber que há obra comentando Bo Yin Ra. Por aqui , no Brasil, há pouquíssima informação sobre Mestre. Suas pinturas são maravilhosas e muito diferentes das outras à sua volta. Também é muito pouco divulgada... conheço apenas um livro seu... que se tornou uma leitura recorrente. Sua expressão é de rara espontaneidade, transmitindo o sentimento legítimo da verdade...
Que bom Luama, conhecer a obra dele, pictográfico e escrita, e tanto apreciá-la. Além desse livro do Deus Vivo, publicado pela FEEU, liderada nessa altura pelo Dr. Treiger, em 1986, há um outro mais antigo e raro, que talvez possa encontrar em algum sebo: Arte Divina, impresso em S. Paulo pelo Grupo Theosophico Editor em 1925. Como sente e diz bem a Luama, a obra transmite bastantes forças anímicas verídicas que suscitam o nosso acolhimento interior. Vou tentando ora aprofundar ora partilhar aspectos de tão luminoso ensinamento, embora sem grandes diálogos, já que, por exemplo Robert Winspeare partiu há já muitos anos da Terra e apenas deixou suas traduções e este valioso comentário...
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