domingo, 9 de novembro de 2025

Belas capas de dez bons livros da espiritualidade da Índia. Com breve apresentação dos livros e autores.

 Sri Krishna Prem (1898 a 1965), foi um professor inglês que desde 1930 viveu na Índia e foi iniciado por uma mulher na via da devoção ou amor (Prem) a Krishna. Viveu como um mestre no seu ashram e templo em Almora, junto aos Himalaias, onde eu peregrinei e dialoguei com o seu sucessor Sri Madhava Ashish, que prefacia esta Iniciação ao Yoga, que contém ainda outros ensaios sobre casamento sagrado, filosofia e religião, superstição e causas das guerras. As suas obras patenteiam tanto as tradições indianas, como teorizações teosóficas por vezes altamente especulativas e as suas reflexões originais. Como morreu em 14 de Novembro de 1965, nesse dia escreveremos mais sobre a Initiation into Yoga....
 
Shriram Sharma Acharya (1911-1990) notabilizou-se pela sua coragem na luta pela independência da Índia do império colonial britânico e depois como yogi e mestre espiritual, com grande sucesso nas peregrinações aos Himalaias, nas  práticas e nos seus mais de dois mil livros-livrinhos, tal este folheto num in-8º de 36 páginas Valorizou bastante a meditação, o ritual sacrificial (yajna) e a recitação diária do Gayatri, estendendo-os às mulheres e aos sem casta. Conseguindo obter grande reuniões e meditações, algo milenarista na aproximação ao ano 2000, citando até Aldous Huxley no seu Admirável ou Bravo Mundo Novo, acreditou  que no  XXI século se entraria numa nova era. Tem ainda  centros, dinâmicos a vários níveis ainda embora as suas ilusões duma Nova Era se tenham esfumado...
Swami Siddhesvarananda (1897-1957) foi o 1º monge da ordem Ramakrishna a pastorear em França, fundando Centro Vedântico Ramakrishna, em Gretz, sucedendo-lhe Swami Ritajananda, com quem ainda dialoguei, conforme artigo no blogue. Nesta obrazinha, um in-12º de 46 páginas, realça a unidade das religiões que Sri Ramakrishna vivenciara por experiência interior, e que «pondo à luz a harmonia das religiões, Sri Ramakhrisna não tentou resolver as contradições que apresentam entre si os livros sagrados; respeitou todas as crenças e acentuou antes o que nós podemos realizar no campo da nossa sadhana ou caminho espiritual... Cada ser deve esforçar-se por levar uma vida justa para receber a benção da Presença divina». Dirá ainda, na linha do seu mestre: a essência de todos os livros sagrados é a de encorajar o ser humano, por um lado a dedicar-se a uma sadhana a fim de que possa realizar a verdade no decorrer da sua existência, e por outro  a conformar-se a um código moral, a práticas e a iniciações que devem acelerar a sua evolução póstuma.

Jadunath Sinha foi um erudito estudioso do culto da Shakti, da Deusa Mãe, registado nas diversas obras do Shaktismo desde as Shakta Upanishads até aos Tantras, tal o Tantratattva, ao Shivaismo de Kashmira, e as obras de Sir John Woodroffe.  O 1º e 2º  cap. são sobre Shaktismo, Siva, Saktismo e Advaita Vedanta, o Mundo, Sadhana ou as práticas do caminho.
Shri Surath Chakravarti foi desde muito novo atraído para o yoga, encontrou bons gurus, praticou e obteve resultados de unificação e samadhi, e  foi desenvolvendo a compreensão dos processos e estágios, tendo ganho ainda com o contacto posterior com mestres como Gopinath Kaviraj, Swami Nirvananda Saraswati, Swami Ashok Ananda de Kashmir, Jagat Guru Sankaracharya do sul da Índia, e o Yogi Kalipada Guha Roy.  Nas obras aborda com profundidade e experiência o caminho espiritual, o ego e a consciência, a natureza, a sexualidade, a respiração e pranas e os corpos subtis,  e como o samadhi é visto nas  diferentes darshanas ou escolas tradicionais. Valoriza as experiências de Samadhi em Sri Ramakrishna como modelos e o que pode ser ela no futuro da Humanidade, pois considera que o ser humano deve evoluir de uma consciência individual limitada para uma espiritual e cósmica muito mais ilimitada. 
Sri V. C. Kelkar conheceu durante quarenta anos o professor e seu guru Ranade (1886-1957) e consagrou-lhe esta valiosa obra de 72 páginas: Uma breve biografia; Ditos autobiográficos; O Caminho Espiritual: metodologia da meditação, onde destaca, Nama-Smarana, ou seja, meditação-repetição do nome de Deus,  Bhava ou Bhakti, a devoção sincera que eleva o coração, e dedicação plena a Deus; e, por fim, as experiências místicas possíveis, ligadas com a luz, o som, o perfume.
Publicada em 1962 pela famosa Librairie d'Amerique et d'Orient Adrien-Maisonneuve, esta antologia de poesia mística escrita ao longo dos séculos por mestres ou santos em hindi e recolhida por gurudev Ranade, contém um prefácio valioso de 58 páginas de Achyut S. Apté, 120 páginas de Poesia, e por fim a Homenagem a R. D. Ranade, escrita pelo prof. S. G. Tulpulé, em 90 páginas, com ensinamentos valiosos sobre a sadhana marga ensinada pelo mestre, na qual a repetição do nome de Deus, concentradamente, durante bastante tempo e com entusiasmo perseverante leva à visão da forma de Deus.
Vinayak Hari Date (1900-22-IV-1986) foi professor de filosofia e um discípulo de gurudev Ranade, tendo escrito cerca de 30 obras de espiritualidade e nesta, de 280 páginas, de 1982, partilha a vida e os ensinamentos da sucessão de gurus: Narayanrao Mahraja de Nimbargi (1712-1807), Sri Bhausahib Maharaja de Umadi (1765-1835), Sri Amburao Maharja de Inchgiri (1799-1855) e finalmente o seu gurudev Ranade, em Nimbal. Já consagrei  alguns artigos a estes mestres, vidas e ditos no blogue.  

Swami Jitatmananda foi um notável monge da Ordem de Ramakrishna, pois além de ter exercido importantes cargos como professor e reitor, interessou-se pelas recentes descobertas da física com bons resultados, conseguindo destacar os aspectos convergentes de cientistas e yogis, místicos e tradição vedântica, valorizando bastante Erwin Schrödinger e Max Plank por considerarem que a consciência é o verdadeiro substracto da matéria. Nesta obra, dedicada a swami Ranganathanandaji,  que foi o meu iniciador na linha de Sri Ramakrishna Paramahamsa,  dada à luz em 1991, num in-4º de 156 páginas, apresenta amplas citações e comparações. Desincarnou em 2020. Uma das suas explicações valiosas: «Desde tempos imemoriais. profetas e líderes religiosos clamaram ter ouvido uma "Mensagem Divina" do além, quer através de uma voz, um deus ou uma deusa, uma ave, uma caixa, um anjo, um arbusto a arder, etc. Todas essas experiências são válidas. Mas, em muitos casos, os videntes ou os seus seguidores, falharam quanto a explicar que todas essas mensagens vieram do seu próprio nível mental supra-consciente. As visões externas, etc, eram apenas simbólicas.»

O Mistério da Vida Humana (Nija Ananda Bhodham), escrito por Amarakavi Ramachandra, um Siddha Yogi, e publicado em 1979, com 526 páginas, é uma obra de extraordinária abrangência psico-espiritual mas difícil de ser lida, como ele próprio adverte nos diferentes resumos e apresentações que insere no livro. Das dez capas deste artigo, esta é a única  assinada, por Vijey. Brevemente escreveremos sobre ensinamentos deste valioso livro, pois o autor começou muito cedo a trilhar o caminho espiritual e, pelas práticas e graças. obteve valiosas visões e compreensões, conseguindo explicar com bastante profundidade e na base da experiência os principais textos, teorias e conceitos da religiosidade e espiritualidade indiana, proporcionando aos leitores boas indicações para as práticas psico-espirituais dos mais empenhados no caminho do auto-conhecimento, da realização espiritual e da religação divina.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O Profeta, de Kahlil Gibran, ilustrado por Zeida Abirached. Apresentação na livraria Palavra de Viajante. Fotografias, e vídeo da 1ª parte do diálogo da ilustradora com a editora.

Zeida Abirached, em Lisboa, apresenta O Profeta ilustrado por si.
1º e 2º volume, em letra quase manuscrita e bom papel.

      O lançamento em Portugal, em banda desenhada por uma artista libanesa Zeida Abirached, de O Profeta, um dos sete livros mais editados e lidos no mundo, escrito e publicado em Nova Iorque em 1923 pelo escritor e artista libanês Kahlil Gibran, é certamente um acontecimento valioso no nosso meio editorial, cultural e espiritual. Aconteceu na simpática livraria de bairro e de viagens Palavra de Viajante, sob a chancela luso-espanhola Lenoir. Com  tradução de José Luis Covita, fluida mas (creio) do francês da edição da Senghers, e portanto perdendo por vezes a melhor tradução. São dois volumes in-4º de 191 e 189 páginas, em bom papel e com uma breve introdução da ilustradora Zeida Abirached. 

                                                      

Não morando longe da Palavra de Viajante, porque lera duas vezes o Profeta e recentemente traduzira e comentara alguns dos poemas resolvi participar no acontecimento e, como perguntando às pessoas responsáveis do interesse em ser gravada ou não a apresentação a resposta foi afirmativa,  encontrará no fim o primeiro dos três vídeos que documentam a apresentação e o seu diálogo, com excepção de um minuto no fim de uma das gravações, estando-se disponíveis no Youtube.




Os livros foram autografados com ilustrações personalizadas

Vamos transcrever a tradução e ilustrações de um dos poemas, que até apresenta alguma dificuldade de hermenêutica na parte final mas que aludirá à pesagem da alma pela consciência justiça karma cósmico divino.

 

«Uma mulher disse então: fala-nos da Alegria e da Tristeza.
Ele respondeu. A vossa alegria é uma dor sem máscara. [... a vossa dor]
E o poço de onde se elevam os vossos risos [E o mesmo poço... riso]
esteve muitas vezes cheio com as vossas lágrimas.
E como poderia ter sido de outra maneira?
Quanto mais fundo a dor se entranhar no vosso ser,
[.., modelar]
mais conseguireis conter a alegria.
A taça que contém o vosso vinho
Não é a mesma que o oleiro cozeu no seu forno?
[... que foi queimada]
E o alaúde que apazigua o vosso espírito
não é ele feito de uma madeira talhada pelas facas?
[tornada oca...]
Quando estiverdes felizes, sondai as profundezas doo vosso coração,
e descobrireis que a dor de outrora
é a alegria no presente. [que foi o que vos deu a tristeza vos está a dar alegria ]
Quando estiveres tristes, sondai de novo o vosso coração
e aperceber-vos-ei que na verdade chorais por aquilo que já foi a vossa alegria.

Alguns de entre vós dizem [alguns de vós...]
a felicidade sobrepõe-se à tristeza [...é maior]
e outros respondem não, a dor sobrepõe-se à felicidade. [... maior]
Eu digo-vos que são inseparáveis,
chegam juntas,
e se uma delas está sentada à vossa mesa, [e quando...]
lembrai-vos que a outra dorme na vossa cama. [está adormecida]

Na verdade, sois como uma balança, suspensa entre a alegria e a tristeza.
Apenas guardais o vosso equilíbrio e a vossa imobilidade quando estais despojados. 
Quando o guarda do tesouro vos levanta para pesar o seu ouro e a sua prata,
a vossa alegria ou a vossa tristeza devem então aumentar ou diminuir.» 

A mãe de Khalil Gibran sua mestra da sensibilidade profunda. E o próprio... 1993-1931.
Este verso final é o mais complexo de ser compreendido: quem pesa alma? Pesa-se o ouro e a prata, correspondentes à alegria e tristeza, e isso influencia o nível do destino-estação no além?
 
 Eu traduziria assim:
«Na verdade, estais suspensos como pratos de balança entre a vossa alegria e a vossa tristeza.
Só quando estiverdes vazios é que estareis em calma e equilibrado.
Quando o guarda do tesouro vos elevar para pesar o seu ouro e a sua prata,
necessariamente a vossa alegria ou a vossa tristeza sobe ou desce.»

Eis-nos com uma obra de extraordinária qualidade anímica, humana, perene, e nesta edição propícia a ser lida pela juventude e pelos que gostam de banda desenhada, tão bem ilustrada com leveza e beleza pela Zeida Abirached, e que podem até colorir... Boas leituras...

                               

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

O fundo da consciência humana como Ananda, beatitude Divina, nos yogis e nos ensinamentos do guru Ranade. Somos Sat Chit Ananda.

Das principais contribuições da espiritualidade e filosofia da Índia para a Humanidade foram as tentativas de conhecimento e caracterização do do verdadeiro eu,  chamado também  espírito, e em sânscrito denominado Purusha, Atman ou Jivatman, e que em si mesmo teria ou manifestaria três qualidades ou atributos principais, chamados Sat Chit Ananda, significando Sat - Ser verdadeiro, Chit - Consciência ou inteligência e Ananda - Bem-aventurança ou beatitude. Eles corresponderiam a qualidades e atributos que o ser humano discernia em Deus...
Embora esta visão e compreensão tenha sido gradualmente alcançada pelos rishis (videntes) e yogis védicos, como podemos ver nos antigos textos, ela incorporou-se e desenvolveu-se por alguns darshanas ou sistemas filosóficos da Índia, especialmente o Yoga Vedanta, bem como pelos contributos de yogis que a conheceram, meditaram e partilharam,  mas com o tempo e devido aos contextos crescentemente complicados e artificializados  de vida, muitas das pessoas esqueceram ou perderam ligação e consciência das primeiras e terceiras qualidades ou níveis, e muito mais tal aconteceu fora da Índia porque esta visão da realidade foi bastante sepultada ou manipulada por influências religiosas e filosóficas contrárias ou diferentes,  pelo que é importante demandarmos tais qualidades ou atributos e procurar viver mais ligados a este fundo do nosso ser mais íntimo, e em 
especial com a qualidade ou atributo de bem-aventurança, ananda, que poderemos até chamar de amor no cerne de sua identidade.
                                                
Como sabem os estudiosos e praticantes da e
spiritualidade indiana, um dos seus últimos grandes representantes, Gurudev Ranade (1886-1957, e a quem já dediquei alguns artigos), foi um ser muito especial, pois sua vida era ao mesmo tempo a de um jnani yogi, com estudos filosóficos profundos, um bhakta, com muita devoção, um karmin, bem activo na sociedade e um raja yogin, pelas concentrações e meditações, e assim  tornou-se um professor e filósofo proficiente, e um verdadeiro guru, iniciando e impulsionando muitos discípulos e deixando semeados ou disseminados nos seus livros sinais de verdades valiosas para os peregrinos no caminho da auto-realização, e religação com Deus.
                                                               
Guru Ranade, nascido em uma família de devotos, fora iniciado em 1901 por Shri Bhausaheb de Umadi, que por sua vez fora iniciado por Sri Nimbargi Maharaj (1790-1885), e seu mahasamadhi, ou lugar de desincarnação ou de união final na terra, está em Nimbal, um centro ainda hoje activo e peregrinado. E podemos ver tão valiosa linhagem de mestres na fotografia.
                          
Ora B. R. Kulkarmi, u
m devoto discípulo do gurudev Ranade, no seu  livro Aspectos Críticos e Construtivos da Filosofia do Prof. R. D. Ranade, Belgaum, 1974, refletiu, meditou e resumiu alguns dos seus ensinamentos, pelo que, naturalmente, a  base ou íntimo da consciência como beatitude, ananda, é bem abordada, na página 127 afirmando mesmo: «Mas a contribuição distintiva do Prof. Ranade ao pensamento metafísico-ético é sua doutrina do Beatificismo. Na verdade, essa doutrina diz respeito às experiências místicas e tem implicações metafísicas e éticas. É importante lembrar que o subtítulo de seu livro proposto, O Caminho para Deus, Patway to God, seria A Filosofia do Beatificismo. Ranade considerou a concepção idealista da autoconsciência como o ponto central da existência e mostrou que não é a autoconsciência humana, mas sim a autoconsciência divina que deve ser a realidade básica. E dando um passo adiante diz mesmo que esta realidade central não é apenas consciência, mas também bem-aventurança. A concepção axiológica de bem-aventurança e a concepção metafísica de Brahman são as mesmas. A identificação da bem-aventurança com a realidade é o beatificismo. Em vez de a autoconsciência ser o centro da realidade, a bem-aventurança torna-se o centro. Em vez do idealismo, temos o beatificismo.»
Neste pará
grafo valioso sobre a visão de Gurudev Ranade sobre a essência da consciência humana e a Divina constatamos  a não aceitação  da identificação dos seres humanos como simples animais superiores dotados de consciência (proveniente do cérebro e neurónios), antes afirmando que a consciência já é Deus dentro de nós mesmos e que a sua essência é a beatitude, ananda, denominando mesmo esta doutrina como o Beatificismo...
Nos dias de
 hoje, algo toldados pelos conflitos e genocídios, violências e opressões, em que constantemente somos atemorizados ou violentados, não é este nível beatífico em nós um activo importante a ser reconhecido e mais vivido por nós?
Neste sentido, não
 se contentando com um reconhecimento ou compreensão intelectual, o Guru Ranade, como um verdadeiro sadhak, ou uma alma praticando sadhana, caminho espiritual e meditação, com bhakti (amor-devoção-aspiração), pede,  exorta-nos e ensina-nos e realizarmos mais,  pela devoção e meditação a verdadeira essência do eu e de Deus: beatitude, ananda, shukam, alegria, felicidade.

                                           
Tal demanda é inegavelmente, um grande desafio a ser aspirado, desejado, querido e s
entido, com perseverança, e por isso, só por si mesmas, as palavras Sat Chit Ananda podem constituir um bordão, um apoio, um bom mantra, pois quando o repetirmos e meditarmos, podemos receber do nosso próprio Atman, dos Mestres, da Divindade ou Brahman algumas bênçãos ou graças em nossa consciência, nomeadamente a beatitude, ananda.. 
Consubstanciando a sua linha de pesquisa, B. R. Kulkarni apresenta-nos alguns textos nos quais gurudev Ranade encontrou essa identidade, tal como no Bhagavad Gita, VI, 28, onde o fruto do puro vairagya ou desapego, e da constante consciência de Deus (brahma-sansparśham) criam ou dão origem a shukam (prazer-alegria), o conceito incipiente de Ananda: "O iogue auto-controlado, ao unir o eu com Deus, torna-se livre da contaminação material e, estando em constante contacto com o Supremo, alcança o mais alto estado de felicidade perfeita." 
Também na Taittiriya Upanishad, 21, é dito, com certeza alguma exageração retórica: «Aum brahmavid apnoti param, tad esa, abhyukta, satyam jnanam anantam brahma, yo veda nihitam guhayam parame vyoman, so, asnute sarvan kaman saha, brahmana vipasciteti» «Brahmam é Sat Chit Ananda. Aquele que o experimenta como existindo escondido no coração, fica livre de todos os seus desejos instantaneamente e sem mais manifestações, como acontece com o Brahman omnisciente.»
De forma retórica são imaginadas em seguida as quantidades ou medidas de felicidade alcançadas pelo homem, o Anjo (Gandharva) e o Brahman, para nos tornarmos mais dedicados à auto-realização do atman-Brahman, pois a união do espírito com o Ser Divino, é a verdadeira felicidade, que supera todas as outras em milhares...
Também dos tão fundamentais Brahma Sutras, 1.3.8,  refere a menção a Brahman como sendo Bhunam, ou seja, Bem-Aventurança infinita, o que  para gurudev Ranade é mais um sinal ou prova de não há uma supremacia de Chit (inteligência-consciência) sobre Ananda na caracterização do Atman, como sri Shankaracharya nos seus comentários escrevera, pois ambos estão unidos.
Além disso, gurudev Ranade sugere que os dois tipos de meditação, Pratikopasana, a meditação num símbolo de Deus, e Gunapasana, aquela onde Deus é pessoalmente sentido e adorado como  qualidades (ou através delas, explicando que isso significa ou implica viver em cada dia alguns actos com as qualidades de Deus que adoramos e queremos desenvolver em nós), atingem o seu nível mais alto ou terceiro tipo de meditação em Ahamgrahopasana, a meditação unitiva, na qual o mantra So Ham (Eu sou Ele) é vivenciado na unidade ou união do Eu Espiritual e do Divino, gerando em nós sentirmos a bem-aventurança infinita, Ananda.
Certamente para se alcançar esses níveis mais elevados de comunhão, bem-aventurança e unidade, devemos desenvolver perseverança na prática devocional e na auto-consciência e, em seguida, receber as graças subtis, as quais gurudev Ranade confirma também pelas suas próprias experiências internas, falando, por exemplo, de ver o olho espiritual, o ponto ou bindu de luz, o vastu ou spiriton (um nome cunhado por ele para o espírito), bem como cores, e também ouvir sons, etc.
Na realidade, essas graças que descem sobre nós dos planos espirituais e do guru para o nosso bhava, ou sentimento interno, pelo japa, as orações-mantras e pela meditação dão-nos a bem-aventurança e  permitem-nos realizar  mais a nossa verdadeira essência de Satchitananda e cooperarmos melhor com o Bem comum e espiritual da Humanidade numa sociedade equitativa mulripolar, harmoniosa.
Que este pequeno ensaio, como uma pequena gota do grande Oceano de Brahman e Sat Chit Ananda, a fim de nos despertar mais para a bem-aventurança interior, um potencial tão valioso, realizado apenas na autoconsciência perseverante, aspiração, discernimento, amor e unidade...
 Que possamos estar mais em sintonia com gurudev Ranade e os mestres e sentir mais Ananda, o Atman Espiritual e Divino em nossas vidas e consciências, e compartilhar isso com os outros...
                                    Om Sri Gurabe namah

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Discurso do Ayatollah Khamenei no "Dia do Estudante e Dia Nacional de Luta Contra a Arrogância Global". 4 de Novembro.

 Falando em Teerão na véspera do 4 de Novembro, o "Dia do Estudante e Dia Nacional de Luta Contra a Arrogância Global", o Ayatollah Khamenei dirigiu-se a milhares de estudantes e famílias de mártires de guerra [com o Iraque e Israel]  para celebrar o aniversário da tomada da Embaixada dos EUA em Teerão em 1979 [e a detenção de 52 reféns durante 444 dias], descrevendo-o como um evento histórica e identitariamente marcante. 

 Vamos poder ouvir o seu  bom conhecimento psicológico da luta entre os USA e o Irão bem como a sua visão geo-estratégica do futuro. A importância das suas palavras transcende o mundo ou o nível político pois ele é o actual, de certa forma, representante, ou polo - qtub -, do Imam oculto, ou o XII mestre-profeta dos Xiias, o mítico Mahdi, sobre quem tem escrito numa linha de preservação da fé na existência dos mestres nos mundos espirituais e do seu poder de se manifestarem na Terra, nomeadamente na alma e dinamismo dos que neles creem e frequentemente são martirizados pelos seus inimigos. Possam a paz, a sabedoria e a fraterna multipolaridade crescerem...

                                                                

  «O conflito entre a República Islâmica e os Estados Unidos é intrínseco - um choque de interesses entre duas correntes opostas: os Estados Unidos e a República Islâmica. Somente se os EUA encerrarem completamente o seu apoio ao maldito regime sionista, retirarem as suas bases militares da região e absterem-se de interferir nos assuntos dela, qualquer pedido americano de cooperação com o Irão - não no futuro próximo, mas num momento posterior - será então considerado». [Assim seja] [Pax Dei]

                                            
                                  
Ayatollah Khamenei delineou a história da hostilidade dos EUA em relação à nação iraniana, afirmando que a tomada da embaixada americana pelos estudantes pode ser vista tanto de uma perspectiva "histórica" como de uma perspectiva "identitária".
Do ponto de vista histórico, ele disse que a tomada da embaixada foi “um dia de orgulho e vitória para a nação iraniana.” O Líder observou que a história do Irão inclui tanto "dias de triunfo quanto dias de fraqueza e declínio," todos eles  devendo permanecer como parte integrante da memória nacional do Irão.
Enfatizando a importância de se preservar a tomada da embaixada na história e na memória nacional, e de garantir a sua consciencialização pública acrescentou: “A tomada da embaixada esclareceu a verdadeira identidade dos Estados Unidos e também a verdadeira identidade e essência da Revolução Islâmica.”
Sobre o conceito de arrogância, o Ayatollah Khamenei citou o Alcorão e afirmou que às vezes indivíduos ou governos podem-se considerar superiores, mas não interferem nos assuntos dos outros, o que não provoca hostilidades. “Mas outras vezes, tal como o governo de Inglaterra num certo período e hoje os Estados Unidos, eles  concedem a si mesmos o direito de interferir nos interesses vitais das nações, estabelecer bases militares nos países cujos governos são fracos ou cujos povos não estão bem conscientes, ou então saquear o petróleo e os recursos das nações.  Esta é a arrogância a que nos opomos e contra a qual erguemos os nossos slogans,” disse ele.
Ayatollah Khamenei traçou as origens da hostilidade dos EUA em relação ao Irão na história moderna, analisando a turbulência que se seguiu à Revolução Constitucional, e disse que, cerca de 40 anos após esse momento, o Irão experimentou “ou caos e desordem, a interferência estrangeira ou a brutal e severa ditadura de Reza Shah” até 1950, quando o governo nacional do Primeiro-Ministro Muhammad Mossadegh assumiu o poder. Mas “os americanos, sorrindo para Mossadegh, secretamente, em coordenação com os britânicos, preparavam um golpe e devolverem o xá exilado ao Irão. Descreveu então o dia 19 de Agosto de 1953 como um "golpe duro" para a nação iraniana pois foi seguido por vinte e cinco anos de severa ditadura de Muhammad Reza Shah sobre o povo iraniano, com o apoio dos EUA.
O Líder destacou 
também a hostilidade americana inicial em relação à República Islâmica após 1979, citando a “resolução hostil aprovada pelo Senado dos EUA,”  e explicou que“ O povo do Irão sentiu que os americanos, ao acolher Muhammad Reza, estavam a procurar repetir o golpe de 19 de agosto de 1953 e criar as condições para seu retorno ao Irão.” Portanto, eles foram às ruas com raiva, e parte dessas manifestações, com a presença de estudantes, levou à ocupação da Embaixada dos EUA em Teerão, mas a intenção inicial dos estudantes era uma presença de dois ou três dias na embaixada para refletir a raiva do povo iraniano para o mundo."
No entanto, documentos descobertos dentro revelaram que a embaixada “era um centro de conspiração e organização de golpes contra a Revolução do povo iraniano. Estavam desenvolvendo uma sala de planeamento da organização dos remanescentes do regime anterior do Shah, alguns membros do exército e outros indivíduos para executarem acções contra a Revolução, o que levou os estudantes a manterem o controle e ocupação da Embaixada.
Ayatollah Khamenei rejeitou a ideia de que a ocupação da embaixada foi a causa raiz de todos os problemas entre os EUA e o Irão, apontando o golpe de 1953 como o verdadeiro início do conflito americo-iraniano.
"O problema com os Estados Unidos começou em 19 de agosto de 1953, não em 4 de novembro de 1979," embora nesta data a apreensão documental na Embaixada tenha revelado uma conspiração e um grande perigo para a Revolução Islâmica Iraniana que os estudantes, ao preservarem os documentos, conseguiram desmascarar e logo precaverem-se” .
Quanto à oposição dos USA ao projecto iraniano o líder político e religioso da tão martirizada nação  Shiia explicou que  "a hostilidade dos Estados Unidos contra a nação iraniana nos anos após a Revolução foi grande e por causa disso podemos  dizer 
que foi muito acertado o conselho dado pelo Imam Khomeini (17-v-1900 a 3-VI-1989): 'O que possas, grita-o contra os Estados Unidos.'"

“A inimizade deles não foi apenas verbal, pois usaram sanções, conspirações, apoio ao Iraque [na guerra de Saddam Husseim contra o Irão, de 1980 a 1989], derrube de um avião de passageiros iraniano com 300 pessoas a bordo, guerras de propaganda e ataques militares diretos, tudo porque a natureza da arrogância americana é incompatível com a natureza independente da Revolução Islâmica.” 
Dirigindo-se àqueles que afirmam que o slogan "Morte à América" está a provocar a hostilidade dos EUA, o Ayatollah Khamenei rejeitou tal interpretação.
"Aqueles que afirmam que o slogan 'Morte à América' é a razão para que haja a hostilidade dos EUA estão a distorcer a história. Esse slogan não é a razão pela qual os Estados Unidos se opõem à nação iraniana. O problema e hostilidade dos Estados Unidos com a República Islâmica é intrínseco e é um choque de interesses.
Sobre as potenciais relações futuras com os Estados Unidos, o líder iraniano disse que a América busca intrinseca e fundamentalmente a submissão dos outros. "Todos os presidentes dos Estados Unidos quiseram isso, mas não o diziam tão abertamente. O actual presidente exprimiu isso em voz alta e revelou a verdadeira natureza dos Estados Unidos." 
Quanto à solução para muitos problemas nacionais ele indicou ser a força, o poder, a capacidade de resistirem e criarem tanto militar quanto científica, administrativa e motivacionalmente, particularmente entre os jovens: "Se o país se tornar forte e o inimigo sentir que não ganhará nada ao confrontar esta nação forte, pois também sofrerá muitas baixas, o Irão certamente alcançará uma imunidade ou resiliência."
O Ayatollah Khamenei, como experimentado mestre espiritual não deseja que se descure o estudo histórico e político do Irão e do Mundo e assim reiterou que “a juventude deve aumentar seu conhecimento e consciência sobre as questões fundamentais da política do país de ontem, hoje e amanhã, formando grupos de estudo e examinando eventos tanto amargos como agradáveis. E a ciência deve progredir no país, num trabalho de responsabilidade tripla pois os responsáveis universitários, pesquisadores e estudantes não devem permitir que o ritmo do avanço científico diminua”.

Ayatollah Khamenei afirmou ainda que “o sector militar, pela graça de Deus, está a trabalhar dia e noite e irá ainda mais longe para demonstrar que a nação iraniana é forte e nenhum poder a pode subjugar ou obrigá-la a ficar de joelhos."
                                       
Por fim ligou ainda a resiliência nacional à força espiritual apelando aos jovens para seguirem os exemplos
de duas valiosas almas [filhas do profeta Muhammad]  Fatimah e Zainab. 

Túmulo de Mevlana Rumi
 Realçou ainda a importância grande das práticas religiosas, entre as quais referiu a recitação diária do Alcorão, a oração e a manutenção de uma conexão ou ligação espiritual, considerando-as como essenciais para se poder resistir às influências negativas das potências globalistas, afirmando mesmo:  "neste era cheia de desafios, a nossa juventude só pode realmente dizer 'Morte à América' e se opor ao poder dos Regentes do tempo se forem fortes psíquica e religiosamente e confiarem no poder divino.
                                     
                                        Os 12 Imanes...
O conhecimento ou gnose interior, a fé e a consciência espiritual são qualidades criticamente necessárias para a sobrevivência e o avanço do país.
Ao alcançar suficiente força ou poder nestas áreas, o Irão pode manter a sua independência e resistir às pressões externas sem compromissos ou submissões.»
Tradução a partir da versão em inglês divulgada pela Press.Tv.com,  a 4 de Outubro de 2025, e nesse dia partilhada no blogue. Lux Dei. Nur...

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Speech of Ayatollah Seyyed Ali Khamenei on the "Student Day and National Day of Fight Against Global Arrogance,” on the anniversary of the seizure of US Embassy in Tehran, in 1979.

Leader of the Islamic Revolution Ayatollah Seyyed Ali Khamenei addresses students and families of war martyrs to mark the anniversary of the 1979 seizure of the US Embassy in Tehran.

Speaking on the eve of November 4, the “Student Day and National Day of Fight Against Global Arrogance,” Ayatollah Khamenei addressed thousands of students and families of war martyrs in Tehran to mark the anniversary of the 1979 seizure of the US Embassy in Tehran, describing it as a historically and identity defining event. Let us listen to his deep knowdlege, virtue and foresight, being the actual, in a certain way, representative, the pole or qtub, of the occult Imam, or the XII master-prophet of the Shia, the Madhi..
 “The conflict between the Islamic Republic and the United States is an inherent one — a clash of interests between two opposing currents: the United States and the Islamic Republic. Only if the US completely ends its support for the accursed Zionist regime, withdraws its military bases from the region, and refrains from interfering in its affairs, will any American request for cooperation with Iran — not in the near future, but at a later time — be open to consideration,” he said.
Ayatollah Khamenei outlined the history of US hostility toward the Iranian nation, saying the takeover of the embassy by students can be viewed from both a “historical” and an “identity” perspective.
From a historical standpoint, he said the takeover was “a day of pride and victory for the Iranian nation.” The Leader noted that Iran’s history includes both “days of triumph and days of weakness and decline,” all of which should remain part of the country’s national memory.
He emphasized the importance of preserving the embassy takeover in history and national memory, and of ensuring public awareness of it.
From an identity perspective, he added, “The seizure of the embassy clarified the true identity of the United States and also the true identity and essence of the Islamic Revolution.”
On the concept of arrogance, Ayatollah Khamenei cited the Qur’an. He said that sometimes individuals or governments consider themselves superior but do not interfere in others’ affairs, which does not provoke hostility.
“But sometimes, like the British government in a period and today the United States, they grant themselves the right to interfere in the vital interests of nations, set up military bases in countries whose governments are weak or whose people are unaware, or plunder the oil and resources of nations. This is the arrogance we oppose and against which we raise our slogans,” he said.
Ayatollah Khamenei traced the origins of US hostility toward Iran in modern history, noting the turbulence following the Constitutional Revolution.
He said that for about 40 years after that period, Iran experienced “either chaos and disorder, foreign interference, or brutal and harsh dictatorship of Reza Shah” until 1950, when the national government of Prime Minister Muhammad Mossadegh came to power.
He said: “The Americans smiled at Mossadegh but secretly, in coordination with the British, staged a coup and returned the exiled Shah to Iran.”
He described the August 19, 1953 as a “hard blow” to the Iranian nation and said it was followed by 25 years of severe dictatorship by Muhammad Reza Shah, with US backing.
The Leader also highlighted early American hostility toward the Islamic Republic after 1979, citing the “hostile resolution passed by the US Senate.”
Ayatollah Khamenei explained the public anger over the Shah’s entry into the United States, saying Iranians feared a repeat of the 1953 coup and a restoration of the Shah.
“The people of Iran felt that the Americans, by hosting Muhammad Reza, were seeking to repeat the August 19 coup and create the conditions for his return to Iran. Therefore, they angrily took to the streets, and part of these demonstrations, with the presence of students, led to the seizure of the US Embassy,” he said.
He emphasized that the students’ original plan was only temporary: “The initial intention of the students was a two- or three-day presence in the embassy to reflect the anger of the Iranian people to the world.”
However, documents discovered inside revealed that the embassy “was a center of conspiracy and plotting against the Revolution.”
He clarified that the embassy’s activities exceeded routine intelligence gathering: “It was forming a planning room to organize remnants of the previous regime, some army individuals and others for action against the Revolution,” prompting the students to maintain control.
Ayatollah Khamenei rejected the idea that the embassy seizure was the root cause of all US–Iran problems, pointing to the 1953 coup as the true beginning of American-Iranian conflict.
“The problem with the United States started on August 19, 1953, not November 4, 1979. In addition, the seizure revealed a conspiracy and a great danger to the Revolution that the students, by preserving the documents, were able to uncover,” he said.
He also stressed the consequences of American interference after the revolution. “The hostility of the United States against the Iranian nation in the years after the Revolution… is proof of the correctness of Imam Khomeini’s statement: ‘Whatever you can, shout at the United States.’
“Their enmity was not just verbal, and they used sanctions, conspiracies, support for Iraq, downing of an Iranian passenger plane with 300 aboard, propaganda wars, and direct military attacks because the nature of American arrogance is incompatible with the independence-seeking nature of the Islamic Revolution,” Ayatollah Khamenei said.
Addressing those who claim that the slogan “Death to America” provokes US hostility, Ayatollah Khamenei dismissed the interpretation.
“Those who claim that the slogan ‘Death to America’ is the reason for US hostility are misrepresenting history. This slogan is not the issue that the United States opposes the Iranian nation. The problem of the United States with the Islamic Republic is intrinsic and a clash of interests.”
On potential future relations with the United States, he said that America inherently seeks submission. “All presidents of the United States have wanted this, but did not say it openly. The current president spoke it aloud and revealed the true nature of the United States,” he said.
He emphasized that the solution to many national problems is strength, both military and scientific, administrative, and motivational, particularly among the youth.
“If the country becomes strong and the enemy feels that not only will it gain nothing from confronting this strong nation, but it will also suffer losses, the country will certainly achieve immunity,” Ayatollah Khamenei said.
He urged youth to study national history and political realities. “Youth should increase their knowledge and awareness of the fundamental issues of the country’s politics of yesterday, today, and tomorrow, by forming study groups and examining bitter and sweet events,” he said.
Scientific and military progress were central to his message. “Science must progress in the country… University officials, researchers, and students must not allow the pace of scientific advancement to decline,” he said.
“The military sector, by the grace of God, is working day and night and will go even further to show that the Iranian nation is strong and no power can subdue it or bring it to its knees.”
Ayatollah Khamenei also linked spiritual strength to national resilience, urging youth to follow the examples of Islamic figures Fatimah and Zainab. He stressed religious practices, including daily Qur’an recitation, prayer, and maintaining a connection to spirituality as essential for resisting global powers.
 Hazrat Fatimah
 “In this era full of challenges, our youth can only truly say ‘Death to America’ and stand against the power of the Pharaohs of the time if they are strong internally, religiously, and confident in God’s power,” he said.
He concluded with a message to the youth on personal and collective strength: internal knowledge, faith, and spiritual awareness are critical to the survival and advancement of the country.
By achieving strength in these areas, Iran can maintain its independence and resist external pressures without compromise.»

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Emblemata sacra: um poema de amor à presença divina no coração da alma unificada, por Adriaen Poirters.

                                                            

Adriano Poirtiers foi um religioso do Brabante do século XVII (1605-1674) que, formado em filosofia e dedicado à educação religiosa das almas na época da contra-reforma, aproveitou o começo dos livrinhos devocionais com imagens do coração ornado de presenças e símbolos para partilhar as  doutrinas e crenças católicas, e o caminho da realização interior ou místico, com a sua sensibilidade e criatividade.

 Aproveitando o sucesso da iconografia do coração em emblemas religiosos que começavam a circular com sucesso ilustrando livros, sobretudo desde a Pia Desideria, Desejos Piedosos, que já comentámos neste blogue,  publicou vários livros em que os inseriu e um dos mais belos foi O Sagrado Coração, Het heylich herte, ilustrado por van Philip Fruytiers e Peter Clouwet, e editado por Cornelis Woons, em Antuérpia, 1669, num in-8º de 271 páginas, cheio de ensinamentos morais e religiosos, dedicado a São Estanislau Koska, e que abre com um longo elogio prefacial a este atribulado jovem polaco (1550-1568, canonizado em  1767), inclui ainda um emblema consagrado a S. Francisco Xavier, ambos os santos estando representados em duas gravuras, de melhor qualidade até que as dos emblemas do coração, provavelmente por as chapas tipográficas  terem sido abertas originalmente para este livro, enquanto que as do coração já deviam provir de matrizes mais usadas. 

Na vigésima segunda e última ilustração, que representa o estado final da alma no caminho espiritual, quando a Divindade e a Trindade se reflectem e estão no coração da alma devota, e que leva uma inscrição em latim sobre a dificuldade do caminho crucificante ou purificador culminante na felicidade da unificação divina, Adriano ergue-se num efusão amorosa, coroando o texto todo escrito em holandês e com partes em latim, com um belo e instrutivo poema-oração em francês, 

Trabalhando de quando em quando na tradição dos livros de emblemas, dada a beleza e profundidade de conhecimento e realização afectiva espiritual deste poema resolvemos traduzi-lo, dá-lo a conhecer. Que inspire mais seres a perseverarem no caminho espiritual que, passando pela purificação e iluminação, encontra a sua plenitude na profundidade do íntimo do peito e do coração, na religação com o Espírito e a Divindade, na luz e  amor.  

 

«Ó Deus, como é doce o pensamento
da alma que se sente ferida
dos dardos do vosso santo amor!

Que excesso de alegria,
quando a vossa admirável presença
tem o coração, de noite e de dia.

Que Espírito me fará entender
Em qual livro eu poderia aprender?
a grande alegria de te amar!

As vossas crianças podem muito bem dizer
que o vosso amor é um martírio,
no momento em que não se pode exprimir.

Ó Deus, o amor das almas santas!
Ó Deus, o sujeito das minhas queixas
O único fim dos meus desejos.

É por vós que se suspira,
em vós e por vós eu respiro
Em vós estão os meus maiores prazeres. 

O Dieu que douce est la pensé
de l'ame que se sent blessée
des traits de votre saint amour!

Quel excess de rejouissance,
ou votre admirable presence
tiens le coeur de nuit & de jour.

Quel Esprit me fera compreendre
dans quel livre pourray-je apprendre
la grand joy de vous aymer,

Vos nourissons peuvent bien dire
que votre amour est un martyre,
domt l'heur ne se peut exprimer.

O Dieu! l'amour des ames saintes!
O Dieu le sujet de mes plaintes!
L'unique but de me desirs.

C'est aprés vous que se soupire,
en vous & pour vous je respire
En vous sont mes plus grands plaisirs.»

domingo, 2 de novembro de 2025

Alexandre Dugin, a Rússia deve ser um Estado-Civilização, e não uma parte atrasada da Europa hedonista e decademte

           Num recente artigo o notável filósofo e pensador das questões da política e geo-estratégica mundial Alexander Dugin declarou que, à medida que o Ocidente decai, a Rússia deve tornar-se um estado-civilização,  retornar ao caminho que começou quando se separou da Europa, um caminho sagrado, multinacional mas conservando as raízes e identidades étnicas e culturais diferentes mas convergentes e que tornam a Rússia, como ela já afirmou, o graal santo da Eurásia, o que une o Ocidente e o Oriente, e contribui fortemente para, acima dos globalismos neo-liberais massificantes, gerar uma Humanidade harmoniosa, tradicional, fraterna entre si equitativamente e ligada à Divindade, pela religião (particularmente a cristã e ortodoxa, mas reconhecendo e aceitando as outras) e pela filosofia espiritual ou philosophia perenis, em que a sua filha Daria Dugina tanto prometia no seu desabrochar maravilhoso, que ja homenageamos no blogue.  


 Oiçamo-lo, sem termos necessariamente de concordar com tudo, ou com todos os termos utilizados, pois põe em contraste forte a sociedade e alma da Rússia e o estado actual  de decadência civilizacional da União Europeia,  Estados Unidos e Ocidente da NATO, os quais estão em guerra crescentemente declarada (na Ucrânia e nas cobardes sanções, enquanto utilizam o seu gás e óleo) com a Rússia tradicional, independente e  multipolar, que não quis ser conquistada, ou destruída daqui a uns anos, pela oligarquia neoliberal globalista ocidental - como esteve a acontecer nos anos 90 -  através do cavalo de Tróia do regime extremista de Kiev, que foi longe de mais na perseguição dos etno-russos no leste ucraniano forçando o Kremlin a lançar a operação especial de desnazificação e libertação.

                                        

                                                      
Fala então o pai da mártir e sábia filósofa Daria Dugina, Alexandre Dugin: «Hoje em dia muitas pessoas citam a observação de Alexey Gromyko [ um membro da Academia da Ciências, nascido em 1959, e director do Instituto Europa, em Moscovo],  de que “a Rússia actualmente  assemelha-se mais à Europa tradicional do que aos próprios países da Europa.” Acredito que ele estava a tentar expressar algo bastante preciso. Uma vez, quando estava na Argentina, exclamei: "Que excelente país europeu  é este!" Mais tarde, quando visitei a França (mesmo antes das sanções), fiquei horrorizado com o seu estado: "Que montanha de lixo é esta!"
A verdade é que muitos europeus chegados à Rússia ficam encantados. Lembra-lhes a Europa, mas numa fase anterior, desaparecida. É o Ocidente que já não existe no Ocidente. Pode-se encontrá-lo na América Latina ou aqui em nós. Além disso,  até algumas sociedades asiáticas podem ser mais ocidentais do que o próprio Ocidente. A degeneração, o fracasso total, a transgressão e o declínio que tomaram conta das sociedades ocidentais não permitem  que  sejam mais consideradas civilizações ocidentais tradicionais.
Claro, isso não significa que trocamos de lugar. Nisto é preciso ter muito cuidado. Gromyko claramente quer dizer que o Ocidente se perdeu, enquanto nós ainda não. Mas, na verdade, estamos num estágio de ocidentalização e modernização que ainda parece relativamente decente precisamente por causa do nosso atraso. Se tivéssemos ido mais longe na civilização ocidental, se a tivéssemos seguido mais de perto, então acredito que estaríamos vivendo algo muito semelhante: um pesadelo, a degeneração, um número tremendo de emigrantes pouco limpos e sem rumo exigindo direitos, uma população local aterrorizada, pervertidos totalitários liberais a escaparem da lei enquanto cometem crimes horríveis. Tudo isto também nos ameaçava, e mesmo até o colapso final e o desaparecimento.
O facto de termos travado numa certa curva e  recusado a seguirmos o Ocidente é o que cria a sensação de uma Rússia acolhedora, simpática e em desenvolvimento como Gromyko observou. Não há nada de errado com isso; é uma observação muito exacta.
Como Tucker Carlson (n.16-V-1969) disse: "se algo ainda se assemelha ao Ocidente, é a Rússia, Moscovo e São Petersburgo."

Sim, realmente Moscovo assemelha-se ao Ocidente. Enquanto isso, Roma, Paris e Londres transformaram-se em montes de lixo, onde muitas vezes ou em muitos lugares é difícil encontrar uma pessoa branca ou os valores tradicionais. Não estamos falando de países asiáticos ou africanos, pois a África em si é um mundo muito  belo com  sua própria cultura. Os países islâmicos também são admiráveis e os muçulmanos tradicionais são simplesmente maravilhosos. Mas todos devem viver no seu próprio lugar. No entanto, eles são deliberadamente trazidos para a Europa pelos globalistas para apagar a população local além do reconhecimento e, em seguida, simplesmente substituí-los por robots.
Ao mesmo tempo, quero enfatizar que a declaração de Gromyko não é um argumento que nos deva guiar a todos. Não pode servir como base para a missão da Rússia, para  a sua estratégia ou a nossa soberania. É simplesmente uma observação aconchegante de um membro da elite, um herdeiro de uma conhecida família soviética, desfrutando da vida e notando como as coisas funcionam bem aqui, enquanto quase tudo desmoronou e funciona mal  no Ocidente. Em outras palavras, é apenas um comentário passageiro de um espectador.
Na realidade, esta é uma noção muito instável e frágil. Porque, na verdade, a Rússia é uma civilização distinta. Separámo-nos da civilização ocidental no século XI e  tornámo-nos uma civilização independente no século XV, e auto-consciente nos séculos XVI e XVII. E então, com graus variados de sucesso, mantivemos a nossa posição — às vezes recuando muito, outras vezes retornando de novo. Agora é a epoca de retornar à compreensão de que somos um estado-civilização. O nosso presidente (Vladimir Putin) fala sobre isto, e muitos altos funcionários também.
Portanto, em geral, considero o comentário de Gromyko inadequado. Neste momento, não se trata de nos alegrarmos por termos ficado para trás em relação ao Ocidente, e, que portanto, as coisas aqui estão limpas, organizadas e funcionam, e as pessoas normais permanecem presentes - enquanto tudo isso quase que desapareceu no Ocidente. Ou seja, afinal de contas, é isto que muitos dos nossos amigos ou convidados da América e da Europa também nos  dizem — os que apoiam um mundo multipolar e rejeitam a ditadura liberal que reina no Ocidente.
As coisas podem ser "maravilhosas" para nós, de certa forma, mas ainda não são maravilhosas ao estilo russo. Seguimos a Europa, mas ficamos para trás. E resultou em que ficar para trás foi melhor do que acompanhar. Basta olhar para onde tudo isso levou a Ucrânia e muitos outros países.

                                      

 O que precisamos é da nossa própria civilização. Devemos nos reconhecer como um estado-civilização. Devemos construir uma Grande Rússia. Uma Rússia que, até esteticamente, parecerá diferente — tecnologicamente, em termos de aparência externa e psicologicamente. Não pode ser a Europa hedonista que permanece na periferia, tentando isolar-se das formas mais tóxicas que o Ocidente está a assumir agora. Essa abordagem não vai durar muito.
Mover-se em direção à Europa agora significa mover-se em direção ao abismo, ao monte de lixo — mover-se em direção ao LGBT, a outras formas de transgressão, ao feminismo, às cirurgias transgéneras, à substituição de humanos por biorrobots e à entrega do poder à inteligência artificial. Todas estas formas de degeneração total que  vemos 
agora no Ocidente teriam que ser adoptadas se nos movessemos em direção da Europa. E simplesmente parar neste ponto intermediário não servirá por muito tempo.

Permanecer como a Europa do passado não é um projeto. Não é uma visão do futuro. O futuro da Rússia é algo completamente diferente.
A Rússia deve tornar-se ela própria. E responder à pergunta "O que é isso, exatamente?" não é fácil. Mas uma coisa é clara: não é o Ocidente. Até mesmo nossos ocidentalizadores e liberais começaram a perceber: não é o Ocidente moderno. No entanto, eles ainda pensam: "Pára aqui, momento (ou fase),  és belo."
Mas isso não vai funcionar. Precisamos de recursos para o futuro, precisamos de energia, precisamos do despertar de forças, precisamos de visões — visões de um futuro russo. Sem isso, o nosso momento presente se tornará apenas uma pausa antes de cairmos ainda mais no abismo. Um colapso para o qual já estávamos acelerando nos últimos 100 anos — especialmente rapidamente na década de 1990.
 Então hoje precisamos de uma mudança estratégica profunda para nos tornarmos um estado-civilização. Felizmente o nosso presidente Vladimir Putin está a falar nesses termos. Mas isso deve ser elaborado detalhadamente, descrito e colocado em prática. Este é o caminho que devemos seguir.

 

 Alexander Dugin declares that as the West decays, Russia must become a civilization-state by returning to the path it began when it parted ways with Europe.

Today, many people quote Alexey Gromyko’s remark that “Russia currently resembles traditional Europe more than the countries of Europe themselves.” I believe he was trying to express something quite accurate. Once, while in Argentina, I exclaimed, “What an excellent European country this is!” Later, when I visited France (even before the sanctions), I was horrified by its condition: “What a garbage heap this is!”

The fact is, many Europeans who come to Russia are delighted. It reminds them of Europe, but in a former, vanished phase. It is the West that no longer exists in the West. You can encounter it in Latin America or here with us. Moreover, soon even some Asian societies might be more Western than the West itself. The degeneration, total failure, transgression, and decline that have overtaken Western societies no longer allow them to be considered traditional Western civilizations.

Of course, this does not mean that we have switched places. One must be very cautious here. Gromyko clearly wants to say that the West has lost itself, while we still have not. But in truth, we are at a stage of Westernization and modernization that still appears relatively decent precisely because of our delay. If we had gone further into Western civilization, if we had followed it more closely, then I believe we would be experiencing much the same: a nightmare, degeneration, a massive number of dirty, aimless migrants demanding rights, a terrorized local population, liberal totalitarian perverts escaping the law while committing horrifying crimes. All of this threatened us as well, right up to the final collapse and disappearance.

The fact that we braked at a certain turn and refused to follow the West further is what creates that very sense of a cozy, likeable, developing Russia that Gromyko noted. There is nothing wrong with that; it is a very accurate observation.

As Tucker Carlson put it: if anything still resembles the West, it is Russia, Moscow, and St. Petersburg.

Yes, it truly does resemble the West. Meanwhile, Rome, Paris, and London have turned into garbage heaps, where it is often hard to find a White person or traditional values. We are not talking about Asian or African countries. Although Africa itself is a beautiful world with its own culture. Islamic countries are admirable too; traditional Muslims are simply wonderful. But everyone should live in their own place. Yet they are deliberately brought into Europe by the globalists to erase the local population beyond recognition and then simply replace them with robots.

At the same time, I want to stress that Gromyko’s statement is not an argument that should guide all of us. It cannot serve as the basis for Russia’s mission, its strategy, or our sovereignty. It is simply a cozy observation by a member of the elite, an heir to a well-known Soviet family, enjoying life and noting how things work well here, while everything has fallen apart and barely functions in the West. In other words, it is just a passing comment from an onlooker.

In reality, this is a very shaky and fragile notion. Because in truth, Russia is a distinct civilization. We diverged from Western civilization in the 11th century and became an independent civilization in the 15th century. We became self-aware in the 16th and 17th centuries, and then, with varying degrees of success, held our ground — sometimes retreating far, sometimes returning again. Now is the era of returning to the understanding that we are a civilization-state. Our president speaks of this, and many high-ranking officials do as well.

So overall, I find Gromyko’s remark misplaced. Right now, it is not about rejoicing that we fell behind the West, and therefore things are clean and orderly here, that things function, and normal people remain — while all that has disappeared in the West. That is, after all, what many of our guests from America and Europe are also saying — those who support a multipolar world and reject the liberal dictatorship reigning in the West.

Things may be “wonderful” for us, in a way, but it is still not a Russian kind of wonderful. We followed Europe, but we fell behind. And it turned out that falling behind was better than keeping up. Just look where all this has brought Ukraine and many other countries.

What we need is our own civilization. We must recognize ourselves as a civilization-state. We must build a Great Russia. A Russia that even aesthetically will look different — technologically, in terms of outward appearance, and psychologically. It cannot be the hedonistic Europe that lingers on the periphery, trying to wall itself off from the most toxic forms the West is now taking. That approach will not last long.

To move towards Europe now means to move towards the abyss, the garbage heap — to move towards LGBT, towards other forms of transgression, feminism, transgender surgeries, replacing humans with biorobots, and handing power over to artificial intelligence. All those forms of total degeneration we now see in the West would have to be adopted if we moved in Europe’s direction. And simply stopping at this halfway point will not work for long.

Remaining as the Europe of the past is not a project. It is not a vision of the future. Russia’s future is something entirely different.

Russia must become itself. And answering the question “What is that, exactly?” is not easy. But one thing is clear: it is not the West. Even our Westernizers and liberals have begun to realize: it is not the modern West. Yet they still think, “Stay just like this, moment — you are beautiful.”

But that will not work. We need resources for the future, we need energy, we need the awakening of forces, we need visions — visions of a Russian future. Without that, our present moment will become merely a pause before we fall further into the abyss. A fall we were already speeding towards for the past 100 years — especially rapidly in the 1990s.---

So today, we need a deep strategic shift towards becoming a civilization-state. Thankfully, our president is speaking in those terms. But this must be worked out in detail, described, and acted upon. That is the path we must take.»

(Translated from the original Russian version on Tsargrad).