sábado, 16 de julho de 2022

Poemas de Kabir traduzidos por Rabindranath Tagores, os primeiros seis, e depois por mim. Com video de mantras e da tradução improvisada.

Tendo há dias gravado numa das noites ardentes deste Julho de 2022, a tradução dos seis primeiros poemas do místico hindu e sufi Kabir, seguindo a tradução inglesa de Rabindranath Tagores, no livro Kabir's poems, de 1915, com algumas hesitações e incorreções no quinto poema, resolvi hoje traduzir por escrito, com mais exactidão e ei-la. A gravação vai no fim e leva alguns comentários, e os por escrito de agora são  mais breves face aos belos poemas transcritos, e ao que já foi dito. Aum. Demos graças a Rabindranath Tagore e a Kabir!      Jai Guru...

I.      I. 13 Mo ko kahan dhunro bande

Ó devoto, onde andas tu a procurar-me?

Olha! Eu estou ao teu lado,

Não estou nem no templo nem na mesquita,

Nem estou nos ritos e cerimónias

Nem no Yoga e na renúncia.

Se tu és um verdadeiro procurador,

encontrar-me-ás rapidamente.

Encontrar-me-ás num momento.

Kabir diz: O Sadhu! Deus é a respiração de toda a respiração!»

Comentário: a observação perseverante e com amor da respiração consciente leva-nos à uma interiorização e proximidade maior do espírito e da Divindade...

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II. 1. 16     santa jat na pucha nirguniyan

«É inútil perguntar a um santo a casta à qual ele pertence

O sacerdote, o guerreiro, o comerciante e todas as 36 castas, todas elas procuram igualmente Deus.

É mera tolice perguntar de que casta pode ser um santo.

O barbeiro procura Deus, tal como a lavadeira e o carpinteiro.

Mesmo Raidas era um ser na procura de Deus

O Rishi Swapacha era um tanoeiro pela casta.

Tanto Hindus como Islâmicos atingiram o mesmo Fim, onde não há mais marca de distinção.»

Comentário: um dos sakhis (evidências) tradicionais atribuídos a Kabir corre assim: «Não perguntes a um sadhu a sua casta, mas sim acerca do seu conhecimento da Divindade; quando estás a decidir o preço de uma espada não é tão necessário considerar a bainha.»

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                        III      I. 57. Sadho bhai, jivat hi karo asa

Ó amigo! Aspira a Ele enquanto vives, aprende enquanto vives, compreende enquanto vives: pois é em vida que se encontra a libertação.

Se as tuas cadeias não forem quebradas enquanto vives, que esperança de libertação haverá quando morreres?

Não é senão um sonho vazio, que a alma tenha a união com Ele quando tiver deixado o corpo.

Se Ele é encontrado agora, Ele é encontrado então,

Se não, apenas vamos habitar na cidade da morte. [Yama]

Se tens união agora, tê-la-ás no além.

Banha-te na Verdade, conhece o Mestre verdadeiro, tem fé no nome verdadeiro [Sat Nam]!

Kabir diz: É o espírito da demanda que ajuda; Eu sou o servo deste Espírito da demanda"

Aqui e agora tem de ser a realização interior. E para isso o nome da Divindade deve ser repetido com fé, no caso de Kabir e do seu guru Ramananda sabemos nós que era Ram...

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IV. I.58. Bago na ja re na ja

Não vás ao jardim das flores

Oh alma amiga, não vás lá;

No teu corpo está o jardim das flores.

Toma o teu assento no lótus das mil pétalas [sahashara],

E nele contempla a Beleza Infinita.

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V        I. 68 avadhu maya taji na jay

Diz-me, Irmão, como posso eu renunciar a Maya [ilusão]?

Quando eu deixei de atar os laços, ainda assim eu atei a minha roupa sobre mim.

Quando deixei de atar a minha veste, ainda assim cobri o meu corpo nos seus folhos.

Deste modo, quando  abandono a paixão, vejo que a cólera permanece;

E quando renuncio a cólera, a ganância ainda está comigo;

E quando a ganância é vencida, o orgulho e vã glória permanecem.

Quando a mente está desprendida e lança fora a ilusão [maya], ainda assim agarra-se à letra.

Kabir diz, " Escuta-me, querido peregrino [sadhu]! O verdadeiro caminho raramente é encontrado"


Comentário: E tem de ser encontrado e começado a trilhar em vida, tal como a realização do Amor e a aspiração e a união à presença Divina íntima.

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VI          I.83     canda jhalkai yahi ghat mahin

A lua brilha no meu corpo, mas os meus olhos cego não a podem ver.

A lua está dentro de mim, e assim está também o sol.

O tambor não batido da Eternidade, soa dentro de mim; mas os meus ouvidos surdos não o conseguem ouvir.

Enquanto o ser humano clamar pelo Eu e pelo Meu, as suas obras são como nada.

Quando todo o amor do Eu e do Meu estiver morto, então o trabalho do Senhor está feito.

Pois o trabalho só tem o objectivo de adquirir o conhecimento: Quando tal vem, então o trabalho é posto de lado.

A flor desabrocha para o fruto: quando o fruto aparece, a flor murcha.

O almíscar está no veado, mas ele não o procura dentro de si: ele perambula em busca da erva.»

Comentário: Concentrar-nos no silêncio e no seu o som interior ajuda a serenarmos a mente e a reflectirmos melhor o espírito e a Divindade...

Aum Jaya Aum, Aum Jaya Guru!

                        

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