Tendo há dias gravado numa das noites ardentes deste Julho de 2022, a tradução dos seis primeiros poemas do místico hindu e sufi Kabir, seguindo a tradução inglesa de Rabindranath Tagores, no livro Kabir's poems, de 1915, com algumas hesitações e incorreções no quinto poema, resolvi hoje traduzir por escrito, com mais exactidão e ei-la. A gravação vai no fim e leva alguns comentários, e os por escrito de agora são mais breves face aos belos poemas transcritos, e ao que já foi dito. Aum. Demos graças a Rabindranath Tagore e a Kabir! Jai Guru...
I. I. 13 Mo ko kahan dhunro bande
Ó devoto, onde andas tu a procurar-me?
Olha! Eu estou ao teu lado,
Não estou nem no templo nem na mesquita,
Nem estou nos ritos e cerimónias
Nem no Yoga e na renúncia.
Se tu és um verdadeiro procurador,
encontrar-me-ás rapidamente.
Encontrar-me-ás num momento.
Kabir diz: O Sadhu! Deus é a respiração de toda a respiração!»
Comentário: a observação perseverante e com amor da respiração consciente leva-nos à uma interiorização e proximidade maior do espírito e da Divindade...
*********
II. 1. 16 santa jat na pucha nirguniyan
«É inútil perguntar a um santo a casta à qual ele pertence
O sacerdote, o guerreiro, o comerciante e todas as 36 castas, todas elas procuram igualmente Deus.
É mera tolice perguntar de que casta pode ser um santo.
O barbeiro procura Deus, tal como a lavadeira e o carpinteiro.
Mesmo Raidas era um ser na procura de Deus
O Rishi Swapacha era um tanoeiro pela casta.
Tanto Hindus como Islâmicos atingiram o mesmo Fim, onde não há mais marca de distinção.»
Comentário: um dos sakhis (evidências) tradicionais atribuídos a Kabir corre assim: «Não perguntes a um sadhu a sua casta, mas sim acerca do seu conhecimento da Divindade; quando estás a decidir o preço de uma espada não é tão necessário considerar a bainha.»
*******
Se as tuas cadeias não forem quebradas enquanto vives, que esperança de libertação haverá quando morreres?
Não é senão um sonho vazio, que a alma tenha a união com Ele quando tiver deixado o corpo.
Se Ele é encontrado agora, Ele é encontrado então,
Se não, apenas vamos habitar na cidade da morte. [Yama]
Se tens união agora, tê-la-ás no além.
Banha-te na Verdade, conhece o Mestre verdadeiro, tem fé no nome verdadeiro [Sat Nam]!
Kabir diz: É o espírito da demanda que ajuda; Eu sou o servo deste Espírito da demanda"
Aqui e agora tem de ser a realização interior. E para isso o nome da Divindade deve ser repetido com fé, no caso de Kabir e do seu guru Ramananda sabemos nós que era Ram...
******
IV. I.58. Bago na ja re na ja
Não vás ao jardim das flores
Oh alma amiga, não vás lá;
No teu corpo está o jardim das flores.
Toma o teu assento no lótus das mil pétalas [sahashara],
E nele contempla a Beleza Infinita.
********
V I. 68 avadhu maya taji na jay
Diz-me, Irmão, como posso eu renunciar a Maya [ilusão]?
Quando eu deixei de atar os laços, ainda assim eu atei a minha roupa sobre mim.
Quando deixei de atar a minha veste, ainda assim cobri o meu corpo nos seus folhos.
Deste modo, quando abandono a paixão, vejo que a cólera permanece;
E quando renuncio a cólera, a ganância ainda está comigo;
E quando a ganância é vencida, o orgulho e vã glória permanecem.
Quando a mente está desprendida e lança fora a ilusão [maya], ainda assim agarra-se à letra.
Kabir diz, " Escuta-me, querido peregrino [sadhu]! O verdadeiro caminho raramente é encontrado"
Comentário: E tem de ser encontrado e começado a trilhar em vida, tal como a realização do Amor e a aspiração e a união à presença Divina íntima.
********
VI I.83 canda jhalkai yahi ghat mahin
A lua brilha no meu corpo, mas os meus olhos cego não a podem ver.
A lua está dentro de mim, e assim está também o sol.
O tambor não batido da Eternidade, soa dentro de mim; mas os meus ouvidos surdos não o conseguem ouvir.
Enquanto o ser humano clamar pelo Eu e pelo Meu, as suas obras são como nada.
Quando todo o amor do Eu e do Meu estiver morto, então o trabalho do Senhor está feito.
Pois o trabalho só tem o objectivo de adquirir o conhecimento: Quando tal vem, então o trabalho é posto de lado.
A flor desabrocha para o fruto: quando o fruto aparece, a flor murcha.
O almíscar está no veado, mas ele não o procura dentro de si: ele perambula em busca da erva.»
Comentário: Concentrar-nos no silêncio e no seu o som interior ajuda a serenarmos a mente e a reflectirmos melhor o espírito e a Divindade...
Aum Jaya Aum, Aum Jaya Guru!
Sem comentários:
Enviar um comentário