segunda-feira, 30 de novembro de 2020

No 85º aniversário da morte e ressurreição de Fernando Pessoa. 2020 ... Um contributo...

Comemorando-se os 85 anos da partida de Fernando Pessoa da Terra, devemos de algum modo associar-nos à sua lembrança e partilhar os melhores votos para o seu ser espiritual, seja qual for o plano e estado de consciência em que esteja, comunicando-lhe, com o coração, mantras e orações, já que as almas libertas do corpo físico mas não plenamente despertas e unificadas espiritualmente sempre agradecem as energias luminosas que possamos movimentar em favor delas.
Escrevi um pequeno texto em papel antigo de oração, de manhã deste 30-XI-2020, e que é aqui partilhado fotograficamente. De qualquer modo transcrevi-o ainda, apenas com algumas pequenas ampliações.
Muita luz, paz e amor nele e em nós.
Que muitas das interrogações da sua demanda estejam agora já clarificadas....
«Onde se encontra e como está a alma e ser espiritual de Fernando Pessoa, eis uma interrogação utópica, sem local certo na nossa mente e consciência, ou mesmo no cosmos quântico, mas necessária de se fazer ou cumprir, em especial nos seus dias de aniversário, o da incarnação na terra e o da desencarnação e ressurreição.
"Não sei o que o amanhã trará", ou no original inglês, "I know not what tomorrow will bring", foi o seu último gesto de escritor, lançado numa frágil branca folha de papel, não sabemos se já a custo e triste por dores ou por subitamente ver a terminar a sua gesta de grande escritor, ainda com tanta rosa por desabrochar.
Temeroso do dia de amanhã não devia estar, e certamente que aguardava esperançado alguns protectores e guias para o ajudarem na transição e ascensão, nem que fossem a tia Anica, o velho general Rosa, o seu querido amigo Mário de Sá-Carneiro ou mesmo o seu Anjo da Guarda, pois não ecoara ele o dito ocultista que "a conversação com o santo Anjo da Guarda é a mais alta obra de magia"?
Passados estes 85 anos, com tanto livro, colóquio e palestra, sobre ele e sua obra, só podemos louvar a sua busca constante e genial de comunicação do que ele sentia, sabia ou intuía, sob ou dentro do lema ou divisa que adoptara para a sua ressurgência de uma ordem templária portuguesa: «Talent de bien faire», «Tenção ou talento de bem fazer».
Contudo, nessa sua busca ocultista, maçónica, rosicruciana, gnóstica e espiritual não conseguiu atingir alguns dos seus objectivos e por isso morreu crucificado na sua obra, alagada de um certo vinho e sangue de desilusão e tristeza.
Por isso se interrogou sobre dois deles num curto poema quase desconhecido, e que neste dia 30 de Novembro de 2020, e no de 2021, na sua Lisboa, transcrevemos:

"Porque maligno e natural olvido,
Nem completei o Templo inconcluído,
Nem a palavra que é perdida achei?

Mas eu, tornado qual eu me sonhei
Segredo astral do mundo..." 
 
Possa Fernando Pessoa neste momento já ter completado mais o seu templo e santuário interior (tal como nós...), e ter contemplado os exteriores, ou mesmo interiores, a que pode ter acesso.
Possa Fernando Pessoa comungar com a vibração da Vibração, Palavra ou Energia criadora amorosa Divina, por ele várias vezes referido como o Verbo,  e nela a sua alma se alegrar e fortificar criativamente...
Aum, Amen, Hum, Iao, fluam luminosamente na sua alma e ser...

domingo, 29 de novembro de 2020

Sa'adi, e a sabedoria perene do Irão. "Gulistão", 3ª história. Um dervishe de língua pronta. Tradução de Pedro Teixeira da Mota.

Continuemos a transcrever algumas das histórias do Jardim de Rosas de Sa'adi, esta com um diálogo bastante inesperado e corajoso, pois admite a opção de pedirmos a Deus que alguém seja retirado deste mundo, algo que podemos pensar que uma religiosidade e moralidade mais irenaica, ou pacifista, não admitirá. E contudo, para diminuir certos males, quando certos dirigentes são mesmo maus, quando estão a causar muito sofrimento a muita gente, porque não pedir aos Anjos, à Ordem Karmica do Universo, ao Dharma, ao Deus, que tal ser seja impedido de fazer mais mal?
Oiçamos então mais uma pequena e valiosa história, que nunca sabemos bem se é verdadeira plenamente ou não, mas que reflecte e partilha a actualidade da grande sabedoria da Pérsia ou Irão, e no caso de Sa'adi:
«Um dervishe, cujas orações eram respondidas, fez a sua aparição perante Hejjaj ibn Yusuf [661-714, famoso general e governador da dinastia Umaiade], e este, chamando-o, disse-lhe: “ Pronuncia uma boa oração por mim”, ao que o dervishe respondeu: “- Ó Deus, toma-lhe a sua vida”.
Al-Hejjaj ibn Yusuf exclamou muito admirado: “Por amor de Deus, que tipo de oração é essa?”
O dervishe retorquiu:”É uma boa oração para ti e para todos os islâmicos”

Ó tirano, que oprimes os teus súbditos,
Por quanto tempo perseverarás nisso?
Para que te serve a autoridade que exerces?
É melhor para ti morreres que oprimires os seres.»

                                     
Oremos para que Deus leve muito criminosos demasiado mortíferos...

sábado, 28 de novembro de 2020

Sa'adi, e a sabedoria perene do Irão. "Gulistão", 2ª história. O sultão e o dervishe. Tradução de Pedro Teixeira da Mota.

                                       
                                                   
Eis-nos com a segunda história com poemas, traduzida por mim e algumas amigas
iranianas, extraída também do Gulistão, o Jardim de Rosas, de Sa'adi, um dos grandes mestres iranianos, com aquele sabor de sabedoria perene, sempre actual e alegre, mas também muito crítica e irónica do que está mal:
«Um dervishe solitário estava sentado num recanto do deserto quando um padshah [pad=mestre, shah rei, sultão] passou ao seu lado, mas ele habituado à sua independência [literalmente, mas como a descontracção é o reino do contentamento], nem se apercebeu da sua passagem. O sultão, de acordo com a sua alta dignidade, ficou zangado e disse: “Esta tribo vestida de trapos assemelha-se a animais”.
O vizir bradou-lhe então: “O sultão da imensidade da Terra passou por perto de ti. Porque é que não lhe prestaste homenagem e mostraste boas maneiras?”
O dervishe replicou-lhe: “Diz ao sultão que procure homenagens das pessoas que esperam benefícios dele e também que os governantes existem para proteger os seus cidadãos e os cidadãos não existem para obedecer aos governantes.”
 

O sultão é o guardião do dervishe,
Ainda que a riqueza esteja na glória do seu reino.
O carneiro não é para o pastor,
Mas o pastor para o serviço dele.

Hoje vês uma pessoa próspera
E outra cujo coração está ferido pela luta.
Espera alguns dias até a terra consumir
O cérebro na cabeça do visionário.

A distinção entre o rei e o escravo cessou
Quando o decreto do destino alcançar a ambos
Se uma pessoa fosse abrir os túmulos dos mortos
Ela não distinguiria a pessoa rica da pobre.

O rei, que ficou satisfeito com os sentimentos do dervishe, disse-lhe: “faz-me um pedido”, mas ele respondeu que o único que queria fazer era que o deixassem só. O sultão pediu-lhe então um conselho e o dervishe respondeu-lhe:

“Compreende agora enquanto a riqueza está na tua mão
Que a fortuna e o reino abandonarão um dia a tua mão.”

                                                          
Comentários nossos:
Saibamos morrer em vida, para sermos iniciados na sua profundidade e perenidade.
Saibamos abandonar os nosso ego e posses, pelo amor da liberdade e da pureza, e pelo amor aos outros, ao espírito e à Divindade.
Oremos para que os governantes tenham a humildade de compreender que estão na terra e no poder para servirem a causa pública e não para se servirem,
envaidecerem e perderem...
Oremos para que as novas gerações sejam menos habituadas a roubar para o
partido e pelo partido, para os amigos e para a família, além de si mesmos, e comecem a ter em conta que prestarão contas à consciência íntima deles e ao mundo espiritual, pelo menos quando morrerem, e que a história nacional e a alma portuguesa os estão julgando, e que por mais que cortem páginas de processo ou mintam e escapem do reconhecimento das luvas e das culpas, isso não será esquecido na contagem das suas almas...

Oremos e esforcemo-nos para que haja mais dervishes e seres livres, capazes de não se deixarem atemorizar e corromper, e assim viverem e falarem a verdade e serem exemplos de desprendimento, coragem e discernimento para os outros e a sociedade.

                     “Compreende agora enquanto a riqueza está na tua mão
                    Que a fortuna e o reino abandonarão um dia a tua mão.”

Sa'adi, e a sabedoria perene do Irão. "Gulistão". 1ª história. Tradução original de Pedro Teixeira da Mota.

                              

 Abū-Muḥammad Muṣliḥ al-Dīn bin Abdallāh Shīrāzī, mais conhecido simplesmente por Sa'adi, nasceu no Irão, em Shiraz, em 1208 e teve uma vida bastante aventurosa, sábia e criativa, até 1291, deixando-nos muitas obras valiosas que ainda hoje são das mais lidas no mundo persa: o Gulistan, o Pomar, Boostan, o Roseiral, e um Diwan de ghazals, isto é, uma antologia de poemas amorosos e espirituais. 

Quando estive em 2013 durante 30 dias fortes e encantadores no Irão, fazendo conferência e encontros, traduzi várias histórias e ghazals dele e de Hafiz, com várias amigas iranianas, a quem muito agradeço, e espero num futuro não distante dá-las à luz e à leitura de almas vivificáveis, pois Sa'adi era claramente um despertador dos seres. Todavia, nestes dias mais trágicos da vida do povo iraniano, constantemente vítima dos criminosos do sionismo israelita e do imperialismo norte-americano, vou partilhar em dias sucessivos algumas das suas histórias, do Gulistão, .em homenagem a tão maravilhoso povo e aos seus grandes seres, tantas vezes martirizados desde o Imam Husayn até a Qassem Soleimani e mais recentemente Fakhrizadeh...

Não estamos sós e há uma vida depois da morte, justa...

                                         ******

«Um dos servidores do sultão Umrulais escapara mas alguns homens enviados no seu alcance trouxeram-no de volta. O vizir, que tinha uma certa animosidade para com ele, desejava que o matassem para que os outros servidores não imitassem o seu exemplo. Ele baixou-se com a cabeça no chão diante do sultão Umrulais, e disse-lhe:

O que quer que caia sobre a minha cabeça é legítimo com a tua aprovação.

Que pedido pode adiantar um escravo?  A sentença é o mestre.

Mas tendo sido nutrido pela generosidade desta dinastia [Saffari, 881-1103] eu estou aborrecido porque no dia da Ressurreição serás punido por teres derramado o meu sangue; mas se desejas matar-me, fá-lo de acordo com as cláusulas da lei”. 

O sultão perguntou-lhe: “Como devo eu então interpretá-la?” 

O servo replicou-lhe: “Deixa-me matar o vizir e depois toma a minha vida em retaliação, de modo a que eu possa ser morto justamente”.

O rei sorriu e perguntou ao vizir o que pensava ele da questão. Este replicou: “Meu Senhor, dá liberdade a este bastardo, como uma oblação diante do túmulo do teu pai, por receio que ele me cause desse modo mal. É minha a culpa de não ter tomado em conta a máxima pronunciada pelos filósofos:

Quando lutas com um atirador de pedras,

        Partes ignorantemente a tua própria cabeça.

Quando desferes uma flecha na face de um inimigo,

Fica de guarda pois estás a ser como um alvo para ele.»

 

Comentário nosso:

Saibam os seres e os governantes não serem tão violentos nas suas ambições, pois cedo ou tarde pagarão, seja nesta vida seja na outra, pois a justiça mundial no mundo da alma trabalha de noite e de dia e os criminosos acabarão por sentir na consciência o que fizeram. Quanto aos diabólicos, esses poderão de ter de ser mesmo cortados um dia, qual joio no dia da colheita....

Saibamos ter a nossa consciência pura, a nossa mente capaz de silenciar-se e de, perante o tribunal do seu íntimo, saber quanto bem e mal tem gerado em si e nos outros, para corrigir-se, melhorar-se, religar-se ao espírito divino, viver fraternalmente, criativamente e em sabedoria e amor...

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Os melhores cartooms do Médio Oriente. Uma boa imagem vale por muitas palavras.

Neste final do Novembro, e no dia 27, de 2020, em que foram assassinados no Irão sete cientistas iranianos por agentes israelitas e que estamos na eminência de um conflito embora regional forte, para tal contribuindo os últimos dias no poder do corrupto e pró-sionista Trump, talvez seja bom mostrar alguns dos cartooms ou desenhos trágico-cómicos que desmascaram o que se passa, talvez para que haja alguma reacção a tanta maldade e criminalidade da parte dos sionistas que governam Israel e  isso possa diminuir, terminar mesmo... E assim haja paz, justiça, irmandade e amor...
 
 



Provavelmente o maior criminoso das últimas décadas, Netanyahu. Responsável por milhares de mortos, feridos e traumatizados. Nestes dias a tentar, antes que Trump saia, provocar a guerra com o Irão, assassinando hoje sete cientistas iranianos próximo de Teerão. O anti-Cristo em acção...











 
 



Esperemos que a coligação do eixo do mal não continue a assassinar no Yemen, no Irão e na Síria e que sejam mesmo derrotados em tais maléficos intentos..

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Poesia pitagórica e rosacruciana de Raul Traveira, figueirense, major do exército e pioneiro dos kayak da Goltziana.

Raul Traveira (n. 1924), natural da Figueira da Foz, major do exército, amante e pioneiro da navegação em barcos pequenos, kayaks, a remo,  notável pitagórico e rosacruciano,  poeta matemático, e ainda amigo convivente de Joaquim Montezuma Carvalho e de Agostinho da Silva, é um notável português que conheci através de Agostinho da Silva nos anos finais da década de 80, nuns encontros informais que se
realizavam junto à Torre de Belém, aos fins de semana, e nos quais eles participavam.
Era então uma pessoa de coração, muito bondosa, um ser puro, tal como a sua
mulher. Estive com eles também dialogando em Coimbra, na casa onde moravam,  lembrando-se o seu filho Eduardo de eu ter trazido o meu tacho de inox e o arroz integral. 

Com efeito este seu filho, Eduardo, dirige hoje a Goltziana, uma empresa e marca de renome nos kayak de mar, por eles fundada, no final da década de 70, bem sinalizada na internet e que depois de ter falado comigo me proporcionou hoje receber um telefonema dos pais, com mais de 90 anos e pujantes de alma, sabedoria e amor.
Não está suficiente "imortalizado" na grande biblioteca digital mundial, umas
pequenas referências enquanto dinamizador do Associação Naval da Figueira da Foz, pioneiro dos kayak, e amante da história antiga da Figueira, mais alguns poemas, mas disse-me ao telefone que pensa editar em breve alguma da sua criatividade.
Embora possa ter outros documentos ou apontamentos dos nossos encontros, o facto
de ter encontrado este pequeno impresso e manuscrito leva-me a partilhá-lo, pois o conteúdo desta pequena pagela poético-pitagórica e aritmológica é por si só suficiente para merecer divulgação.



Vejamo-la:                     

  «Raul Traveira

POEMAS

Tese (Primeira)

Poeticamente

Falando,

É; matemática

E geometricamente

Falando,

Musicalmente

Falando,

Verdadeiramente

Falando,

Porque falando

Poeticamente

Não se mente

Falando.


******

Sei um triângulo!

Juro,

Raro,

Tão puro

Mas mais seguro

Que a neve do Kilimanjaro!

******

Graças te dou

Sol-Amigo

Cristo Rei,

Porque sou

Sempre serei

Garimpeiro de pepitas

As palavras infinitas.

******

                                                                  *******

 «O Teorema de Pitágoras fascinou as antigas civilizações. Acontece que não há triângulo rectângulo sem ângulo recto.

Ora, foi por fascinante pressentimento que meu neto João me sugeriu que calculasse a gematria do apelido Traveira da nossa família, o qual como se vê coincide rigorosamente com a medida, em graus, do referido triângulo:

T R A V E I R A

19 17 1 21 5 4 17 1=90

Com os votos mais sinceros de que o ESPÍRITO DA FASCINANTE E SANTA PÁSCOA sempre o acompanhem,
do muito grato amigo,
Raul Esteves Traveira.»

 Comentários meus:
Ser que ama a palavra profundamente e a pesquisa e trabalha, Raul Traveira lembra-nos no primeiro poema que a devemos proferir poética, matemática, geométrica, musical e verdadeiramente. Bem simples, mas inegavelmente uma grande arte que exige uma auto-consciência grande e perseverança na sua auscultação e emissão...
No segundo poema, quase mantra ou sutra, e com a sua a pertença à tradição pitagórica pois, tal como eles, jura pelo triângulo, Raul Traveira muito provavelmente partilha uma intuição e visão que terá recebido na meditação: a contemplação do triângulo, branco, puro, qual a neve da alta montanha africana do Kilimanjaro. Talvez uma visão no plano espiritual das formas arquétipas ou primordiais, e que lhe deu uma certeza pessoal de algo, que só ele saberá indubitavelmente, mas que ao ser partilhada, nos poderá estimular a estarmos mais abertos à visão espiritual das formas geométricas fundacionais do cosmos.
Talvez até pudesse dizer no 1º verso: "Sou um triângulo", pois com sua mulher construiu-o, tendo no vértice, e assim dinamizando a circulação da três Graças, seja a Divindade seja cada filho que gerou.

O 3º poema é quase uma auto-biografia concentrada de si próprio: adorador do Sol, do Logos Solar, de que o Cristo Rei será uma expressão humana. E ser consciente da sua imortalidade de amante da Palavra, do Sermo, Verbo ou vibração do som Amen ou Aum ou Iao, que depois se infinitiza nas pepitas das palavras com as quais podemos comunicar, aprender e comungar e muitas ressonâncias encontrar e
admirar.
Como nós fazemos neste momento, graças a ele, e logo dando graças, sentindo
gratidão por esta comunhão com a Palavra,  o Som e a Divindade que as emana
musicalmente, geometricamente, poeticamente, verdadeiramente.
Que tal arte, sensibilidade, capacidade e aspiração se torne mais viva em nós!
O texto manuscrito que me dedicou nessa "fascinante e santa Páscoa de 1988",
assinala bem a sua pertença à tradição iniciática pitagórica, ainda que apenas falando do interesse das várias civilizações por tal descoberta geométrica de Pitágoras. E marca a importância do ângulo recto, de sermos rectos, de conseguirmos ligar a terra e o céu direitamente, confirmando aritmologicamente e pela gematria da correspondência das letras e números,  ser um ângulo recto.

A final dedicatória mostra-o de novo um cristão gnóstico rosacruz, e assinalando como a passagem da morte para a vida, da mortalidade corporal para a imortalidade anímico-espiritual, será sempre algo fascinante, pelo seu mistério, dificuldade, 
santidade e beleza.
Poderíamos aqui mesmo aduzir o dito grego, desenvolvido por Antero de Quental,
Joaquim de Araújo e Fernando Pessoa, "Morrer é ser iniciado", pois embora Jesus já fosse iniciado, certamente que a sua morte foi uma outra iniciação e sobretudo para os que o amam, o seguem ou nele se inspiram, um modelo e imagem de iniciação foi dada: ressuscitar logo, ou em poucos dias, para a vivência consciente no mundo 
espiritual.
Espero visitar Raul Traveira e a família na Figueira da Foz e dialogar sobre as nossas caminhadas e realizações nestes já trinta anos sem nos vermos e desde já o saúdo de coração e com muito amor e votos de saúde e inspirações.

Post-scriptum: Anote-se que anteontem, 9 de Janeiro de 2021, partiu da terra o nosso querido amigo Raul Traveira, com a sua missão certamente muito bem cumprida. Acrescentarei, através do contributo escrito pelo Eduardo Aroso, na página do Eduardo no Facebook, que  Raul Traveira «fundou com Manuela de Azevedo, Julião Bernardes (pseudónimo poético do major João Repolho) e Eduardo Aroso, entre outros, o GRESFOZ – Grupo de Estudos Figueira da Foz. Durante cerca de duas décadas o Gresfoz realizou recitais de poesia e música, tendo promovido edições de poesia (colecção Ponte). O Gresfoz representou, entre outros acontecimentos e sem quaisquer ajudas oficiais, a Figueira da Foz e Portugal, nomeadamente no Centenário do poeta Afonso Duarte (Cáceres, 1984) e Rosalía de Castro (Santiago de Compostela,1984), tendo participado na I Bienal Internacional de Poesia, 25 nações,
(Madrid, 1987).»
|Que continue a ser nos mundos subtis um espírito irradiante de luz e de amor e que
nos possa inspirar e fortalecer na nossa caminhada ainda na Terra, bem necessitada nos nossos dias de virus, manipulações e opressões, e tão pouco da palavra órfica, pitagórica e rosacruciana, isto é, verdadeira, proporcionada e realizada, que Raul Traveira tanto cultivou e cultuou...



segunda-feira, 23 de novembro de 2020

No túmulo de Christian Rosenkreutz, de Fernando Pessoa. Breve comentário de Pedro Teixeira da Mota. 21-11-2020..

Leitura comentada deste importante poema rosicruciano pessoano, na manhã de 21-11-2020, dia em que às 19:00 participarei online na apresentação e diálogo acerca do recente livro de Rui Lomelino de Freitas, Os Manifestos Rosacruzes, editado pela Alma dos Livros.

O poema embora tivesse sido enviado para publicação na revista Sudoeste, de Almada Negreiros, em 1935, acabou por ser dado à luz só em 1940, portanto ao contrário de ter sido em vida, como digo no vídeo. Transcrevi-o na Rosea Cruz, em 1989. Eis o poema que, contendo algumas variantes, foi transcrito agora neste artigo de modo diferente em relação ao que foi lido no vídeo, talvez ficando mais correctamente nas palavras e ensinamento:

I
Quando, despertos deste sono, a vida,
Soubermos o que somos, e o que foi
Esse mal, essa queda, esta descida
Até à noite que nos a Alma obstruiu,

Saberemos enfim essa escondida
Verdade do que é tudo que há ou flui?
Não: nem na Alma livre é conhecida...
Nem Deus, que nos criou, em Si a inclui

Deus é o Homem de outro Deus maior:
Adam Supremo, também teve Queda;
Também, como foi nosso Criador,

Foi criado, e a Verdade lhe morreu...
De Além o Abismo, Sprito Seu, Lha veda;
De aquém o Mundo que criou Lha implora...

II

Mas antes era o Verbo, aqui perdido
Quando a Infinita Luz, já apagada,
Do Caos, chão do Ser, foi levantada
Em Sombra, e o Verbo ausente escurecido.

Mas se a Alma sofre a sua forma errada,
Em si, que é Sombra, vê enfim luzido
O Verbo deste Mundo, humano e ungido,
Rosa Perfeita, em Deus crucificada.

Então, senhores do limiar dos Céus,
Podemos ir buscar além de Deus
O Segredo do Mestre e o Bem profundo,

Não só de aqui, mas já de nós, despertos,
No sangue actual de Cristo enfim libertos
Do a Deus que morre a geração do Mundo.

III

Ah, mas aqui, onde irreais erramos,
Dormimos o que somos, e a verdade,
Inda que enfim em sonhos a vejamos,
Vemo-la, porque em sonho, em falsidade.

Sombras buscando corpos, se os achamos
Como sentir a sua realidade?
Com mãos de sombra, Sombras, que tocamos?
Nosso toque é ausência e vacuidade.

Quem desta Alma fechada nos liberta?
Sem ver, ouvimos para além da sala
De ser: mas quando enfim a porta aberta?
.......................................

Calmo na falsa morte a nós exposto,
O Livro ocluso contra o peito posto,
Nosso Pai Roseacruz conhece e cala»

******** 

Tentarei brevemente acrescentar por escrito ainda alguns comentários ou textos elucidativos de Fernando Pessoa, no qual manifesta a sua incapacidade de em vida alcançar mais que sombras e sonhos, crendo contudo que quando liberto do corpo e do Deus limitador deste mundo (Jehova) e na fé e ligação a Jesus Cristo conseguirá buscar o Bem profundo e o segredo da realização de 
mestre.
Primeira quadra: 1º sabermos ou conseguirmos despertar, em ou
como alma consciente de si mesma, ser imortal. 2º Intuir, vencendo as trevas ou escuridão interior, e ver espiritualmente o mundo divino 
donde saímos.
Segunda quadra: A Verdade, e que é apenas o que da Realidade
concebemos, escapa-nos sempre na sua totalidade, embora Deus a conceba ou contenha em si, pelo menos virtualmente, enquanto Eu 
do Absoluto.
1º e 2º tercetos: Visão gnóstica dualista pessoana: Deus é apenas uma
criação do Espírito Além Deus, logo limitado, em queda na manifestação; é o Deus ou demiurgo (Jehova na concepção hebraica) preso ao seu mundo, o qual lhe implora o bem, a verdade ou a libertação, mas que ele não tem nem pode dar, pois o Espírito Absoluto lha nega ou lhe veda.

No II soneto, a 1ª e a 2ª quadra, mostram-no numa muito elevada especulação, propor que o Verbo e Infinita Luz ao ser levantado ou manifestado do Caos se tornou sombra e ausência no mundo, mas que a alma sofrendo tal, pode, ao contemplar o Verbo humanado em Jesus Cristo, que é então a Rosa perfeita crucificada no Deus ou demiurgo deste mundo, ter percepção de tal Luz. Está de acordo com o facto de Jesus ter sido crucificado e morto  pedido das autoridades religiosas judaicas por estar a pôr em causa o sistema religioso vigente e o demiurgo limitado imaginado como Jeová.

Nos dois tercetos seguintes, dá-se então um despertar nosso e uma elevação ao Mestre e ao Bem, que estão para além de Deus, ao comungarmos da alma e sangue do Cristo. Fernando Pessoa confessa-se um gnóstico cristão, crente na intermediarização divina de Cristo, ou Verbo, e talvez mesmo de Jesus, sua dimensão humana. De qualquer forma, fala ainda de se poder buscar e não garantidamente realizar.

III e último soneto. 1ª quadra, Fernando Pessoa, descendo de novo ao mundo físico, reafirma um dos seus mantras mais repetidos: "neste mundo tudo é sonho e sombra", e se nos sonhos algo da verdade possamos captar, tal é ainda ilusório, e de facto serão quanto muito vislumbres de planos psíquicos, astrais. Na 2ª quadra repete outro dos seus lemas ou constatações ocultas, que só viu e tocou sombras, pelo que não sabe se tais entidades existem. É de facto o perigo da magia e das suas ilusões, passadas nos planos astrais, quando a visão a aspirar-se é a espiritual e a divina.
No penúltimo terceto, Fernando Pessoa retoma outra das suas linhas de forças, a de que ouve algo, presente mas não vê, e assim como sair da prisão e labirinto?
No terceto conclusivo do poema, Fernando Pessoa vai lançar-se na
fé e esperança cristã normal da vida num Paraíso? Vai afirmar que é 
aqui e agora que devemos realizar o Mestre e o Bem?
Não. Regressa à aristocracia silenciosa rosa cruz, por ele tão louvada
em contraposição à vulgarização das doutrinas por certos movimentos, e talvez sugerindo-nos: - «cala, entra dentro do teu peito e tenta entrar nele, ler nele, ver nele, ser a rosa desabrochada».

Seguem-se os 23 minutos, com leitura comentada ainda de parte de um outro poema bem valioso e confessional, os "Superiores Incógnitos", de 5-9-1934.

                      

sábado, 21 de novembro de 2020

"Os Manifestos Rosacruzes": a "Fama" e a "Confessio", por Pedro Teixeira da Mota.

                                                            
Tendo sido agora dados à luz Os Manifestos Rosacruzes numa edição original portuguesa, por Rui Lomelino de Freitas, na editora Alma dos Livros, que me enviou um exemplar e me convidou a participar, com outros investigadores, estudiosos e rosacrucianos num evento online entre 21 e 27, cabendo-me a mim intervir no dia 23, resolvi reler os Manifestos, o que não fazia já desde 1989, quando publiquei uma recolha extensa das referências à Rosa Cruz e ao rosicrucianismo encontradas no espólio de Fernando Pessoa, sob o título Fernando Pessoa, Rosea Cruz. Textos estabelecidos e comentados por Pedro T. Mota.

Dessa leitura resultou uma breve destilação espontânea, no dia 20 à noite, quando terminei a leitura da Confessio. Fiz poucas referências a Fernando Pessoa, o que ficará para o dia 23, exprimindo antes o que senti em relação a esses dois textos publicados pelo editor Wessen, em 1614 e 1615 em Cassel, na Alemanha, mas que circulavam já antes em manuscritos pois foram escritos entre 1608-1609, e que deram tanto brado e tantos frutos, criando em muita gente a crença numa Fraternidade Rosa Cruz e numa eminente reforma do Mundo, tanto mais que na primeira edição de 1614 a Fama estava antecedida por um texto intitulado a Reforma genérica e geral de todo o vasto Mundo, em grande parte baseado na obra de Traiano Boccalini, Ragguagli di Parnasso, dado à luz em Veneza, em 1612, pelo editor Pietro Farri, e de uma entusiástica carta de Adam Haselmayer que, conhecendo já por manuscritos as mensagens da Fraternidade Rosa Cruz, apela a eles e profetiza a iminente queda do Papado e dos Jesuítas e o começo do Império do Espírito Santo.

Sabemos hoje que os textos foram redigidos dentro de um grupo de humanistas ou letrados alemães, da cidade de Tübingen, destacando-se entre eles o jovem Valentim Andrea, o qual, anos mais tarde, por mais de uma vez, confessará que foi tudo um jogo, um "ludíbrio", não deixando contudo de crer no amor ou caridade cristã e nos seus frutos, enquanto pedagogo e pastor protestante que foi.
Aliás o tom protestante e fortemente anti-católico, contra o Papa, chamado mesmo de Anti-Cristo e de víbora, está bem presente, e a filiação ao protestantismo, ao Imperador e autoridades temporais é afirmada, tal como a valorização da Bíblia e dos desígnios deJehova, o qual estaria a suscitar para breve grandes mudanças, se não mesmo o fim dos tempos.
A mistificação é grande na maioria das afirmações e promessas dos dois Manifestos, que sónuma grande ingenuidade se podem aceitar, contudo algumas frases mantras e a história romanceada da vida do fundador Christian ou Cristão Rosacruz e que com alguns irmãos ele chamou a si, se teriam tornado a Fraternidade Rosa Cruz, tocaram as pessoas, suscitaram grandes reacções e panfletos, embora nunca ninguém os conhecesse ou visse (como entre nós Fernando Pessoa escreverá).
Já nos finais do séc. XIX e começos do XX alguns clarividentes (ou imaginativos clarividentes), dirigentes de grupos ocultistas, afirmaram sem dúvidas que Christian Rosenkreutz existira e era um iniciado com uma longa história na Humanidade, assinalando-lhe sucessivas reincarnações algo mistificadoras...
Ora logo no séc. XVII vários pensadores, filósofos, ocultistas e cientistas, entusiasmadosco
m a ideia da ideia da Fraternidade e da sua reforma do  mundo e pessoal, e acrescentaram tanto valiosos ensinamentos como muitos pontos ao conto, que se foi tornando assim uma concreção heterogénea de escritos  que manifestavam os conhecimentos e aspirações de gnose, de esoterismo, de alquimia, de kabala, de simbologia, de aritmologia, de astrologia, de profecias e de utopias na época, e particularmente da Europa. ainda que na descrição da viagem ao Oriente de Rosencreutz, onde ele estivera a aprender alguns anos e donde trouxera livros e ensinamentos eram países árabes. Quais os ensinamentos ou axiomata recebidos não são especificados, para além de nomes gerais como melhorias ou reformas da Filosofia, Física, Magia, Medicina, ou a ideia do ser humano como microcosmos em unidade com o Divino, ou ainda quatro ou cinco aforismos, mais ligados até com a tradição cristã.
Todavia, nos Manifestos há críticas lançadas contra o Papa e Maomé, estas num certocontra-senso talvez explicável pelas limitações dos conhecimentos da época, pois tal referência a Maome seria provavelmente derivada da ameaça otomana. Investigando, deparei-me com o nome do sultão Mehemed III, que reinou até 1603. Poder-se-ia admitir que a referência seria a ele, como que chefe dos islâmicos que ameaçavam a Europa, que portanto a feitura manuscrita original dos manifestos seria até antes da data de 1604, 1605. Uma hipótese...
                                                                                                                         Eram muito vastos os conhecimentos gerais e espirituais conhecidos e trabalhados pelo círculo de Tubingem, que contava com estudiosos de valor como Tobias Hess (seguidor de Paracelso e de Simon Studion, o autor da Naometria, obra que de modos numéricos e proféticos influenciou os Manifestos e as Núpcias), Johann Arndt, Christophe Besolt, Tobias Adami e Wilhelm Wense (dois discípulos de Campanella), os quais representavam ainda o culminar de uma livre investigação nos campos diversos do saber, nomeadamente da Religião. da espiritualidade, do hermetismo e da incipiente Ciência, a qual linha evolutiva tinha por detrás seres como Marsilio Ficino, Pico della Mirandola, Erasmo, Reuchlin, Paracelso e Campanela, para não falar dos místicos da Theologia Germanica ou mesmo do reformador, cheio de fé e independência mas ainda  pouco aberto ao espiritual, 

Lutero.
A isto devemos acrescentar a profusão de grupos, associações e movimentos que
proliferavam na Europa e na Alemanha na época e dos quais certamente a invenção ou impulso da Fraternidade Rosa Cruz ora hauriu ora deu algumas forças e inspirações, tais como a Militia Crucifera Evangelica, fundada ou reorganizada em 1586, em Luneberg, por Simon Studium, a Fruchtbringende Gesellschaft, a Sociedade Frutuosa, e a Orden der Unzertrennlichen, a Ordem dos Inseparáveis, ambas fundadas em 1617, tendo Valentim 
Andrea pertencido à primeira.
As Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreutz, publicadas em Estrasburgo
posteriormente à Fama e à Confessio, em 1616 pelo editor Zetzner, mas escrita antes segundo Valentim Andrea, é já uma obra diferente e bastante mais genial, claramente um romance que se poderá denominar iniciático, carregado de ensinamentos, simbolismo e alquimia, e herdeiro de outras obras, renascentistas de grande imaginação e misteriosas, capazes de serem interpretadas em multidimensionalidades bem luminosas, tal como o Sonho de Polifilo, Hypnerotomachia Poliphili, de 1499, ainda incunábulo, um dos mais belos livros de sempre...
Esperamos escrever ou gravar mais alguns aspectos da saga rosacruz, ou rosicruciana, nomeadamente quanto aos contributos de Fernando Pessoa, ainda hoje tão florescente no mundo. Segue-se o breve improviso de 15 minutos:

            

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

3:00 de vídeo, de abertura do coração às montanhas sagradas, ao Graal e à zoeira do vento geresiano. XI-2020.

Os montes e montanhas são das mais belas gerações da alma da Terra e quando as subimos, percorremos ou contemplamos com vontade de as conhecermos e de as amarmos podemos receber muitas energias, ensinamentos e inspirações. Seriam precisas infinitas linhas e páginas para descrever as suas riquezas geológicas ou dos seus eco-sistemas e animais, para não falarmos das subtis e espirituais que os peregrinos e peregrinas recebem por vezes maravilhadamente nos seus esforços e meditações.

 

Nestas poucas fotografias partilhamos apenas algumas imagens da serrania do Geres, em zonas perto do Outeiro e de Pitões de Júnias, vistas longínquamente do sul, ainda que não sejam muitos os quilómetros que nos separam delas...
O ponto branco duma capelinha, qual pico do Kilimanjaro ou mais elevadamente ainda dos Himalaias, lembra-nos como devemos focar de quando em quando a nossa alma e coração para tais elevadas e templárias montanhas himalaicas (espiritualmente, Himavat) e delas recebermos as correntes de Amor e de Sabedoria que de lá se derramam sobre todos os que aspiram e se abrem a elas...
O vídeo que se segue, apesar do vento ruidoso e do abanar da mão, é ainda um testemunho de um peregrino invocando tais energias luminosas e aqui as partilhando de coração, sendo invocações e orações simples, sem nada das complicações dos mistificantes ocultismos e kabalas,  canalizações e decretos que abundam tanto hoje e que em geral só exploram as pessoas e as ligam a ideias, energias e entidades irreais, pouco claras e elevadas.... 
Saibamos discernir bem e perseverar nos caminhos que levam à alta montanha da verdadeira realização espiritual e divina, simples, directa, interior....
Que a Luz Divina banhe mais o nosso espírito e alma, e suas profundezas, e que a nossa vivência das montanhas, das realidades espirituais, do santo Graal, do Espírito e da Divindade se vá desenvolvendo com naturalidade...

                

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Crepúsculo sublime nos montes do Gerês, em Novembro de 2020...

Por vezes, quando saímos de uma visita tardia a uma casa de uma senhora amiga, que vive só, com a sua horta e terrenos, as  devoções religiosas, o cão alegre e as galinhas poedeiras, a cidreira e o poejo, a lareira e a vasta casa, outrora cheia de gente e agora de cortes abandonada, não podemos deixar, vendo o crepúsculo que nos cobre com a sua inexorabilidade diária na natureza e individualmente, esta mais sentida quando o tempo da peregrinação na terra se vai pondo ou apenas nos dias mais difíceis ou cansativos, de sentir respeito, admiração e sacralidade pelo que tais momentos de transição nos mostram iniciaticamente até de morte e  ressurreição, e nos falam ou sopram da fragilidade, da subtileza e do indizível que nos rodeia, cobre e desafia.

  
A árvore de braços estendidos parece chamar-nos...

                                

   
Subitamente, o que poderia ser apenas o começo da noite longa e fria do Outono, com os carvalhos desaparecendo nas trevas e os morceguinhos vindo ao de cima, reveste-se de colorações e aberturas que nos fazem pressentir momentos de maior comunhão com a sublimidade divina que a Natureza por vezes deixa transparecer e, logo, em nós pode despertar...

Avançando para a vista descoberta, observamos que o altos e não muito distantes montes que nos circundam e fazem planos para o horizonte sem fim são sobrevoados por formas cambiantes e coloridas de nuvens e neblinas, que parecem ondular em planos sucessivos tingidos do Amor Divino que os raios do Sol derramados criam em momentos especiais.

Pouco se pode dizer então. Apenas sentir bem com a alma toda e ser um com o vasto horizonte cosmicizado, de tanto Amor inundado... 

Visitação geresiana, da qual damos graças, registads ainda, modestamente, na gravação de telemóvel, de um minuto, que se segue....