quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Do mistério do Amor: vivências e visões, meditações e reflexos. Fragmento de um livro em gestação.

                           
    Questionarmos constantemente os entendimentos aceites sobre o Amor é importante, pois pouca gente realmente o conhece mesmo e, frequentemente, ao contrário do que se pensa, a sexualidade e a sensualidade intensificadas podem até diminuir o estado de amor geral e harmonioso, pois tal intensificação do desejo e do prazer, ao ser focada sobretudo no instinto e necessidade sexual, que pode satisfazer-se pelos mais diversos modos, alguns dos quais menos harmoniosos ou mais superficiais, pode diminuir o estado de amor geral.
                                         
Para além da componente de afinidade psíquica e afectiva que nos leva a gostar mais de alguém, certamente a força comunicativa ou emissiva sexual é em grande parte a responsável pelo ser humano sentir mais amor, como desejo e força unitiva, com outro ser, nem que seja apenas para descarregar tal excesso energético ou desejo, ou então suprir a sua contrapartida de carência...
No seu estado de excitação tal força caminha para a entrega e a unidade. Mas pode-o fazer violentamente, quase sem amor, em formas e modos opressivos ou negativos e não de sensibilidade recíproca, amor, dádiva, ocasionando frequentemente tragédias...
Passarmos pois de momentos de prazer nascidos do desejo intensificado e saciado para estados mais permanentes de satisfação, na aceitação plena do outro e de nós, cultivando-se a paz e a felicidade simples, abandonando ou controlando-se o amor fácil e imediato, quase só sexual e sentindo-o em todo o corpo, alma e espírito, é algo que exige um certo recuo sobre a involuntariedade e instintividade do desejo, ainda que não se tenha que renunciar seja à sensualidade seja à sexualidade.
Com efeito, o desejo naturalmente dissolve-se na sua satisfação física mas deve gerar o amor sentido pela beleza e riqueza complementar do outro, deve ser alargado, elevado (e convirá sentir-se tal...) ao conjunto maior, que são dois seres em processo evolutivo(e nas suas dimensões visíveis e invisíveis), ou mesmo uma família já, e portanto numa consciência visão já não só limitada ao indivíduo e o presente prazentoso mas também ao amanhã e ao futuro...
Esta capacidade de um ser sentir o amor e a felicidade individual aumentarem ou melhorarem, quando passa para o amor entre dois e que nessa relação de complementaridade amorosa se pode ser bem mais criativo, dinâmico e feliz, e até meditativamente chegar-se aos níveis primordiais ou arquétipos da manifestação, tal o das míticas ou reais almas-gémeas, e o da Fonte Divina, é frutífera de ser meditada e trabalhada.
                                     
Será então importante ensinar-se nas escolas e na educação a não se limitar o amor à base egóica e sexual, reprodutivo ou de simples prazer, mas expandi-lo para acolher-se o amor como estado de fruição criativa entre dois seres, na enriquecedora transparência e sinceridade da comunhão de seres dotados não só de corpos mas também de almas e espíritos, com os seus chacras e auras, o qual abrange o devir histórico e evolutivo de ambos, quem sabe com que perenidade, e no qual se deseja o máximo de evolução espiritual para ambos e os outros e se tenta aprofundar os mistérios da Humanidade e da própria essência do Amor.
O Amor, na sua dimensão energética, pode ser visto ainda como a fluidez entre o desejo-potencial e a sua realização, ora material-corporal, ora nos corpo subtis e suas ondas e partículas, em psicomorfias com a Natureza, ora ideal, sublimada e espiritual, com os seus circuitos de vitalização e ciclos, e que exige a constante aspiração a se estar nele e de se o manifestar verdadeiro, provindo do ser íntimo e da Fonte Divina e não de uma sua parte superficial ou interesseira, frustrada ou manipulada. Neste sentido o Amor é um fogo libertador.
O Amor nos seus estados psico-espirituais mais conseguidos é um estado de graça, ou seja, a partir do que vivemos e queremos viver qualitativamente, o espírito divino em nós associa-se e faz-nos sentir o Amor, ora universal, ora individual, ora para com a Divindade, todos estes níveis de amor devendo ser cultivados, orados e invocados com regularidade na meditação e depois bem manifestados.
No amor individual a outrem, quando a vivência sexual surge mais forte, sob pena de sermos levados na inundação amoroso-sexual e nela nos deixarmos absorver demasiado e logo limitar e diminuir, devemos lembrar-nos dos outros dois níveis e invocá-los, senti-los, orá-los, seja o do corpo tanto social como místico da Humanidade, nomeadamente os que já partiram, seja o da aspiração concentrada e amorosa para Deus no nosso íntimo.
                                       
O Amor pode ser visto então como o estado, talvez até primordial, de felicidade e harmonia com a Vida, ou ainda de unidade com alguém ou algo em especial (e primordialmente seria tanto a Divindade como a alma-gémea), o qual irradia ou parte do interior, do eu espiritual e é sentido seja dando-nos asas, seja irradiando do peito, ora como fogo solar todo poderoso, ora mais doce e beatífico, ora como pura alegria e gratidão, ou mesmo grande expansão dimensional, podendo ser ainda visto, em especial no no chakra do coração, como filigranas rosadas douradas, ou em emanações na cor própria de cada um.

                                       
Podem-se sempre destacar alguns dos níveis da manifestação da energia do Amor, que é também a da atracção da unidade, no ser humano, tais como a acção e movimento, a sexualidade e a união sexual, a alimentação, a afectividade, a estética, a palavra e escrita, a indagação e comunicação dialogante, o empenhamento justo, a irradiação mental e a unidade dinâmica e interactiva da vida no Cosmos e, finalmente a contemplação e adoração celestial e divina. Cada ser deve desenvolver e equilibrar estes vários níveis e controlar os excessos de qualquer um, seguindo-se a regra pitagórica: nada em excesso.
Assim o sexo e a sensualidade devem ter certo papel, tal como o prazer alimentar, mas mais valor psico-espiritual e histórico têm o afectivo de gostarmos e querermos ajudar seres e causas, o uso criativo da palavra e dos ouvidos, orarmos e visualizarmos, estarmos abertos e procurarmos interiormente estarmos mais consciente e logo mais unidos ao Espírito e ao Ser Divino...
O Amor pode então desvendar-se como o estado de harmonia das pessoas e seres, que nos leva a darmos graças pela inserção participativa desejada, merecida ou aspirada no subcampo unificado de energia que nos rodeia e nos seus diferentes níveis consciencializados e dinamizados, desde o terreno ao espiritual.
                                      
Para estarmos e nos sentirmos mais em Amor é então conveniente meditarmos, pois é em tais momentos que permitimos e consciencializamos a circulação energética e global entre os nossos diversos níveis, e que se clarifica a compreensão de quem somos e o que fazemos, e como há bem e mal relativos em nós e no ambiente e, logo, se pode causar ou intensificar a revivificação e visão do Amor, tanto como fogo solar, brotando do espírito em nós, como emanação da felicidade ou beatitude da presença divina, e que é activado ainda ao sermos dinâmicos no mundo, correctamente, divinamente.
Como está o Amor em mim, como o posso despertar, melhorar ou intensificar, ou com ele alinhar-me, eis uma boa pergunta para auscultarmos, meditarmos e reactivarmos com regularidade ou constância...

* Seres Fiéis do Amor...
** De um livro em gestação sobre o Amor...
*** Iconografia baseada apenas em corações: 1ª minha, 2ª Elizabeth Vahn, 3ª Zurbaran, 4ª Desconhecida, 5ª Bô Yin Râ, 6ª Desconhecida, 7ª Patrizia Giovanna Curcetti, amiga no Face, 8ª muito bela mas desconhecida. Aum... Amor...

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Bô Yin Râ: Teachings of the book "Life's Highest Goal", "Das Hohe Ziel", "O mais elevado Fim".

                                                           
In the ten chapters of Das Hohe Ziel, Leipzig, 1925, translated in english as Life's Highest Goal, in french Le But Suprême, and in portuguese  O mais Elevado Fim (that I have been reading in portuguese for Youtube), Bô Yin Râ gives  many valuable teachings that I shall condensate here, about the path within our souls to reach the highest goal.
 In chapter I, The call of the Spirit, the most important teaching given is probably to develop the sensibility to listen, to wait the Spirit within, and for that we have to pray or meditate a long time, not getting bothered by the external noise, nor entering in a state of deafness, but being humble, sensible and eager to listen the call of the spirit.
But we have to become spiritualy alive, spiritual souls generated by the Spirit, in order to listen  the call of the Divine Spirit, that will be heard one day, when we will connect to our deepest level, calling us by our true name.
So, Bô Yin Râ says to us: - Return and direct all your forces  within your soul and ask or pray the Spirit to awaken your deepests levels of being...
And do that with perseverance, for you shall receive...
In chapter II, called the Two Paths, Bô Yin Râ remember us that the highest goal means the liberation of the soul, and
that sometimes some kind of infection on the level of spiritual knowdlege can happen and spread, and so people follow an untrue path and light that can lead them to some self-destruction, even if its promissed to them the power of the Spirit and the magical force. So we should be cautious...
We says also that there is not a Fate, a iron Destiny but, even with many adverse energies coming to us, we should hold on with confidence, on the power of the spirit that surrounds us or that is within us,  and fight for freedom and good.
So the path is to receive from the inner being the inspiration, the right understanding and then put it in action. And in this way we can approach more and experience the deep inner self, that is the goal of the path.
                     
In chapter III, Search and Find,  Bô Yin Râ points to the most intimate level of our soul where we have to search, listen patiently in silence and in peaceful determination,  confidently, perseverantly, all the duration of time needed, until we hear and find. 
And, for that achievement of inner self-knowdlege,  strong confidence of attaining it, a kind of faith,  is very important, even for dissolving or destroying suggestions of being an impossible task...
In chapter IV, of the Eternal Light, Bô Yin Râ make us be sure that all we are clarified and under the Eternal Light, and it is only our incapacity to turn or attune our spiritual eye for that Light that make us to be in obscurity.  
In chapter V, of the Colored Light, he makes us to be aware that each one, from within, receives the same Divine Light but in its proper and specific color, and so we should be faithful to our own light and not search or follow the light of the others.
In chapter VI, On the Highest Goal, he stresses another time that we must be fully confident that we have the highest goal in us and that is attainable in the deepest level of our selves, and to achieve that we should be active in that direction in order to atract the blessings or help of the higher spiritual beings. 
This achievement is to discover and to realize the inner primordial form that was generated once for us by the Spirit. Only each one can attain or realize himself, and then become united with God.
                               
In chapter VII, About the way of the Ancients, Bô Yin Râ wishes that we respect the old paths, an even that we study them, but we shouldn't stay attached to their forms, as each time has its own forms, its  ways to respond to the same old questions and goals, so we should discover and walk on our own path and ways... 
In chapter VIII,  On the benefits of Work, Bô Yin Râ show us how so many people get entangled in the search of old secrets, in pilgrinating to all sacred places, in learning magic, in learning and doing strange breathings exercises or sexual tantric pratices and enter in paths of ilusion and loosing their spiritual forces. 
It is in the straight and simple inner path and in working with consciousness, whatever is our job, doing it the best possible, with full concentration, that we earn energies and blessings for the path, fortifying ourselves and our inner spirit.
So if we feel our job is mechanic or monotonous we should strive to conquer the aversion to it and find how to  grow the love for it, how to devellop a new awareness on it and so feeling joy for doing well our work (what the indian tradition calls the swadharma, your own duty, I would say). 
He goes to say that more important than the money we get from our work are the spiritual merits, the spiritual values that we receive and that no one can take us. And the intensity with which we give us to the work, or embrace it, or love it, having a proportional correspondence in the intensification of our spiritual forces. 
                    
In chapter IX, About the power of Love, surely the most powerful and precious chapter, Bô Yin Râ extols the forces of the Fire of Love awakened in the heart of the humans beings, which transform them from an human-animal into a spiritual being. 
 We face a very deep mystery, when Bô Yin Râ speaks how the power of Love of the human being is more strong than the cosmics powers and beings that give forms to the worlds because there are in themselve mostly mind and not love, and so they can't have this human experience and vision of Love in the deepest level of the soul. 
Bô Yin Râ quotes " God is Love and the one who stays in Love, God stays with him" and ask us to live in God and not in desiring Love or worshiping a imagination of God. 
Another important quotation (of Jesus) given is "God is Spirit and the ones who pray should pray the truth in the Spirit", and so within themselves. «It is only in the spiritual form of love that the terrestrial man can arrive to God and at the same time to the Spirit», and so people should not fear to burn and sacrifice in the Fire of Love. 
Another higher teaching given is that in order to reach that higher Love we need not to love someone or something  outside, but we have to love ourselves until we become ourselves love, finding in that love all that exists and even our own form of God. 
So Love is  to appropriate something only that wants by itself to be revealed and taken by ourselves, and that is the essential Love that is an spiritual form of Divinity.
To be in that state of Love we have to discard whatever wants to makes us to be in their lower levels, and if some good relation of love can be beneficial for us, still is outside of us. We have to find here on eart the liberation of all desires and attachments and recover our union with God, that is Love.
In chapter X, The master of Nazareth, Bô Yin Râ says that Jesus was the master who has manifested more love ever, even if he is a brother within the others masters and not the Logos, the Primordial Word that was manifested through himself, neither being a so called Son of God descended to sacrifice himself.
No, Jesus is only a master, even if the highest in Love, that still stays in the spiritual atmosphere of the earth and can be contemplated in the inner realms, inspiring us to burn in the fire of Love and ascend in the Light of Liberation.
Om Mani Padme Hum, a good mantra to achieve peace and silence within and to advance in direction of the Self...
               Good contemplations and inner hearings...                                                         

domingo, 19 de agosto de 2018

Jardins encantados, mais ou menos perenes, e seus ensinamentos. Perto do rio Ul.

 
 Os cães lobos gostam de ser difíceis de ser dançados ou controlados, e guardam os umbrais dos paraísos terrestres---
 As figueiras gostam de se encostar ao muros e dar frescura ou frutos a quem junto a elas passa...
 Que as Fadas existem, dizem-nos as rosas na sua beleza inefável e tão subtil fragrância...
"Adivinha-me, vê-me, cheira-me, ama-me..." 
 Ameixieira bem sagrada, que bem merece pelo muito que ofereceu, de pouso de leitura e brincadeira, e de frutos, ser preservada como Árvore sagrada...
 Chuva de abrunhos violetas, tão belos, numa cor rara de ser usualmente assimilada pela nossa aura...

 Antigas prensas de vinhedos transformados no néctar que alegra e inspira...
 Tronco, qual carranca singrando no Oceano avermelhado das uvas espremidas.. 
 Verde parado
Um carvalho bem altaneiro
Um tipo de acácia...
 
 O calor forte do Verão e a hera que seca, os ciclos na vida que todos nós passamos....
Salgueiro
A nora já não canta a sua água fresca, a pressão das construções modernas esmigalhou o ribeiro e assim a roda da Vida deixou de a alimentar...
Tantas terras e quintas abandonadas, tantas matas incendiadas, tanto por fazer...
A verdura de uma árvore é sempre um convite a sentirmos e cultivarmos a esperança do crescimento e da frutificação
A brisa que faz cantar as folhas e a nossa alma intuitiva a soletrá-las poeticamente...
Na gruta natural que a amoreira e sabugueiro criaram para refrescar as almas na peregrinação da vida.
Meu coração, meu amor, minha fada, meu anjo, assim reza o deus Eco...
Um arbusto nipónico, qual cedro anão, muito sábio no seu modo de crescer em relação ao que o rodeia, levando-nos aos Descobrimentos sempre a poderem acontecer
 
A Mirabilis Jalapa, do Peru, que transplantada para o Ocidente mantém o seu ritmo e abre-se tão bela quão perfumadamente pela tarde...
 
E se estivéssemos mais conscientes das cores que a nossa aura está a ter a cada momento?
                                            Saber dar frutos com regularidade e perseverança
 O poço de comunicação com as profundezas e as águas do inconsciente. Quando olhares, vozes, pedras e objectos não acolheu? E o nosso poço vital e espiritual, enchemo-lo de água e derramamo-lo benignamente, harmoniosamente?
                   Harmonias das pedras humanas e das árvores ao divino, auras nossas que se expandem
 Diz-me, diz-me, se palpitas e queres voar comigo e transmutar-te no momento único, Ichi-go ichi-e?
Árvores com espíritos da Natureza, ou modeladas etericamente por eles
Espiralando com as energias telúricas ao Céu solar e divino me ergo...
 
 Na paz do fim dia, recolhe-te e contempla o pôr do sol, medita no sol do Espírito, abraça as árvores e os seres, desperta e sê mais integralmente...
Podas, lutas, feridas, asceses, mortes e renascimentos: preserva o jardim, sê o espírito imortal
 Digamos adeus ao temenos, ao espaço delimitado sagrado do jardim sempre encantando e onde o lobo e a dríade comungam as ligações da terra e do céu, que nós tanto, tanto, mais podemos realizar maravilhosamente, conscientemente, para o bem e harmonia do planeta e de todos os seus seres, sem guerras nem imperialismos mas na sabedoria, ecologia e fraternidade divina...
Apontamentos breves de uma visita a 18-VIII-2018. Nà zona do rio Ul.... Ultreya...
E uma flor vizinha, tão delicada e divina, para nos avizinharmos mais da Divindade e Sua presença subtil e bela, neste fim de comunhão:

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

A revista "Estudos Anterianos", de Vila do Conde, ou Antero de Quental no Oceano da Sabedoria Perene

 A revista Estudos Anterianos nasceu em Abril de 1998, do então formado Centro de Estudos Anterianos de Vila do Conde, apoiada pela Câmara Municipal de Vila de Conde, e viveu até 2005, enquanto durou tal apoio e centro, gerando 15 números em 12 belos tomos, em tiragens de quinhentos exemplares, não sendo pois fácil encontrarmos uma colecção completa. Como recentemente estive como uma das almas fundadoras e amorosamente redactoras, Ana Maria Almeida Martins, amiga anteriana de longa data, tive a graça de receber  uma colecção completa, pelo que vou dar conta da revista, ainda que numa primeira aproximação muito rápida e sumariamente, destacando apenas alguns artigos dos quinze números.
No nº 1, Abril de 1998, de 48 páginas, destacam-se dois textos de Eduardo Lourenço, um deles, a valiosa conferência de apresentação do centro e revista como «um lugar de vigília espiritual e intelectual que brilhe na noite de desatenção colectiva - se existe- da mesma luz, paixão e fogo que Antero ateou no Portugal sonâmbulo da sua geração, intitulada A Hora de Vila de Conde, na qual discerne muito bem várias facetas anterianas ou ainda as relações de Fernando Pessoa com o seu antecessor Antero de Quental, no «seu temperamento doentiamente dual, passando sem transição do voluntarismo épico ao desânimo sem fundo», embora talvez erre quando considera que Antero «propõe aos seus amigos uma utópica "ordem dos mateiros», «com a pose melancólica e irónica que lhe é natural», ou ainda que a sua «mais incurável das feridas» era «um sentimento absoluto de incerteza acerca da sua própria existência como existência com sentido num mundo e numa História», algo que, por exemplo, a carta de Wilhelm Storck parece desmentir, tal como a sua intervenção na Liga Patriótica do Norte; dois textos sobre cartas de Antero, por Rogério Fernandes e Ana Almeida Martins; de Guilherme Oliveira Martins, Em Vila do Conde com Antero e Joaquim Pedro, no qual narra a constituição do centro, o lançamento da revista, a conferência de Eduardo Lourenço, e como era a Vila de Conde de Antero e a actual;   por fim, a lúcida, original e corajosa apreciação de Gomes Leal às Odes Modernas, na sua segunda edição de 1875, onde afirma que «a poesia de Antero Quental é calma, forte, vagamente mística (e aqui está um abismo!) e toda ela mais de espírito da justiça que do da vingança». Fora publicada no jornal lisboeta Democracia, de 8 de Junho de 1875.
 No nº 2, de Outubro de 1998, de 52 páginas, destacam-se o artigo crítico de António Brás Teixeira, mais valorizador da escola da Filosofia Portuguesa, intitulado O Primeiro Estádio de Filosofia Anteriana; e de Brunelo de Cusatis, A Itália em Antero, Antero em Itália.
No nº 3, de Abril de 1999, de 90 páginas, destacam-se artigos de Rafael Gomes Filipe, Antero de Quental e Max Weber; de Filipa Paula Soares, Maria Alice Veiga e Maria de Lurdes Pereira, intitulado Antero e Unamuno. O início de um reencontro; de Afonso Praça, uma revisitação da visão queirosiana de Antero, intitulado Antero em Tormes, e um pioneiro estudo de ordem geral sobre O Espírito Indiano de Antero Quental, de Anil Samarth, extenso, com boa selecção das referências ao Budismo por Antero ou os seus companheiros, embora com algumas insuficiências na compreensão do misticismo anteriano e talvez excessiva valorização do Budismo, que tem de ser matizado pelo Helenismo, pelo Cristianismo místico e pelo Panpsiquismo. De realçar  uma breve comparação da aproximação semelhante à Morte por Antero e Tagore, talvez mais certa da sua «aura radiante» neste último sábio poeta indiano. Fátima Freitas Morna assina um bom texto sobre a pouco conhecida recensão de Alberto Teles Utra Machado ao Fiat Lux de Antero, «uma felicíssima inspiração sobre o primeiro momento da Terra», saída no nº 566 da Gazeta de Portugal, em 8-X-1864, lembrando-nos como Antero convidara Alberto Teles a ser o seu primeiro apresentador e editor, sob o pseudónimo de Sténio, dos Sonetos, na sua primeira e raríssima edição de 1861, que Antero não quisera posta à venda, abrindo-se porém já ao público nesta «poesia filosófica» e da qual a recensão de Utra Machado parece ser já uma peça da Questão Coimbrã como que já pressentida no horizonte. Oiçamo-lo (e, quem sabe, Antero) na advertência que ainda hoje, lamentavelmente, é tão actual:«não nos parece crível que haja ainda alguém que deixe a literatura profunda, que nos faz meditar e eleva o pensamento, pela chamada literatura amena, que mais parece brinco de criança que profissão de homens e lição dos povos. Não são as letras, de feito, para servirem de apetite aos ócios folgados de ninguém, mas sim para doutrinar com agrado, instruir com recreio, moralizar sem esforço, e tornar por fim os ódios e malquerenças das nações uma mútua simpatia e benevolência fraternal».
No nº 4, de Outubro de 1999, com 79 páginas, destacam-se a Musa de Antero ou Antero e Eros, de Eduardo Lourenço, texto muito rico de intertexualidades e comparativismos, e de tentativas infrutíferas de discernir os níveis, tipos e intensidades de Amor ou Eros que Antero vivenciou ou ficcionou, e  onde talvez exageradamente se considere que Antero  desde que «Deus, o referente da adoração suprema, Pai, Mistério, e chave do mistério. Quando o perdeu ou ele mesmo se disse a si mesmo que esse Deus lhe morrera (...) encontrou-se literalmente no Deserto donde nunca mais sairia»; A Música e a Arte Moderna. Relendo "O Futuro da Música" de Antero de Quental, de Marta Ferré Freitas Morna; Salomão Saragga e a Geração de 70, de Lúcia Liba Mucznik; Ramalho e a Dialéctica das Gerações, de A. M. Machado Pires e o Comentário a um Cotejo de Gaspar Simões sobre Antero de Quental e José Régio, por João Reis Pereira, onde, ao contrário de Gaspar Simões que as omite, se valorizam as realizações ou vivências políticas de Antero e de Régio.
Carta inédita de Antero a uma misteriosa Maria, de 30-VI-1891. A grafologia final, apressada e bem ondulada indicará...
 
No nº 5, de Abril de 2000, com 59 páginas, realçaremos Carta Inédita de Antero, por J. Furtado Coelho, dois meses e tal antes de partir da Terra física, açoriana, estando reproduzida em cima, mas que não nos parece, como admitem, dirigida a Maria Amália Vaz de Carvalho; Antero de Quental e Teófilo Braga. Um exercício comparativo, por Amadeu Carvalho Homem. Sobre o espólio de Joaquim de Araújo que ficou em Itália, um texto de Ana Maria Almeida Martins. E textos de Edgar Prestage sobre ele. Na secção final  Arquivo destaca-se a colaboração de Eduíno Jesus, Breves Reflexões sobre Antero de Quental e Charles Baudelaire, e o  pouco conhecido  poema acerca de Antero estudante por Fernando Leal, Boémia Espirituosa, publicado na revista Ocidente, de Julho de 1889, e que já li e gravei, comentando-o, estando neste blogue.
No nº 6, de Setembro de 2000  consagrado ao colóquio Eça de Queiroz e a geração de 70, de 64 páginas, destaca-se a transcrição em trinta e cinco páginas do valioso ensaio-crítica de Oliveira Martins sobre Os Poetas da Escola Nova, publicado na Revista Ocidental, 1º tomo de Fevereiro de 1875, no qual se analisam três obras, de Antero de Quental, Guilherme d'Azevedo e Guerra Junqueiro. 
 O nº 7 de Abril de 2001, de 83 páginas, contém a excelente reprodução e contextualização de um álbum juvenil de Antero, pela Ana Maria Almeida Martins, Antero Inédito do Álbum de Judite Quental; um poema de José Jorge Letria, biográfico de Antero, Como quem escreve Antero; de Ricardo de la Fuente Ballesteros, Unamuno y las letras portuguesas: dos suicidas (Antero Quental y Manuel laranjeira) y una carta.
O nº 8 de Outubro de 2001, de 79 páginas, contém um bom e extenso artigo de Alberto Machado Pires, Antero. O combate contra a tirania da mediocridade, focado sobretudo na sua acção na Questão Coimbrã e nas Conferências do Casino; de Georg Monteiro, Final poemas, final things in Antero de Quental and some others, onde transcreve muitos dos comentários a este poema e o que ele significaria no percurso e cosmovisão de Antero, sem ser conclusivo, o que certamente não é fácil. Destacam-se ainda artigos de Marina Tavares Dias  sobre João Lobo de Moura e de Eduíno de Jesus sobre Antero e os Açores.
Os nº 9/10, correspondendo a Abril-Novembro 2002, inclui as Actas do Colóquio Eça, Antero e a Geração de 70, num volume já de 192 páginas com várias colaborações, das quais destacaremos, das anterianas, a de Joaquim Fernando de Amorim Costa, O complexo de Ícaro da Geração de 70; de Onésimo Teotónio Almeida, De Eça ao projecto de modernidade de Antero; de Guilherme de Oliveira Martins, Fragmentos em torno de duas amizades, seleccionando acontecimentos e encontros significativos de 1888 a 1892, e o de Ana Maria Almeida Martins, o Milhafre e o Monge, Eça de Queiroz e Antero de Quental ou Antero de Quental e Eça Queiroz.
O nº 11/12 dos Estudos Anterianos, numa capa de vibrante vermelho, cobre o tempo de Abril a Outubro de 2003, contendo cento e dez páginas, destacando-se  contributos de, e acerca de, Thomas de Mello Breyner; de Ana Maria Almeida Martins, Antero de Quental: do Federalismo ibérico à «Revista Ocidental»; de Onésimo Teotónio Almeida, José Rodrigues Migueis, Antero e a crise chamada Portugal, onde é analisada a parte substancial de uma conferência inédita de Rodrigues Miguéis, de 1943; de Jerónimo Pizarro Jaramillo, Antero de Quental: Entre contradições e esquecimentos, onde analisa bem quanto a Antero a exagerada nosografia por Sousa Martins e as dualidades solar e lunar  por António Sérgio, observando ainda o rasto delas noutros comentadores. De interesse lateral a Antero, mas fazendo jus a um autor quase esquecido, de Magda Eugénio da Costa Carvalho, Verdade e Justiça no Reformismo positivista de Manuel de Arriaga. E o de Henrique Garcia Pereira, que não refere Antero, sobre o seu  adversário duelista na polémica Coimbrã, A Cidade e as Praias. Ramalho Ortigão, um escritor saudável e actual.
Gomes Leal, grande amigo de Antero e de Fernando Leal, um espiritualista e ousado panfletário.
 No nº 13/14 de Abril a Outubro de 2004, em 139 páginas, encontramos  A Ontologia Anteriana, por António Braz Teixeira; de Markus Lasch, Os sonetos de Antero, 19 traduções inéditas, transcritas, de Wilhelm Storck; de Margarida Vale de Castro, surge uma bom texto A Renovação Literária de 70 e a Poesia de Antero, sob a lente de Gomes Leal; e na secção final da revista, intitulada Arquivo, onde se foram publicando textos já dados à luz mas por vezes muito pouco conhecidos, oferecem-se-nos três textos desse  grande amigo de Antero, e ao qual lhe dedicou as vibrantes Odes Modernas, Germano Meireles, o infausto pai da Beatriz e da Albertina, as duas pupilas de Antero, bem apresentados por Ana Maria Almeida Martins.
 O nº 15/16, infelizmente o último da revista, que teve sempre como director Eduardo Lourenço, e nos membros da redacção Ana Maria Almeida Martins, sem dúvida as duas almas principais do projecto levado até este porto vilacondense de Abril-Outubro 2015, contém alguns textos ou reflexões valiosas dos quais destacaremos apenas os de Bruno Casatis, Ética e Filosofia Budista em Antero de Quental, um contributo para a ainda não resolvida questão da hierarquização das influências religiosas, filosóficas e espirituais exaradas e valorizadas nos seus textos e cartas; de Steffen Dix, Miguel de Unamuno e Antero de Quental: A indecisão trágica entre a religião e racionalidade e e as extensas transcrições das obras de Eduardo Maia - um esquecido da Geração de 70, sobre a Comuna e a Internacional Socialista, pela Manuela Rego, em setenta e quatro páginas das conto e cinquenta e duas da revista, que assim se finava nas belas praias e nortadas de Vila Conde, deixando-nos contudo um conjunto razoável de textos originais ou de arquivo, tal como ainda neste último número o bem íntimo e vibrante de Aristides da Mota, intitulado a "Vida Mortal" e a "Vida Imortal" de "Santo Antero", de 1921. 
Enviamos votos ou desejos para que nas suas vidas imortais Antero de Quental e os seus amigos possam estar "santificando-se" e santificando-nos ou impulsionando-nos cada vez mais ou melhor...
E, quem sabe, se a revista dos Estudos Anterianos poderá ressurgir  das cinzas, qual Fénix renascida...