domingo, 15 de outubro de 2023

Os "Sonetos" de Antero de Quental vistos por Fernando Leal, e a 1ª carta de Antero a Fernando Leal, oito anos antes. E o soneto Mors-Amor. Com gravação vídeo.

                                       
Fernando Leal (1846-1910), no final do seu livro Relâmpagos, Porto, 1888, numa das cinco Notas para o leitor francês, a dedicada a Antero, as outras sendo sobre Gomes Leal, João de Deus, Baudelaire e Byron,  Auguste Vacquerie,  escrevendo em francês e para os leitores franceses, exprime a sua tristeza por a poesia portuguesa ser pouco conhecida na Europa e oferece-se, se o Destino lhe permitir, traduzir poemas de João de Deus e de outros poetas vivos e mortos para uma Antologia, apresentando então em seguida, segundo a sua sensibilidade e visão,  o seu amigo Antero de Quental e os Sonetos

                                         
Gravamos o texto completo das duas páginas do livro Relâmpagos, traduzindo-as do francês, e agora transcrevemos apenas a parte inicial, bem valiosa, para o conhecimento de Antero de Quental e da sua obra já que vamos poder  ler ou ouvir um seu grande amigo e poeta, nascido na Índia e um dos poucos acolhidos por ele no seu retiro, de 1881 a 1891, em Vila de Conde: 

«Darei algumas traduções de um poeta fora de série, Antero de Quental, autor das Odes Modernas e de um livro de Sonetos. Este último livro, do qual se poderia dizer que foi sonhado numa montanha ideal, é de facto excepcional pelo poder de visão psíquica, pela perfeição serena, austera, sóbria, da ideia e da forma, pela resignação e a sinceridade, pela emoção dolorosa, pela inefável beleza e pela bondade suprema de que ele está impregnado.
Um dos melhores amigos do poeta, o eminen
te historiador Sr. Oliveira Martins, fez preceder o livro de um prefácio onde a obra e o autor são bastante bem estudados, ele bem mais do que ela. Os estrangeiros poderão de resto fazer uma ideia dos Sonetos de Antero de Quental, pela tradução alemã que acabou de publicar o professor Storck, tradutor das obras completas de Camões. Por outro lado, o crítico inglês Sr. Burton anunciou um estudo sobre os Sonetos e sobre o seu autor. Quanto a mim, no meu desespero de condensar em algumas linhas, (o que eu não saberia fazer mesmo em algumas páginas), a poesia e a filosofia deste livro complexo, que reflecte diversas fases do coração e da mente  [du coeur et de l'esprit] do poeta,  tento transmitir as impressões predominantes em mim dizendo que se revela ali frequentemente como um Job, sentado não sobre o monturo, mas sobre uma nuvem, e por vezes como um Bouddha, tremendo e fazendo-nos estremecer sobre o sopro desesperante do nosso fim do século...» (...) 

Fernando Leal em Velha Goa, no fim da sua vida na Terra.

Quanto à carta que oito anos antes, em 2 de Junho de 1880,  Antero de Quental endereçou da lisboeta rua da Fé nº 12 a Fernando Leal, agradecendo o livro Reflexos e Penumbras, que este lhe enviara, e que pelo teor mostra-nos que já lera algumas das suas traduções francesas, ei-la nas suas linhas mais valiosas para este artigo:

«Ex. Sr.
Incómodos graves de saúde, e em seguida uma viagem por eles motivada, me impediram de agradecer há mais tempo a V. Ex.ª o volume dos seus versos com que me brindou, e ainda mais as palavras, que, com mão sumamente benévola, traçou na primeira página. A leitura do livro, revelando-me um bom e nobre espírito, tornou para mim aquelas palavras, de gratas, preciosas. Há por todo ele, um perfume de boa vontade - no sentido evangélico da expressão - e de elevação moral, que me encantou. A alma é e será sempre a essência das boas letras. Por este motivo, e ainda por outros secundários, prefiro no seu livro a parte original às traduções. Victor Hugo é, quanto a mim, pouco menos de intraduzível, não tanto pela originalidade do pensamento, como pela singularidade e não se se diga excentricidade da forma. Entretanto, é certo que V. Ex.ª, dadas as enormes dificuldades do cometimento, fez muito, e por vezes conseguiu naturalidade da expressão, que é pedra-de-toque.» (...)

Oiçamos então Fernando Leal sobre Antero e traduzido por mim do francês, e Antero de Quental com a leitura final do seu soneto Mors-Amor na tradução em francês de Fernando Leal, inserida que estava no mesmo livro Relâmpagos. Tela de fundo, Antero, por Maria de Fátima Silva, a quem agradecemos.

                               

sábado, 14 de outubro de 2023

Acerca da arte de sonhar. Breve ensaio. A aprofundar, cada noite...

 Os sonhos, diz-se, "valem o que valem", ou seja, cada um dar-lhes-á o valor que quiser ou que poder, já que não sendo claros e antes rápidos ou fugazes e frequentemente estranhos e misteriosos, as suas causas e significados escapam quase sempre a quem os vivencia ou  os tenta interpretar posteriormente, dada a multidimensionalidade em que são causados, ocorrem ou se situam, embora alguns deles possam ser bastante claros nos actos e ambientes, ou mesmo configurarem-se como encontros com outros seres geradores de actos, palavras, informações ou  diálogos compreensíveis e instrutivos, em ambientes ora normais  ora mais invulgares, aumentando o seu impacto em nós e portanto o valor que lhes poderemos dar.

Os sonhos com encontros dialogantes são na realidade os que mais podem substanciar a hipótese de o sonhar não ser apenas uma actividade individual (seja cerebral seja anímica) mas resultarem de encontros ou interações entre formas de pensamento diferentes ou mesmo de mentes diferentes, ou seja, serem sonhos compartilhados por pessoas que por certos motivos conseguem psiquicamente relacionarem-se entre si nos níveis subtis ou internos em que ocorrem esses encontros energéticos que se condensam nas imagens dos sonhos, ainda que na maioria das vezes apenas uma pessoa  sonha com a outra ou se lembra desse interagir subtil, que certamente muitas vezes também se passa apenas na memória associativa e dinâmica de uma das pessoas, que pacatamente dorme no seu corpo, sem de modo algum haver qualquer indício que sugira a sua alma ter saído, viajado ou mesmo se relacionado apenas telepaticamente com a outra...


Os sonhos valem pelo seu valor intrínseco, seja reordenador de memórias e harmonizador de emoções, seja catártico, seja criativo e  pelo que nós, de algum modo, conseguimos merecer ou receber da sua vivência e interpretação em termos de harmonização e clarificação interior. Este valor abrange ainda o que nós discernimos, o que pomos neles, seja semiconscientemente enquanto os sonhamos, já que não sabemos ainda muito da organização da memória dos sonhos e das causalidades que lhes estão inerentes, seja já conscientemente no momento de acordarmos quando ocorrido o sonho se despoleta uma possível interpretação-razão-mensagem, seja depois ao tentarmos compreendê-la e equacioná-la, uns gravando, outros escrevendo, outros refletindo-o ou meditando-o.

É pena  que na valorização e compreensão dos sonhos seja ainda pequeno o contributo da memória comparativa dos sonhos vivenciados ao longo da vida  pois tal memória está quase ausente ou muito pouco conservada ou apurada na maioria das pessoas, embora se saiba já laboratorialmente  que o hipotálamo desempenha um papel preponderante nessa conservação de memórias cerebralmente,  mas animicamente, no corpo subtil espiritual, sabe-se muito pouco...

                                                      Hipófise e Hipotálamo: o que são, localização e para que servem - Sanar  Medicina

Se perguntarmos: como está a sua memória dos sonhos. as pessoas fecham os olhos, fazem algumas interrogações sobre eles, e descobrem que há uma leve memória ordenada, arrumada, catalogada ou recuperável, seja pelas pessoas com que se sonhou, seja pela importância sentida quanto aos sonhos serem transmissores de informações novas, valiosas, invulgares ou suprafísicas, seja pela temática, seja eventualmente pela presença maior de um dos cinco elementos da Natureza, a água, a terra, o vento, o fogo, o éter, ou mesmo influências planetárias, daí algumas espécies de teatros ou anfiteatros de memória que desde o Renascimento se desenharam e especularam...

                                                   Représentation du Théâtre de la Mémoire @Anonyme | Download Scientific  Diagram

Quando acordamos ou pouco depois, podemos não ter guardado no consciente qualquer aspecto dos sonhos e embora saibamos que tenhamos sonhado de nada nos conseguimos lembrar. Mas por vezes há algumas vibrações ou linhas de força que estão ainda palpitantes na memória de curto prazo onírica, e então pode-se fazer um esforço para nos lembrarmos dele. Por vezes a resposta vem e por certas linhas de recuperação ou associação: caras, faces invulgares ou ligação delas com os 5 ou 7 elementos e de repente recuperado uma pessoa e a sua face, o novelo desenrola-se e o sonho perdido é encontrado, recuperado, parcialmente certamente.

Deveríamos nós regularmente cultivar mais uma observação ou anamnese deles? Talvez, pois provavelmente fortificam-se capacidades psíquicas, sobretudo se consideramos que certos sonhos visam fortificar a nossa alma (pensamentos e sentimentos), bem como clarificar e dar novas impulsões na personalidade, e também porque se estimularão reaberturas e religações  com os mundos subtis e espirituais, se tal fora o teor do sonho...

Como cerca de 1/3 ou 1/4 da vida passa-se a dormir e sempre que dormimos sonhamos, mesmo que tal vivência psíquica não se conserve bem  na consciência de vigília, ou pouco se consiga interpretar, há pois que reconhecer múltiplas razões psico-somáticas para diariamente eles acontecerem e portanto valorizarmos tais fenómenos, que aliás sempre geraram muitos adivinhadores dos seus sentidos, tanto mais que em todas as tradições e religiões alguns sonhos foram considerados ou reconhecidos como meios de seres espirituais ou mesmo a Divindade comunicar com os humanos ou, se quisermos, de estes acederem a tais níveis mais suprafísicos.

Mas é difícil conseguir discernir o que é mera reordenação de conteúdos recebidos, ou simples imaginação, com seus desejos ou receios, e que, não provindo do córtex frontal que está inactivado, nascerá mesmo de uma interacção nos planos da alma com outros seres, ou com  núcleos de ideias-forças planetárias (o tal inconsciente colectivo de Carl G. Jung), ou níveis superiores celestiais, gerando imagens e conteúdos oníricos por vezes bastante originais ou mesmo sublimes, se a nossa alma consegue sintonizar ou entrar neles.

Quanto aos influxos da Divindade certamente devemos ser modestos e admitir mais em geral e quanto muito a intervenção de espíritos não incarnados ou mesmo seres angélicos no que se nos afigura de intuitivo, tão belo ou divino, embora certamente a Divindade seja a fonte primordial do Bem, do Belo, do Verdadeiro e dos muito mais atributos que conseguimos conceptualizar, discernir e receber do oceano da sua Luz Sábia e Amorosa e que de algum modo estão potenciais na nossa dimensão espiritual mais profunda e elevada ou reflectidos nos planos subtis a que temos acesso...

                                     

Acerca dos dicionários de sonhos, ou livros sobre os sonhos,  que há aos milhares e milhões, certamente  podem conter  aspectos ou informações que melhoram tanto a nossa capacidade de compreender os sonhos, de talharmos o ego e melhorarmos, como até de sonharmos melhor e mais compreensivelmente, embora na realidade cada sonhador é único, e cada sonho é também único (ainda que se possa repetir) na sua contextualização causal e consequencial.

                                      

Único e imprevisível, pois quando adormecemos nunca sabemos em que iremos sonhar, embora se tivessem inventado receitas ou métodos que pretensamente fariam sonhar naquela pessoa, questão ou lugar, ou então mais lúcida e voluntariamente, pois sempre se acreditou que a vontade, a fé, a esperança, o amor e certos exercícios afectam a alma, as capacidades psíquicas e logo os sonhos e a nossa capacidade de  atrairmos, influenciarmos ou dirigirmo-los, o que de certo modo é verdade, mas não com a simplicidade do quero e obtenho, aplicado mais até nos sonhos denominados lúcidos ou conscientes.

Na realidade somos todos simultanemaente realizadores e espectadores de cinema com os conteúdos dos sonhos e das associações de memórias, expectativas ou mesmo encontros que os podem causar, embora estejamos em geral bastante inconscientes da causalidade de tais cenas imprevisíveis  projectadas na nossa consciência onírica. Todavia, o objectivo da auto-conservação ou sobrevivência deve ser o básico, ora apenas reordenando ou revivenciando impressões psico-sensoriais, apreensões e desejos, ora formulando indicações ou gerando antevisões para que nos vamos preparando ou fortalecendo.

Face a sonhos desagradáveis, tais os pesadelos (por vezes decorrentes de mal estar do corpo), e em que somos forçados e oprimidos, para além de devermos discernir se não estaremos a oprimir ou reprimir certos sectores do nosso ser e de que não estamos bem conscientes, também podemos ser vítimas de ataques de forças psíquicas, nem que seja pelo facto de também sermos  espectadores  enquanto  sofremos do que outros directores mais ou menos conscientes sonham e nos causam. 

Por vezes nesses sonhos mais difíceis, se por vezes há confronto directo com alguém já noutros há uma interaçção de múltiplos factores, e até seres, na nossa mente-alma e na qual imagens de memórias e associações, nossas e de outros no inconsciente colectivo e também no campo unificado de energia e informação em que mergulhamos e astralmente vivenciamos, são percepcionados subjectivamente por  nós numa interatividade inteligente e plurifuncional anímica, pois tanto escoam pela vivência o que devia sair, como fazem-nos desenvolver mais vontade superadora de tais ataques e geram um renascimento,  novas sensações, informação, compreensão e sabedoria. 

E tal enriquecimento acontece também em diálogos gestuais, mentais e vocais valiosos com outras pessoas, conhecidas ou desconhecidas e que nos surgem no mundo dos sonhos, com toda a naturalidade. E se algumas dessas pessoas conhecemos mesmo da realidade física, podemos lamentar-nos que não surjam com a repetibilidade ou assiduidade que gostaríamos como confirmação de uma amizade que continua dialogante ou apoiante no mundo subtil dos sonhos...

                                          

Para finalizar esta breve incursão às possibilidades e potencialidades do mundo onírico, refira-se a oração-meditação, e a contemplação, antes de adormecermos, por serem importantes quanto aos sonhos, como intensificadora seja da nossa elevação seja da claridade deles, seja da preservação da memória deles. seja ainda para sermos mais nós próprios seres espirituais os realizadores cinematográficos dos sonhos,

Daí que  em certas escolas iniciáticas, começando na pitagórica, se tenha recomendado ao deitar uma rememorização do que se fez no dia, para que assim a alma tenha mais integrados os conflitos,  informações, emoções, impactos e possa portanto mergulhar numa psique relativamente mais ordenada, e logo tanto compreender as profundidades como elevar-se  a  níveis mais luminosos e elevados do cosmos subtil a que se pode ter acesso pela aspiração, a sensação, as visões e os sonhos. 

Bons sonhos, bons acessos a planos e seres luminosos, e sábios e harmoniosos recomeçar dos dias!

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Homenagem a Nicholai Roerich no 149º aniversário. Breve biografia. E vídeo dum texto seu sobre o Belo

                                                        

Nicholas Roerich, nascido em 9 de Outubro de 1874 em S. Petersburgo, na santa Rússia, foi um notável ou mesmo genial pintor, arqueólogo, curador de arte, explorador e viajante, professor, orientalista, ensaísta e mestre espiritual. Formou-se de 1893 a 1898 na Academia Imperial de Arte, mas frequentou também estudos de Filologia e História na Universidade de S. Petersbourg, a Faculdade de Direito e o Instituto de Arqueologia, tendo viajado ainda para melhorar os seus estudos. Como grande amante do passado e da sua preservação, de 1904 a 1905 peregrinará por 40 cidades e vilas russas e desenhará uma série grande de monumentos antigos. Será director da Escola de Desenho da Sociedade Imperial para o Encorajamento das Artes de 1906 a 1917, expondo já na Europa. Com a revolução de Outubro de 1917 desilude-se do rumo do partido bolchevique e em particular de Lenine, embora participando ainda com Máximo Gorki na União das Artes, e como já vivia na fronteira da Finlândia por problemas de saúde circunstanciais, emigra para ela, partindo uns meses depois em 1919 para Inglaterra, onde entra em contacto com os meios teosóficos e espiritualistas. 

Pintura histórica, de 1911: a batalha de Kerzeneths.

 Em 1920 parte para os USA e obtém um bom reconhecimento, com as suas pinturas a serem expostas em várias cidades e criando o Master Institute of United Arts, o Corona Mundi International Art Center (dirigido pelo seu filho Svetoslav) e o Roerich Museum, na sua fase inicial, em Nova Iorque. Todavia, cada vez mais entusiasmado com a nova Era que se anunciava nos meios espiritualistas e que a sua mulher Helena particular e intimamente sentia, e da qual já estavam a transmitir o ensinamento do Agni Yoga, que um mestre famoso, um dos mahatmas dos meios teosóficos, Morya, lhes estaria a transmitir, partem para a Índia em Dezembro de 1923. 

Helena Roerich, inspirando-se com o mestre Morya.

Casara-se com Helena Roerich (n.1879) em 1901, após se terem encontrado em 1899, num local assinalado hoje com uma placa com o belo dito de Nicholai Roerich: «Encontrei Lada, a minha parceira e inspiradora, em Bologoye, nas terras do príncipe P. A. Putyatin. Alegria!» Desse grande amor, que durou a vida toda,  geraram muitas obras e dois filhos, George (1902-1960), que será um orientalista, conhecedor do tibetano, e Svetoslav (1904-1993, Índia), pintor, casado com uma actriz indiana, Ranika Devi, e com quem ainda me correspondi quando estive na Índia, conservando ainda hoje as duas cartas que me enviou.

Nicholai e Helena, George e Svetoslav.

 Pouco depois de chegados à Índia, o casal com os filhos parte para a fabulosa expedição à Ásia Central, de 1924 a 1928, com algum apoio do governo russo, atravessando o Sikim, Cachemira, Altai, Mongólia, Gobi, Tibet, Sibéria, Moscovo e bem relatada no seus valiosos diários, onde relata as peripécias e diálogos,  e realiza ainda dezenas de maravilhosas pinturas. 

É após esta expedição que se estabilizará em Naggar, Kulu Vally, junto aos Himalaias, onde viverá com a família de 1929 a 1947 numa bela casa, com vista maravilhosa para os Himalaias, a cerca de 1700 metros de altitude e onde criam o Instituto Himalaico de Investigação Urusvati, que reunirá nomes importantes e publicará uma revista e algumas publicações. Todavia, o sonho de uma grande comunidade e de um movimento de impacto mundial que sorria aos dois, como os ninhos de águia nas montanhas nunca atraem muita gente, gorar-se-á. Ficarão, além das influência directas e pessoais que exerceram, mais de sete mil pinturas, livros de ambos, entre os quais os da série ou ensinamento Agni Yoga (que teria sido transmitido pelo mestre Morya a Helena) e dois volumes de cartas que Helena Roerich escrevera com grande sabedoria ou mestria para cerca de 140 correspondentes. E após a morte de ambos milhares de documentos e objectos valiosos, preservados em institutos e museus, que alimentarão certamente por muitos anos investigadores e amantes do ensinamentos psico-espirituais bem avançados do casal Roerich, destacando-se Boris Nikolaevich Abramov (1897-1972), com os seus vinte e cinco volumes As Facetas de Agni Yoga, e muitos outros investigadores e grupos bastante activos, até na rede social russa Vk.com, que recomendo. Foram sem dúvida pioneiros e a circulação das pessoas e das informações na época não tinha a fluidez que precisariam para realizarem mais as suas aspirações da era de Maitreya e do ensinamento da Ética viva, o que se está a passar agora, com alguns destacando o papel de liderança mundial da Rússia na senda duma nova Era, finalmente, a multipolar.

Hagia Sophia, a Santa Sabedoria, protegendo as cidades e monumentos. Oração muito actual.

Nicholai Roerich no jardim da sua casa e centro cultural-espiritual, em Naggar, junto à estátua da deusa Gugi Chauan, poderosa, shaktica, onde eu meditei algumas vezes...

Viajou ainda pela Ásia Central, em 1935, numa 2ª grande expedição, esta à Mongólia, Manchúria e deserto do Gobi, paga pelo governo norte-americano, graças a um amigo, secretário de Estado de Agricultura, Henry Wallace, com fins botânicos de recolher plantas contra a erosão dos solos.  De ambas as expedições nasceram valiosos diários de viagem, ensaios e estudos científicos que mostram bem a sua comunhão profunda com a Mãe Terra, os cinco elementos, as montanhas, e as populações locais com as suas tradições e conhecimentos. Ao longo de toda a  sua vida colaborou em numerosas revistas e jornais  com artigos de grande qualidade, mais entusiásticos e optimistas, por vezes, mas sempre plenos ou mesmo flamejantes de conhecimento, sabedoria e ética viva.

Uma iniciação na abóbada dos Himalaias, santa Uma-Himavat...
Em 1935  Nicholai Roerich estará em Nova Iorque para assinar com o presidente Roosevelt e outros chefes de Estado o Pacto Roerich, também denominado Bandeira da Paz, um tratado para a protecção das  instituições científicas e artísticas e do monumentos históricos, que vinte e dois países das Américas assinaram e anos mais tarde trinta e cinco ratificaram.

                                       

 Aquando da II grande Guerra, no começo, a 2 de fevereiro de 1939, escreve numa carta ao seu amigo Pavel Fedorovich Belikov,  um dos seus  futuros biógrafos: "Aqui estou eu, a escrever-lhe esta carta num tempo de dificílimas complicações do mundo. Agora, é até estranho falar de paz, mas apesar de tudo, nós ainda pronunciamos esta palavra sagrada. Pronunciamos também a palavra defesa da Pátria. Ficaremos horrorizados com todas as agressões e compreenderemos plenamente o sentido profundo da defesa da Pátria."

                                                   

           Uma das obras pintadas aquando da II grande Guerra, evocando os heróis antigos da Rússia, já que Nicholai Roerich enalteceu muito a defesa da Mátria-Pátria.

Deixou muitos textos e obras literárias, artísticas, científicas e de espiritualidade, sendo mais de sete mil as suas tão harmonizadoras e inspiradoras pinturas, várias como murais ou mosaicos, muitas para cenários de óperas de Wagner, Moussorgsky, Borodin, Rimsky-Korsakov e Maeterlink, ou bailados, tal a famosa Sagração da Primavera, e muitíssimas do Altai e dos Himalaias e de temas heróicos, lendários e religiosos da Rússia, do Cristianismo e ainda da Índia e Tibete. 

Chintamani, a misteriosa pedra preciosa da sabedoria e realização himalaica e que se diz ter sido Nicholai Roerich um portador dela.

Foi membro de cerca de quarenta de Academias em todo o mundo e reconhecido, admirado e amado por muitos grandes seres (como por exemplo o sábio Claude Bragdon) que testemunharam por diversos modos o seu apreço, considerando-o, na sua afabilidade e compaixão, discernimento e sabedoria, coragem e universalismo, ao nível de um Tolstoi, dum Gandhi, dum Romain Rolland, dum Rabindranath Tagore, em suma, um verdadeiro rishi - o sábio vidente dos Vedas - nos tempos modernos. 

Nicholai Roerich no seu centro e ashram de Naggar, junto a Gugi Chauan, e com o seu barrete tradicional himalaico.

O grande rishi bengali, o kavi yogi, poeta yogui, Rabindranath Tagore elogiou-o assim: «As suas pinturas tocam-me profundamente. Fizeram-me realizar que a Verdade é infinita. Quando tentei encontrar palavras para descrever a mim próprio quais eram as ideias que as suas pinturas sugeriam, não consegui. Era porque a linguagem das palavras  só pode exprimir um aspecto particular da Verdade (...) Quando uma arte pode ser expressa (ou explicada) completamente por uma outra então é um fracasso. As suas pinturas são distintas mas contudo indefiníveis pelas palavras - a sua arte é ciente de independência porque é grandiosa».

Eu ainda peregrinei à sua casa e centro em Naggar, com grande vista para os Himalaias ao longe mas perto, por duas vezes, contemplando demoradamente os seus maravilhosos quadros e desenhando-nos num caderno diário e dando-lhe os meus títulos. E meditando bem no seu mahasamadhi ou local onde se encontram os seus restos mortais, já que espiritualmente é um mestre cósmico...
Duas pinturas, pelo menos, de Nicholai Roerich encontram-se em Portugal, uma delas no museu Machado de Castro, talvez porque fora eleito membro da Academia de Coimbra, a esta hora certamente menosprezada nas reservas e logo não irradiante para o público, no habitual sintoma da ignorância, desvalorização ou limitação espiritual de alguns dos nossos responsáveis artísticos, culturais e políticos.
  A vida e obra de Nicholai Roerich foram  divulgadas em Portugal ainda em vida dele, nos anos quarenta, por Raul Fontes, com um livro, e o crítico de arte suíço Émile Schaub-Koch, com um opúsculo. Já os ensinamentos do Agni Yoga do casal Roerich começaram a chegar a Portugal no final dos anos 70, via publicações da Fundação Educacional e Editorial Universalista  FEEU,
brasileira, na altura dirigida por Treiger, sendo distribuídos em Lisboa pelo irmão Manuel Lourenço no seu ramo na Sociedade Teosófica. Entretanto com o meu irmão Luís, quando viviamos na quinta do Gilde em S. Torcato, realizamos em 1978 uma exposição em Guimarães, na livraria galeria Orpheu, e outra na cooperativa Pirâmide no Porto, sobre os movimentos espirituais e a Era de Aquário, que incluíam Nicholai Roerich, Bô Yin Râ, Paramahamsa Yogananda, Teillard Chardin e Aurobindo e o seu sonho de Auroville. No começo dos anos 80 ensinei, com mais regularidade em Évora, Covilhã, no restaurante Suribachi no Porto, e Lisboa, uma síntese de Agni Raj Yoga, divulgando e partilhando ainda os livros e alguns ensinamentos, a par de outros mestres, em páginas avulsas, conforme a da imagem.

Anote-se finalmente que hoje 9-X-2023, dia do seu aniversário, gravei em três partes a tradução do francês, levemente comentada, dum seu inspirador texto, intitulado O Belo, que pode ouvir e ver no meu canal no youtube, a 1ª sendo:   https://youtu.be/YefJSwxDYfk                  

Jesus sentado, desenha para o mestre Morya os fundamentos do ensinamento e do caminho espiritual, como relata num dos livros do Agni Yoga: pelas mãos e os pés se entra no Templo.

   Leiamos ou oiçamos Nicholai Roerich numa das suas linhas de força com que muito se entusiasmou, talvez enganando-se um pouco na iminência de uma nova Era espiritual, ou mesmo da vinda de Maitreya, o novo Budha esperado: 

Krishna tocando a sua flauta em Naggar. Roerich pensava que ele ali passara.

"Himalaias! Aqui é a abobada dos Rishis (sábios-videntes védicos). Aqui ressoou a flauta sagrada de Krishna. Aqui relampejou o abençoado Gautama Buddha. Aqui se originaram todos os Vedas. Aqui viveram os Pandavas. Aqui — Gesar Khan. Aqui — Aryavarta. Aqui está Shambhala. Himalaias — joia da Índia. Himalaias — tesouro do mundo. Himalaias — símbolo sagrado da Ascensão... O ser humano deve dedicar-se inteiramente ao labor criativo. Aqueles que trabalham com Shambhala, os iniciados e mensageiros de Shambhala não se sentam reclusos — eles viajam por toda a parte".

Como notável pedagogo, ou mesmo mestre espiritual, fiquemos ainda com uma pensamento seu valioso: «Educar não significa dar um conjunto de informações técnicas. A educação é formar uma consciência do mundo e tal é atingido por uma síntese, não de desastres mas de perfeição e criatividade. O verdadeiro conhecimento é alcançado por acumulações internas, pela coragem de se ousar...»

Pintura de Nicholai Roerich, no seu jardim em Naggar, Índia, junto à estátua da devi himalaica Gugi Choan, realizada pelo seu filho Svetoslav.

    Muita luz e amor para esta família tão fabulosa e que não tendo descendência física actual contudo deixou-a imensa, quase infinita, artística, cultural e espiritualmente. Muita luz e amor neles e que nos inspirem!

domingo, 8 de outubro de 2023

Da constelação da Virgem, dos Anjos femininos, Daena, Houris, o sexo dos Anjos e a inefabilidade deles.

Nas gravuras, por vezes coloridas, dos Atlas antigos com as constelações dos Céus, as representações de Anjos, mais especificamente no signo da Virgem, surgiram por vezes com grande beleza e logo capacidade de nos inspirarem. Tentemos contemplá-las mais demoradamente e logo apontar-lhes o telescópio do olho espiritual. Assim talvez em algumas noites as e os vejamos nos céus estrelados, exteriores e interiores....
                                      
Eis uma, proveniente do Urania Mirror, o Espelho de Urânia, realizado por Richard Rouse Bloxam para publicação num baralho de cartas por Samuel Leigh of the Strand, em Londres, em 1824.
Outra gravura da constelação Virgem também bela:
De John Flamsteed, circa 1723, para o Atlas Coelestis
Estas representações angélicas femininas agradavam facilmente pois, embora figurando simplesmente a constelação da Virgem, com atributos ligados a Gaia e ao tempo das colheitas ou, quem sabe, a Perséfone com a espiga de trigo dos mistérios de Eleusis, e ao representarem-na feminina e com asas, estabeleciam uma ponte com o mundo angélico e compensavam o excesso de representações masculinas dos Anjos. Todavia, mesmo em alguns Atlas, a constelação da Virgem podia aparecer como masculina, qual Arcanjo: 
 Ora os Anjos são contudo basicamente seres espirituais e de certo modo acima da polarização sexual, assexuados (se é que esta designação lhes é aceitável) e, numa visão ainda dualista, logo algo andróginos, masculinos e femininos,  voluntariamente podendo escolher o aspecto com que se querem manifestar, embora na história do Cristianismo sejam sempre anjos homens, e apenas em alguns artistas podemos ver tais espíritos celestiais representados enquanto seres femininos. 
E contudo nas religiões antigas houve anjos femininos bem importantes, nomeadamente na Persa ou Iraniana, pois cada ser humano tinha a sua daena, que o recebia na ponte ou transição para o além e que se mostrava bela ou terrível conforme a vida e actos. No seu nível mais elevado Daena era a Ordem justa e harmoniosa.
                                                                 
         Uma representação, nos Sogdian, da Daēnā, do séc. X, nas ricas grutas Mogao, China.
Na Babilónia cada pessoa tinha um génio bom masculino Udug, que avançava à sua frente, e um feminino, Lama, que está ou ia atrás dela. Também na Grécia houve várias entidades adoradas como deusas e que eram de certo modo seres angélicos femininos, tais Sophrosine, Nike, Nemesis, e dos deuses e deusas alguns eram bem próximos dos Anjos, tal o Hermes das asas nos pés e no elmo (um pré-S. Miguel), para além do daimon ou agathos interior de cada ser, dado no nascimento e que o acompanhava e inspirava, como foi o caso de Sócrates, tão citado e estudado por Plutarco, Apuleio, Porfírio e outros sábios da Antiguidade, daimons segundo Platão, no Banquete, considerados por Diotima, a mestra, no diálogo, de Sócrates, como mensageiros que religam os seres humanos, e as suas necessidades e merecimentos,  aos planos ou níveis da Divindade.
Eugéne Delacroix. 1838. Na biblioteca do palácio Bourbon, Paris
Também no Islão, a houris do Paraíso celestial, prometida aos crentes num entendimento literal, sendo seres femininos, na realidade das suras do Alcorão são apenas seres belos, puros ou virgens, dados como companheiros aos que se portaram bem na vida,  e logo necessariamente não só a homens,  havendo portanto tanto houris femininas como masculinos, entendimento nos nossos dias crescente entre os teólogos islâmicos às voltas com a hermenêutica corânica para o séc. XXI. Certamente que o sentido real  da promessa é as pessoas justas encontrarem no além seres afins com quem podem estar em amor e que terão nisso prazer que compensa os duros mas fugazes anos de esforços e sofrimentos na Terra. Mas anote-se que  aos Anjos propriamente ditos o Corão e a teologia posterior atribuem-lhes 2, 3 ou 4 asas e que, conforme os planos ou níveis do universo, os anjos surgem como homens, crianças, houris e com formas de animais, variando o número que cada ser tem ou pode ter à sua volta.
As Houris no Paraíso, segundo Muhammad Rafi Khân, mss de 1808, do Cachemira.
A famosa expressão perder o tempo a "discutir o sexo dos Anjos", que  face a desafios prementes é correcta,   tem também servido para desvalorizar o que por vezes não é assim tanto bizarria ou bizantinice, apesar das centenas de anos que foram passando desde a formulação de tal expressão permanece ainda hoje qual esfinge pela subtileza do mundo angélico, apesar de haver  tanta superficialidade de livros e instruções sobre os espíritos celestiais, da qual a maior é a tabela do nome dos Anjos para cada dia do ano que alguns autores de moda ou sucesso teimam em enfiar como uma carapuça na cabecinha de muita alma crente e ingénua, entre os quais se destacaram Haziel, e outros autores e autoras, nacionais e estrangeiros, e que  tiveram no século XIX, nos considerados grandes ocultistas e cabalistas, muito mistificadores, como Lazare Lenin, Eliphas Levi e Papus, os seus antecessores... 
Na doutrina angélica mais assumida da Igreja, a contida na Suma Teológica de S. Tomás de Aquino, e que se apresenta contrária às de Orígenes, S. Bernardo e vários Franciscanos, os Anjos são entidades intelectuais, incorpóreas e imateriais, e que apenas  podem assumir ou tomar emprestado corpos materiais e visíveis (ainda que não sendo contidos neles), concessão esta de S. Tomás de Aquino que permite explicar as pretensas visões ou aparecimentos físicos de seres angélicos na Bíblia. Mas para ele não há corporalidade nem sexualidade nem amor natural no Anjo, apenas amor intelectual, caridade, piedade.
Para conhecer o seu Anjo cada pessoa tem de o invocar em actos e práticas religiosas e espirituais e logo podê-lo merecer sentir e até ver, seja quanto a pessoa entra na sua interioridade meditativa mais profunda ou perseverada e  ele se manifesta, seja ainda ao perseverar na ligação a ele, e assim poder receber intuições, sinais e mensagens ao acordar, ao caminhar, ao contemplar, mas sempre numa subtileza e quase inefabilidade que se coaduna bem com o elevado estado angélico de consciência e de ligação à Divindade....

sábado, 7 de outubro de 2023

Bô Yin Râ, a montanha sagrada de Himavat e o santo Graal... Bô Yin Râ, der heilige berg von Himavat und der heilige Gral.

 Bô Yin Râ,  talvez no mais importante dos seus livros,  Mundos, no qual o texto descreve ou acompanha as pinturas clarividentes da evolução do Cosmos e do caminho espiritual humano, na última pintura  representa a subtil e mítica montanha sagrada do Himavat, a morada do santo Graal na Terra, e escreve então  acerca do ser humano que já se unificou psiquicamente e que ligado ao mestre avançou ao máximo no caminho da religação à Fonte Divina, que

 «Contudo  o vencedor não se deve relaxar, se ele quer conservar o fruto da vitória. -

 Muito acima de onde ele está, o seu olhar encontra agora   uma cordilheira muito mais alta, perenemente coberta de neve branca.

 O tesouro escondido do Eterno nesta terra  desvenda-se ao seu olhar espiritual...

 Ele sente: - que o pico distante lá no branco puro  sob um céu dourado - - é "HIMAVAT", a montanha daqueles seres únicos na Terra consagrados pela própria Luz Primordial!

 Ali está o arquétipo ou imagem primordial do Templo e da sua hoste de guardiães, lá está a permanente realidade  acerca da qual fala, numa forma possível de compreensão pelos homens, a saga   religiosa do "santo Graal".» -----

Nestes tempos de lutas e mudanças, para uma Humanidade multipolar, esforcemo-nos, com perseverança, no caminho espiritual interno de modo a que, com as bênçãos dos mestres e espíritos celestiais,  possamos merecer (gratos) a contemplação ocasional da montanha sagrada de Himavat, mesmo que de muito longe, ou o mistério do santo Graal. ***

Bô Yin Râ beschreibt in seinem vielleicht wichtigsten buch Welten, in dem der text die hellsichtigen gemälde der entwicklung des Kosmos und des spirituellen Weges des Menschen beschreibt oder begleitet, im letzten gemälde den subtilen und mythischen heiligen berg Himavat, den sitz des heiligen Grals auf der Erde, und schreibt dann über den Menschen, der sich bereits seelisch vereinigt hat und der in verbindung mit dem Meister auf dem Weg der Wiederverbindung mit der Göttlichen Quelle bis zum maximum vorgedrungen ist, der: 

«Doch für den Sieger gibt es kein Verweilen, will er die Frucht des Sieges bergen. -

Hoch über seinem Standort findet nun sein Blick ein weitaus höher ragendes Gebirge, ewig mit strahlenweißem Schnee bedeckt. 

Der Hort des Ewigen auf dieser Erde hat seinem Geistesauge sich gezeigt… 

Er fühlt: - der ferne Gipfel dort im reinen Weiß vor golddurchglühtem Himmel - -  ist "HIMAVAT", der Berg der Einzigen auf dieser Erde, die das Urlicht selbst zu Priesterkönigen sich weihte! 

Dort ist das Urbild jenes Tempels und seiner Hüterschar, dort ist die stete Wirklichkeit, von der die Sage fromme Kunde geben wollte, die Menschen einst in Formen, die sie fassen konnten, sprach: vom "heiligen Gral".» - - - - -

 In diesen zeiten des kampfes und des wandels, für eine multipolare Menschheit, bemühen wir uns mit ausdauer auf dem inneren spirituellen Weg, damit wir, mit dem segen der Meister und der himmlischen Geister, dankbar die gelegentliche betrachtung des heiligen berges von Himavat, wenn auch aus der ferne, oder das geheimnis des heiligen Grals verdienen können.

Poesia de Amor. Dois poemas ao correr da pena e da alma...

Papel solto, 26/2/2004

Silenciosamente, na noite caída,
tracei o teu nome e chamei-te
sem te conhecer mas desejando-te,
tendo-te apenas visto mas já intuído
uma alma tensa e desperta,
capaz de te lançares na senda.

Caminhar a dois é tão difícil,
Compartilhar os mesmos sonhos,
Coincidir nos gostos e olhares,
Saber amar o amor
Em silêncio e adoração,
Em corpo e comunhão,
Na contemplação estética,
na massagem serena,
na corrida intensa,
na dança do ventre,
no vento do deserto
no oásis refrescante.

Assim cheguei ao teu regaço
E depositei este poema:
Sê feliz, ó bela desconhecida.

*******

      Papel solto, sem data.

 À Amada que virá um dia
vestida de branco amarelado,
com voz delicada e profunda
e um sorriso sábio e amoroso.

À amada que trará flores

na sua aura, luminosas e quentes,
capaz de arregaçar as mangas
e com seus belos braços trabalhar
e em mil livros se empenhar,
desabrochar, realizar. 


À Amada, amada dos mestres e anjos,
  que saberá comungar comigo e com Deus. 

À amada que cantará os mantras
e poemas que trarão mais luz
e esperança à Humanidade.

À Amada, alma gémea ou afim,
para que ela venha mais rápida.

Vem, Amor,
Vem, Amada.