sexta-feira, 14 de maio de 2021

Natália Correia e Antero de Quental: argumento do filme "Santo Antero", de Dórdio Guimarães. Lido e comentado por Pedro Teixeira da Mota

Em 1979 Dórdio Guimarães realizou o filme Santo Antero com argumento de Natália Correia, através das Produções Cinematográficas Manuel Guimarães. A música original foi de Fernando Guerra e os dois intérpretes de Antero de Quental em criança e adulto foram Luís Filipe Rieff e António Rieff, cabendo a Maria Helena Cantos "as mulheres que Antero amou". No folheto de oito páginas de apresentação do filme, editado pelo Governo Regional dos Açores e que me foi oferecido pelo Luís Ferro, Dórdio Guimarães apresenta muito bem a sua visão da relação do cinema e da poesia, e o desafio enfrentado:

 «Creio que o cinema é um acto eminentemente poético. Creio mesmo até que o cinema é a expressão estática mais identificada com a Poesia e por via do seu conteúdo expoentalmente plástico. Nele as imagens ganham um corpo substantivo, o subjectivo objectiva-se, o sonho materializa-se mas tudo através de um trajecto mágico, alquímico, de um real superlativo, de um encantamento exactamente visionado. A palavra poética encontra no real impressionado um registo auditivo, complementar, tridimensionado, a sólida harmonia que nos faz ver todos os ritmos e movimentos sortílegos dos vocábulos. Toda a Poesia é cinematizável porque o cinema é como que uma nova dimensão encontrada da essência que a anima; o Espírito ao alcance dos nossos dedos, melhor dos nossos olhos e sentidos. (...) Antero de Quental não é mais uma figura como outras tantas da fértil história da poesia e literatura portuguesa. Nele se reúne um singular e específico sentimento de portugalidade açoriana ou de insularidade lusíada, de dicotomia mística e racionalista, de religiosidade tradicionalista, de activismo sociológico, de misogenia e altruísmo. Antero, em síntese, preenche boa parcela do senso português, ou seja, de todos nós. (...)», sem dúvida uma boa síntese da alma de Antero...
Destaquemos em Dórdio Guimarães a sua visão bastante espiritual da vida, da poesia e do cinema, reconhecendo no Espírito a essência que anima a poesia, e que o cinema objectiva tridimensionalmente, encantadoramente mesmo. Quanto à síntese caracterológica de Antero de Quental talvez ficasse mais certo  "religiosidade tradicionalista e transcendentalista", já que Antero expandiu-a pela metafisica e o orientalismo, em especial o panpsiquismo e o budismo. Valorize-se ainda a sua exclamação desabafo ou oração final, a fazer-nos lembrar o que correu  pelos humanistas e os estudiosos posteriores em relação a Erasmo: «Que Santo Antero nos valha».

 Quanto a Natália Correia, a argumentista do Santo Antero, filme que ainda não vi, e com quem só falei uma vez (curiosamente sobre Antero), presenteia-nos com uma bela e valiosa «súmula deste meu argumento sobre a vida e obra de Antero» e que foi lida e registada no vídeo que encontra no fim, tendo comentado brevemente a 1ª parte. Eis a súmula da Natália:

                     

«O poeta incinera o seu existente precário no fogo do seu essente, emanação do Eterno. Como, por outras palavras, dirá Unamuno, por Antero passam as primeiras sombras que hão-de adensar-se no "desespero humano" de Kierkegaard. Mas, Antero diverge do filósofo dinamarquês acreditando em alguma coisa pela qual vale a pena existir. E vislumbra-a nas próprias possibilidades do ser cujo drama termina na libertação final pelo bem. Trata-se, como ele diz, dum «espiritualismo realista, enxertado para florir e frutificar no tronco robusto do materialismo». Daí a sua busca incansável das vias que puderam conduzir à bondade social de um socialismo espiritualizado. Mas a materialidade da experiência agride a sua sensibilidade aristocrática. Não o esconde. E crucifica-se na decepção. É outro passo para a santidade em que culmina o seu anseio de dormir no seio profundo do Não-Ser. Afunda-se na noite mística e põe termo à vida para nela se perder, para nela se fundir na substância divina.»

A esta 1ª parte mais filosófica e essencial seguir-se-á uma 2ª acerca da insularidade do poeta, que não transcrevemos mas reproduzimos e lemos. Comentemos então agora brevemente a bela e profunda visão de Antero dada por Natália, outra alma revolucionária e poética açoriana: 

Talvez o que tenha mais decepcionado Antero de Quental tenha sido a pouca fraternidade existente nos meios que conheceu, dado o egoísmo, o partidarismo e a ignorância reinantes, estilhaçando o seu ideal juvenil "da bondade social de um socialismo espiritualizado" que na época de facto vários acreditaram e por ele se esforçaram. Mas também o enfraqueceram contribuindo para a sua decepção as desilusões amorosas e familiares sofridas. Forte porém é a imagem por Natália gerada de que Antero é que se crucificou por tal decepção ou decepções, pois poderia ter reagido de outros modos. E nesse sentido, por exemplo, o seu amigo e prolífero publicista Silva Pinto considerava que à grande bondade de Antero faltou o riso, ou seja, certo desprendimento em relação ao que se passava...

É bem difícil discernirmos quando surge, quanto dura e o que subsistirá no fim e além da vida em relação ao seu anseio de dormir no seio profundo do Não-Ser. Os seus sonetos encaminham-se, e autobiograficamente mostram-nos portanto encaminhando-se para algo disso, ainda que cristianizados por vezes, tal até no coração querer descansar por fim "Na mão de Deus". E talvez possamos considerar ainda as insónias de que sofria, uma condicionante psico-somática importante desta imagem e anseio de repouso e adormecimento. 

Quanto à valiosa frase «Afunda-se na noite mística e põe termo à vida para nela se perder, para nela se fundir na substância divina» tem também de ser bem cogitada para se compreender relativamente a Antero de Quental. Teremos então de observar no conceito caracterizante, clássico até nos tratados místicos, de "noite mística" a indicação da insuficiência que ele "sofreu" longamente de sinais de luz ou de amor do espírito e do mundo espiritual , para não falarmos sequer de Jesus ou de Deus, como sentiram mais alguns místicos, e que Antero só em jovem estudante sentiu e exprimiu em  vários poemas.

 Portanto a visão da Natália Correia de que ao perder-se nessa falta de luz, ao entrar nesse Não-Ser, Antero de Quental acreditava que estaria a fundir-se na substância divina, não me parece que tal fosse muito evidente para Antero. Pensamos mais, até por alguns dos seus sonetos tal como os Nossos Mortos, que Antero acreditava numa sobrevivência individual da alma espiritual e que pelo seu aspirar e lutar pelo bem ao longo da vida, e o desistir desta quando o corpo físico já pouco lhe servia de suporte de trabalho, mereceria uma não  condenação pelos valores ou normas da Ordem Cósmica do Universo, ou se quisermos Deus, que ele tanto interrogara ou demandara tanto, tendo até referido o suicídio como uma solução pouco moral ou digna, mas a que ele não conseguiu escapar....

Cremos que Antero de Quental estava demasiado desiludido da vida, nomeadamente da política e social, após fracasso da Liga Patriótica do Norte, que ele encabeçara contra o imperialismo britânico e que falhara. E demasiado isolado afectivamente, pois tinha só alguns amigos e sobretudo as duas crianças adoptadas, Beatriz e Emília, e que subitamente lhe foram retiradas. Quando dá os dois tiros na sombra de noite em Setembro de 1891, provavelmente fá-lo sem saber bem para onde vai. Porém quais as percentagens da crença em que se quantificariam as suas conjecturas hipotéticas de destino de sobrevivência no além não é fácil discernir-se...

Melhor será aceitarmos que partiu como cavaleiro do Amor ferido, cansado, mas não plenamente derrotado, pois levara sempre «o lema do Bem no seu estandarte» e provavelmente admitindo  uma vida depois da morte e na comunhão do corpo místico da humanidade, em que neste momento passados mais de cem anos da sua morte nós o celebramos, meditamos, ou mesmo oramos e apoiamos-valemos em reciprocidade ao que Dórdio Guimarães exprimira: "Santo Antero nos valha!"

A segunda parte do texto de Natália, que reproduzimos no todo na imagem acima, não transcrevemos mas está lida no vídeo de nove minutos que não foram suficientes para comentarmos senão brevemente a parte inicial. Mas nove minutos nos nossos dias, e anterianos, já é muito para a maioria das pessoa, que preferem empregar o seu tempo de vida na bola, no preço certo e nos noticiários amedrontadores e comentaristas alienadores. Será então para pouca gente, a gens anteriana e dos fiéis do Amor na demanda do Graal do espírito e da ligação divina... Valete Fraters et Sorores!

           

domingo, 9 de maio de 2021

Das exigências do diálogo e do ensino filosófico, por Sant' Anna Dionisío. "Diálogo no Jardim" da Estrela, sob a estátua de Antero de Quental

Sant'Anna Dionísio (1902-1991) foi um ensaísta, jornalista, polemista e professor liceal, licenciado em Filologia Germânica (1924, dissertação sobre Nietzche) e em Filosofia (1926, dissertação sobre Bergson), pela famosa Faculdade de Letras do Porto, fundada e orientada (1919-1928) por Leonardo Coimbra. Destacou-se enquanto discípulo dos antigos filósofos gregos (tendo traduzido algumas obras), de Antero de Quental e do seu professor Leonardo Coimbra, manifestando uma busca constante de conhecimento e de comunicação, tendo por isso, além das aulas,  dado à luz vários livros e colaborado em jornais, em especial o 1º de Janeiro e o Diabo, e revistas, tais como a Águia (onde foi nos últimos números ainda co-director com Agostinho da Silva), Prisma, Seara Nova, Tempo Presente, Mundo Literário, Revista 57, Nova Renascença

Tendo sido professor liceal em Guimarães, Funchal, Vila Real e  Lisboa, na capital exerceu o seu magistério no D. João de Castro e sobretudo no Pedro Nunes, ao lado do Jardim da Estrela,  publicando em 1960, quando já tinha mais de trinta anos de escritor (1º título Cépticos, 1929), um opúsculo in-4º de 16 páginas intitulado Diálogo no Jardim,   no qual, esclarecendo como se deve dialogar e interrogando-se quanto à filosofia poder ser objecto de pedagogia, delineia duas linhas de força da tradição espiritual portuguesa, a que ele pertenceu discretamente: a da busca  do diálogo despertante ou presentificante autêntico e a da relação mestre a discípulo, na qual o mestre desperta, intensifica ou ilumina este, cabendo depois ao último aprofundar e perseverar as luzes geradas nos diálogos e eventualmente partilhá-las. 

Neste Diálogo no Jardim serão mencionados tanto Leonardo Coimbra, directa e indirectamente ("sei de ciência certa", referindo-se a algumas experiências, pois Sant'Anna conviveu com ele), como Antero de Quental, quanto ao seu anseio confessado de ter um verdadeiro discípulo.  Mas como o Diálogo, com quatro interlocutores, se desenrola no Jardim da Estrela, junto à escultura de Antero de Quental (reproduzida em fotografia em folha preliminar) há várias referências a ela e a ele, sendo ainda assinalada a presença do som ritmado dum liceu próximo, o Pedro Nunes, onde curiosamente fiz eu o sexto e sétimo ano do Liceu in illo tempore. Mais tarde, quando ensinava Agni Raj Yoga no restaurante Suribachi no Porto, dialoguei muito com Sant'Anna Dionísio em sua casa, nos últimos anos da sua vida na Terra física, tendo ainda feito algumas pequenas peregrinações com ele, duas das quais com a Dalila Pereira da Costa, no Minho e no Douro.

Oiçamos então desse invulgar folheto, recentemente adquirido numa livraria alfarrabista portuense, a Candelabro de Luís Moutinho,  as passagens mais valiosas quanto a possibilidade do diálogo pedagógico e filosófico dar à luz uma intensificação auto-consciencial, metafísica e espiritual, começando com a descrição do cenário inicial:

                            DIÁLOGO DO JARDIM

«Três homens relativamente novos, passeiam na alameda de um jardim conversando. É uma manhã luminosa de meados de Junho. Através da folhagem do arvoredo, entreve-se a massa de mármore de uma bela basílica, com o seu grande zimbório recortado no azul. Um pouco cansados talvez da demorada conversa deambulatória, os interlocutores deixam a alameda e vão sentar-se num recanto de penumbra, junto da estátua do Poeta-Filósofo. É nesse momento que surge um companheiro que os três conversadores parecem esperar e festivamente saúdam. Interlocutores: António, Afonso, Luís e Abel (Luís é o que acaba de chegar). (...)»

                                 

    «António. -  Neste momento, o assunto que eu estava a tentar esclarecer era simplesmente este: o de que a arte de de discutir requer uma severa disciplina que envolve, em primeiro lugar, o saber ouvir e não interromper senão quando o pensamento que se nos opõe se possa dizer bem definido.

Luís. - Por esse princípio, nunca se devia interromper ninguém que se nos opusesse, - e todo o diálogo se tornaria solilóquio.

António. - A verdade é que tu mesmo estas a verificar o malefício de toda a interrupção extemporânea ou intempestiva. Precisamente no momento em que eu tentava demonstrar em que consiste essa disciplina, tão rara, de saber ouvir, cortaste-me o fio com um comentário sardónico, que a inutilizou. Ora isto é o que se verifica constantemente em todas as conversas que falham.

Luís. - Queres então dizer que toda a conversa, para ser proveitosa, deverá submeter-se rigorosamente a uma espécie de regimento?

António. - E porque não? Uma discussão é uma partida que requer o devido vagar, os devidos períodos de silêncio, as devidas esperas do trabalho dialéctico do opositor.»


Mais à frente, após ter distinguido o ensino da filosofia e o ensino liceal ou secundário da filosofia, e de ter advertido que «em qualquer conversa, mesmo na mais desperta, há sempre uma certa dose de automatismo verbal a corroer constantemente a substância sincera do objecto da discussão», volta à questão de a filosofia autêntica, ou "superior reflexão metafísica" poder ser ou não "objecto de uma didáctica" e, depois de aludir a Agostinho da Silva e a Leonardo Coimbra (crítico do progresso cousado ou coisificante), reconhecerá «que o único progresso» bem substancial e todavia sempre precário) que concebo é o que se poderá chamar afinamento da consciência de problematização [e, acrescentaremos, de silenciosa sensibilidade subtil-espiritual) e esse, segundo julgo, não se pode obter senão pela oferta de experiência e esclarecimento que se faz e terá de fazer sempre com relativo espírito de gratuitidade, de geração para geração, sob pena de colapsos análogos aos dos dois ou três primeiros séculos da Idade Média».

Valorizando a demanda filosófica em todo a pessoa, desde o pastor da serra da Estrela, admitindo mesmo que uma maiêutica especial poderá trazer à fala sensibilidades e intuições das crianças, confessará contudo que «não obtive ainda, infelizmente, da minha experiência docente, já longa, sinal algum de ter influído a fundo no destino intelectual de alguém, dentro das dezenas de cursos e centenas de ouvintes que tenho tido. Essa satisfação íntima não a tive ainda, e não sei se a terei. São obras do ocaso e não do querer. Um discípulo é sempre uma avis rara; para não dizer uma graça. Quantos espíritos dados, com seriedade profunda, ao magistério, não têm vivido sem lhes ter sido dada tal «graça»! É ver o caso de Antero, aqui presente. Vejam o seu silêncio. Um dos mais íntimos pesares, com nitidez traduzido em algumas das suas confidencias do fim da vida, foi o de não ter tido a ventura de encontrar um ou dois discípulos, que sobre si tomassem a tarefa de cristalizar o inefável do seu pensamento discursivo espalhado e perdido em tantas conversas de noctâmbulo. É o próprio Eça quem o diz, no seu contributo para o In-Memoriam.

Afonso. - Mas, afinal, aonde queres tu ir com a tua divagação?

Luís. - Quero chegar a este ponto: que, embora não tenha tido, conforme desejas saber, uma prova patente de que o magistério da filosofia seja «decisivo» no destino deste ou aquele, dentro os que tenho tentado esclarecer ou despertar, sei de ciência certa que tal magistério, se for feito com intensidade, exerce uma discreta e verídica acção de presença.»  

Concluirá assim afirmativamente quanto à questão fundacional, pois: «Se ninguém ensinasse, nem quisesse ajudar a esclarecer, nem oferecesse a sua reflexiva experiência aos que vão emergindo do limbo da Vida e da Ingenuidade, o homem em breve se tornaria uma criatura taciturna como tantos seres que vivem a seu lado, sobre a terra, à superfície da terra e nas estranhas da terra». 

E admitirá ainda, face às dificuldades de acordos nos diálogos: «Será caso para se pôr termo a todas as discussões? Teremos de viver como as pedras dos montes ou, conforme diz a gente ingénua e vulgar, como Deus com os anjos; - isto é, em perfeito silêncio? (...) Os seres humanos entendem-se como podem. O desentendimento sempre foi e será uma necessidade dialéctica para novo esforço de entendimento.»    

Sant'Anna Dionísio fechará o seu breve diálogo ao modo socrático, quando já publicara três livros sobre Antero de Quental e dois sobre Leonardo Coimbra,  com um nota paisagística de que ele foi um artista, seja como continuador do Guia de Portugal, de Raul Proença, seja nos livros, editados pela Lello no Porto, consagrados aos Norte de Portugal, mais concretamente com uma pequena impressão anteriana e do Jardim da Estrela: «A pouca distância, ouve-se o rumorejar da população escolar do Liceu, no breve intervalo das aulas. Luís afasta-se nessa direcção. Os outros interlocutores levantam-se e dirigem para os lados do pavilhão do pequeno lago, deixando a sós o Poeta-Filósofo, na sua branca imobilidade, recortada no verde escuro do montículo de musgo que lhe serve de fundo».

                                                        

Quanto à estátua de Antero, por Barata Feyo, Sant'Anna Dionísio dirá ainda: «A presença da estátua branca de Antero parece que vos inclina hoje mais ainda que de costume para o devaneio poético». E talvez mais brincando, apesar de amante da Grécia, «sabemos que tens, como Antero, aqui defronte, todo embrulhado no seu pesado roupão, uma espécie de pudor de elefante.»
        
   "Aos pés do mestre" significa humildemente  curvar-nos sobre os que nos antecederam, nomeadamente os mestres, e intuirmos as comunhões correctas que com eles devemos cultivar, num caminho de realização humana e espiritual humilde e amorosa, sábia e corajosa, com aspiração, criatividade ou luta pelos ideais de maior justiça, fraternidade e liberdade, coroados intimamente com o despertar espiritual e o amor divino.

sábado, 8 de maio de 2021

Da essência perene da aspiração da poesia do coração e do amor. Um poema.

Este poema foi escrito hoje 8-V-2021, pela tarde. Hesitando depois nas imagens ou iconologia, acabou por entrar a bela fotografia de Isabel Moura partilhada para o grupo no Facebook "Núvens e Céus de Portugal" e, no fim, uma gravura de livro do séc. XVIII, da Tradição Espiritual Portuguesa...

                                       

Quem escreve deseja sempre ser apreciado,
Mas se é ego ou altruísmo é difícil deslindar,
 tal querer ser lido e acolhido, em que futuro seja,
pois imaginamos até do outro lado da vida
    ainda sentir comunhão com as almas leitoras.

Cada poema é mensagem escrita numa garrafa
que lançada no oceano da manifestação
pode chegar ou não a um coração receptivo
e suscitar a comunhão numa emoção.

Quantas vezes não escrevi pensando em ti,
e que, tu me lendo e sentindo tanto a luz,
 os nossos corações se comunicariam
e distâncias intransponíveis se venceriam?

Assim, cada escrito é uma escada para o céu
mas com travessas e ligações à Terra.
É um coração que aspira tanto a Deus
Como às companhias afins frutíferas.

Nestes tempos de tantas ganâncias e opressões,
quando os Estados e financeiros se tornaram bárbaros
é na poesia, luta e meditação que se comunicarão
as almas cultoras da beleza,  do bem e do coração.

Assim não desanimes, esforça-te, persevera,
Sê fiel cavaleiro ou cavaleira do Amor,
capaz de vencer o medo, a morte e a dor,
Como a nós Antero de Quental apelou.

Lanço assim este poema do coração
para que chegue ao teu e o anime
daquela vontade indómita de vencer
 e de realizar os teus mais altos fins.

O que é a poesia no fundo senão
uma íntima aspiração e oração
a que se realize maior união
e a justa paz e iluminação?

 Valete Fraters, Valete Sorores! 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Um poema oração de Rabindranath Tagore, muito actual, no seu dia de aniversário. Aum...

                                                        

Um poema muito actual em inglês de Rabindranath Tagore (1861-1841) e traduzido para português por Pedro Teixeira da Mota, neste 160 ano do seu aniversário. Possam as forças negativas do egoísmo, ganância e violência desaparecerem cada vez mais da Terra, dos financeiros, dos governos, das empresas e das mentes e corações humanos, graças aos esforços, purificações, aspirações, meditações e bênçãos, dando lugar à fraternidade, à justiça, à compaixão e ao amor divino e à Divindade. Foi publicado pela 1ª vez postumamente em 1942, sendo o 88º dessa selecção então inédita intitulada Poems, com o desenho inicial de Gaganendranath Tagore, e o final deste artigo já da autoria de Rabindranath, que nos últimos anos pintou bastante.


«O mundo está hoje bárbaro com o delírio do ódio,
os conflitos são cruéis e infindáveis na angústia,
tortos são os caminhos, emaranhados seus laços de ganância.
Todas as criaturas apelam por um novo nascimento de ti.
Ó Tu da vida ilimitada,
salva-os, ergue a tua eterna voz de esperança,
Que o lótus do Amor com seu inesgotável tesouro de mel
abra as suas pétalas na tua luz.

Ó Sereno, Ó Livre
na tua incomensurável misericórdia e bondade
faz desaparecer todas as manchas escuras do coração desta terra.

Tu doador dos dons imortais
dá-nos o poder da renúncia
e retira de  nós o nosso orgulho.
No esplendor dum novo nascer do sol da sabedoria
possam os cegos ganhar de novo a sua visão
e possa a vida chegar às almas que estão mortas.

Ó Sereno, Ó Livre,
na tua incomensurável misericórdia e bondade
faz desaparecer todas as manchas escuras do coração desta terra.

O coração do ser humano está angustiado com a febre da inquietação
com o veneno da procura egoísta,
com uma sede que não tem fim.
Por toda a parte países ostentam na suas frontes
a marca de sangue-avermelhado de ódio.
Toca-os com a tua mão direita,
Torna-os um no espírito,
trás harmonia às suas vidas,
trás o ritmo da beleza. 

Ó Sereno, Ó Livre,
na tua incomensurável misericórdia e bondade
faz desaparecer todas as manchas escuras do coração desta terra.

                                      

Nos 160 anos de Rabindranath Tagore. Um poema, com tradução minha, e um vídeo de então.

                                  

 Comemoram-se hoje os cento e sessenta anos do nascimento de Rabindranath Tagore, 7-V-1861 a 7-VIII-1841) o grande poeta, pedagogo, político e espiritualista, de Bengala, criador de uma vasta obra maravilhosa de poesia (Prémio Nobel em 1913), ensaio, música, romance, drama, pintura, educação, história, filosofia e ensino espiritual. Em vários textos deste blogue já o biografamos, referimos, traduzimos e comentamos, e hoje acrescentamos um valioso folheto com uma bela imagem, como  guru (e é no livro Sadhana que mais se manifesta, e do qual transmiti partes do 1º capítulo em https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2020/05/sadhana-de-rabindranath-tagore.html), folheto que trouxe do seu centro educativo, Vishva-Bharati, hoje Universidade, no norte de Bengala, há já quase 30 anos, em 1995, quando estive um ano na Índia e em grande parte em Calcutá, no Ramakrishna Mission Institute of Culture, em trabalhos de yoga e orientalismo.
Contém ele um texto-poema-oração em bengali e em inglês, que  traduzimos para português,  já do fim da sua vida, no qual  resume a sua peregrinação como a de um coração e uma mãos sempre abertas à Divindade, um ser de grande amor, compaixão e devoção... Assim o homenageamos, e invocamos até, a sua imensa sensibilidade, amor e sabedoria nas nossas almas, algo dilaceradas e limitadas pelas situações 
difíceis e tão manipuladas que atravessamos...
Possam as bênçãos divinas e dos mestres inspirarem-nos, protegerem-nos e guiarem-nos...

«Thou hast made me endless, such is thy pleasure. This frail vessel thou emptiest again and again, and fillest it ever with fresh life.
This little flute of a reed thou hast carried over hills and dales, and hast breathed through it melodies eternally new.
At the immortal touch of thy hands my little heart loses its limits in joy and gives birth to utterance ineffable.
Thy infinite gifts come to me only on these very small hands of mine. Ages pass, and still thou pourest, and still there is room to fill.»

«Tornaste-me sem fim, tal é o teu gosto. Este frágil vaso esvaziaste-o uma vez e outra vez, e encheste-o sempre com vida renovada.
Esta pequena flauta de cana verde levaste-a por montes e vales, e através dela sopraste melodias eternamente novas..
No contacto imortal das tuas mãos o meu pequeno coração, numa grande alegria, perde os seus limites e dá à luz  expressões inefáveis.
Os teus dons infinitos vêm até mim apenas nestas minhas pequenas mãos. Passam os tempos, e ainda derramas e ainda há espaço  para encheres».    Aum...

                    

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Al-Kadir. Poemas em português. And Celebration of Al-Qadr, Night of Power, in english, video

Considerando-se em 2021 a noite de 5 para 6 de Maio como a primeira  das dez últimas noites do mês do Ramadão a correspondente no calendário arábico à primeira  transmissão do Alcorão ao profeta Mohammed, em Dezembro de 610, denominada Laylatul Qadr, Al-Qadr ou Al-Kadir, crendo-se que por parte de uma entidade celestial, denominada de Jibril, ou Gabriel, tal noite (ou noites, pois terá sido numa ímpar, ou seja a 21, 23, 25, 27 ou 29 do mês) é ou são consideradas muito auspiciosa para orações e meditações, já que as ligações entre os mundos espirituais ou divinos e os humanos estarão mais abertas, intensificadas, possíveis, trabalháveis.

                                              

Depois de ter partilhado para o blogue a notícia da Noite de Poder, com uma mensagem do líder espiritual do Irão, o ayatollah Ali Khamenei, mais alguns pensamentos tradicionais sobre al-Qadr, nomeadamente a sura corânica e uma frase do 1º Imam dos Shiaa, Ali ibn Abi Taleb, casado com Hazrat Fatimah, a filha de Maomé, durante a noite fiz três meditações, com breves escritos-poemas e uma gravação orativa e meditativa de alguns minutos, que encontrará no fim...
Boas inspirações.

02:15.

Al Qadr, al Kadir,
  Alma minha, abre-te à Divindade
 Ao Espírito, ao Amor, à Verdade,
    À Sabedoria, à escrita certa e justa.
Noite de poder, noite de revelação,
Aos Anjos e mestres nossa devoção.
 Vinde ó bênçãos dos níveis interiores
Vinde ò realizações divinas em nós.



4:10

Noites de poder que nos acordam
 Com sonhos de desprendimento:
Realiza que nada é meu ou teu.
Noites de poder, oportunidade de trabalho
  Pelo despertar maior do nosso ser:
Eu desperto plenamente o Amor divino.


6:35

Madrugada de poder e de revelação:
Esta aspiração ardente a Deus que nasce em nós,
Esta aspiração intensa a que o Amor brilhe em nós,
Esta gratidão imensa pela comunhão anímica,
Esta escrita divina que se realiza entre nós,
Tudo nos faz clamar pela Divindade e seu Amor e Ser.

                                

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Noite de Kadir, Al-Kadr night. Noite de poder. Message of the Ayatollah Ali Khamenei

 Realizando-se hoje a noite sagrada de Al- Kadir, a noite mais sagrada do Ramadam, e de todo o ano islâmico, na qual se homenageia o mestre oculto ou o anjo  que transmitiu os primeiros versos do Corão, ou tal inspiração e ocorrência, e que deve ser bem aproveitada em meditação e oração, vamos antes de mais transcrever uma mensagem do líder espiritual do Irão Ali Khamenei, transmitida há momentos

A message from the spiritual leader of Iran, Ayatollah Khamenei:

«The Nights of Destiny are the peak of Ramadan, and we have reached this peak. We should use this unique opportunity of seeking intercession, supplicating, praying, and pleading the Lord of the world. This praying, intercession and crying are bounties from God to you. Appreciate them. [As noites do Destino são o pico do Ramadão e chegamos a esse cume. Devemos usar esta oportunidade única para procurarmos realizar intercessões, suplicações, orações e pedidos ao Senhor do Mundo. Este orar, interceder e clamar  são graças de Deus para ti. Aprecia-as.]
Pray for yourself and everyone. Narrations say that when you pray, believe in its fulfillment. God is pure Munificence, but sometimes we aren’t ready to absorb divine Mercy. By seeking forgiveness, paying attention & pleading, we should prepare ourselves for receiving divine Mercy. [Ora por ti e por todos. Os ensinamentos que nos foram narrados dizem que devemos acreditar no que se pede ou ora. Deus é generosidade pura, mas por vezes não estamos preparados para absorver a Misericórdia Divina. Procurando perdoar, prestando atenção e esforçando-nos, devemos preparar-nos para receber a Misericórdia divina.  

I ask all of you dear ones to please pray for me. [Peço-vos, queridos, que por favor orem por mim.] #QadrNight

Quotations received from Shahara Islam Fatema, of Bangla Desh:
"𝑻𝒉𝒆 𝒏𝒊𝒈𝒉𝒕 𝒐𝒇 𝑸𝒂𝒅𝒓 𝒊𝒔 𝒃𝒆𝒕𝒕𝒆𝒓 𝒕𝒉𝒂𝒏 𝒂 𝒕𝒉𝒐𝒖𝒔𝒂𝒏𝒅 𝒎𝒐𝒏𝒕𝒉𝒔".  A noite da revelação vale mais que mil meses. Alcorão. Sura Al-Qadr, 3.

"Everything has a treasure and the treasure of the poor is al¬Qadr. Everything has a helper and the helper of the weak is al¬Qadr. Everything has an ease and the ease of those in difficulty is al¬Qadr . Everything has a chief and the chief of knowledge is al-Qadr".  [Tudo tem o seu tesouro e o tesouro do pobre é a noite do poder. Tudo tem um ajudante e o ajudante do fraco é a noite do Poder. Tudo tem um facilitador e quem facilita o que está a passar por dificuldade é a noite de Poder. Tudo tem um chefe e o chefe do conhecimento é al-Qadr, a noite de poder.]

Quotation from Ali, 1º Imam Shia... Citação de Ali, o º Imam Shia...

Boas inspirações. Ore mais esta noite, cante, chore e arda em amor e aspiração e, por fim, silencie e receba....