A Flor-de-Liz, como capitular da oração, e as três flores-de-liz, brasão de Elizabeth. Impressão parisiense sobre pergaminho, começo do séc. XX. |
Tendo hoje partilhado num artigo do blogue um dos símbolos proféticos do Paracelso, o das flores-de-liz, ao arrumar alguma iconografia religiosa deparei-me com um santinho francês com uma bela flor-de-liz ilustrando uma oração de uma tal M. Elizabeth, que pensei ser uma Mère Elizabeth, mas não, a oração é bem conhecida e foi escrita por Elizabeth Philiphine Marie Hélène (3-V-1664 a 10-V-1694), a irmã mais nova do rei de França Luís XVI e que com ele e Maria Antonieta foi guilhotinada no auge da Revolução Francesa, quando tinha 30 anos de idade, nada a demovendo de acompanhar o irmão, a mulher e os sobrinhos, face ao ataque do revolucionários, sustentando-os com a sua espiritualidade no caminho que os levará, através das provações, até ao desenlace fatal e também libertador da realeza absolutista francesa.
Como era nova, bela, artista, inteligente, religiosa, e se mantivera firme nas suas convicções e aconselhamentos no tempo da provação, em que saindo da sua vida retirada fora da corte passou acompanhar o rei seu irmão, logo se ergueu no meios realistas e religiosos um certo culto, pois morrera corajosa e serenamente e ter-se-ia sentido na atmosfera, na actual Place de la Concorde, no momento da "abertura das portas do céu", o perfume de flores, rosas, fenómeno subtil que é chamado odor de santidade, transversal a várias tradições e religiões e não tão, tão raro de ser sentido...
A oração é bela, de grande amor e entrega a Deus e à sua providência, sacrificando tudo à Sua Vontade, apenas Lhe pedindo que continue a sustentar-lhe a paciência (ou ciência da Paz) e a aceitação perante as provações e sofrimentos que tiver de atravessar, e que foram bem intensos, embora saibamos que o seu estado de consciência espiritual e de abertura e ligação a Deus e a Jesus e Maria subsistiram sempre.
Saber ou discernir porém qual é a Vontade divina não é assim tão fácil frequentemente. Deveria Elizabeth, e Luís XVI e a austríaca Maria Antonieta, terem tido mais sensibilidade aos problemas do povo francês, e aceitado as imposições anti-religiosas e anti-monárquicas dos revolucionários, e assim escaparem ao fim trágico que os vitimou?
Deveria ter-se exilado, como o seu irmão queria, em vez de ficar a residir em Paris nas Tulherias com o irmão e, depois dele ser levado para a prisão na torre do Templo, se ter ido entregar também, em 1792, para apoiar o seu irmão a enfrentar dignamente a morte e decapitação?
O certo é que depois de ajudar os familiares e próximos será a última das vinte e cinco pessoas a morrer no mesmo 10 de Maio de 1794, sempre escudada nas suas práticas espirituais, orando nos últimos momentos das profundezas da sua alma abnegada e reafirmando às que iam ser mortas que nesse mesmo dia se encontrariam no Paraíso, um leif-motive e certeza que aparece em algumas almas mais elevadas de várias religiões, embora o Paraíso dos crentes das várias religiões e teodiceias seja multidimensional e multipolar...
Poderemos concluir esta breve janela com a lembrança de que a oração e a meditação diária de um certo modo são formas de nos abrirmos a uma melhor percepção do que devemos ser ou fazer, de nos alinharmos melhor com as forças cósmicas, ambientais, sociais, orgânicas que nos estão a influir ou afectar mas que geralmente não nos consciencializamos o suficiente para evitar erros, doenças, acidentes, traições, manipulações, ou fraquezas perante as cruzes do destino.
Possa esta tão imaculada flor-de-liz, símbolo ascensional psico-somático, e a bela e tão sacrificial quão trágica oração, impelirem-nos então a praticar mais a oração, a ligação ao sagrado coração, os mantras, a meditação, a contemplação, o silêncio, os sacrifícios a fim de sermos ou estarmos mais inspirados seja pelo nosso espírito, seja pelos celestiais, seja pelo Espírito Santo, e assim cumprirmos melhor e mais criativamente o nosso dharma, a nossa missão em ligação divina, tal como tentou realizar Elizabeth Philiphine, a quem endereçamos as melhores invocações divinas. E que ela nos possa inspirar do Corpo Místico da Igreja e da Humanidade, onde se encontra certamente bem consciente, tanto mais que se tenta a sua beatificação.
Duas traduções, já que deparei-me com duas versões:
"O que me acontecerá hoje,
ó meu Deus.? Eu nada sei. Tudo o que sei, é que não me acontecerá
nada que não tenhas prevenido, regulado e ordenado de toda eternidade. Isso chega-me, ó meu Deus.
Eu adoro os vossos desígnios eternos e impenetráveis. Eu submeto-me de todo o meu coração pelo amor de vós. Eu quero tudo, eu aceito tudo. Eu faça-vos um sacrifício e tudo e eu uno este sacrifício ao de Jesus Cristo, meu divino Salvador.
Eu vos peço em seu nome,
pelos seus méritos infinitos, a paciência nas minhas dificuldades e
a perfeita submissão que vos é devida por tudo o que vós quereis e permitis."
"O que me vai acontecer hoje, ó meu Deus, eu ignoro. Tudo o que eu sei é que nada me sucederá se vós não o tiveres previsto desde toda a eternidade. Isso chega-me, meu Deus, para estar tranquila. Adoro os vossos desígnios eternos e submeto-me de todo o meu coração. Eu quero tudo, aceito tudo, faço-vos um sacrifício de tudo; uno este sacrifício ao do Vosso querido Filho, meu Salvador, pedindo-Vos, pelo seu Sagrado Coração e pelos seus Méritos infinitos, a paciência nos meu males e a perfeita submissão que Vos é devida para tudo o que quereis e permitais. Assim seja." ...
Aum, Amen, Lux, Amor!
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