O estudo, compreensão, formatação e enquadramento da experiência mística e espiritual tem sofrido ao longo do tempo sucessivas tentativas, em geral com unilateralidades limitativas, a causa principal sendo a falta de experiência e prática espiritual, ou de alma mística e experimentada que possa compreender por dentro, por vivência. o que se lê, observa, analisa, julga, contextualiza. Lamentavelmente tais estudiosos, especialistas ou escritores menosprezam a vivência interna escudados numa objectividade de não tomarem partido ou via religiosa, e desse modo não conseguindo chegar à essência e vivência do que subjaz tais fenómenos ditos místicos: que somos seres de corpo, psique-alma e espírito, que vivemos num mundo pluridimensional e sobrevivemos enquanto almas espirituais à morte do corpo e do cérebro, e mesmo em vida no corpo físico podemos já ter experiências subtis com os órgãos do corpo espiritual. Finalmente, que a Divindade é, existe, pelo que a devemos demandar e amar, tanto mais que Ela agracia de diversos modos quem medita, ora, e acrifica, e supera, internamente, providencialmente e até pelos anjos ou pelos espíritos que já morreram fisicamente mas que no corpo místico da Humanidade subsistem e dos quais podemos receber ajuda, sobretudo se tal admitirmos ou aspirarmos.
Na realidade muito do que se inclui na fenomenologia da mística religiosa implica a alma ou psique intensificar o seu amor e entrega ao Divino, ao Cosmos, à Humanidade no amor-compaixão, e no ser capaz de interiorizar-se, silenciar-se, orar, e ora sentir na alma, chakras e coração ora ter visões, e portanto de abrir o seu olho espiritual e receber informações e ensinamentos, que certamente a podem transcender mais ou menos nos seus significados e causas, tal como noutro nível se passa com os sonhos...
Que haja pessoas que se perturbam psiquicamente e geram também visões, que haja pessoas que por terem uma capacidade imaginativa forte se possam iludir, distorcendo, ou sugestionando-se quanto ao que vêem não há dúvidas, e os hospitais psiquiátricos apresentam-nos muitos casos de delírios, de psicoses, de manias, tal como também poderemos discernir certas inflações egóicas, proféticas ou de poder em alguns instrutores ou gurus. Mas não devemos por isso recusar a existência, ou o valor das experiências místicas num todo ou sem uma atenta investigação da realidade caso a caso dos fenómenos, para não misturarmo duas realidades diferentes, uma patológica e outra espiritual, esta exigindo elevadas condições, qualidades ou virtudes do praticante duma via religiosa, espiritual, criativa.
Com a predominância do laicismo, materialismo, cientismo, estruturalismo e psiquiatria freudiana não há grandes hipóteses de encontrarmos na maioria dos hermeneutas compreensões profundas dos fenómenos místicos, embora certamente a contextualização mais ampla possível do fenómenos e recorrendo a uma multidisciplinariedade, permita uma melhor elucidação do que foi vivido e afirmado por alguém, e dada a actual ampla democratização ou divulgação dos conhecimentos energético-conscienciais tanto pelas práticas tradicionais e pluralidade religiosa como pelas neurociências, devemos registar que há cada vez melhores compreensões e estudos, duns poucos, embora pouco chegue ao grande público, bastante infrahumanizado e amilhazado, em preços certos e as narrativas oficiais
A existência de tradições espirituais, no sentido de linhas ou elos de seres e de forças ligadas a mestres, iniciações, símbolos, técnicas ou métodos, orações, mantras, ícones e imagens é um factor pouco valorizado em geral pelas abordagens exteriores académicas, sobretudo na sua dimensão interior, subtil e espiritual, nomeadamente no que um santo, yogui ou mestre viveu, praticou e ensinou e como isso se pode afirmar fortemente numa continuidade nos actuais discípulos, fiéis, leitores ou praticantes.
Daí, face ao globalismo infrahumanista e materializanteques e pretende instaurar na humanidade a importância das tradições culturais e espirituais de cada país, cidade, época, religião e que nos convidam por diversas formas a aproximá-las e a receber os seus eflúvios e impulsos veículados mais especifica e directamente. por livros, objectos, vídeos, filmes, ensinamentos e sobretudo locais e seres vivos.
O acesso às múltiplas tradições espirituais intensificou-se tremendamente nestas décadas do séc. XXI graças à internet, de tal modo que a oferta é ilimitada, quase infinita, ainda que nada suplante como já sugerimos o contacto directo com o livro, a pessoa, a cerimónia, o mestre, tanto mais que há muita aparência que ilude e há muita manipulação, ganância económica, megalomania e fingimento mesmo no campo religioso e espiritual, nem sempre sendo fácil de discernir com tanta ilusão e marvilhamento que se cria à volta de certo seres ou instrutores, pelo que a consulta e diálogo com pessoas no caminho é bem conveniente.
Relembremos pois que nas tradições orientais e ocidentais está muito presente a continuidade da partilha e prática de ensinamentos, que se exerce seja num convento ou num ashram, seja numa irmandade ou fraternidade, e seremos tolos se menosprezarmos tais continuidades nos nossos dias, pelo que devemos estar atentos ao que nos pode chegar de informações ou de relações, orações e jaculatórias, yantras e mantras, imagens e cantos, para podermos receber indicações correctas de pessoas, locais, comunidades, ou sentirmos se é verdadeiro ou apropriado, ou como melhor estudarmos e praticarmos o que é afim da nossa alma e logo eficaz, integrativo, salvífico.
Vivemos pois numa época extraordinária, embora haja certamente muita gente manipulada e fanatizada, e cabe-nos aproveitar o melhor possível o tempo para diminuirmos a ignorância e o ego e intensificarmos a harmonização da nossa personalidade e vida diária, o contributo para a evolução social e ambiental, e simultaneamente aprofundarmos com persistência (ou "optimismo escatológico", como transmitia Daria Dugina Platonova), a vivência interior possível dos mundos subtis e espirituais, do Cosmos, do espírito e da Divindade, esta até com a mística pessoal e subjectiva, individuante de cada um.
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