Brevemente acrescentarei a vera imagem dela... |
Soror Mariana da Purificação nasceu numa família numerosa devota a 5 de dezembro de 1623 em Lisboa, filha do ourives António de Azevedo e de Maria da Cruz, que proporcionaram aos filhos uma boa educação, frutificada em dois irmãos religiosos e duas irmãs sorores. Cedo fora atraída para a Divindade, pois já aos cinco anos, talvez com algum exagero do seu biógrafo e sobrinho, pedia a Deus para lhe abrasar o coração nos incêndios do seu amor divino, e ser santa, mas só aos 40 anos, depois de ter gerido a educação dos irmãos mais novos por morte precoce da mãe, é que recebeu o hábito de religiosa carmelita, prostrada no chão do Coro do Convento da Esperança de Beja, onde o seu irmão era confessor, professando no ano seguinte, e vivendo trinta e dois anos de hábito religioso, chegando a prioresa em 1680 e deixando a Terra com sinais de bem-aventurança em 8 de dezembro de 1695. Foi biografada conforme os cadernos escritos por ela e o que ele alterou, pelo seu sobrinho Frei Caetano do Vencimento, num in-4º volumoso, dado à luz em 1747, onde se destacam as suas austeridades, sofrimentos, êxtases, visões e revelações.
A sua pessoa e vida, por denúncia de ter dito falsas previsões ou profecias e por dúvidas acerca da veracidade das suas vivências, foi investigada pela Inquisição de Évora, a qual, embora não a condenando por fingimento, pôs em causa a fonte divina das visões e locuções recebidas e proibiu que ela se manifestasse como santa e fosse publicitada. Contudo Frei Caetano do Vencimento garantia cinquenta anos depois, em 1747 que a sua virtude fora reconhecida e que Deus obrava maravilhas através dela, dando ainda como prova o facto que depois de morta, por quatro vezes, em 40 anos, o seu túmulo fora aberto e o corpo encontrado incorrupto, com grande concurso de povo e curas miraculosas. Anos depois o próprio historador e insuspeito Frei António do Cenáculo confirma após novo exame. Na biografia Caetano Vicente faz crer que ela ainda poderia ser beatificada, afirmando que a imagem da Venerável Mariana circulava, inspirava e curava. De tais registos, sobreviverão três na arca da Biblioteca Nacional, que espero brevemente fotografar...
Quando estava em estado intensificado energético-consciencial ora despachava benignamente as petições que lhe faziam, ora consolava e aconselhava as noviças, o que encontramos, numa comparativismo religioso, na tradição indiana com a mítica árvore (Kalpa Vriksha) que satisfaz todos os desejos justos e que Sri Ramakrishna manifestou num dos últimos dias de vida.
Eis alguns dos seus mantras ou jaculatórias, dedilhados em momentos difíceis: “Jesus, nome de Jesus seja comigo”. “Minha alma, meu bem e todo meu amor”. “Seja Deus muito bendito e louvado nos céus e na terra.”1
Considerava-se uma
discípula de S. António e de sua mestra S. Teresa de Jesus mesmo
antes de ser freira, pois tinha-lhes grande devoção e lera muito a
sua obra, assimilando-a e imitando-a. E por vezes via-os, ou eles
aconselhavam-na, intensificando-lhe os impulsos ígneos, fazendo-a desejar que todos se abrasassem naquele fogo de amor.
Tendo sido mestra das noviças por duas vezes, é valiosa a visão interior
da transmissão de mestra a discípula, quando rezando
as matinas num dia viu, com os olhos da alma, de um resplendor dourado de
oito raios na sua cabeça, saírem oito fios para as oito noviças,
com resultados diferentes nelas conforme a harmonia anímico-espiritual que tinham.
A afirmação de que nos dias do Apóstolos, de N. Senhora e dos Santos
de quem era mais devota, o Senhor Jesus Cristo lhe dissera que
fazia-lhe a mercê de levar muitas almas ao Céu por meio de suas
orações, foi pelo Inquisidor considerado como uma ilusão de poder
intercessório, conforme os autos processuais hoje em grande parte já
conhecidos, embora tal capacidade seja frequentemente afirmada por muitas almas agraciadas nas suas orações. Também, na sua biografia, não plenamente
fidedigna e até contrariando as recomendações do Tribunal, diz-se
que a veneração e a fé com que relíquias das suas vestes, pedaços
de papel escritos por ela (engolidos até...), a sua imagem em gravura ou pintura e
outros objectos foram acolhidos como meios de graça curativa e
operaram milagres atestados na época, e sem dúvida que foi possível
pois a crença e fé são bem poderosas frequentemente 2. E de facto durante muitas décadas a devoção a ela e ao seu corpo tido como incorrupto foram grandes.
Bibliografia: VENCIMENTO, P. M. Fr. Caetano do. Fragmentos da prodigiosa vida da muita favorecida e amada esposa de Jesus Cristo, a Venerável M. Marianna da Purificação, religiosa carmelita calçada no convento da Esperança da cidade de Beja ... Lisboa, António da Sylva, 1747.
Notas: 1 VENCIMENTO, P. M. Fr. Caetano do. Fragmentos da prodigiosa vida da muita favorecida e amada esposa de Jesus Cristo, a Venerável M. Marianna da Purificação, p. 159. 2 RANGEL, Leonardo. Esposas de Cristo: Santidade e Fingimento no Portugal Seiscentista. 2018.
Que as sorores nos inspirem na luz e amor Divino |
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