Livros, capas e marginália.
Por entre a desilusão grande que sentimos perante os políticos e os meios de informação ocidentais avençados, lobotizados e russofobizados, os livros, com as suas capas, são um meio de viagem e diálogo para além da mediocridade de tanta instituição, informação e publicação.
As capas do livros, realizadas com tanto engenho e amor, e as antigas com certas limitações, dizem-nos: - Não somos só para ser lidos e relidos, mas também para sermos contemplados. E frequentemente bem investigados, pois preciosidades podemos conter, tais como anotações posteriores à impressão e as dedicatórias, boias de amor-sabedoria lançadas para o destinatário e dono do livro, ou para o futuro da Humanidade. Oiçamos:
|
Na 1ª folha branca vai a dedicatória de Francisco Alves, nascido em Proença-Nova, um vibrante pioneiro do são e cristão espiritismo entre nós, à Câmara Municipal de Braga. É de 1918, mas tão actual face ao genocídio do povo da Palestina: "O Ouvi é uma revolução d'alma, é um acordar das consciências, perante a hecatombe que assola o mundo"..... O mal, o egoísmo, a ignomínia vêm de tudo o "que não é inspirado na obra da Igualdade, Humildade, Caridade, Verdade". Movido pela compaixão e o seu conhecimento psico-espiritual, por vezes ingénuo, Francisco Alves transmite a sua mensagem humanitária, doutrinária e despertante. As capas das suas obras foram dadas à luz multipolar da olisiponense Imprensa de Manuel Lucas Torres, à rua do Diário de Notícias, 59 a 61.
|
|
|
A obra foi assim dedicada: «Curvando-me perante o supremo altar da sublime Verdade, ofereço à Pátria, à República e à Humanidade, culto de amor e de trabalho». No interior, dedicatória manuscrita valiosa: "Princípio do reinado do Espírito sobre a Matéria. Para o bem humano pede-se leia de vagar e com atenção. Offerece o Autor, 8-5-1921"
|
|
Pela capa, o tão popular romancista Blasco-Ibáñez dir-nos-á do além: - Não te deixes inclinar demasiado, não percas a consciência da tua verticalidade. Alinha-te, recupera a auto-consciência frequentemente, e abre-te ao alto, ao Divino, à sua copresença. Sê uma torre, uma Casa de Deus justa, sábia.
|
|
A mais que popular Guimarães & Cª,Editores, que tanto animou a capital e o meio literário português, parece afirmar: - Sonhar na ventura amorosa a todos cabe na Fortuna da Vida, mas o acordo perfeito é mais difícil e raro. Todavia, poemas e cartas de Amor são imortais, tal como o Amor em si, ou mesmo a amizade divina que reina entre todos os espíritos de bem....
|
|
Hino à luz, ao conhecimento, à ciência, e à juventude para que esta aspire sempre à luz do conhecimento infinito, e frutifique em amor, justiça, fraternidade e multipolaridade. Em 1912, por Alfredo Ansúr (1849-1927), um genial jurista e escritor, aberto à espiritualidade universal, nomeadamente oriental que conhecia bem, tendo escrito mesmo um livrinho sobre Confúcio nas edições A. M. Teixeira, de João Antunes, onde Fernando Pessoa também colaborou com traduções de Teosofismo. O livrinho, um in-8º de 64 páginas, dado à luz em 1912, no Centro Typ. Colonial (1.200 exemplares, com oito tipo de colorações nas capas, conforme os liceus e universidades a que se destinavam), contém sobretudo poemas astronómicos e três longos budistas (e um recorte de uma crítica de um jornal da época), é precedido duma carta de convivialidade e urbanidade de outro pensador e escritor apaixonado pela sabedoria e a justiça, e que foi amigo de Antero de Quental, Manuel d'Arriaga, um espiritualista e utopista presidente da República. Bons tempos de qualidade política... Não esmoreçamos, não desistamos, há uma tradição espiritual portuguesa, há uma philosophia perenis, um corpo místico da Humanidade, que conta connosco... |
|
Extracto do longo e genial poema dedicado ao presidente da República Manuel d'Arriaga, seu companheiro em Coimbra, e a sua mulher Lucrécia:
«Estrela dupla sois- a Sírio em candidesa.- (Há lucernas assim no azul da imensidade)
Deslumbram a retina em sua esplendidesa,
Constituem faróis da culta humanidade.»
Sem comentários:
Enviar um comentário