quinta-feira, 9 de junho de 2022

Frei Aleixo de Amarante, um noviço mas mestre dos sentidos espirituais, e da Tradição Espiritual Portuguesa, na Goa quinhentista.

  «Era Mestre de Noviços em Goa o padre Frei Simão das Chagas, de quem, quando havemos de falar adiante, quando chegarmos à Cristandade de Solor, aonde por muitos títulos pertence [está citado no 1º Livro da Vida do S. Arcebispo D. Frei Bartolomeu dos Mártires] Veio-lhe pedir o hábito de Irmão Leigo um mancebo de boa presença, natural de Amarante. Sendo recebido pelo Prior, encomendou o Mestre aos Noviços, que tivessem cuidado de fazerem Oração por ele; porque lhe via jeito de haver dar um bom filho de S. Domingos. Como se ora profecia, assim foi o bom Leigo adiantando [-se...] em todo o género de virtude. De sorte, que era um exemplo de humildade, de devoção, & caridade.
 
E conta o Padre Frei António da Visitação, que sendo Enfermeiro no Convento de Goa, depois de cansar todo o dia em servir doentes, descansava à noite em fervorosa Oração. E tal, que foi fama, e coisa havida por muito certa, que uma noite lhe pareceu o Bem-aventurado S. Gonçalo [1187-1259], santo de sua terra [Amarante], acompanhado de uma suavidade de cheiro tão extraordinário, que junto à novidade da visão ficara o pobre Leigo todo transportado, e tornando em si, gritara tão alto, que acudirão os frades. E perguntado pela causa, não sabia responder oura coisa, senão: - Ó que suaves eram! Não tem a Terra coisa semelhante! [Ó margens, veigas e hortos do rio Tâmega...]
Era um dos que o acudiam, o Padre Frei Tomé Cardoso, que pouco depois foi Prior de Goa e contava o caso como se fora quase presente, e do Leigo tinha grande opinião. Este Irmão veio a adoecer e estando na enfermaria e na mesma cela em que estava o P. Frei Paulo do Espírito Santo, chamou uma noite pelo Padre [Paulo], e perguntou-lhe o que queria dizer, Laudate Dominum de coelis [Louvai o Ser Divino, ou Senhor, dos Céus].
Contava este Padre, que na hora em que lhe respondera com a declaração [explicação-tradução], dera o bom Leigo dois grandes suspiros, e traz eles a Alma [dar a alma ao mundo espiritual e à Divindade]. E porque a doença não era de qualidade que prometesse fim tão breve, julgou a piedade [a docta pietas de Erasmo], dos que conheciam seu Espírito, que as palavras do Salmo foram chamamento do Céu, e juntamente efeito de o levarem traz si. Era o nome deste Irmão, Frei Aleixo», e passados este séculos vimos nós saudá-lo e com ele comungar no amor e louvor, devoção e abnegação que ele tão heróica e agraciadamente viveu na Índia portuguesa quinhentista.
Que justificação apresentarei eu para ressuscitar este Irmão Aleixo, salvando-o do esquecimento centenário, num dia em que limpando um exemplar truncado da Terceira Parte da História de S. Domingos, particular do Reino e Conquista de Portugal, por Fr. Luis Cacegas, da mesma Ordem & Provincia & Cronista della. Reformada em Estilo & Ordem & Ampliada em Sucessos & Particularidades, por Frei Luís de Sousa, Filho do Convento de Bemfica, de 1678, subitamente uma página (331) aberta, qual Istixara persa [abertura à sorte de um livro tido como sagrado e oracular], quis sussurrar-me esta história de vida exemplar mas ignota de um membro da Tradição Espiritual Portuguesa?
Apontar as minas e as fontes cheias de ensinamentos espirituais que encontramos em muitas vidas de religiosos e leigos registadas em crónicas e livros, descontados os casos mais miraculosos e mistificados, neste caso para realçar o discernimento de espíritos do padre frei Simão das Chagas que conseguiu intuir as qualidades anímicas que amarantino irmão Aleixo continha, a sua mestria na oração pelos outros, pedindo mesmo aos seus discípulos ou noviços que orassem, ou pedissem as bênçãos espirituais e divinas sobre o recem-chegado irmão leigo ou ajudante para todos os trabalhos Aleixo.
E em Frei Aleixo, primeiro, a sua capacidade de servir abnegada e incansavelmente o próximo, em especial os doentes, bem como a sua capacidade forte de oração, pois mesmo cansado ao chegar à sua cela, em vez de se deitar sobre o catre, lançava-se na oração ferverosa, ou seja ardente, plena de amor, de bhakti. Caracterizam-no pois assim com um bom exemplo «de humildade, de devoção e caridade...»
 Mas destacaremos sobretudo ainda a sua capacidade de ter ou merecer os sentidos supra-sensíveis bem activos: tanto o olho espiritual, o 3º olho, vendo o Santo da sua terra natal, como o olfacto subtil e espiritual, no caso com as suavidades perfumadas que captou.
Também a sua morte, é bem instrutiva, pois parece manifestar outro sentido do corpo espiritual, a audição, embora pudesse ter visto as letras do apelo à oração dgraças, quando ouve esse chamamento de louvor, quem sabe se pronunciado ou trazido por Anjos ou por sacerdotes mestres, à Divindade dos céus, e deixa o corpo físico e vai atrás ou na esteira desse eco, rumo à fonte, em corpo espiritual. 
Eis-nos uma vida bem valiosa do passado, com alguns momentos bem luminosos, e que, já que não os podemos ver e rever, ao menos que os meditemos ou imaginemos mesmo, para que resultem inter-acções luminosas, neste Corpo Místico da Humanidade que a todos nos une, também denominado hoje Campo Unificado de Energia Consciência e Informação e no qual podemos ser bem inspirados e fortalecidos no Caminho, Verdade e Vida, para que a Humanidade se liberte mais das manipulações e alienações e desperte espiritualmente e irmãmente....

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