quinta-feira, 14 de abril de 2022

Aum Mani Padme Hum. Mantras. Om Sri Gurabe namah. Texto e vídeo....

                                         
 
O Aum mani padme hum é um dos mantras (de man- pensar, e tra- instrumento para proteger ou irradiar), ou fórmulas breves de oração, concentração e meditação, mais conhecidos e laborados, formulado em sânscrito e devendo ter nascido em práticas religiosas, yogis e tântricas, tanto mais que a fonte escrita mais antiga conhecida, o Karandavyuha Sutra, embora sendo budista, do séc. IV ou V, é dedicado ao bodhisattva da compaixão Avalokiteshvara, (de ava - lok - ishwara, traduzível como descida ao mundo do Senhor ou Deus),  incorpora em si influências de cultos da Índia femininos shivaístas tântricos, contendo na descrição deste bodhisattva ou futuro Buddha, quanto às partes do seu corpo, as principais divindades hindus, nomeadamente Shiva, sabendo-se ainda que o seu culto foi muito desenvolvido filosófica e espiritualmente no chamado Shivaísmo de Cachemira, muito próximo do Tibete. 
                                       
Poderá ser a sua origem tal zona e tal síntese de budismo e shivaísmo, aparecendo no Tibete no séc. VIII, com a tradição a afirmar que tal sutra e mantra desceram do céu ou mundo espiritual no séc. VII. Não se podendo chegar à certeza de quem o recebeu, intuiu ou criou, ou de quem o transmitiu numa primeira iniciação (fonte de todas as futuras) o que importa é que ele se vai tornar poderoso, marcante, popularíssimo no esoterismo (transmitido de mestre a discípulo) e na devocionalidade  do Budismo, tanto do Tibetano (Om mani peme hum, ou Om mani peme hum hrih) e suas vias ou linhas, como também do Budismo do Extremo Oriente nipónico e chinês, e também de Shivaísmo e Yoga, tudo se passando com pequenas variantes, além das linguísticas, mas sempre expresso com grande criatividade e beleza em mandalas e outras formas de arte, e em todo o tipo de suportes, desde o papel e o pergaminho ao pano, à pedra e ao metal...

Há muitas propostas de tradução e sobretudo de associações psico-espirituais, nomeadamente com cores, planos ou níveis da realidade microcósmica e macrocósmica,  destas quatro palavras e seis sílabas,  embora a base possa ser simples e nesta minha aproximação não tanto numa linha budista: Aum ou Om, é o som, vibração e palavra mais invocadora e aproximadora da Divindade, da perfeição, do infinito, o chamado pranava, que se considera incluir a totalidade dos sons e exprime a sua vibração e passagem pelos três mundos (físico-A, subtil-U e espiritual-M), podendo ser tanto uma invocação espiritual e divina, como do divino em nós;  Mani, é a jóia preciosa, o tesouro, a centelha espiritual; Padme é a flor de lótus, o vaso, o receptáculo, a alma; e  Hum é um som final de completude, realização e unificação, bastante vibratório sem dúvida. Por vezes ainda se acrescenta o som semente Hrih, seja da Compaixão infinita, seja o de concretização no agora e aqui.

Aum, em branco; Ma, verde; Ni, amarelo; Pad, azul; Me, vermelho; Hum, escuro; Hrih, claro..

Se o Aum é uma invocação da Realidade Primordial, dos grandes seres do mundo espiritual, do Todo ou mesmo do Ser Divino, abrindo-nos a tal, o padme pode ser sentido e visto como a tradição, ensinamento ou alma em si, ou referir-se aos chakras ou a um chakra, que acolhe ou contém mani, a jóia preciosa que simbolizara seja o ensinamento, ou o vazio, shunya, ou então a verdade ou, o que proponho, na linha do ensinamento de Bô Yin Râ e dos mestres do Dwaita Vedanta e dos Humanistas do Renascimento, o espírito, ou seja, a consciência espiritual.

O mantra é então uma prática de yoga, de oração, de proteção e em especial  de harmonização psíquica, e por isso os dois sutras iniciais de Patanjali dizem-nos Yoga citta vritti nirodha. Tadâ drastuh svarupe avasthanam, (1-Yoga é o controle das ondulações mentais. 2 - Então a consciência pura estabiliza na sua própria natureza) podendo assim aproximar-nos ou unir-nos ao espírito que está dentro e no alto de nós e, em sintonia e com as bênçãos dos grande seres e deidades, permitir-lhe a ele inspirar-nos ou irradiar para os outros e o mundo. Ao ser um instrumento milenário, ou como eu chamo um psicomorfismo, o mantra,  impregnado de certas energias subtis e despertando-as em nós, liga-nos com tais linhas ou correntes  de força na alma ou corpo místico da humanidade,  e nomeadamente com algum mestre ou deidade a que estejamos ligados por iniciação ou devoção, ou a que se está associado familiarmente, ou a que se pode ter acesso.

A associação prevalente ou mais conhecida deste mantra é ao bodhisattva Avalokisteshvara, cultuado no Extremo Oriente como ser feminino, a grande Deusa da Compaixão infinita, denominada Kuan Yin, na China,  ou Nyoirin Kannon no Japão, como vemos numa bela escultura do séc. XVII, representada (no Metropolitan Museum) como nyoirin, portadora da roda (rin) da vida e do Dharma ou Lei, e da cintamani, a jóia, ou realização, que tudo concede ou alcança.

Segue-se um  vídeo, gravado na noite de 13 para 14 de Abril de 2022,  inspirar  algumas pessoas ou mesmo estimulá-las a pronunciarem  ou praticarem alguns dos mantras, tanto o Om Mani padme hum, nas quatro palavras ou seis sílabas, ou na sua versão com Hrih final, como também o da invocação e saudação aos mestres, Om Sri Gurabe namah, mais ou menos lenta e sentidamente, e assim fortificarem a sua religação espiritual, irradiando amor e compaixão para a humanidade, hoje em tão grande necessidade. A imagem no vídeo é a da reprodução duma pintura do mestre Bô Yin Râ, tal como a estrela última. Anote-se que o notável compositor brasileiro Marcus Viana tem um belo disco consagrado a este mantra...

                            

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