segunda-feira, 18 de abril de 2022

Antero de Quental visto por três que o conheceram intimamente e logo amaram. No 180º centenário do seu nascimento. Música dos anos: Marcus Viana, Raya Hilal

Neste dia de anos de Antero de Quental, e desde que desceu a S. Miguel, na ilha da Terceira, já lá vão 180 (1842-1891), para comemorarmos a data e comungarmos com o seu ser, sabedoria e amigos, resolvemos escolher alguns excertos dos contributos de três dos  que bem o conheceram e amaram e que nos deixaram os seus valiosos testemunhos, quase testamentos, nesse extraordinário In Memoriam, de 1896, e que certamente nos inspirarão e farão entrar em alguma sintonia ou comunhão com eles e assim a fortificar-nos no Caminho do Bem e da Verdade, do Amor e da Divindade que eles  também trilharam e trilham subtilmente. No fim, uma bela e forte música de Marcus Viana, Raya Hilal é dedicada à alma do aniversariante. A claridade, força e beleza das imagens e ideias forças ou psicomorfismos dos que eles nos comunicam ou transitem dispensam comentários e apenas nos pedem que abramos mais o coração espiritual...
 
                                                                 João Eduardo Lobo de Moura, * 1840 | Geneall.net
De João Lobo de Moura (1840-1903):
«Era uma luz brilhante cujos raios se projectavam a grande distância, e poderiam ter alumiado espaços mergulhados ainda na escuridão, mas ardia numa lâmpada fendida, que deixava derramar o óleo precioso que a alimentava; e assim se extinguiu, deixando contudo na alma dos seus amigos um rasto luminoso, que não se apagará jamais. Espero que reviva na luz eterna, que os seus olhos procuraram sempre avidamente».
                                    Pedro Teixeira da Mota: Jaime de Magalhães Lima e o seu prefácio à obra de  Tolstoi "O ensino de Jesus: uma exposição simples"
De Jaime de Magalhães Lima (1859-1936):
«Seja-me lícito porém recordar a grandeza moral que a constituição da sua filosofia representa e a fecundidade prática que encerra, e seja-me lícito ainda lembrar que o desastre em que terminou a vida de apóstolo não contradiz nem prejudica a verdade da sua doutrina.
Quem ler os sonetos de Antero de Quental - e só a esta obra me referirei como a que melhor condensa toda a evolução desse elevado espírito - imediatamente descobrirá que o seu traço mais fundamental característico é uma indomável ansiedade da Verdade; descobri-la, para guiar e libertar do erro a sua alma, é a preocupação permanente do poeta. Este sentimento domina e inspira toda a sua obra, derrama-se por todas as emoções poéticas como por todas as meditações filosóficas; é o génio que arma o cavaleiro para a luta, que lhe avigora o braço e que o isenta do desfalecimento. Essa ansiedade, essa vis intima, é o traço dominante de toda a natureza tão rica de Antero de Quental.
Armado com a única couraça, a única armadura, que resiste sem quebrar a todos os golpes, possuído o coração dum sentimento que é a razão soberana da sua actividade, ei-lo combatendo longos e dolorosos combates! Desalentos, desilusões, angústias, nada faltou a consagrar o seu martírio. Contá-los para quê?....»

                                                                Luís de Magalhães | Casa de Camilo
De Luís de Magalhães (1859-1935):
«Se o poeta foi sublime, se o pensador foi grandioso - o homem ascendeu a uma altura moral não menos sublime que a da sua aspiração, não menos grandiosa que a do seu pensamento: - ascendeu quase à santidade, expressa numa vida que, em todas as suas antíteses e contradições, foi uma contínua aspiração para o Bem.
Entre os seus pensamentos, as suas palavras e as suas obras, houve sempre a conexão da mais inalterável coerência. A verdade foi para ele, não apenas uma aspiração da inteligência, mas uma aspiração moral. A sua vida tem, assim, o brilho e a transparência da luz - da luz que parece haver sido o plasma da sua alma.
Admiremos, pois, o poeta; admiremos o filósofo. Mas amemos o homem, a amemos-lhe, sem reserva, a memória santa, que esse amor elevará as nossas almas. Da contemplação dessa vida brotam inspirações de justiça e de infinita bondade. Ela é como que uma prova viva - de que o Bem não é, sobre a Terra, uma quimera irrealizável.»

                                                                     Aum Jivatman...

                     

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