«Na próxima quarta, dia 16 de Dezembro, das 10h30 às 17h30, o colóquio Orpheu, e agora? traz à Casa Fernando Pessoa Fernando Moraes Gebra, Annabela Rita, José Blanco, Maria de la Sallette Loureiro, Pedro Teixeira da Mota, Anabela Almeida e Dionísio Vila Maior para fazer o balanço do ano e do legado da Orpheu no contexto das artes luso-brasileiras. Este colóquio é uma organização de Fernando Moraes Gebra, Universidade Federal de Fronteira Sul, CLEPUL/Universidade de Lisboa e CFP.
Segue-se um texto do enquadramento paisagístico previsível da minha intervenção interseccionista:
Segue-se um texto do enquadramento paisagístico previsível da minha intervenção interseccionista:
A sensibilidade e o conhecimento ocultista de Fernando Pessoa são visíveis desde muito novo e na época de Orpheu (1915) estavam razoavelmente desenvolvidos pelo que, naturalmente, tal sensibilidade e conhecimento perpassam pelos "movimentos" que então lançava, nomeadamente o Paulismo, o Intercessionismo, o Sensacionismo, o Paganismo transcendentalista, a que poderemos juntar, ao estar presente em Orpheu, o Vertiginismo de Raul Leal, um adepto também do ocultismo e que veio mesmo a ser iniciado por Alesteir Crowley em 1930.
Como conhecedores das Ciências Ocultas ou do Hermetismo deveremos ainda juntar Almada Negreiros, Augusto Ferreira Gomes, Augusto de Santa Rita, Armando Côrtes-Rodrigues, este pela sua "profunda religiosidade".
Todavia, transversal a todos os participantes dos três números da revista está uma clara adesão ao que Fernando Pessoa e Sá-Carneiro propugnavam como o movimento de síntese cosmopolita e universal, o Sensacionismo, que absorve de certo modo o Interseccionismo anterior, os quais, na doutrinação que Fernando Pessoa foi escrevendo ao longo do tempo, talvez por vezes eco de diálogos com os seus companheiros ou adeptos, são frequentemente ligados ou baseados nos conhecimentos do Ocultismo sobre a intermediarização entre a realidade física e a subtil ou mesmo espiritual e divina.
Mesmo a aventura criativa dos seus três grandes heterónimos se pode ver como um acto ocultista mágico, estruturado astrologicamente e em termos dos quatro elementos, e com intersecções, e alcandorado no final da sua vida a graus de iniciação, como ele próprio nos diz em manuscritos que dei à luz pela primeira vez em Moral Regras de Vida, Condições de Iniciação, 1988.
Esta persistente procura da Verdade através dos ensinamentos dos Mistérios da antiguidade, do esoterismo das Religiões e Literaturas, da Gnose e das Ordens, Associações secretas e ocultistas ou hermetistas posteriores e, na época, das traduções de Teosofia que teve de fazer, ficou patente em centenas de escritos ocultistas que deixou inéditos e em vários poemas de mesmo teor, que poderemos também designar por esotéricos, herméticos, iniciáticos e espirituais, e foi mais clara e publicamente afirmada no último ano sua vida não só na Mensagem e na defesa da liberdade das Associações Secretas, no caso a Maçonaria, como também nas suas notas autobiográficas onde se afirma mesmo iniciado na Ordem Templária de Portugal, para a qual muito trabalhou.
Passados 100 anos de Orpheu, mítico nome de um iniciado e iniciador dos mistérios órficos, a obra ocultista e espiritual de Fernando Pessoa continua em publicações, colóquios e obras de arte a dar frutos (falaremos dalguns brevemente) mostrando-nos assim que Orpheu nos seus diversos níveis não morreu, é inextinguível e que o É a Hora pode continuar a ser clamado ou mesmo vivido sensacionística ou ocultamente.
Nesta nossa intervenção contextualizaremos afirmações e teorizações sobre o Sensacionismo/Interseccionismo e a revista Orpheu com os conhecimentos ocultos e iniciáticos que Fernando Pessoa admitia, buscava e em parte realizara. E comentaremos brevemente os contributos de Raul Leal e Thomaz de Almeida.
Da Lua, dita mansão dos mortos, chegam-nos vislumbres dos passos e aspirações, para não dizer ânsias, do poeta em relação à realização das múltiplas forças anímicas que nos deixou em testamento... |
Sem comentários:
Enviar um comentário