segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

"Tese e Antítese nos Sonetos de Antero", por António Sérgio. 1937.

António Sérgio, nascido em Damão, na Índia, em 3.IX.1883, filho do então Governador-Geral da Índia Portuguesa, e morrendo em 12.III.1969, foi um pedagogo, livre-pensador e democrata, com vasta obra publicada, tendo sido preso várias vezes e exilado pelo regime de Salazar, mas mesmo assim a sua obra era lida, discutida e sentida como uma luz na obscuridade política e do livre-pensamento nas décadas de 30 a 70 no século vinte. Foi um grande propugnador dos princípios do cooperativismo em Portugal, fazendo pequenas publicações de divulgação. O movimento da Seara Nova e a sua revista devem-lhe muito, e as suas tertúlias literárias eram fecundas. Os seus estudos de história e os vários volumes dos Ensaios foram contributos importantes para equilibrar a mitificação exagerada da História de Portugal, embora por vezes sofrendo dum excessivo pendor positivista, como aconteceu, por exemplo, nas polémicas acerca do Sebastianismo e do Messianismo e mais tarde acerca de Leonardo Coimbra. Os seus comentários tecidos à História Trágico-Marítima foram dedicados «À memória do Infante D. Pedro, de D. Francisco de Almeida, de D. João de Castro, de Diogo de Couto, de Luís Mendes de Vasconcelos, contrários à ideia de fazer conquistas, de multiplicar fortalezas», e ilustram os seus desejos ou aspirações de um entendimento pacífico e lúcido e de uma sociedade cooperativa e equitativa. Editou os Sonetos de Antero, amplamente comentados, e foi quem mais tentou caracterizar e fundamentar uma polaridade apolínea e dionisíaca existente em Antero de Quental.
Em 1937, na importante Revista de Portugal, fundada por Vitorino Nemésio e Alberto Serpa, e que durará até 1940, publicou um valioso texto que vamos partilhar. Se houver comentários logo se fará diálogo, agora apenas transcrevendo a conclusão de Antero e de Sérgio:
«Todo o dialecta há-de pensar com Antero [citado das suas Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XX], que «o Universo, análogo no fundo ao espírito, só pelas suas ideias imanentes existe e se governa» e que «a evolução, vista desta altura, não é somente o processo mecânico e  obscuro da realidade: é o próprio processo dialéctíco do ser, tem as suas raízes, comuns com as raízes da razão, na inconsciente mas fundíssima aspiração da natureza a um fim soberano, a consciência de si mesma, a plenitude do ser e a ideal perfeição»...












Um pouco difícil de ler... Logo que possa, fotografo de novo...íí

                         
Escreve António Sérgio, e repetimos: «Todo o dialecta há-de pensar com Antero que «o Universo, análogo no fundo ao espírito, só pelas suas ideias imanentes existe e se governa» e que a evolução, vista desta altura, não é somente o processo mecânico e obscuro da realidade: é o próprio processo dialéctico do ser, tem as suas raízes, comuns com as raízes da razão, na inconsciente mas fundíssima aspiração da natureza a um fim soberano, a consciência de si mesma, a plenitude do ser e a ideal perfeição»...
Eis algumas afirmações correctas e outras incorrectas, que nos desafiam a cogitarmos com calma, pois nem Antero nem Sérgio estão aqui a ver ou a admitir a descida do espírito à natureza, algo materialistas vendo o espírito apenas numa medida idealista, na qual se compraz António Sérgio, vendo-a implícita no materialismo dialéctico, ainda que estes não se considerassem idealistas. Ora o espírito é tão real como uma coisa e não é uma simples ideia. E tem de ser experienciado interiormente por cada um de nós...

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