quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Aniversário de sri Ramakrishna Paramahansa, grande místico indiano (n. 1836).

                 Sri Ramakrishna Paramahansa...
Em Karmapur, Bengala, nasce no dia de 18 de Fevereiro de 1836 (mas em 2015, pelo calendário lunar indiano acontece a 20 de Fevereiro, às 5:15 a.m.) Ramakrishna, um dos últimos grandes mestres da Índia, por muitos considerado um avatar, (do sânscrito avat, descida) uma manifestação maior da Divindade. Sacerdote no templo de Dakshineswar, em Calcutá, cheio de espírito e alegria, percorrerá em vivências interiores e por vezes até exteriores os vários yogas e religiões. para em todos encontrar, com nomes diferentes, a Divindade única. 
Dirá: «Há muitos que falam do Conhecimento Divino, mas permanecem ocupados em coisas inferiores ou menores como a casa, o dinheiro, a fama, os prazeres. Enquanto permanecerdes em baixo do monumento apenas vereis os transeuntes, os carros, as casas, mas quando subis ao cimo dele, contemplareis apenas o céu expandindo-se no infinito, e então não vos satisfareis com as pequenas coisas em baixo, que surgem como pequenos insectos... Quanto mais vos aproximardes de Deus, mais obtereis Paz (Shanti), Paz, a Suprema Paz».
                                                    
Uma das características mais valiosas de Ramakrishna Paramhansa (1836- 1886) era a sua capacidade de sentir intensamente e mesmo ver a Presença Divina em todos os seres, ou mesmo em tudo...
Por muitos modos ele explicou o que via e vivenciava, nomeadamente Deus:
"Como é Deus tudo, ou como está em tudo? - É a Divindade que está dentro de nós como a Consciência Pura, a Inteligência Pura.. Neste nível nós somos como a casa e Ele o morador...."  Eis uma boa proposta de meditação.....
Ramakrishna considerava a mera busca intelectual insuficiente, pois o mais importante era a inquietação ou desassossego por Deus, a aspiração (mumuksha) que culmina no amor, na visão, na união...
Um dos aspectos modernos ou, melhor, perenes de Ramakrishna era o de cantar versos tradicionais e dançar, criando à sua volta, com os devotos e amigos, grande entusiasmo místico e alegria...
                                                      
Ramakrishna considerava que este mundo tinha sido criado por Deus para seu prazer ou jogo (lila), e salpicara-o de atractivos para manter as pessoas envolvidas nele mas à medida que os desejos fossem sendo cumpridos e o ego dissolvido a vontade de retornar a Deus crescia nas pessoas e então elas conseguiam-no amar e ver, e libertavam-se das malhas de maya, do jogo ilusório da manifestação.
Vivendo nos arredores de Calcutá, como sacerdote do templo de Kali em Dakshineswar, teve muitos discípulos, um dos quais redigiu quase o dia a dia do mestre, numa obra que se tornará o famoso e belíssimo livro O Evangelho de Ramakrishna traduzido em todas as línguas, em Portugal existindo ainda apenas através da tradução e impressão brasileira, embora eu tenho estado em em 1996, seis meses em Calcutá, a meditar e a dialogar, tendo sido iniciado pelo presidente da Ordem Swami Ranganathananda (1908-2005), e a estudar e a traduzir textos indianos com Satchitananda Dhar, no Instituto de Cultura da Ordem de Ramakrishna, tendo traduzido partes do Evangelho de Ramakrishna que se conservam em manuscrito, talvez à espera de alguma alma caridosa ou engenhosa que as queira computorizar...
                                             
                                           
Ramakrishna tinha grande intuição em reconhecer nas faces ou mesmo formas das pessoas as qualidades interiores, e conta-nos uma história interessante nesse sentido, quando ele era um jovem que estava a começar o seu caminho espiritual: "Alguns dias depois de ter a minha primeira experiência de samadhi (um estado de unificação beatifica Divina), em Dakshineswar, uma mulher de família brâmane veio cá, e tinha muitos traços belos. Logo que pusemos uma grinalda de flores à volta do seu pescoço e a queimarmos incenso diante dela, ela entrou em estado de samadhi (ou ainda, êxtase ou inebriamento). Uns momentos depois ela sentiu uma felicidade tão grande que as lágrimas saltavam dos seus olhos. Eu saudei-a e perguntei-lhe: Mãe, será que eu vou conseguir? Sim, replicou ela."
Neste pequeno acontecimento temos vários aspectos valiosos para reflectirmos: a intensificação espiritual de uma pessoa que se pode fazer ungindo-a de incenso e de flores, algo que em geral no Ocidente se faz apenas para os mortos e que julgo ter causado da parte deles algum reparo irónico, já nos seus corpos psico-espirituais: "Nunca nos deram uma flor em vida e agora é que o fazem..." Saibamos então presentear melhor os seres que amamos ou que o merecem com flores e incensos, bons sentimentos, pensamentos, energias...
Voltando aos ensinamentos do episódio da vida de Ramakrishna, vemo-lo em seguida a ter intensificado o estado espiritual (bhava) da visitante, humilde e sinceramente ver nessa mulher a Mãe Divina, algo que é um arquétipo interno de toda a mulher, mas que naquele momento de elevação espiritual mais se concretizava, e perguntar-lhe o sucesso seja da sua profissão de sacerdote ou da realização espiritual futurante, aceitando-a como uma sibila, uma voz oracular...
A influência de Ramakrishna no reconhecimento da Religião Universal ou da Unidades das Religiões é muito importante, não só pela sua experiência das várias religiões por experiência directa, como pelo seu pioneirismo e pelos que, a partir dele, têm ora experimentado internamente ora aprofundado comparativamente as semelhanças e pontos comuns entre as várias religiões e tradições, ou ainda finalmente os que místicos ou iniciados têm experimentado ou vivenciado a Divindade única, a Fonte Primordial, o Sol do Amor Divino...
A descrição da sua passagem intima pelo Islão e pelo Cristianismo tem certamente interesse em ser relembrada, e utilizaremos alguns excertos das traduções feitas no Ramakrisna Institute of Culture, em Calcutta, em 1996:
"O conhecimento pessoal das diversas práticas de cada religião e da essência dos seus fundadores foi sendo paulatinamente revelada a Ramakrishna. Pouco depois da sua iniciação com Tota Puri [um mestre advaita Vedanta, ou seja da Unicidade Divina], um faquir muçulmano chegou ao oásis no deserto que era Dakineswara, parou a sua caravana, e entregou-se às suas práticas no bosque, asseguradas que estavam as s suas refeições pela generosidade da organização de Mathur [o superintendente do templo de Ramakrishna].
Govinda Rah, assim se chamava, não passou despercebido ao olhar arguto do mestre e revelou-se ne verdade um companheiro de Deus. Quase que imediatamente Ramakrishna sentiu vontade de praticar a sadhana [os exercícios e metodologias psico-espirituais] islâmica sufi, ou seja, as práticas desses místicos que constituem o centro mais puro da religião islâmica.
Iniciado por Govinda, começou a vestir-se e a comer como os muçulmanos, obrigando um cozinheiro árabe a explicar ao cozinheiro bramane como devia fazer a comida e passou a rejeitar espontaneamente as divindades hindus e a repetir o nome de Allah e a dizer o Namaz [as orações preceituadas pelo Islão] as três vezes ao dia. Após três dias neste bhava [sentimento, modulação ou onda interior], Ramakrishna teve uma visão de uma homem luminoso e impressionante, com uma barba longa, e depois viu-realizou a Divindade com atributos e por fim a Divindade pura sem atributos."...
"Pouco depois de ter conseguido realizar a adoração da Mãe Divina pura, Ramakrishna veio a conhecer pessoalmente a religião Cristã. Costumava por vezes visitar um vizinho do templo que era cristão e que tinha na parede uns quadros religiosos em que Jesus surgia. De um deles, criança, ao colo de Maria. Um dia que o examinava cuidadosamente, surgiram como que raios que o trespassavam e o alteravam completamente, fazendo com que as suas impressões hindus fossem como que encerradas num cantinho do cérebro. Algo assustado por não estar a conseguir relacionar-se com a sua religião, pois agora eram outras impressões as que submergiam a sua mente, Ramakrishna orou profundamente à Mãe divina: "Oh Mãe, que mudanças estranhas me estás a causar", mas infrutíferamente. Pelo contrário, imagens de padres e fiéis em oração e adoração profunda, oferecendo incenso, luz e corações ardentes a Jesus nas igrejas surgiam, ao mesmo tempo que uma grande fé e reverência por Jesus e a sua religião o inundava.
Durante três dias este estado manteve-se, sendo-lhe impossível entrar no templo de Kali e por fim ao passear no bosque sagrado viu um homem de compleição bela e profundamente espiritual, ainda que com o nariz levemente achatado, avançar para ele sorridente.
Do seu peito brotaram então as palavras: "Jesus, Jesus o Cristo, o grande Yogi, o amoroso filho de Deus, um com o Pai, que deu o sangue do seu coração e se entregou à morte por tortura para libertar os seres humanos da dor e da miséria. Jesus então abraçou-o e introduziu-se dentro do seu corpo e Ramakrishna entrou em extâse, realizando Deus com atributos e não tendo mais qualquer dúvida em ele ser uma incarnação divina"...
                                                 
"No seu quarto teve sempre ao lado das imagens hindus, uma estátua em pedra de Mahavira, o último tirtankara Jaina e uma imagem de Cristo na parede, e oferecia-lhes incenso todas as manhãs."
Se quiser meditar mais no dia 20, e nos seguintes conforme o programa, certamente que estará em maior sintonia com ele e com os milhares de devotos ou amigos no mundo....
                                                      

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