quarta-feira, 20 de setembro de 2023

As declarações do Presidente do Irão Ebrahim Raeisi, nas Nações Unidas, acerca da actualidade, e do falhanço da americanização do mundo.

 A importância do que se está a passar na luta entre a ordem mundial neo-liberalista e norte-americana contra a nascente multipolaridade fraterna e justa, liderada pela Rússia, a China, o Brasil, a Índia, a Africa do Sul  e os outros países novos do BRICS, tem no Irão outro país bem valioso pela sua civilização tradicional milenária e grandes místicos e poetas, tais como Sohrawardi, Ruzbehan, Rumi, Saadi, Haafiz e pela exemplar heróica resistência a guerras, terrorismos e sanções, na qual se destacou, após os milhares e milhares de mártires da guerra com Iraque, mais recentemente, o general Soleimani. 

As declarações do seu Presidente Ebrahim Raeisi,  nestes momentos decisivos da história do séc. XXI, são então valiosas de serem conhecidas, face ao bloqueio censurador pela elite ocidental dos media alternativos ou multipolares, pelo que da agência de informação iraniana Presstv.ir traduzimos as partes divulgadas por ela do seu discurso, sob o título Presidente Raeisi nas Nações Unidas: O projecto da Americanização global falhou.

«Na sua intervenção na 78ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), a 19 de Setembro de 2023, o Presidente do Irão Ebrahim Raeisi declarou que o projeto de americanização global fracassou.
"O mundo está numa transição irreversível para uma  ordem nova. A equação da dominação ocidental já não serve o mundo, e a velha ordem liberal, que servia os interesses dos imperialistas e dos capitalistas insaciáveis, foi posta de lado", disse Raeisi na sessão de terça-feira, em Nova Iorque.
"O projeto de americanização do mundo fracassou", disse Raeisi, acrescentando: "A nação iraniana orgulha-se de ter desempenhado, graças à Revolução Islâmica, o papel mais importante no desmascaramento dos imperialistas do Oriente e do Ocidente".

Política regional e internacional do Irão.
Noutra parte do seu discurso, o Presidente referiu que o Irão tinha aberto um novo capítulo de relações mutuamente benéficas com os seus vizinhos.
"A política de vizinhança da República Islâmica é uma política benevolente para a região. Apertamos com firmeza qualquer mão que nos seja estendida com amizade", disse Raeisi.
A República Islâmica apoia a máxima convergência económica e política intra-regional e inter-regional e está interessada em interagir com o mundo inteiro na base da justiça, afirmou.

Sobre a profanação do Alcorão.
O presidente Raeisi condenou, entretanto, a profanação do sacro Alcorão na Suécia e na Dinamarca, no início deste ano.

"O Nobre Alcorão baniu a afronta às ideias e às crenças...", recordou, perguntando: "O que é que melhor caracterizará a humanidade e elevará os valores humanos  do que a palavra de Deus Todo-Poderoso?"
"Esta não é a primeira vez que queimam as palavras de Deus e supõem que abafam a voz do Céu para sempre", disse e acrescentou: "Mas os ensinamentos do Alcorão para as comunidades humanas nunca arderão, e as chamas do insulto e da distorção não serão um adversário à altura da Verdade".
Raeisi afirmou que a islamofobia, qualquer que seja a sua forma, quer se trate de queimar o sagrado Alcorã
o  quer seja o proibir nas escolas as regras ou código de vestuário islâmico, equivale a fomentar o ódio.
"Há um objetivo maior por trás destes casos de ódio, e é errado aceitá-los sob o direito à 'liberdade de expressão' ", advertiu o estadista iraniano.

O Irão está contra a divisão do mundo num novo "Leste e Oeste".
Agora que os países independentes do mundo estão a caminhar para uma maior cooperação e convergência, disse Ebrahim Raeisi, "estamos a assistir ao esforço por parte de algumas potências para acender as chamas do conflito através de várias regiões".

Mantendo uma mentalidade de Guerra Fria, estas potências estão a dividir a comunidade internacional nos seus antigos blocos, disse ainda o chefe do governo iraniano.
"Esta medida é reacionária e não serve a segurança e o bem-estar das nações. A República Islâmica acredita firmemente que não se deve permitir que um novo Leste e Oeste tome forma."

A nação iraniana vitoriosa face às conspirações estrangeiras.
Ebrahim Raeisi saudou o facto de, no ano passado, a nação iraniana ter conseguido ul
trapassar "a maior ofensiva mediática e a maior guerra psicológica da sua história".
Referia-se à incessante campanha mediática e política que se seguiu à infeliz morte aquando da detenção pela polícia de uma jovem iraniana, Mahsa Amini.
O Presidente afirmou que, nos seus esforços para semear o caos em todo o país através da utilização abusiva da tragédia, alguns países ocidentais e os seus serviços secretos cometeram um "má avaliação" ao subestimarem a força 
da nação iraniana.

A abordagem selectiva ou discricionária do Ocidente em relação ao terrorismo.
Ebrahim Raeisi denunciou alguns E
stados ocidentais por "utilizarem o terrorismo como instrumento de política externa".
Recordou que alguns países europeus, apesar de afirmarem lutar contra o terrorismo, se transformaram num refúgio seguro para um grupo terrorista que derramou o sangue de mais de 17 000 civis e funcionários iranianos, referindo-se à Organização Mujahedin-e-Khalq (MKO).
"A discrim
inação na luta contra o terrorismo serve de luz verde para os terroristas", advertiu Raeisi.

Israel não pode ser um parceiro para a paz.
O presidente iraniano considerou que o regime israelita é a última entidade do mundo "baseada no apartheid e no racismo, e que foi fundada com base na guerra, ocupação, terrorismo e violação dos direitos dos povos".
Uma tal entidade "não pode ser um parceiro para a paz", afirmou.
"Não terá chegado o momento de pôr fim a 75 anos de ocupação da terra da Palestina, de opressão do seu povo e de massacre das suas mulheres e crianças, e para se reconhecerem os direitos da nação palestiniana?"

Sobre a guerra na Ucrânia.
Ebrahim Raeisi reafirmou a oposição do Irão à guerra em curso na Ucrânia.
"Não consideramos que a guerra na Europa seja do interesse de qualquer partido europeu", afirmou.
"O Irão apoia qualquer iniciativa que vise pôr termo ao conflito e iniciar o processo político", afirmou, e manifestou a disponibilidade da República Islâmica para desempenhar um papel construtivo no sentido da cessação das hostilidades.»

Acrescente-se que no dia 20, como noticia a TASS, em conferência de Imprensa  o Presidente do Irão Ebrahim Raeisi esclareceu que "os países da NATO estão fornecer armas à Ucrânia. Os que beneficiam do conflito não querem o fim do conflito", apontando assim o dedo ao poderoso grupo de pressão da indústria anglo-americana e europeia de armamentos. Por outro lado, como noticia a Presstv.ir,  Ebrahim Raeisi recebeu vários rabinos anti-sionistas num diálogo amistoso, já que com o Cristianismo constituem as três Religiões do Livro dito revelado divinamente, algo que muito provavelmente se pode alargar a outras
                                                          
Entretanto no dia 22
foi anunciado por Mohammad Jamshidi, vice-chefe de gabinete do presidente iraniano Ebrahim Raeisi para os assuntos políticos, que o Secretário-Geral das Nações Unidas António Guterres terá acolhido favoravelmente uma proposta apresentada pelo presidente Ebrahim Raeisi, aquando da 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU, para que as forças militares iranianas actuem como forças de manutenção da paz em todo o mundo.

Pandora ou Psiché aguarda que o escrínio ou graal de cada  coração liberte impulsões e dinamize acções para o Bem, a Verdade e a Justiça no Mundo! Aum...

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Aleksandr Dugin: "O que se está a passar de errado com o Ocidente?" Satanismo? 2ª p. Tradução, com brevíssima introdução de Pedro Teixeira da Mota.

Segunda e última parte da entrevista de Peter Vaslov a Aleksandr Dugin realizada no final de Agosto de 2023. O 1º parágrafo, já  inserido na 1ª parte publicada, serve para contextualizar a continuação deste magnífico apelo à luta pela sobrevivência e vitória de uma humanidade espiritual, tradicional, livre e multipolar face ao embate com o Ocidente satanizado pelos seus governantes visíveis e na sombra, luta esta liderada sacrificialmente pela Rússia, que já na 2ª grande guerra, contra a Alemanha hitleriana, a Itália e o Japão, ofereceu mais de 20 milhões de almas mártires na sua resistência heróica.
                                
                       
      De Nicholas Roerich...
Destaquemos a distin
ção entre os aspectos decadentes e os satânicos, os primeiros mais comuns, menos graves e em geral  apreciados, tal como a substituição do amor  a Deus pelo amor aos objectos e a actividades vis ou negativas. E ainda o apelo a consciencializar-nos da batalha tremenda que se está a travar,  à custa do sangue eslavo entre o satanismo Ocidental e a Rússia tradicional, "portadora de Deus", como tantos starets e peregrinos, filósofos e artistas sentiram, realizaram e ensinaram. Dessas muitas grandes almas, ligadas à demanda do espírito, ou que "mantêm a imagem de Deus", poderemos citar e invocar S. Serafim de Sarov, Tolstoi, Dostoievsky, Soloviev, Berdiaev, Florensky, Roerich ou mesmo a jovem Daria Dugin. Oiçamos então de novo Aleksandr Dugin:

De Nicholas Roerich, a Bandeira da Paz pela Cultura

«Como escreveu Michel Foucault: a decomposição é a ultrapassagem da lei, a transgressão. Ora no Ocidente não há mais lei, nem virtude, nem fronteira e, por conseguinte, não há mais vício, sobretudo depois de legalizado. Se as pessoas considerarem o vício como uma convenção social, então não há vício de todo. Existe apenas um "alargamento da experiência", uma "libertação de preconceitos" - tais como a vergonha, a consciência, a moralidade, a virtude, a inocência, o auto-controle. Quando algo deixa de ser considerado um vício ou um crime torna-se desinteressante, pouco atractivo, e é preciso passar a outra coisa: mudar de sexo vinte vezes, confundir-se com os animais, ladrar, andar a quatro patas, exigir que as crianças que pensam que são gatos sejam alimentadas numa bandeja pelos professores na escola.
A decomposição não tem limites, e quando a decomposição é legalizada e
la deixa de ser atractiva sendo então necessárias novas formas. O Marquês de Sade, um dos arautos da "civilização satânica" ocidental, dizia que o mais importante no vício é a inovação.

- Esta paixão pela decadência e pela autodestruição existe em nós desde o início?
- Se considerarmos a situação [da vida] sem Satanás, existe então apenas o ser humano e a aspiração à divinização do homem, e  neste caso a recusa do homem de fazer um esforço e ascender em direção à salvação da alma, ao paraíso e à imortalidade poderia ser atribuída a causas naturais, tais como à inércia, à matéria, ao corpo. Elas pressionam o homem a não manter a imagem de Deus, a dispersá-la em objetos materiais, em atrações vis. Mas isto não é satanismo, é simples decadência humana. O satanismo começa quando o processo de decomposição é associado a uma vontade, a um plano, a um espírito, pois os espíritos caídos, segundo o cristianismo, não são simplesmente materiais (os espíritos não são materiais), são espirituais, inteligentes, têm vontade e uma mente. Um demónio é um sujeito. Portanto, o satanismo deve ser entendido estritamente como uma estratégia de decomposição, a vontade de decomposição, a elevação da decomposição a uma ideologia, a um programa, a um projeto. Esta não é apenas um simples instinto animal. Esta vontade, que vem das profundezas da ontologia, que vem da mente, do espírito [diabólico ou Satã], é imposta, como dizem os ascetas ortodoxos, através de prilogias [em francês está prilogie, e provavelmente será pré-logias] e acrescentos.

 - Dizemos: isto é satanismo, mas continuamos a existir no sistema criado pelo Ocidente. Qual é a probabilidade de um novo confronto global com o Ocidente, tal como nos dias da URSS?
- Na verdade, já estamos em estado de guerra de civilizações, na qual o nosso inimigo - a civilização do Ocidente - é chamada pelo seu verdadeiro nome. É uma civilização satânica,  combatendo Deus, sendo anti-Deus e sendo anti-humana. Nós designámo-la com um nome, mas surge a pergunta: se eles são uma “civilização satânica”, quem
somos nós?
Verifica-se que o
nosso único caminho é o de sermos uma civilização tradicional e religiosa, unificadora das várias confissões tradicionais, e para isto teremos de ser diferentes. Fundamentalmente, precisamos de repensar o nosso estado interior. O que eles são já designámos e o que somos ainda não compreendemos ou realizámos bem. Já estamos em guerra com Satan, mas ainda não sabemos em nome de quem. Não temos porém muita escolha a fazer, pois ela é-nos sugerida pelos nossos antepassados, pelos nossos grandes escritores, filósofos, pensadores, anciãos, escolha esta sugerida portanto pela nossa cultura: - somos a Santa Rússia, somos um povo que leva em si Deus.
                                              On This Day in 1880 Poet Alexander Blok ...
Podemos, é claro, cair - Aleksandr Blok (1880-1921, último poeta romântico] viu a Rússia cair. Blok chamou a Rússia de "a Alma do Mundo", mas acreditava piamente que nós, russos, como a alma do mundo, havíamos caído para elevar-nos. Ainda não conhecemos plenamente quem somos, o que somos chamados a fazer, pelo que lutamos e estamos a dar o nosso sangue e a nossa vida nesta luta. Apenas começámos a travar esta guerra, não só para nos empenharmos nela, mas sobretudo para a levar a bom termo. E esta guerra passou agora de uma batalha massacrante física para um confronto metafísico de civilizações. O que nos falta fazer é um esforço fundamental para finalmente esquecermos [ou ultrapassarmos] a cultura decadente dos últimos quarenta anos.
Lembro-me da
cultura decadente da última década da era soviética. Decadência total, degeneração total. E, sem surpresa, isso foi seguido pelas monstruosas alucinações dos decrépitos anos 90. Tendo percorrido todo o caminho, até às profundezas dos anos 90 - parece-me que a história russa nunca nos levou tão baixo - começámos a emergir dessa era de pesadelo de ditadura liberal graças a Vladimir Putin. Não de um abismo localizado, mas de um pico mortal, do ponto mais baixo da história russa, do ponto mais baixo e escuro. Face a este ponto mais baixo, sabemos o que é Satanás, não só por fora, mas também por dentro. É por volta dos malditos anos 90, quando o Ocidente veio até nós, quando éramos comprados por quinquilharia, humilhados, pisados, violados e forçados a aplaudir.
                                     
​Então o
 Aleksandr Dugin não pensa  de modo alguma que vamos fazer as pazes com o Ocidente, estabelecer compromissos?  

- Satanás, vendo que alguém o desafiou, não nos deixará voltar a soluções mornas. Ele vai exigir agora que renunciemos finalmente a Deus, algo que não fizemos mesmo nos piores tempos de ateísmo e impiedade. É um mistério, e não podemos explicá-lo racionalmente, mas continuamos a ser um povo portador de Deus mesmo nos tempos soviéticos - apesar do ateísmo, do materialismo, do progressismo, da "visão científica do mundo", de todas as formas de degenerescência do Ocidente..... 
Desta vez, se fizermos marcha atrás, a mente russa não terá mais buracos [ou recursos últimos] secretos. Há, portanto, apenas uma perspectiva: ganhar ou não ganhar nada. Como disse o presidente [V. Putin]: "Se não ganharmos, ninguém ganhará. Temos aliados - outras sociedades tradicionais, não são como nós, mas são tradicionais, também estão em oposição ao Ocidente, talvez possamos alcançar com eles o mundo multipolar na união de tradições e civilizações. Só então poderemos ter uma conversa mais equilibrada com o Ocidente, explicar-lhe a nossa posição - porque não queremos seguir o seu caminho para o abismo.
 Talvez o conflito passe para uma fase mais ígnea e, quem sabe, terminará na morte da civilização humana [ou de parte dela...] Estamos à beira de uma transformação tão fundamental e decisiva que não nos podemos permitir-nos o planear a longo prazo. Tudo se joga agora: o destino da humanidade, do ser humano, de Adão enquanto tal [mito da primordialidade humana]. [Joga-se ou luta-se por...] O destino da existência, e tal diz-nos respeito. Se vencermos, o mundo será completamente diferente, se não ganharmos, não haverá mundo [verdadeiro, justo, fraterno, espiritual, não satânico]. Sem os russos, é impossível.»
 Fonte: https://portal-kultura.ru
Tradução a partir da versão francesa de Robert Steuckers.
                                               

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Aleksandr Dugin: "O que se está a passar de errado com o Ocidente?" Satanismo? 1ª p. Tradução, com breve introdução de Pedro Teixeira da Mota.

De Bô Yin Râ...

Se o Satanismo reentrou no vocabulário corrente do séc. XXI isso não significa que desvendações dos enigmas respeitantes a Satan tenham ocorrido, mas apenas que o seu culto foi assumido por pessoas e grupos, em especial nos USA, ou que a sua presença ou influência foi diagnosticada ou discernida neles, embora muito permaneça secreto ou então seja do foro subjectivo e portanto incomprovável e inimputável objectivamente.
Com efeito quem foi ou é Satan, ou Lucífer, ou o Diabo, mensageiro ou espírito celestial revelado na Bíblia e que foi adquirindo diferentes significados ao longo dos tempos e nas três Religiões do Livro, com raízes nas que as precederam, continua a ser um mistério e poucos dos crentes na sua existência verdadeiramente o terão entendido, e mesmo entre os teólogos e filósofos muitas dúvidas e diferenças subsistem. Algo disso partilhei para este blogue num texto de há sete anos: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2016/10/tarot-xv-o-diabo-imagens-arquetipas.html
Também herméticos, gnósticos, ocultistas e esoteristas tentaram discernir quem seria esse espírito celestial revoltado ou caído, quem seria esse opositor de Deus, para alguns sendo mesmo o princípio do mal eterno. Mas também se questionou quem o acompanha, onde se encontra, quem consegue ele controlar, como o reconhecer e vencer. Anote-se  que vários deles, instrutores e grupos, estavam mais ou menos enrolados em malhas diabólicas.
Já Satan como personificação do mal, da oposição a Deu, ou às qualidades divinas, como a Verdade, a Justiça e o Amor, esse é reconhecido e compreendido por muita gente e a famosa expressão de Jesus, vade retro Satanas, "afasta-te de mim, não nos tentes, Satanaz", é bem conhecida e volta e meia exclamada quando alguém nos impressiona por estar a servir de agente de tentação para o mal, seja a mentira, a crítica malévola, o roubo, a corrupção, a violência, a crueldade, a recusa do bem e do amor, a ambição ou hubris, tal a da tentação da serpente no mítico paraíso, e que de facto sendo tão frequentes em algumas pessoas, instituições ou Estados, levam-nos a denominá-los de satânicos, de diabólicos.
Uma designação de satanismo que se tem afirmado, resultando da observação e análise do que tem sido o seu comportamento e a mentalidade, e como tais defeitos se manifestam constantemente, é hoje bastante  aplicada ao violento e opressivo império Norte-Americano e seus coligados, e com razão. Ou mesmo à civilização Ocidental moderna, devido a diversos factores, entre os quais se destacam a sua americanização, a constituição de uma União Europeia que não representa de modo algum os interesses dos europeus comuns mas apenas os da elite política corrompida e que muito se tem esforçado pela desagregação moral, ética, religiosa, espiritual e tradicional da Europa.
Como não li o text
o de Dugin antes de escrever esta contextualização prefacial, creio que estes e outros aspectos serão bem abordados e clarificados pelo tão lúcido quão corajoso filósofo Alexandre Dugin, pai da malograda filósofa e mártir da Liberdade e do Conhecimento, Darya Dugin Platonova. Muita luz e amor na sua alma!
                             
«Este texto foi publicado no númer
o 8 da versão impressa da revista Kultura, em 31 de agosto de 2023, sob a temática: O que se está a passar de errado com o Ocidente? [E sob a epígrafe: Satanismo é antepor a matéria ao espírito...]

O nosso entrevistado é o filósofo, cientista político e sociólogo russo Aleksandr Gelievich Dugin, professor na Universidade Estatal Lomonossov de Moscovo. [Eis a primeira pergunta que Peter Vlasov lhe dirige:]
- Aleksandr Dugin, é cada vez mais frequente ouvirmos os líderes do nosso país definirem a civilização ocidental moderna com a palavra "satanismo". Como entende isto e o que pensa de tal?
- O presidente [Vladimir Putin] declarou que o Ocidente é uma "civilização satânica" no discurso que proferiu aquando da admissão de novos membros no seio da Federação Russa. Devemos tomar isto a sério e tentar compreender o que se esconde por detrás desta declaração, tanto mais que foi depois repetida por numerosas personalidade políticas e públicas importantes. Parece-me tratar-se de uma afirmação muito séria e profunda.
Após o início da Operação Militar Especial, começámos a aperceber-nos cada vez mais claramente de que algo estava errado no Ocidente. A civilização ocidental moderna ou se desviou do caminho que estava a seguir quando a aceitámos, acolhemos, imitámos ou, o que é ainda mais provável, algo está errado há muito tempo. Uma civilização que admiramos, na qual nos procurámos integrar, cujos valores e regras partilhamos e  que abraçamos com toda a nossa alma, pode-se revelar subitamente satânica?
Paralelamente, vemos a questão dos valores ser posta a diferentes níveis no nosso Estado. Começamos a repetir: estamos a defender os nossos valores. Há um ano, o Presidente adoptou um decreto sobre a defesa dos valores tradicionais, entre os quais a superioridade do espírito sobre a matéria. Isto é absolutamente espantoso! Os valores tradicionais da Rússia são reconhecidos como sendo, se quisermos, o idealismo, a religiosidade, o domínio do espírito. E, evidentemente, se começamos a ver-nos - não ainda com confiança, mas cada vez mais - como portadores de valores tradicionais, é precisamente face a esses valores tradicionais, que estamos  a descobrir em nós próprios, que começamos a compreender, a apreender e a defender.
Face a estes valores, é evidente que os valores ocidentais assemelham
-se a puro e simples satanismo, sendo todos o contrário dos nossos. Baseiam-se na ideia de que a matéria é primordial em relação ao espírito, que o homem é apenas um ser bio-social e que é um reflexo cognitivo do mundo exterior. O Ocidente vê o homem como um animal evoluído que chegou à sua fase final, para passar  a iniciativa a uma espécie pós-humana, às construções transhumanistas, a ciborgues, à inteligência artificial. E a preparação, o aquecimento, é a política de género, em que mudamos de sexo de acordo com os nossos desejos - ou mesmo conforme os caprichos - e brevemente da espécie, em que escolhemos pertencer ao sexo masculino, a uma categoria de máquinas ou a uma espécie animal, algo que tem sido objeto de discussões sérias ao mais alto nível das personalidades ocidentais.
Tendo descoberto que o Ocidente é monstruoso e que se está a separar da espécie humana diante dos nossos olhos, a Rússia distanciou-se dele. Um problema local, o conflito com a Ucrânia, levou-nos subitamente a conclusões fundamentais: o Ocidente está no caminho errado, arrasta a humanidade para o abismo e temos de o enfrentar. Este é o dado novo mais importante, algo de absolutamente incrível, porque até agora tínhamos-nos limitado modestamente à luta pela soberania.
E
é aqui que o conceito de "satanismo" adquire pela primeira vez um significado muito sério. Não se trata apenas de um movimento oculto marginal, pois o satanismo existe no Ocidente, há a Igreja de Satã de Anton LaVey, há até o satanismo direto da escritora ultra-capitalista Ayn Rand (Alice Rosenbaum) - que era aliás popular entre os oligarcas russos e os liberais nos anos 1990. Mas, no conjunto trata-se de fenómenos marginais, seitas ocultistas e produções teatrais. Pelo "satanismo da civilização ocidental", Vladimir Putin queria dizer outra coisa, algo muito mais profundo. O satanismo é o primado da matéria sobre o espírito, o relativismo pós-moderno, ou seja, a relatividade de todos os valores, incluindo os do ser humano e do espírito. E este é o caminho que o Ocidente tomou de empréstimo, não ontem, mas há cerca de 500 anos, com o início da Nova Era.
Quem é Satanás? Não há Satanás quando não há Deus, nem fé, nem religião. Este termo permanece vazio, se para nós os termos "Deus", "fé", "eternidade", "imortalidade", "ressurreição dos mortos", "juízo final", "salvação da alma"... são igualmente vazios [embora tenham bastantes leituras segundo os níveis de interpretação que usarmos]. Se seguirmos a imagem científica ocidental moderna do mundo, é evidentemente ridículo falar de satanismo, porque não há Deus, nem  diabo, nem fé, nem alma imortal, nem vida pós-mortal, mas apenas uma flutuação de unidades biológicas, de átomos, que se colam uns aos outros, se separam e depois desaparecem no abismo do espaço negro e morto. É mais ou menos esta a imagem do mundo que se impôs no Ocidente há 500 anos, e que é geralmente designada por "imagem científica do mundo". Foi acompanhada por uma descristianização progressiva e completa da cultura ocidental. Assim, Satanás, enquanto fenómeno, desapareceu da "representação científica do mundo" ao mesmo tempo que Deus. Quando afirmamos seriamente que a civilização ocidental é satânica, chamamos a atenção para o facto de que essa [representação] é uma conclusão precipitada, incorrecta, prematura e, de facto, profundamente errada. Distanciamo-nos erradamente da tradição, do espírito, de Deus, da religião, e foi aí que começou a era moderna da Europa Ocidental. Observámo-lo sem qualquer pensamento crítico desde o século XVIII, quando fomos arrastados pelo Iluminismo europeu. Mas até 1917, mantivemos de alguma forma o carácter religioso da nossa sociedade. Depois mergulhámos no abismo do materialismo e, após o colapso da URSS, descemos ainda mais fundo nesse abismo - para um materialismo capitalista liberal ainda mais desenfreado e flagrante.
E acabámos por nos encontrar na periferia da civilização satânica ocidental, enquanto sua província.
Por outras palavras, o conceito de Satanás, assume hoje, no contexto da guerra contra o Ocidente, um significado completamente diferente na nossa sociedade do que o conceito de Deus. Se existe Deus, se existe a fé e a Igreja, a Tradição e os valores tradicionais, isso significa que existe também a antítese de Deus, aquele que se rebelou contra Deus. É então que a história do Ocidente, a história do chamado progresso, a era da modernidade dos últimos 500 anos, é colocada sob uma luz completamente nova. Verifica-se que o Ocidente rejeitou Deus, e disse: - "não há Deus nem diabo", e o Diabo, após algum tempo, como que objectou: - "não há Deus, mas sou eu, porque fui eu que vos disse que não havia Deus".
                                     
- Aquilo a que chamais satanismo
 pode ser considerado como uma construção ideológica, ou trata-se simplesmente dum princípio de negação, de destruição?

- Não devemos começar com o satanismo mas por Satã, pela figura que chamamos por esse nome, pois se formos crentes, é um facto ontológico para nós. Para os não crentes, o satanismo não faz sentido.
Quem é Satanás, quem é Lúcifer? Ele é um anjo, um espírito celeste eterno. É a primeira criação suprema de Deus que se rebelou contra Deus. É a origem de todos os ataques a Deus, do materialismo, do ateísmo, de todas as noções segundo as quais as pessoas sem Deus podem construir um mundo melhor. Encontramos este princípio no humanismo [não cristão, ou materialista], no desenvolvimento da ciência moderna e na doutrina social do progresso. Satanás não é apenas destruição ou entropia, mas uma vontade consciente de destruir. É a rebelião, a destruição da unidade em nome do triunfo da 
multiplicidade.
Não é a
penas um enfraquecimento da ordem divina, é a vontade de a partir. Quando o corpo está enfraquecido, é uma coisa, mas quando há uma força, como o cancro ou outra doença natural, que puxa o corpo para a decomposição, é outra. Satanás é o espírito ou vontade de se decompor, e não apenas a decomposição em si, que  é já uma consequência dele. De certa forma, é uma crença, uma religião, uma anti-igreja. É a "igreja negra" encarnada na cultura ocidental moderna, na ciência, na educação e na política.
Vemos aqui não só a decadência, mas também a recusa de construir a ordem,
a hierarquia, de elevar os princípios da ciência, do espírito, do pensamento, da cultura à mais alta unidade, como na civilização tradicional, no início da hierarquia - porque a hierarquia terrestre imita a hierarquia angélica. A esta recusa de fazer o bem junta-se o desejo de fazer o contrário, de fazer o mal. Quando se olha para os ucranianos, Biden, Soros, Macron, vê-se um desejo de destruição activo e agressivo.
O satanismo p
ressupõe necessariamente uma estratégia consciente e uma impulsão voluntária as quais geram um movimento poderoso nas massas humanas. As massas podem destruir a cultura tradicional pela sua estupidez, a sua passividade, a sua inércia - é  propriedade da massa enquanto tal, mas alguém empurra esta massa numa direção destrutiva, alguém a dirige, a orienta. É aqui que entra o princípio do sujeito oposto a Deus (assim que  ao homem no seu sentido mais elevado). Encontramo-lo em todas as religiões: é a vontade consciente do sujeito de construir uma civilização anti-Deus, invertida. Não se trata apenas de destruir o que existe, mas de criar algo desagradável, algo perverso, como as mulheres barbudas LGBT do Ocidente.

- Há nisso uma imagem do futuro?
- René Guénon, filósofo e defensor de uma sociedade espiritual tradicion
al, chamou-lhe a Grande Paródia. É a isto que conduz a civilização satânica. Se, no primeiro estágio do materialismo, o objetivo era negar toda a espiritualidade, ou seja, afirmar que não há espírito, mas apenas a matéria, o homem, o mundo terreno, progressivamente, à medida que esta grande Paródia toma forma, surge um novo projeto: não apenas a rejeição da Igreja, mas a construção de uma anti-Igreja, não apenas o esquecimento do espírito, mas a criação de uma nova espiritualidade invertida. Começamos por destruir a Igreja, comparamos tudo à terra, só resta o homem, mas depois começamos a construir um templo subterrâneo para baixo, na direção oposta, fazemos um buraco na matéria. O escritor francês Raymond Abellio [1907-1986] escreveu um romance chamado O Fosso da Babilónia, que trata da construção da civilização no sentido subterrâneo. Esta hierarquia invertida, este poder invertido, esta espiritualidade invertida, eis o que é o satanismo ocidental.
Tem-se a impressão de que até os vícios são invertidos. Não percebo absolutamente como é que alguém pode ser seduzido por tais coisas, pelos desvios que hoje fascinam o Ocidente.....
Ao contrário das virtudes, os vícios mudam, pois as virtudes são imutáveis e os vícios estão sempre a progredir. Para uma pessoa progressis
ta, a devassidão do "antigo Regime" deixa, a certa altura, de excitar e afetar. Quando uma pessoa para num certo nível de vício, quando se imobiliza, já não parece um vício. O vício é uma decomposição progressiva, e a decomposição não tem limites, não se pode decompor até um certo ponto e ficar lá. Um homem precisa de algo que o agarre e o arraste cada vez mais para baixo, a decomposição tem de ir cada vez mais longe.
A próp
ria história da depravação ocidental é uma história de progresso. Em cada etapa, novos vícios são descobertos,  a própria perversão torna-se a norma. Por exemplo, actualmente, a homossexualidade no Ocidente é reconhecida como norma, já não é um vício, pelo que temos de ir mais longe, em direção à pedofilia, ao incesto, ao canibalismo, à mudança de sexo.... Tudo isto é impulsionado pela legislação. O legislador ocidental apressa-se a reconhecer a decomposição, a legalizar o que ainda ontem era proibido e imoral....
Como esc
reveu Michel Foucault: a decomposição é a ultrapassagem da lei, a transgressão. Ora, no Ocidente não há mais lei, nem virtude, nem fronteira e, por conseguinte, não há mais vício, depois de legalizado. Se considerarmos o vício como uma convenção social, então não há vício de todo. Existe apenas um "alargamento da experiência", uma "libertação de preconceitos" - tais como a vergonha, a consciência, a moralidade, a virtude, a inocência, o auto-controle. Quando uma coisa deixa de ser considerada um vício ou um crime, torna-se desinteressante, pouco atractiva, e é preciso passar a outra coisa: mudar de sexo vinte vezes, confundir-se com os animais, ladrar, andar a quatro patas, exigir que as crianças que pensam que são gatos sejam alimentadas numa bandeja pelos professores na escola.
A decomposição não tem limites, e assim que a decomposição é legalizada e
la deixa de ser atrativa são então necessárias novas formas. O Marquês de Sade, um dos arautos da "civilização satânica" ocidental, dizia que o mais importante no vício é a inovação.»

 Fim da 1ª parte. Continua... 

De Bilibin...

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Bô Yin Râ, "Spirit and Form". Summary of the book "Geist und Form", with small hermeneutic.

As an artist and spiritualist, as a master who demanded great perfection in his life and work, both in painting (as you can see in this article) and in writing, with some books worked and remodelled until they reached the best form of inner spiritual transmission, Bô Yin Râ (1876-1943, and you'll find plenty about him on this blog) had to clarify, from the perspective of the Spiritual path, aspects and issues related to the use of objects, clothes, forms, instruments, houses, as well as the main emotions, happiness and unhappiness, joy and pain.
It was in a small book published for the first time in 1925, Geist und Form, or Spirit and Form, divided into six chapters, that Bô Yin Râ addressed the relationship between this duality, which often tends to be unbalanced or disharmonised, even with "good" intentions and detachment.
 In Chapter I, entitled The Question, Bô Yin Râ tries to awaken people who are, or want to be, on the spiritual path to the importance of better harmonising their relationship with the world of forms or matter, reminding those who despise material forms or coverings, that without them, spirits would not be able to express themselves fully, so we must surround ourselves with forms that are transparent to this lofty goal, even stating: "just as a precious wine is not served in mediocre clay jugs, for that would be to insult its quality, in the same way the simple respect due to the spirit demands that you only be satisfied with the most perfect form, from the moment you want to become a temple of the Spirit. Your outward behaviour must incessantly testify to this respect," so even your outward appearance must manifest this and inspire it in others. There is therefore a goal or objective to be achieved in the inner form, in the soul, to be a temple of the Spirit, to respect it and manifest it with the appropriate forms and means. 
In Chapter II, Exterior and Interior, Bô Yin Râ shows that the exterior always has an interior and that this interior is even linked to an even deeper and more spiritual interior, but that all levels imply forms in order to be perceived by us, and that everything around us invites us to go deeper than mere appearances. And if we constantly attempt this quest, we will be presented with the revelation of the essences of things and beings.
He therefore warns that every "form of the inner world is always an expression of something arch-interior, which would never exist for you if you didn't discern it in yourself as a form", and so this discernment of the interior expressed by forms will be the best way for us to be able to find the deep inside in the forms of the spiritual world, even in the post-mortem world.
Forms will not be disregarded in this way, nor will those that are already in disuse, such as clothing, be pretentiously used. Care must also be taken in rejecting social forms, such as the institution of marriage, which, although it is possible to make a mistake in the choice, is still valid in order to avoid "starting to uproot everything that humanity had planted in order not to succumb to the storm of misguided instincts and uncontrolled passions."
In Chapter III, The House and its Decoration, Bô Yin Râ urges us to value more our influence on the house, whether we build it ourselves, give the plans to those who will build it, or mould it, adapt it, impregnate it, because what counts most is "the way you make this space your own".
Recognising the energies and the patina or aura of objects that have already come to us from other people, "the way you use the old, today in the external decoration of your life, will always give the objects a new value that can only emanate from you", thus valuing our participation, even affirming that everything around us should receive a share of our love, and no detail in the house should escape our attention, awareness and love. In his book Cult Magic and Myth, he explains how certain objects that are energetically charged by us become talismans, that fortify us, especially in times of greatest need.
For Bô Yin Râ, the home should be an oasis, a place where everything transmits or "impels us to joy and a warm, pure spiritual joy". And even those who have little money must ensure that there is harmony and dignity in the order and decoration of their home or workplace.
In other words, after any negative situation, when you get home you should be able to "quickly return to yourself and to your highest level", because the objects that surround you "will remind you of the best aspects of your sensitivity, they will speak to you from within your own universe, they will bring you calm and serenity". We can therefore add that in these minimalist times of post-modernity, cutting down on the objects of ancestors or friends, the belittling of such objects from the past or associated with sentimental memories, ends up weakening the protection of the aura of both our home and soul...
And he asks a remarkable question: "You who want to perceive inwardly the voice of the eternal Spirit, how can you bear to be surrounded by things that want to look like what they are not - that are like an insult to the law of form?"
And this law is that "any form is always a symbol, an integral part of a language that has something to say".
For those who want to be a temple of the Spirit, all elements or utensils incompatible with this quality or dignity must be removed: "Be vigilant so as to surround yourself only with objects for which you will one day be able to answer to the Spirit you seek to find in yourself."
And since the Spirit you want to unite with "is harmony, purity, light and truth", you should surround yourself with forms that you feel to be true and pure, excluding what in its form reveals itself to be "not true, or that becomes false because it does not harmonise with your sensibility".
In Chapter IV, The Form of Joy, Bô Yin Râ reminds us that we must know how to give form, limits and control to our instincts and passions, if we want to cross this high sea of waves and storms and reach a safe harbour.
Rather than getting lost in our joys, we must shape them nobly, according to our individuality and eternal specificity, and we must also know how to respect the joys of others, in whatever form they deserve, but without them, or what they think of ourselves, determining us on our path of realization of the plane of our life and its joys.
In Chapter V, Form of Suffering, Bô Yin Râ develops the same idea of giving form not to joy but to pain in such a way that it becomes bearable. The method is to accept it at that moment as being "clearly linked to the form of life that corresponds most closely to us - as being unable to be otherwise" and then go on to overcome it.
Thanks to the formative action of the Spirit, and a devaluation or even belittling of pain, both physical and moral, we end up not allowing ourselves to be defeated or overcome by it: "You must rise above it and learn to command it.
You are what remains. Pain is ephemeral and it lies when it tries to make you believe in its durability. 
You must truly value yourself more than suffering, for it is in yourself that the radiant and shining light of the Spirit wants to reveal itself to you."
In the sixth and final chapter, Art of Living, Bô Yin Râ argues that life, although made up of materials that are given to us, depends on us through the way we look at them, accept them and work with them, and according to the internal plan or project of our life that our soul grasps or perceives. Something that in India was called, we might add, swadharma, the personal mission or duty, in the general Dharma or planetary Order.
So if "every earthly day brings you new material with which you can build your spiritual life in an artistic way.
However, it is up to you to work the raw material in such a way that it adapts to the sublime project that your soul discovers in the depths of itself."
In this way, faced with what each day brings us, we must ask ourselves how we can quickly shape it so that it serves our subtle spiritual temple.
For this task of intuiting and following the plan of our spiritual life requires, Bo Yin Râ challenges us, "that as soon as you hear these words of mine, you should begin to search the innermost vault of your soul for the building plan.
It is in a safe place and you will discover it if you look for it with all the calm that comes from complete certainty.
It's not a hasty search that will get you there.
And once you've found it, get down to work and stay faithful to the task at hand."
It is during the work of building and realising our life's mission or project that we become more aware of the plan and we become more confident as we see (or feel) what we carry (or have) within us and then, according to this self-confidence, help will come, without us knowing exactly from whom.
These greater aids and impulses for this spiritual artistic work will come because: "There, in the depths of your being, they will know how to guide you towards a higher art - the art of modelling spiritual life according to the law inherent in the eternal Spirit". And all of us who meditate or pray know well how intuitions and inspirations enlighten us in those moments...
"Whatever your outer life brings you, try to take advantage of it spiritually, endeavouring to give it a spiritual form, and soon, thanks to such wise spiritual activity, you will remove from your path many of the obstacles that seemed insurmountable to you."
"Your outer life will be transformed according to the image of your spiritual life, to the extent that you know how to spiritually form everything that is external to you"
And he concludes the book by saying, far above and deeper than the advocates of mindfulness and formlessness: "In every form, the Spirit is at work."
May this short summary of yet another valuable work by Bô Yin Râ help people to free themselves from so much illusion and occult, kabbalistic, new age, esoteric and yogic mystifications that abounds in so many countries, with pseudo-masters, sects, groups and fashions which in reality are often very little in the quest for the Grail of Truth and the awareness and union of Spirit and Divinity, which we hope will be more fully realised by you, dear reader...
                                         

Aleksandr Dugin e a visita do presidente da Coreia do Norte Kim Jong Un à Rússia, a convite do seu presidente Vladimir Putin.

A propósito da chegada de Kim Jong Un, o presidente da Coreia do Norte, ao Cosmodromo Vostochny, na Rússia, a convite de Vladimir Putin, para amplos diálogos e acordos, o notável ideólogo da libertação do Ocidente do jugo do excepcionalismo e liberalismo opressivo, Aleksandr Dugin, escreveu no próprio dia 13 de Setembro de 2023 uma mensagem que é simultaneamente uma visão actual da geo-estratégica da Humanidade e um dar as boas vindas ao presidente de um povo irmão, heróico na sua resistência, tal como também o são o Irão e a Bielorússia. Oiçamo-lo, a partir da minha tradução duma transcrição na rede social VK.com,  no seu estilo e mentalidade corajosa e desafiante:

«"A Rússia revoltou-se, mas continua a ser uma colónia": escreveu na sua conta do Telegram, Aleksandr Dugin apelando a que se aprenda com a República Popular Democrática Coreana.
Aleksandr Dugin acredita que a Rússia só pode realmente contar com a ajuda dos que estão a seguir o caminho da luta total contra o domínio do Ocidente. Aqueles que defendem seriamente a sua soberania, baseando-se numa visão própria soberana do mundo.
 
As rosas iranianas divinamente perfumadas de Isfahan e de Teerão...
É o caso do Irão, onde o primado dos valores e da cultura tradicionais sobre o liberalismo ocidental está proclamado. É o caso da Bielorrússia, onde o chefe de Estado é o garante da liberdade do povo e, por conseguinte, o inimigo do Ocidente.
É a Coreia do Norte, onde se seguem as ideias do Juche, que significa "soberania", "autossuficiência".
"O Ocidente e as suas pretensões à verdade devem ser rejeitados radicalmente. Como o heróico povo Juche e os sábios e firmes iranianos. Como os Bielorrussos afáveis e corajosos, fiéis à sua identidade", escreveu o filósofo no seu Telegram.
Na sua opinião, o Ocidente é digno apenas de ser um objeto de estudo, como uma borboleta ou um cogumelo. É apenas uma região, uma das províncias da Grande Humanidade. A Rússia precisa de uma descolonização profunda da consciência, de uma apropriada visão soberana do mundo.
"Rebelámo-nos contra o domínio ocidental, mas continuamos a ser uma colónia em muitos aspectos. Uma colónia mental. E não devemos hesitar em aprender com os que já percorreram um grande caminho heróico na senda desta sublevação.
Kim Jong-un, seja bem-vindo. O Extremo Oriente será agora [poderá ser agora mais]  livre", concluiu Dugin.»
 
  Entretanto saíram à luz do dia algumas das palavras iniciais do encontro do presidente da Coreia do Norte com o da Rússia, tal como a Tass.com, um dos poucos canais russos que ainda se pode ver no Ocidente "democrático", noticia:
«A República Popular Democrática da Coreia acredita que a Rússia está a travar uma luta sagrada pela sua soberania e segurança e Pyongyang apoia todas as decisões tomadas pelo Presidente russo Vladimir Putin, afirmou o líder norte-coreano Kim Jong Un durante as conversações com o seu homólogo russo.
"Actualmente a Rússia está a travar uma luta sagrada para proteger a soberania e a segurança do seu Estado, ao mesmo tempo que combate as forças hegemónicas que se opõem à Rússia", disse Kim, acrescentando que a sua visita chegou num "momento especial".
O líder norte-coreano manifestou o seu total apoio aos dirigentes russos. "Sempre apoiámos todas as decisões tomadas pelo Presidente Putin ou pelo governo russo", afirmou Kim. Segundo ele, Pyongyang está a tentar desenvolver ainda mais as suas relações com Moscovo.»
Horas mais tarde,  /TASS/ noticiou:  «O líder norte-coreano Kim Jong Un exprimiu a sua confiança de que o exército e o povo russos serão vitoriosos sobre a "cabala do mal" que enfrentam, que alimenta ilusões expansionistas, num brinde durante um almoço formal com o Presidente russo Vladimir Putin.
"Estamos confiantes de que o exército e o povo russos obterão inquestionavelmente uma grande vitória na luta sagrada para castigar a cabala maléfica com pretensões hegemónicas e que alberga ilusões expansionistas, e [vencer a luta] para se criar um ambiente estável para o desenvolvimento", afirmou o Presidente russo ao fazer um brinde no almoço com Putin.

                                                   ***********
Message of Alexander Dugin, on 13 September 2023, writen on his Telegram chanel:
 "Russia has rebelled, but it is still a colony": Dugin urged to learn from the DPRK. 
Alexander Dugin believes that Russia can only really count on the help of those who are following the path of total struggle against the dominance of the West. Those who seriously defend their sovereignty, relying on a sovereign worldview.
This i
s Iran, where the primacy of traditional values and culture over Western liberalism is proclaimed. This is Belarus, where the head of state is the guarantor of the freedom of the people, and therefore the enemy of the West.
This is North Korea, where they follow the ideas of Juche, which means "sovereignty", "self-reliance".
"The West and its claims to the truth must be rejected radically. As heroic Juche people and wise and steadfast Iranians. As kind and courageous Belarusians true to their identity," the philosopher wrote in his Telegram.
In his opinion, the West is worthy only to be an object of study, like a butterfly or a mushroom. This is just a region, one of the provinces of the Greater Humanity. Russia needs a deep decolonization of consciousness, a proper sovereign worldview.
"We have rebelled against Western domination, but we are still a colony in many ways. A mental colony. And we should not hesitate to learn from those who have already passed a great heroic path along the path of this uprising.
Kim Jong-un, welcome. The Far East will now be free," concluded Dugin.»

Alexandre Dugin, com a sua filha e mártir Darya Dugin Platonova... Lux! Amor!

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Hanieh Tarkian: o General Suleimani como exemplo de estratégia Multipolar. General Suleimani as an example of Multipolar Strategy.

                                        

                                      

Pelo actualidade do que a professora italo-iraniana Hanieh Tarkian,  na Conferência Global Multipolar, sob a inspiração de Aleksander Dugin, em 29 de abril de 2023, disse sob o tema O General Suleimani como exemplo de Estratégia Multipolar, resolvemos transcrever e traduzir as suas sábias e oportunas palavras a fim de contribuir para o alargamento ou aprofundamento da visão e compreensão de quem nos ler (paz, luz e amor nas almas) acerca do que se passou no Médio Oriente com o general Suleimeni e o que está a acontecer agora no mundo, nomeadamente a emergente multipolaridade fraterna e libertadora, que tem no BRICS, liderado pela Rússia, a frente futurante, a que se opõem os opressivos excepcionalismo norte americano e globalismo da nova Ordem mundial, liderada pelo Fórum Económico Mundial e a maioria dos governantes e políticos ocidentais.

  «Bismillahi ar-Rahmani ar-Rahim, 
 Em nome da Divindade todo compassiva e agraciadora.
 Salamun alaykum, a Paz esteja convosco.

 Obrigado por me terem convidado. Gostaria de começar por recordar os mártires do mundo multipolar, aqueles que lutaram contra o terrorismo militar e ideológico do Ocidente e dos grupos globalistas, e em especial o general Suleimani e Daria Dugina.
                                                  
                                                                     
A primeira coisa que gostaria de salientar é que a nova ordem multipolar já existe, já não estamos em transição.
Penso que foram alguns acontecimentos importantes que tornaram esta transição mais tangível: no Verão de 2015, o general Suleimani foi a Moscovo e, alguns meses mais tarde, a Rússia interveio na luta contra o terrorismo na Síria, ao lado do governo legítimo de Bashar Assad e das forças da Resistência, incluindo o Irão e o Hezbollah. Assim, creio que 2014, com o golpe de Estado na Ucrânia, e 2015, com a intervenção da Rússia na Síria, foram os anos em que a transição da ordem unipolar para a ordem multipolar se tornou mais tangível, com a Rússia e outros países a tomarem plena consciência de que o Ocidente não é fiável e as suas políticas são perigosas. Em particular, os mais de doze anos de luta contra o terrorismo, o qual é apoiado pelos países ocidentais e contra o qual lutam a Síria, o Irão, o Iraque, a Rússia e o Líbano, marcaram uma divisão no mundo, de um lado os países globalistas e belicistas e do outro os Estados que querem salvaguardar os seus interesses, a sua identidade e a sua cultura.
                                       
Deste modo existe ag
ora uma oportunidade para se reforçar a ordem multipolar, na qual a colaboração e o diálogo coexistem e não há necessidade de destruírem-se identidades culturais, religiosas e nacionais, como aconteceu na ordem unipolar. Se conseguirmos alcançar esta verdadeira colaboração, e não a colaboração globalista, será precisamente este tipo de colaboração que nos permitirá redescobrir a nossa identidade, bem como preservá-la e reforçá-la sem se sentir a necessidade de destruir a identidade dos outros, e vimos este tipo de colaboração no Médio Oriente com as forças da Resistência que lutam contra o terrorismo. Os grupos globalistas e belicistas queriam um estado perpétuo de instabilidade que lhes permitisse explorar e roubar os ricos recursos dos povos livres do Médio Oriente. No entanto, falharam no seu plano de conquista total desta região estratégica, bem como na imposição total dos seus interesses ao resto do mundo.
Para completar a realização da ordem multipolar é necessário unir forças e, para isso, podemos seguir o modelo da luta contra o terrorismo no Médio Oriente: de facto, ao criar unidade e colaboração entre as diferentes forças de resistência, o general Soleimani conseguiu mudar o que era o plano para um novo Médio Oriente, e lembramo-nos da ex-secretária de Estado Condoleezza Rice quando definiu o bombardeamento do Líbano por Israel em 2006 como "as dores de parto do Novo Médio Oriente", um Médio Oriente que teria estado ao serviço dos grupos globalistas e belicistas. 
Mas o general Soleimani, com as forças de resistência na Síria, no Iraque e no Iêmen, conseguiu deter esse plano, e não só isso: ele também encorajou a Rússia a envolver-se, e o seu desempenho foi decisivo na derrota do ISIS na Síria.
                                                      
A escola e o exemplo do General Soleimani podem ser um modelo para todos os povos: a escola ideológica de Soleimani conseguiu unir indivíduos de diferentes tradições religiosas e nacionalidades para combater o terrorismo e opor-se à hegemonia de grupos globalistas e belicistas.
Liberdade para o mártir Júlio Assange....
Não estamos já numa fase de transição, chegou a hora de substituir completamente a falsa Pax Americana pela verdadeira Pax Multipolaris. No entanto, lembremo-nos que, para isso, é necessário não apenas unir forças, mas redescobrir e consolidar as nossas tradições de identidade, assim como no Oriente Médio, onde muçulmanos, cristãos e outros grupos uniram-se na luta contra o terrorismo, que não é apenas militar, mas também ideológica. Muito obrigado!»
                                

                                    Coordinatrice del Master di Studi Islamici in italiano dell ...

General Suleimani as an example of Multipolar Strategy
«Bismillahi ar-Rahmani ar-Rahim
Salamun alaykum
Thank you for inviting me. I would like to start by remembering the martyrs of the Multipolar world, those who have fought against the military and ideological terrorism of the West and globalist groups, and in particular general Soleimani and Daria Dugina. 
                                             
The first thing I would like to point out is that the new multipolar order is already here, we are no longer in transition.
I think there are some important events which made this transition more tangible: in summer 2015 General Soleimani went to Moscow, a few months later, Russia intervened in the fight against terrorism in Syria alongside the legitimate government of Bashar Assad and Resistance forces including Iran and Hezbollah. So I believe that 2014 with the coup d'etat in Ukraine and 2015 with the intervention of Russia in Syria were the years in which the transition from the unipolar order to the multipolar order became more tangible, with Russia and other countries becoming fully aware of the West being unreliable and its policies dangerous. In particular, the twelve and more years of the fight against terrorism, which is supported by Western countries, and on the other side Syria, Iran, Iraq, Russia and Lebanon fighting against it, have marked a division in the world, on one side the globalist and warmongering countries and on the other side states that want to safeguard their interests, identity and culture.
So there is an opportunity now to strengthen the multipolar order in which collaboration and dialogue coexist and there is no need to destroy cultural, religious and national identities, as it happened in the unipolar order. If we manage to achieve this real collaboration, not the globalist one, it will be precisely this type of collaboration that will allow us to rediscover our identity, as well as to preserve and strengthen it without feeling the need to destroy the identity of others, and we saw this kind of collaboration in the Middle East with the Resistance forces fighting against terrorism. The globalist and warmongering groups wanted a perpetual state of instability as to allow them to exploit and steal the rich resources of the free peoples of the Middle East. However they have failed in their plan of total conquest of this strategic region, as well as in the total imposition of their interests on the rest of the world.
To complete the realization of the multipolar order it is necessary to unite forces and to do this we can follow the model of the fight against terrorism in the Middle East: in fact, by creating unity and collaboration among the different resistance forces, General Soleimani had managed to change what was the plan for a new Middle East, we remember former Secretary of State Condoleezza Rice defining the bombing of Lebanon by Israel in 2006 "the birth pangs of the New Middle East", a Middle East that would have been at the service of the globalist and warmongering groups. But Soleimani with the resistance forces in Syria, Iraq and Yemen managed to stop this plan, and not only that: he also encouraged Russia to get involved, whose role was decisive in the defeat of ISIS in Syria. 
 
The school and example of General Soleimani can be a model for all peoples: the ideological school of Soleimani has managed to unite individuals from different religious traditions and nationalities to fight terrorism and oppose the hegemony of globalist and warmongering groups.
We are no longer in a transition phase, the time has come to completely replace the false Pax Americana with the real Pax Multipolaris. However, let us remember that to do this it is necessary not only to join forces, but to rediscover and consolidate our identity traditions, just like in the Middle East, where Muslims and Christians and other groups have united in the fight against terrorism, which is not only military but also ideological. Thank you!»
May Daria Dugina, as general Soleimani, be well dynamic in the higher realms of the Cosmos and inspire us!