sábado, 1 de novembro de 2025

O Poema sobre a Morte, no Profeta de Kahil Gibran. Tradução e hermenêutica realizada no dia de Todos os Santos e do Samhain de 2025. Ornado de pinturas do poeta maronita e universalista oriundo das montanhas do Líbano.

Nestes dias de comunhão entre vivos e os ditos mortos, como são os dois primeiros dias de Novembro, devemos reflectir sobre a Morte e a vida depois da Morte, se estamos preparados para ela, se não temos receios ou dívidas, se estamos cientes que somos espíritos imortais dotados dum corpo psico-espiritual, com os seus sentidos subtis, e  já devem estar algo desenvolvidos quando deixarmos o corpo físico e passarmos a viver  no misterioso Além. Mundo dos espíritos que no final do séc. XIX e começos do XX foi tão investigado ou melhor demandado por tantos cientistas e curiosos, em especial nos  cultores do magnetismo, espiritismo e ocultismo, com múltiplos frutos, melhores e piores, ainda que a visão do Além aceite pela maioria dos humanos continue ainda muito limitada e condicionada.
Quanto ao dia de Todos os Santos, ou o Samhain celta, de ligação aberta entre os seres espirituais celestiais e os humanos incarnados, pois cada de um nós dar-lhe-á a crença e atenção que quer, e fará a sua prática, a sua devoção a quem quer que seja que ame ou venere mais, com tantos santos e santas, ou mestres e mártires, no fundo grandes almas ao seu dispôr, pela menos nominalmente. Liberdade plena, pois..
Tal como para os Santos e Santos, o dia dos Fiéis Defuntos, ou dos Mortos,  neste dia 2 de Novembro de 2025 ocupando no calendário terrestre um Domingo, consagrado aos antepassados, familiares e pessoas amigas que já partiram, permitirá de novo cada um prestar preito de devoção ou amor, ou sufrágio, com os pensamentos, actos e orações, a quem quiser. Liberdade criativa e afectiva, ou por vezes intuição de quem deseja ou então precisa de tal comunhão e oração.
Relembro agora apenas as últimas pessoas amigas que partiram, há meses a brilhante (música, línguas e esoterismo psico-vibratório) e querida Sandra Pinheiro, e há dias o tão ponderado e sensível Artur Morais Vaz, médico e espiritualista do Porto, já desprendido da vida, com o coração físico cansado, contemplando muito o oceano e o pôr do Sol em Espinho onde vivia ultimamente e que nos últimos meses foi um dos tão raros interlocutores de espiritualidade vivida, das experiências anímicas e questões que vivenciamos no caminho, tendo eu ainda lhe enviado um bom livro de Rupert Sheldrake, editado pela Piaget, já que me pedira o que eu tinha em português das ligações entre a ciência moderna e a espiritualidade. 
Livro que curiosamente fora do Afonso Cautela, e que eu anotara profusamente numa centena de páginas iniciais, e que viajou bastante até chegar às mãos e última leitura do Artur. Que ambos, e acrescento ou incluo agora o Afonso Cautela, outro querido amigo ecologista e radiestesista, e que, com votos e raios do nosso amor chegando até às suas almas ou invocando bênçãos, estejam ascendendo ou vivendo nos estados conscienciais e planos luminosos que merecem. 
Auto-retrato do poeta maronita e universalista oriundo das montanhas do Líbano.
 Para continuarmos a trabalhar e a homenagear o libanês Kahlil Gibran (1883-1931), que acreditava na reincarnação, tal como o médico portuense Artur Morais Vaz também afirmava por intuições nítidas,  apresentamos então o último dos vinte e seis poemas que constituem o tão valiosa quão reimprimido e lido, O Profeta, é o consagrado à morte, embora devamos relembrar que  Kahil Gibran era ainda relativamente jovem, quarenta anos. E como ele morre ou desincarna oito anos depois e de uma cirrose, prematuramente, podemos interrogar-nos se já tinha alguma intuição do que lhe viria a suceder, e se muita da experiência de pessoas amigas e de família a falecerem, o inspiraram? 
Sua mãe, filha de um padre maronita católico, e sua iniciadora na religião natural e mediterrânica
 Kahlil Gibran não fala no poema dos mortos ou como os podemos lembrar, ajudar, celebrar, intuir mas apenas ensina, com belas analogias do grande Livro da Natureza, a compreendermos e logo a aceitarmos melhor a morte natural, embora não a crueldade, o assassinato, o genocidio, guerra injusta, a que ele tanto se opôs e criticou, numa obra toda marcada pelo seu anseio de Justiça, Liberdade, Fraternidade, Universalidade...
                                                                 
«Então [a sacerdotiza vidente] Almitra falou, dizendo:
Perguntar-te-íamos agora sobre a Morte.
E ele respondeu:
Poderias conhecer o segredo da morte.
Mas como o encontrarás
a não ser que o procures no coração da vida?
A coruja cujos olhos limitados à noite estão cegos para o dia
não pode desvendar o mistério da luz.
Para realmente captares o espírito da morte,
abre o teu coração amplamente ao corpo da vida.
Pois a vida e a morte são uma,
assim como o rio e o mar são um.

Nas profundezas das tuas esperanças e desejos
jaz o teu silencioso conhecimento do além;
E como sementes sonhando sob a neve
o teu coração sonha com a primavera.
Confia nos sonhos,
pois neles está oculto o portão para a eternidade.
O teu medo da morte é apenas o tremor do pastor
quando ele está diante do rei
cuja mão está para ser posta sobre ele em honra.
Não está o pastor alegre sob o seu tremor,
porque usará o sinal honroso do rei?
Contudo não está ele 
mais consciente do seu tremer?

Pois o que é morrer senão ficar nu
no vento e derreter-se sob o sol?
E o que é cessar de respirar,
senão  libertar a respiração das suas ondulações incansáveis,
para que possa subir e expandir-se
e procurar Deus livre de pesos?

Só quando beberes do rio do silêncio
é que verdadeiramente cantarás.
E quando tiveres alcançado o cume da montanha,
então começarás a escalar.
E quando a terra pedir os teus membros,
então realmente dançarás.»
O que realçaremos neste belo, sóbrio e simples ensinamento sobre a morte: que devemos considerar a vida e a morte como uma só realidade, a ser vivida na unicidade da Vida, na união do espírito e corpo.
Muito valioso e a meditar-se é a frase:  "Nas profundezas das tuas esperanças e desejos está o teu silencioso conhecimento do além", que nos convida a sondarmos sinceramente as nossas aspirações e sonhos para deles brotar a intuição de como será para nós o Além, ou quem somos realmente. É um ensinamento original, em analogia com a Natureza e suas raizes e estações.  
Eis-nos com um grande hino de libertação do apego ao corpo, e logo às suas limitações: a morte liberta-nos e permite-nos começar a escalar mais rumo a Deus...
Seguem-se depois mais três ensinamentos profundos que escaparão a leituras e comentários superficiais, o primeiro bem subtil: diante do rei que o honra, ou da morte que o acolhe," não está ele mais consciente do seu estremecer?", apelando a uma autoconsciencia forte e alegre perante a morte. O segundo, descortinado ou glosado por muitos seres, nomeadamente Fernando Pessoa no seu famoso poema a Iniciação [que encontra bem hermeneutizado no blogue], que a morte é ser-se despido das vestes ou corpos subtis sucessivos. E o terceiro mais vivenciado na morte, o dos trâmites da respiração, incansável em vida, ofegante na morte, e por fim liberta da caixa ou gaiola torácica e expandida como energia pura elevando-se para Deus. 
Felizes os que saberão aprofundar a Arte de bem morrer, simples, que Kahli Gibran nos ofecere em linha de tradição perene com a de muitos outros sábios que escreveram as suas Ars Moriendi, tal Erasmo de Roterdão (para alguns um santo, ainda que muito lúcido), e que tiveram tantas edições populares, frequentemente sob a invocação da Nossa Senhora do Bom Despacho, aqui devolvida à sua matriz e origem a Unidade da Vida na Natureza e na Divindade, e que Kahlil promete que estará a guiar-nos nesses momentos de modo até jubiloso se aprendemos a ouvi-la no silêncio (das provações e meditações), sem receios, sem nos prendermos à fronteira ou umbral entre os mundos pois mesmo aí devermos sentir e exclamar como Goethe,  "mais Luz", ou como Kahlil Gibran diz, erguer-nos do corpo moribundo dançando ou avançando no corpo espiritual de luz ou glória...
Que assim seja! 
«Then Almitra spoke, saying, We
would ask now of Death.
And he said:
You would know the secret of death.
But how shall you find it unless you
seek it in the heart of life'?
The ow1 whose night-bound eyes are blind unto the day 
cannot unveil the mystery of light.
If you would indeed behold the spirit of death, 
open your heart wide unto the body of life.
For life and death are one, even as the
river and the sea are one.

In the depth of your hopes and desires
lies your silent knowledge of the beyond;
And like seeds dreaming beneath the snow 
your heart dreams of spring.
Trust the dreams, for in them is hidden the gate for eternity

Your fear of death is but the trembling
of the shepherd when he stands before the
king whose hand is to be laid upon him in honour.
Is the shepherd not joyful beneath his trembling, 
that he shall wear the mark of the king'?
Yet is he not more mindful of his trembling'?

For what is it to die but to stand naked
in the wind and to melt into the sun'?
And what is it to cease breathing, 
but to free the breath from its restless tides,
that it may rise and expand 
and seek God unencumbered'?

Only when you drink from the river of
silence shall you indeed sing.
And when you have reached the mountain top, 
then you shall begin to climb.
And when the earth shall claim your
limbs, then shall you truly dance.»
 

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Noites de Samhain e de Todos os Santos e Fiéis Espíritos luminosos. Com a Litaniae Sanctorum. em belo canto à capela gregoriano.

                                

Nestas noites da transição de Outubro para Novembro, e de aproximação ou entrada na estação do Inverno, com a festa dos Samhain, nos celtas, e nos cristãos de Todos os Santos, e dos Fiéis Defuntos, comemora-se a ligação entre o mundo físico e o mundo subtil e espiritual. São dias e noites consagrados à intuição de que as fronteiras entre a Terra e o Céu estão mais abertas, mais diáfanas,  cultuando-se a possibilidade não só dos santos e santas, mestres e anjos manifestarem-se mas também os antepassados, familiares ou amigos já partidos, e por eles se orando, ou com eles orando e comungando da Luz e do Amor Divinos.

O belo vídeo  no fim do artigo, com a Litaniae Sanctorum, a Litânia dos Santos, em belo canto à capela gregoriano, que pode ouvir desde já, pois é muito longa, repetindo o cantor-sacerdote o nome das centenas de santos e santas, aos quais poderemos acrescentar os que nós pessoalmente santificamos, tais Erasmo, Pitágoras, Dalila, sorores nossas, pais e antepassados, enquanto um coro de sorores responde Ora por nobis, orai por nós, num repetição bastante mantrica, qual ondulação modelando o lago das nossas auras pessoais e ambientais numa harmonia ressoante nos planos espirituais. E que poderemos já deitados repetir à nossa vontade, com os nomes e seres invocados que mais gostarmos de cor, abrindo assim canais de circulações luminosas com o mundo do sidh ou astral-espiritual...

Para os celtas o mundo do Sidh, o mundo subtil espiritual, abria as suas barreiras e dele desciam bênçãos e até ele se erguiam orações e poesias, banquestes, partilhas, libações, músicas, cantos, danças, em uma ou duas noites de festa em comunhão com a Natureza. Era aa época de celebração grata da recolha de forças e provisões para o Inverno: com  que se contava, o que se podia fazer, ou o que o Alto ou o Sidh desejaria de nós, ou da aldeia e grupo, nas nossas missões e vidas, o que por vezes druidas, videntes e bardos intuíam e anunciavam.. 

 Algo disso, transformado aqui, caricaturado acolá, raramente diabolizado, como tantas vezes se acusa, modernamente manifesta-se nas celebrações do halloween e das mascarices divertidas para jovens se forem feitas com sentidos vencedores de medos e do mal e não de perversões e satanismos. Que de facto ainda existem, quando aprendizes de feiticeiros ou de bruxas invocam forças e entidades astrais ou mesmo do mal, associando tais entidades aos seus desejos de poder, de sexo, de perversão, de dinheiro, de domínio sobre os outros.

Daqui que no Cristianismo surgiram as litanias prolongadas para se invocarem energias luminosas, de santas e santos, anjos e arcanjos,  vindas dos planos espirituais e  capazes de acalmarem ou dissiparem ruídos desarmoniosos das músicas modernas baixas (a ruídocracia, como lhe chamava o querido amigo Afonso Cautela), emoções exageradas, instintos desregrados, mentiras e ódios, focos satânicos e do mal em pessoas e instituições ou mesmo países, e gerarem em vez disso paz, não-violência, pureza, claridade, lucidez, amor.

Seja como for o que quer sentir, o principal a comemorar são duas noites e dias, segundo as tradições pagãs e cristãs, muito propícios ou auspiciosos para se  orar, meditar, escrever, reflectir, ouvir  música, dialogar em satsanga, contemplar as estrelas e o céu, ou a noite da natureza, e seu silêncio e sons, estando atentos ao nosso peito, aos nossos sentidos subtis,  ao mundo interior, ao mundo espiritual, às intuições, e ao dormir, aos sonhos.

São duas noites e dois dias, pois se a 1 é a da Festa de Todos os Santos, no dia 2 é a Festa dos Fiéis Defuntos (e para uns sobretudo a dos Fiéis do Amor) e que na realidade já podemos celebrar, invocar, orar por eles na 1ª noite e dia,  orarmos ou meditarmos bem antes de adormecer e estarmos atentos ao que possa ser sentido de subtil no peito e no coração, ou visto no olho espiritual, em vigília ou em sonhos. E o que de melhor de ideias e sentimentos brota em diálogos, ou em escritas. Ou mesmo que pessoas novas surgem nas nossas vidas, como que encaminhadas, cruzadas, abençoadas pelos mundos e seres espirituais.

Claro que estas religações entre os dois mundos visam primacialmente a religação maior ou mais sentida com a Divindade em nós, que é sobretudo, Luz, Bem e Amor, e Verdade, Justiça e Multipolaridade equitativa no mundo....

vvvvvbbbb

Kahlil Gibran, o poema acerca da Religião, no "Profeta". Em inglês e português, com breve hermenêutica psico-espiritual.


E um  sacerdote ancião disse, Fala-nos da Religião.
E ele disse:
Falei eu hoje de algo diferente?
Não é a religião todas as ações e toda a reflexão,
E aquilo que não é nem ação nem reflexão, 
mas uma maravilha e uma surpresa 
sempre a brotar na alma, 
mesmo quando as mãos talham a pedra ou cuidam do tear?

Quem pode separar a sua fé das suas ações, 
ou a crença das suas ocupações?
Quem pode estender as suas horas diante de si,
e dizer: "Isto para Deus e isto para mim próprio;
Isto para minha alma, e aquilo para meu corpo?"

Todas as vossas horas são asas que batem
através do espaço do eu para eu.
O que veste a sua moralidade apenas como a sua melhor roupa
 estaria melhor nu.
O vento e o sol não rasgarão buracos na sua pele.

E quem define o seu comportamento pela ética aprisiona 
o seu pássaro cantor numa gaiola.
A canção mais livre não vem através de grades e fios.
E  aquele para 
 quem o adorar é uma janela, 
para abrir mas também para fechar, 
ainda não visitou a casa de sua alma 
cujas janelas estão abertas da aurora à aurora.

A vossa vida diária é o vosso templo e a vossa religião.
Sempre que entrarem nele, levai convosco tudo o que tendes.
Levem o arado e a forja e o martelo e a lira,
As coisas que  modelastes na necessidade ou pelo prazer.
Pois quando sonhais não podeis erguer-vos acima das vossas realizações nem cair mais baixo do que os vossos falhanços.
E levai convosco todos os homens:
Pois na adoração não podeis voar mais alto
do que as suas esperanças nem humilhar-vos
mais baixo do que o desespero deles.

E se haveis de conhecer Deus, 
não sejais por isso um decifrador de enigmas.
É melhor olhares à tua volta 
e vê-lo-ás brincando com os vossos filhos.
E olhai para o espaço;  vê-lo-ás caminhando na nuvem, 
esticando os Seus braços no relâmpago e descendo na chuva.
Vê-lo-ás a sorrir nas flores,
depois a erguer-se e a acenar com as Suas mãos nas
árvores.
Comentário: Kahlil Gibran, através do discurso Mustafá, ensina que tudo é ou pode ser religião, tudo serve para religar, ou não, o ser consigo, com os outros, com o sagrado, mas esta assunção do quotidiano como religioso, desde o que fazemos ao que pensamos, não fica apenas pelo agir e estar consciente, pois há uma contraparte em que o sagrado, o infinito, o divino pode brotar subitamente do interior numa sensação íntima, sublime, inexplicável, de graça. Kahlil Gibran, que não abafou a natureza espiritual humana inata, sentiu-o, vivenciou-o, escreveu-o com sangue e alma e consegue ainda fazê-lo sentir a quem o lê empaticamente, sabiamente.
A experiência de religiosidade que Khalil Gibran apresenta e propõe é idêntica à da espiritualidade: brota livremente, acima de horários e regras, e quando se está a trabalhar, a pensar ou a contemplar pois quem tem a alma bem aberta e abrangendo a Humanidade e as suas múltiplas actividades, em tudo pode sentir a mão da Vida (uma expressão que ele gosta de usar) ou da Divindade, inspirando, impulsionando e sobretudo falando na Natureza e nos seus fenómenos. 
É um poema simples, mas com momentos intensos de constante unidade dinâmica  - "Todas as vossas horas são asas que batem
através do espaço, do eu para eu "- 
 e pouco ou nada realça nas religiões com as suas doutrinas, crenças, ritos, práticas e orações. Noutros poemas (e no Profeta há o poema discurso sobre a oração) e noutros livros (e escreverá um  consagrado  ao Jesus, e às contradições entre o original ou verdadeiro e o que foi historificado) entrará mais nelas, mas neste poema, a sua alma nascida e crescida nos montes e cedros do Líbano, e tão sensível e criativa, sofrida, viajada e universalizada, apela sobretudo à liberdade, à abertura e ao voo espontâneo da alma na totalidade e unidade da vida humana, parte duma Natureza que reflecte tão bem a Divindade  que nos permite religar a Ela.  
Destaca ainda o Espaço para o contemplarmos como ventre, matriz e janela sempre aberta para o Infinito Divino, e como campo unificado de comunicação de eu para eu. A mensagem e mantra essencial deste poema será talvez: "a vossa vida diária é o vosso templo e religião..." Assim seja, e muito Amor nele!

«And an old priest said, Speak to us of Religion.
And he said:
Have I spoken this day of aught else'?
Is not religion all deeds and all reflection,
And that which is neither deed nor 
reflection, but a wonder and a surprise
ever springing in the soul, 
even while the hands hew the stone or tend the loom'?
Who can separate his faith from his actions, 
or his belief from his occupations?
Who can spread his hours before him,
saying, "This for God and this for myself;
This for my soul, and this other for my body'?"
All your hours are wings that beat
through space from self to self.
He who wears his morality but as his
best garment were better naked.
The wind and the sun will tear no holes in his skin.
And he who defines his conduct by ethics 
 imprisons his song-bird in a cage.
The freest song comes not through bars and wires.
And he to whom worshipping is a window, 
to open but also to shut, 
has not yet visited the house of his soul 
whose windows are from dawn to dawn.
 
Your daily life is your temple and your religion.
Whenever you enter into it take with you your all.
Take the plough and the forge and the
mallet and the lute,
The things you have fashioned in
necessity or for delight.
For in revery you cannot rise above your
achievements nor fall lower than your failures.
And take with you all men:
For in adoration you cannot fly higher
than their hopes nor humble yourself
lower than their despair.
 
And if you would know God be not
therefore a solver of riddles.
Rather look about you and you shall
see Him playing with your children.
And look into space; 
you shall see Him walking in the cloud, 
outstretching His arms in the lightning 
and descending in rain.
You shall see Him smiling in flowers,
then rising and waving His hands in trees.»

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Kahlil Gibran e o poema da Amizade, do seu livro "O Profeta". Tradução e breve hermenêutica de Pedro Teixeira da Mota.

 O livro O Profeta, do libanês Kahlil Gibran (6-I-1883 a 10-IV-1935), publicado em 1923, após longo trabalho de destilação, e logo com grande sucesso, dada a sua grande beleza e sabedoria, devido à grande abrangência temática, ao carácter místico, ao estilo das parábolas orientais e à necessária brevidade dos ensinamentos transmitidos na forma de vinte e seis discursos poéticos deu origem a que alguns dos poemas fossem muito apreciados e até sabidos de cor, e outros menos, pois cada leitor com a sua própria experiência e visão de vida sentia que responderia de outro modo e não se identificava ou aderia tanto a alguns. 
Mesmo assim certos poemas são praticamente unanimemente apreciados e elogiados, e seria até instrutivo tentar discernir-se seja o que qualitativamente é o melhor ou mais rico de compreensões e intuições originais, e quais foram ou são os mais apreciados quantitativamente, nomeadamente nos muitos que ainda hoje leem  Kahlil Gibran ou têm O Profeta como livro de cabeceira, ou como vademecum, como se dizia dos livros de Erasmo na época áurea da sua irradiação na Europa humanista e cristã do séc. XVI, como Marcel Bataillon tão bem realçou e entre nós José V. de Pina Martins ecoou.
Sendo o poema  Amizade um dos  mais conseguidos e profundos, pois  alguma frases-versos são valiosas ideias-forças, verdadeiras e logo operativas na transformação dos interiores dos leitores graças à expansão cognitiva e gnóstica da alma que geram, iremos traduzi-lo e destacar brevemente alguns dos ensinamentos, tal como o de que a Amizade é como um campo que se trabalha, semeia e colhe. E que com o amigo ou amiga há plena comunhão dos conteúdos psíquicos, mesmo no silêncio, mesmo na ausência física, pois a presença ou comunhão interna continua, por vezes até com uma claridade insuspeitada. 
Bem desafiantes ensinamentos, poderemos dizer nestes tempos de amizades mais digitais, virtuais, superficiais, pois com quantas pessoas conseguimos sentir e realizar tal, mesmo que seja só nos sonhos? Mas oiçamos o nosso inspirado Kahlil Gibran, a que se seguirá a minha tradução comentada:
 «And a youth said, Speak to us of Friendship.
And he answered, saying:
Your friend is your needs answered.
He is your field which you sow with
love and reap with thanksgiving.
And he is your board and your fireside.
For you come to him with your hunger,
and you seek him for peace.

When your friend speaks his mind you
fear not the "nay" in your own mind, nor
do you withhold the "ay."
And when he is silent your heart ceases
not to listen to his heart;
For without words, in friendship, all
thoughts, all desires, all expectations are
born and shared, with joy that is unacclaimed.
When you part from your friend, you
grieve not;
For that which you love most in him
may be clearer in his absence, 
as the mountain to the climber is clearer from the plain.
And let there be no purpose in friendship 
save the deepening of the spirit.
For love that seeks aught but the disclosure of its own mystery 
is not love but a net cast forth: 
and only the unprofitable is caught.

And let your best be for your friend.
If he must know the ebb of your tide,
let him know its flood also.
For what is your friend that you should
seek him with hours to kill?
Seek him always with hours to live.
For it is his to fill your need, but not
your emptiness.
And in the sweetness of friendship let
there be laughter, and sharing of pleasures.
For in the dew of little things 
the heart finds its morning and is refreshed.»
 
 
Tradução... 
«E um jovem disse: Fala-nos da Amizade.
E ele respondeu, dizendo:
O vosso amigo são as vossas necessidades atendidas.
Ele é o vosso campo que semeais com amor 
e colheis com gratidão.
E ele é vossa mesa e a vossa lareira.
Pois aproximam-se dele com a vossa fome,
e procuram-no pela paz.

Quando o vosso amigo fala da sua mente, 
vós não temei o "não" na vossa mente, nem reteis o "sim."
E quando ele está silencioso, 
o vosso coração não deixa de ouvir o seu coração;
Pois sem palavras, na amizade, 
todos os pensamentos, todos os desejos, todas as expectativas nascem e compartilham-se, 
com a alegria que não é proclamada.
Quando deixais o vosso amigo, não vos lamentais;
Pois o que mais amais nele 
pode ficar mais  nítido na sua ausência, 
assim como a montanha para o alpinista 
é mais nítida a partir da planície.

E que não haja propósito na amizade, 
senão o aprofundamento do espírito.
Pois o amor que busca algo 
que não a revelação de seu próprio mistério 
não é amor, mas uma rede lançada: 
e só o inútil é apanhado.

E que o melhor de vós seja para o vosso amigo.
Se ele tem de conhecer a 
vossa  maré baixa,
deixai-o conhecer também a cheia.
Para que é o vosso amigo que 
tens de o procurar com horas para matar?
Procurai-o sempre com horas para viver.
Pois ele deve encher a vossa necessidade, 
mas não o vosso vazio.
E na doçura da amizade 
que haja risos e partilha de prazeres.
Pois na orvalho das pequenas coisas 
o coração encontra a sua manhã e renova-se.»
Eis um poema simples sobre uma das modulações psíquicas mais importantes e comuns do Amor, a Amizade, e que nos é apresentada com analogias e parábolas da natureza que todos conhecemos, de modo a  podermos estender a mais a nossa alma para o ambiente, a Natureza, a Terra, a Vida, o Infinito, pois somos partes desse todo Divino e  em tantos aspectos reflectindo-se intimamente. O que é muito importante e salvífico para a gens citadina, de modo a não esquecer e deixar secar as raízes naturais que subtilmente a podem alimentar.
O que nos ensina ou aconselha mais então: valorizar as pessoas amigas pois são as que melhor dialogarão, compreenderão, ajudarão. Mas que não aproximemos delas apenas quando estamos em baixo, antes partilhemos as nossas elevações ou marés cheias da Fortuna.
Com a pessoa verdadeiramente amiga nada há a esconder, e no diálogo o que se pensa pode-se dizer. E quando estamos distantes ou afastados, mesmo assim continua o entrelaçamento das almas e mentes e a comunicação, podendo nós até senti-la ou intui-la melhor nessa visão-osmose interna.
A mãe de Khalil, filha de um sacerdote maronita e que o guiou na sensibilidade profunda

Talvez um dos ensinamentos mais importantes até do tão maravilhoso quão instrutivo livro seja o que ele dá em seguida, face a tanta futilidade das amizades, ou como ele diz, face a tantas pessoas que precisam de matar o seu tempo:
«Que não haja propósito na amizade,
senão o aprofundamento do espírito» 
 logo acrescentando que "o amor deve demandar essencialmente  a revelação de seu próprio mistério", equiparando ou identificando assim Amizade, Amor e gnose do Espírito.  
 Saibamos pois elevar mais o nível e fim ou razão de ser da amizade: que haja mais consciência da beleza, profundidade e perenidade da Vida, e como as amizades são meios e oportunidades de criativa e amorosamente  purificar-nos e aprender, aperfeiçoar e apoiar, elevar e clarificar-nos, e que elas proporcionam, nas suas pequenas trocas e comunhões, refrescar-nos ou renovar-nos, do coração ao cérebro, tal como à relva e as plantas causa o orvalho, que os alquimistas recolhiam e aproveitavam para a grande obra da harmonia da Terra e do Céu, o nascimento da pedra filosofal ou do Amor e Espírito divino em nós, como Kahlil Gibran tanto desejou e trabalhou. E que continua a inspirar-nos, se o lermos ou contemplarmos sentidamente.. 
A mão da Vida, ou de Deus ou dos que nos inspiram...

Alexander Dugin e o conflito actual: Tomahawks, Aposta Nuclear e o adeus ao MAGA de Trump. Versão bilingue brevemente comentada.

                        

 Alexandre Dugin, o pai da mártir Daria Dugina Platonova, grande esperança mundial filosófica e geo-política assassinada  na florescência da sua juventude pura, é hoje um dos melhores filósofos e geo-estrategas, nomeadamente da civilização Euroasiática, da Multipolaridade, da Tradição e Filosofia Perene, e, talvez dinamizado pela trágica da musificação martir da sua filha, escreve praticamente todos os dias um texto valioso, que circula por alguns canais alternativos russos, ligado a uma visão tradicional do mundo e que para muitos é apenas conservadorismo e de Direita quando na realidade está bem acima da distinção de Esquerda e Direita, tanta vez ilusória e manipulada e servindo  para criar mais divisões conflituosas nas pessoas, sociedades e necessárias dinâmicas transformadoras conscienciais, sociais e políticas, espirituais, enquanto a elite mundial liberal globalista e infrahumanista vai tentando controlar as sociedades já amplamente infiltradas pelos seus agentes e avençados, políticos e amilhazadores...

Hoje dia 30-X saiu a versão inglesa da  comunicação proferida na conferência Mundial de Estudos sobre a China, realizada a 14 de Outubro na China,  a qual constitui uma reflexão importante sobre o estado actual (e já alterado com os 15 dias que se passaram), do conflito entre a Rússia e o Ocidente colectivo, nomeadamente a possível escalada da situação caso o fornecimento de armas ao megalómano insensível Zelensky se torne passível de nuclearização,  analisando ainda bem o principal chefe do Ocidente, Donald Trump,  quanto ao carácter, comportamento e possíveis consequências das suas decisões no pano de fundo cada vez mais evidente do seu afastamento da posição inicial anti-globalista e anti-imperialista, do Movimento popular republicano Maga  e da sua oposição, à cabeça do Ocidente (com a hubrica e inepta direcção da União Europeia), à justa e necessária multipolaridade equitativa que o BRICS começa a consubstanciar.

 Oiçamos Alexandre Dugin: 

 «Enviar mísseis Tomahawk para a Ucrânia seria, na prática, equivalente a iniciar uma guerra nuclear. A Ucrânia, simplesmente, não possui a tecnologia ou infraestrutura necessária para lançar tais mísseis para o território russo. Devido a essas limitações técnicas, apenas as forças norte-americanas poderiam realmente operá-los - o que significaria que os Estados Unidos estariam, na prática, entrando numa guerra direta e aberta com a Rússia.
Se uma potência nuclear ataca outra, o resultado é, por definição, uma guerra nuclear. Além disso, os mísseis Tomahawk são capazes de transportar ogivas nucleares. Não haveria modo de verificar se tais mísseis estariam armados com ogivas nucleares, nem haveria tempo para o confirmar. Se algum deles atingisse o território russo, Moscovo quase que certamente retaliaria com armas nucleares estratégicas. Isto significaria que o conflito já não seria apenas entre a Rússia e a Ucrânia. A Rússia já está em guerra com a Ucrânia de uma maneira não declarada - mas não com os Estados Unidos.
Se o Presidente Trump realmente procura a paz [e queria ser prémio Nobel da Paz apoiando o genocído da Palestina e tentando atacar a Venezuela], ele deve evitar tais decisões imprudentes. No entanto, Trump tem mostrado repetidamente inconsistência - dizendo uma coisa e fazendo outra. É difícil compreender a lógica por trás de suas acções, que muitas vezes parecem erráticas e contraditórias.
Como presidente dos Estados Unidos, a principal potência militar do mundo, as suas palavras não podem simplesmente ser ignoradas. Trump continua a ser uma figura política séria, mas as mensagens mistas e muitas vezes irracionais que ele envia tanto aos aliados quanto aos rivais são profundamente preocupantes.
A situação já é perigosamente instável. Devido ao comportamento imprevisível de Trump, o mundo está 
hoje à beira de uma potencial catástrofe nuclear. A contradição é impressionante: como pode ele elogiar o Presidente Putin enquanto ao mesmo tempo ameaça enviar mísseis contra a Rússia?
Talvez isso reflita um padrão familiar na cultura empresarial americana - um estilo de negociação agressivo que depende de pressão e jogo de poder. Embora tais tácticas possam funcionar em negociações de comércio ou finanças, aplicá-las à diplomacia nuclear é profundamente irresponsável.
Mesmo que as declarações de Trump sejam apenas ameaças, numa atmosfera tão tensa elas 
facilmente  podem  ser mal interpretadas como intenções genuínas. A reação a tal mal-entendido poderia ser catastrófica. A sua retórica é, portanto, extremamente perigosa.
O movimento Make America Great Again (MAGA), Faz a América Grande novamente, parecia 
desde o início reconhecer a ideia de um mundo multipolar. Posicionava-se contra o intervencionismo globalista e as políticas da elite liberal que dominava Washington antes. No entanto, Donald Trump  afastou-se dessa posição original.
Se ele tivesse permanecido fiel aos princípios do MAGA, poderia ter sido possível limitar as reivindicações dos Estados Unido à dominação global e construir um relacionamento mais construtivo entre Washington e Moscovo. A reunião em Anchorage, na Antárctida,  ofereceu 
uma vez um vislumbre de como tal progresso poderia ser alcançado.
Essa oportunidade foi real, e não deve ser esquecida. Por um breve momento, os Estados Unidos pareceram próximos de recuar em suas ambições universais e reconhecer uma ordem multipolar. Mas Trump hesitou. Expressou apoio a essa direção, mas muito rapidamente mudou de ideia.

                                                
Essa inconsistência [psicológica de ser volúvel, impulsivo e um catavento sujeito a múltiplas pressões e chantagens] explica por é que as suas políticas muitas vezes se contradizem. Um dia, ele afirmou ter resolvido a questão das tarifas com a China; no dia seguinte ameaçou impor tarifas de 100 por cento. Esta é uma política incoerente, [resultado de saber e estudar pouco a complexa interacção mundial e acabar por ser uma folha branca ao vento de qualquer escriba.]
Quando a questão é apenas de comércio, tal inconsistência já é prejudicial. Mas quando se trata de uma confrontação nuclear, torna-se muito mais séria - potencialmente irreversível. O mundo está agora num estado extremamente frágil e volátil.
O mundo unipolar está desaparecer, e a multipolaridade está a começar a tomar forma. No entanto, nenhum dos processos atingiu um ponto sem retorno. O equilíbrio de poder permanece delicado: a multipolaridade fortalece-se a cada dia, mas a incerteza ainda prevalece.
Desde o início, os ideólogos do MAGA vislumbraram melhorar as relações entre os EUA e a Rússia e reduzir o apoio militar, político e financeiro dos EUA à Ucrânia. Ao mesmo tempo, no entanto, eles pretendiam manter a competição económica com a China, incluindo a nacionalização de alguns activos chineses dentro dos Estados Unidos.
Nesse sentido, a abordagem do MAGA em relação à multipolaridade nunca foi totalmente consistente. Prometeu relações mais amigáveis com a Rússia, mas adotou uma postura cada vez mais confrontadora em relação à China.

                      
     
Ibrahim Traoré e Vladimir Putin, dois dos mais carismáticos líderes mundiais!

Hoje, não há nenhum partido político, movimento ou força importante nos Estados Unidos que aceite plenamente a multipolaridade enquanto busca de relações amigáveis com a Rússia, China, Índia, o mundo islâmico e a África. Nesse sentido, a rejeição original do MAGA à globalização e ao liberalismo foi um começo promissor - pelo menos apontou numa direção que poderia levar a relações mais racionais entre as grandes potências.
Essa ideia ofereceu então a esperança de um relacionamento equilibrado entre grandes civilizações, tais como os Estados Unidos, Rússia e China - baseadas no realismo em vez da ideologia.
No entanto, Trump já não segue esse caminho. Ele age sem uma estratégia coerente ou uma visão de mundo clara, o que apenas aprofunda a instabilidade global. A sua administração [tão fraquinha culturalmente] tem demonstrado hostilidade em relação à Rússia, China e até mesmo à Índia—uma nação há muito considerada aliada dos EUA.
A única lealdade consistente que Trump parece manter é em relação a Israel e ao Primeiro-Ministro Netanyahu. Seu apoio inabalável a eles mostra que continua a ser um sionista comprometido. Em todas as outras áreas da política internacional, ele é inconsistente e imprevisível.
Nessas condições, é difícil imaginar relações estáveis ou estrategicamente equilibradas entre os Estados Unidos, a Rússia, a China e a União Europeia. O mundo entrou num período de desordem. Se a humanidade deseja construir um sistema justo e verdadeiramente multipolar, esta luta tem primeiro que ser vencida.»


                            Tomahawks, Nuclear Gamble and Trump’s MAGA Farewell
At the World Conference on China Studies on October 14, 2025, Alexander Dugin delved into Donald Trump’s recent ambiguity toward Russia and Ukraine, as well as his divergence from MAGA.

«Sending Tomahawk missiles to Ukraine would, in effect, be equivalent to starting a nuclear war. Ukraine simply does not have the technology or infrastructure needed to launch such missiles into Russian territory. Because of these technical limitations, only American forces could actually operate them—meaning that the United States would, in practice, be entering a direct and open war with Russia.
If one nuclear power attacks another, the result is by definition a nuclear war. Moreover, Tomahawk missiles are capable of carrying nuclear warheads. There would be no way to verify whether these missiles are armed with nuclear payloads, and there would be no time to confirm it either. If any of them were to strike Russian territory, Moscow would almost certainly retaliate with strategic nuclear weapons. That would mean the conflict was no longer between Russia and Ukraine alone. Russia is already at war with Ukraine in an undeclared sense—but not with the United States.
If President Trump truly seeks peace, he must avoid such reckless decisions. Yet he has repeatedly shown inconsistency—saying one thing and doing another. It is difficult to grasp the logic behind his actions, which often seem erratic and contradictory.
As the president of the United States, the world’s leading military power, his words cannot simply be dismissed. Trump remains a serious political figure, but the mixed and often irrational messages he sends to both allies and rivals are deeply worrying.
The situation is already dangerously unstable. Because of Trump’s unpredictable behavior, the world today stands on the edge of a potential nuclear catastrophe. The contradiction is striking: how can he praise President Putin while at the same time threatening to send missiles against Russia?
Perhaps this reflects a familiar pattern in American business culture—an aggressive bargaining style that relies on pressure and brinkmanship. While such tactics might work in negotiations over trade or finance, applying them to nuclear diplomacy is profoundly irresponsible.
Even if Trump’s statements are only meant as threats, in such a tense atmosphere they could easily be misinterpreted as genuine intentions. The reaction to such a misunderstanding could be catastrophic. His rhetoric is, therefore, extremely dangerous.
The “Make America Great Again” (MAGA) movement, from the beginning, seemed to recognize the idea of a multipolar world. It positioned itself against globalist interventionism and the policies of the liberal elite that dominated Washington before. Yet Trump has drifted away from this original stance.
If he had remained true to MAGA’s principles, it might have been possible to limit America’s claims to global dominance and build a more constructive relationship between Washington and Moscow. The meeting in Anchorage once offered a glimpse of how such progress could be achieved.
That opportunity was real, and it should not be forgotten. For a brief moment, the United States seemed close to stepping back from its universal ambitions and acknowledging a multipolar order. But Trump hesitated. He voiced support for this direction, then immediately reversed course.
Such inconsistency explains why his policies often contradict one another. One day, he claimed to have solved the tariff issue with China; the next, he threatened to impose 100 percent tariffs. This is incoherent politics.
When the issue is trade, such inconsistency is already damaging. But when it concerns nuclear confrontation, it becomes far more serious—potentially irreversible. The world is now in an extremely fragile and volatile state.
The unipolar world is fading, and multipolarity is beginning to take shape. Yet neither process has reached a point of no return. The balance of power remains delicate: multipolarity grows stronger each day, but uncertainty still prevails.
From the outset, MAGA ideologues envisioned improving U.S.–Russia relations and reducing American military, political, and financial support for Ukraine. At the same time, however, they intended to maintain economic competition with China, including the nationalization of some Chinese assets within the United States.
In that sense, MAGA’s approach to multipolarity was never entirely consistent. It promised friendlier relations with Russia but took an increasingly confrontational stance toward China.
Today, there is no political party, movement, or major force in the United States that fully accepts multipolarity while seeking friendly relations with Russia, China, India, the Islamic world, and Africa. In this regard, MAGA’s original rejection of globalization and liberalism was a promising start—it at least pointed in a direction that could lead to more rational relations among great powers.
That idea once offered hope of a balanced relationship between major civilizations such as the United States, Russia, and China—based on realism rather than ideology.
However, Trump no longer follows that path. He operates without a coherent strategy or clear worldview, which only deepens global instability. His administration has displayed hostility toward Russia, China, and even India—a nation long considered a U.S. ally.
The only consistent loyalty Trump seems to maintain is toward Israel and Prime Minister Netanyahu. His unwavering support for them shows that he remains a committed Zionist. In all other areas of international politics, he is inconsistent and unpredictable.
Under these conditions, it is difficult to imagine stable or strategically balanced relations among the United States, Russia, China, and the European Union. The world has entered a period of disorder. If humanity is to build a fair and truly multipolar system, this struggle must first be won.» Editor: Yangwen

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Kahlil Gibran e o seu discurso inicial sobre o Amor, no seu livro "O Profeta", com breve hermenêutica, e pinturas do mestre libanês.

                                   

                                          
O escritor e pintor libanês Kahlil Gib
ran (6-I-1887 a 10-V-1931) deu à luz deste mundo, e naturalmente nos mundos subtis, em 1923, já vivendo em Nova York, a sua obra mais profunda e bela, O Profeta, entregando à posteridade ou perenidade um discurso sobre o amor, a sabedoria, o prazer, a dor, a Vida, muito citado ou comentado posteriormente, como nós agora, acrescentando-se amor ao Amor, visão à visão, pois inegavelmente fala-nos e toca-nos na linguagem da alma universal e contêm passagens sublimes   Traduzimos uma parte inicial do livro, e escrevemos reflexões numa hermenêutica espiritual. Também contemplará - e ele deixou cerca de setecentas - algumas das suas pinturas e desenhos tão subtis, suaves e espirituais...
                                          
Depois de uma vida muito rica, mas c
urta, de afeições e amor (especialmente com Mary Haskell), escritos e desenhos, e lutando pela independência da Síria e do Líbano do império Otomano, em 1931, Kahlil Gibran abandonou o seu corpo devido a uma cirrose (tal como quatro anos depois Fernando Pessoa, em 1935, outro famoso escritor de vida curta), o qual foi transferido para uma igreja e mosteiro cristão maronita (seu avô era um sacerdote maronita), agora Museu Khalil Gibran, em Bsharri, Líbano, onde ainda é "peregrinado", como no seu epitáfio, escrito por ele,  convocando a si próprio e a nós, num poderoso chamamento para despertarmos à nossa entidade e realidade espiritual imortal:"Estou vivo, tal como tu. E agora estou ao teu lado. Fecha os olhos e olha à volta, e ver-me-ás à tua frente. Gibran"
                                           
Ouçamos então a sua voz e logos perenes, no 1º discurso ou fala, sobre o Amor: 

«Então disse Almitra, Fala-nos do Amor.
E ele levantou a cabeça e olhou para
as pessoas, e sobre elas caiu um silêncio, 
E com uma grande voz ele disse:

[Comentário: Enquanto a alma do Profeta, tão cheia de luz e amor, as envolvia, elas ficaram silenciosas na profunda reverência, amor e expectativas...]

Quando o amor te chamar, segue-o,
Embora seus caminhos sejam difíceis e íngremes.
E quando as suas asas te envolverem, cede-lhe,
Embora a espada escondida entre as suas pinhas possa ferir-te.
E quando ele falar contigo, acredita nele.
Embora a sua voz possa despedaçar os teus sonhos,
tal como o vento norte fustiga o jardim.

[Comentário: Dê as boas-vindas ao Amor com coragem. Não tenha medo dos esforços ou lutas que possa ter de fazer para manter o fogo do Amor ardendo com força, como é o caso quando o Amor brilha ou chama através de alguém, ou num momento de se ousar avançar ou perseverar numa prática ou estado de consciência no caminho espiritual.] 

Pois tal como o amor te coroa, assim ele te crucificará.  Mesmo que  seja para o teu crescimento tal como ele é para a tua poda.
Mesmo enquanto ele ascende à sua altura e
acaricia os teus ramos mais tenros que estremecem ao sol,
Assim ele descerá às tuas raízes e sacudi-las-á do seu apego à terra.
Como feixes de milho, ele reúne-te a si.
Ele debulha-te para te deixar nu.
Ele peneira-te para te libertar das tuas cascas.
Ele mói-te até a brancura.
Ele amassa-te até seres maleável;
E então ele designa-te para o seu fogo sagrado,
 para que possas tornar-te pão sagrado na festa sacra de Deus.

[Comentário: A purificação é certamente um dos aspectos ou efeitos do fogo do Amor em nós: - O Amor torna-nos melhores e, assim, ele  corta os nossos defeitos, para que o espírito, e o amor de Deus e a Deus, brilhem mais, em nós. Estaremos então vibrando no corpo místico da Humanidade, e alimentamos os que inspirarmos e  intensificamos, consciente ou inconscientemente.]


Todas essas coisas o amor fará por ti para que possas
 conhecer os segredos do teu coração, e neste conhecimento tornares-te um fragmento do coração da Vida.

[Comentário: Quais são os segredos do coração, podemos perguntar a Kahlil Gibran, já que ele não os diz. São as suas preferências ou temores, ou antes os segredos espirituais mais específicos, tal os do espírito, as suas formas ou corpos,  capacidades ou poderes, o seu passado e presente, e especialmente sua união subtil com a Fonte Divina, o Fogo Primordial do Amor? Ou há um chamado aqui de Kahlil Gibram para estarmos mais consciente da vida subtil do coração e de sua história íntima?]

Self Contemplate 

Mas se no seu medo procurares apenas
 a paz do amor e o prazer do amor,
Então é melhor que cubras a tua nudez
e saias do chão de debulha do amor,
Para o mundo sem estações onde rirás, mas não todo o teu riso,
e choro, mas não todas as tuas lágrimas.

O amor não dá nada além de si mesmo e não toma
nada senão de si mesmo.

[Não tema as dificuldades do Amor, pois ele é a pérola do oceano, o elixir da Vida, a Fonte. Amor, podemos dizer de uma maneira trinitária, é a essência de Deus e em Deus, e permeia o cosmos como atração e harmonização: Ele está em ti, à medida que a sua centelha divina é mais acesa ou activada pela 
acções abnegadas, a sinceridade, a gratidão e a aspiração de unidade do teu coração. Quando  um destes aspectos  vibrar mais em nós sentimos mais Amor. E quando nos sentirmos tocados por correntes ou fluxos subtis, poderemos pensar ou dizer: estou a ser abençoado pela corrente do Amor, e evitarei o que o bloqueia, esconde ou impede a sua ressonância no campo unificado ou anima mundi.]

O amor não possui nem será possuído;
Pois o amor é suficiente para o amor.

[O amor não precisa de nada nem de ninguém, e não pode ser capturado, pois é o fogo do Amor invencível ardendo, pedindo que abandonemos medos, dores e limitações e  abracemos o Fogo Divino com o amado ou amada, ou também com a Face Divina amada por nós, o ishta devata, da tradição indiana.] 

Quando amas, não deves dizer,
"Deus está no meu coração," mas sim, "Eu sou [ou estou]
no coração de Deus.”

[Comentário: Podemos dizer que há duas maneiras principais de se expressar a consciência da presença do Divino e do Amor em nós: ou o Deus vivo dentro de nós, ou o sentimento de estar dentro do coração de Deus, de facto raro e difícil,se entendermos o coração quase inalcançável do Ser Divino, mas natural se o coração de Deus significar simplesmente amor. Eu diria: Estou a sentir o Amor que permeia todo o Cosmos, e que simultaneamente irradia do Coração e toca todo o meu ser, especialmente quando estou com o ser amado. Certamente raramente poderemos sentir e ver o Deus vivo dentro de nós, não apenas o Amor, mas o seu Ser, ou o seu rosto pessoal para nós, como por exemplo é desenvolvido na tradição mística do Ishta devata dos espirituais indianos.]



E não pe
nses que podes dirigir a direcção
do amor, para o amor, pois se ele te achar digno,
ele dirigira a tua carreira [ou direcção].

O amor não tem outro desejo senão o de se realizar [cumprir].
Mas se amas e precisas ter desejos,
que estes sejam os seus desejos:
Derreter e ser como um riacho correndo
que canta a sua melodia para a noite.
Conhecer a dor da  muita ternura.
Ser ferido pela tua própria compreensão do amor;
E sangrar voluntariamente e alegremente.
Acordar na aurora com um coração alado
e dar graças por mais um dia de amor;
Descansares ao meio-dia e meditar no extase do amor;

Retornar para casa ao entardecer com gratidão;
E então dormires com uma oração para o
amado no teu coração e uma canção de louvor
sobre os teus lábios.»

[Comentário final: Que o Amor divino seja o teu sol interior durante  o teu dia e trabalho, e quando voltares para casa após o trabalho feito com amor, abraça os teus seres mais queridos, e reze ou medita com muita gratidão e amor ao Divino e ao seus companheiros e amigos mais perenes, santos e santas, mestres e anjos.
Que possamos comunicar ou comungar com Kahlil Gibran no Amor de Deus, que possamos brilhar como profetas do Amor, ou Cavaleiros do Amor, tão famosos nas tradições portuguesas e orientais, nesta tão agitada e sofrida terceira década do séc. XXI]
 

 

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Kahlil Gibran, "O Profeta". A fala ou discurso segundo sobre "O Casamento". Tradução e hermenêutica por Pedro Teixeira da Mota.

   Vamos hoje aproximar-nos de novo do libanês Kahlil Gibran, a quem já consagrámos um dia um comentário ao discurso inicial sobre o Amor [https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2021/06/kahil-gibran-and-his-speech-on-love-in.html.] Desta vez é o segundo e seguinte (e consequente) ensinamento poético e psicológico do livro de imenso sucesso mundial, e no qual o Profeta responde a Almira, sobre o que é o Casamento. E antes de o reler, traduzir e levemente comentar, podemos interrogar-nos sobre a valorização que Kahlil Gibran terá atribuído ao casamento, como hino de amor, escola de virtudes mútuas ou base fecunda de criatividade, e se as  conexões ou potencialidades psico-somáticas, espirituais ou místicas terão sido aludidas, seja num sentido dos corpos subtis dos que se amam, seja no da perenidade do amor, ou da sua sacralidade perante Deus, numa época em que os divórcios e separações, ou ainda a liberdade maior amorosa, não tinham enfraquecido a instituição do casamento, como tem vindo a suceder.
Poderemos ad
mitir também que sendo Kahlil Gibran (1883-1931) um ser de grande amor pela Vida, e lutador pela liberdade dos sírios e libaneses da opressão turca otomana, e conhecendo os aspectos unitivos no acto de fusão amorosa, poderá valorizar o amor no casamento em si, não só pela criança psico-física que possa nascer mas sobretudo pelo desabrochar do corpo espiritual de glória e da unidade, pelo intensificar da chama do amor, ou mesmo pelo renascer maior da Divindade enquanto Luz e Amor criativo e benéfico em nós, pois na união e fusão amorosa reflectimos o a Primordialidade doadora da Vida, sobretudo se nesse momento estamos ou sincronizamos em plena reciprocidade anímica.  

                                           
«Então Almira falou de novo e disse, E
 acerca do Casamento, mestre?
E ele respondeu dizendo:
Vós nascestes junto, e juntos estareis para sempre.
Estareis juntos quando as asas brancas da morte dispersarem os vossos dias.
Sim, estarei juntos mesmo na memória silenciosa de Deus.
Mas que haja espaços no vosso estar
 juntos [ variantes possíveis: em junção, na vossa conjunção, no vosso estado de união, no vosso ser conjunto.]
E que os ventos dos céus dancem por entre vós.

Que cada um ame o outro, mas não faça um obrigação de amor [ uma cadeia, laço, prisão. vínculo, ou compulsão de amor], 
Que seja [o amor] mais um mar que ondula entre as costas [ou praias] das vossas almas.
Enchei a taça um do outro mas não bebei de uma só taça.
Dai um ao outro do vosso pão mas não comei do mesmo pão.
Cantai e dançai juntos e sede alegres, mas deixai que cada um esteja só.
Tal como as cordas da lira estão sós apesar de estremecerem
[vibrarem ou palpitarem] com a mesma música.

Dai os vossos corações, mas não para a guarda do outro
[ou para que o outro o guarde]
Pois só a mão da Vida pode conter os vossos corações.
E estejais de pé juntos porém não demasiado próximos:
Pois os pilares do templo erguem-se separados,
E o carvalho e o cipreste não crescem na sombra um do outro.»

Como acabamos de ler, Kahlil Gibran soprou na oração poema discurso um vento de liberdade, ou uma partilha da unidade com espaço mediador, não realçando tanto nem as alturas internas psico-somáticas e espirituais que se possam atingir, nem os frutos da unidade material e amorosa que se podem gerar pluridimensionalmente
Vai simplesmente aconselhar as pessoas a não se sufocarem, nem oprmirem, nem se prenderem entre si num amor que seria então possessivo ou impositivo. 
Não há uma metafísica ou mesmo teologia do amor unitivo, sexual afectivo, marital,  espiritual, há sobretudo um  desprendimento libertador, uma metodologia para as tendências de se querer viver um amor total e demasiado absorvente entre os dois. É um casamento sábio, calmo, pouco reflectindo paixão e  apaixonamento. Mas devemos ter em conta que no discurso anterior sobre o Amor ele elevou bastante o valor e a ligação entre os amantes e entre o Amor e Deus escrevendo mesmo: Quando amas, não deves dizer, "Deus está no meu coração," mas sim, "eu sou (ou estou) no coração de Deus.”
Apenas em duas ou três palavras do discurso podemos hesitar qual será a melhor tradução e cada deverá sentir por si, e para o seu caso, no que pode mudar no tempo até, tendo eu posto outras hipóteses curiais. De mais subtil entendimento será talvez a frase "estareis juntos mesmo na memória silenciosa de Deus"..
Talvez então o mais extraordinário ou desafiante seja a pintura que el escolheu e
 que talvez os especialistas de Kahlil Gibran saberão das razões ou intenções. E certamente os ilustradores novos desenharão de modo diferente, conforme sentem o casamento a partir das linhas e entrelinhas da oração-poema e sua ressonância no nosso coração e amor.
É uma sanguínea misteriosa, simbólica, diáfana, com sublimidade de Amor e da União ou Casamento.
Na minh
a hermenêutica direi que a mulher deitada e debaixo representa tanto a Terra como a Humanidade e ela oferece, abençoa ou projecta-se no casal ou casamento, no qual o homem recebe a mulher com muito amor e veneração, sobre a terra escura e sob um céu e fundo duma claridade extraordinária, transfigurante, divina mesmo.
Possamos nós realizar as nossas uniões ou casamentos luminosamente, tal como Kahlil Gibran, e nesta parte do seu ensinamento mais pe
lo desenho do que pelas palavras, conseguiu representar, incarnar, avatarizar na terra: os dois seres que se unem em casamento erguendo-se respeitosos e cuidadosos da personalidade de cada um mas   frementes ou vibrantes da unidade do amor criador, não asfixiante ou livre, e perenizante.  

 «And what of Marriage, master'?
And he answered saying:
You were born together, and together
you shall be forevermore.
You shall be together when the white
wings of death scatter your days.
Aye, you shall be together even in the
silent memory of God.
But let there be spaces in your together ness,
And let the winds of the heavens dance
between you.

Love one another, but make not a bond of love:
Let it rather be a moving sea between the shores of your souls.
Fill each other's cup but drink not from one cup.
Give one another of your bread but eat not from the same loaf.

Sing and dance together and be joyous,
but let each one of you be alone,
Even as the strings of a lute are alone
though they quiver with the same music.

Give your hearts, but not into each other's keeping.
For only the hand of Life can contain your hearts.
And stand together yet not too near together:
For the pillars of the temple stand apart,
And the oak tree and the cypress grow
not in each other's shadow.