quarta-feira, 23 de abril de 2025

O que é meditar? Um dos muitíssimos textos que tenho escrito, em geral após meditar...


Meditar é uma ascultação, harmonização e elevação interior, em geral de olhos fechados, e que em si produz rppidamente um equilíbrio dos dois  hemisférios cerebrais bem como uma  frequência mais calma das suas ondas.

É respirar mais profunda e conscientemente, é assumir uma verticalização de postura, em geral sentada, é absorver e assimilar o prana da respiração e consciencializar-nos das circulações subtis que se realizam entre o corpo, alma e espírito.

É alinharmo-nos mais com os propósitos da nossa vida e da Vida Grande e portanto por essa interiorização e aspiração de conhecimento e de ordem, intuirmos o que é verdade, ou o que deveremos fazer (svadharma) no próprio dia a dia, e daí que a meditação deva ser uma prática de abertura interna diária...

Meditar é fazer coincidir mais a vontade nossa com a Vontade Divina, com o Bem, a Sabedoria, o Amor, o Logos...

É recebermos e tingirmo-nos de mais Luz, é purificarmos, clarificarmos fortalecermos deste modo o corpo psico-espiritual, e os seus centros de energias e partículas subtis.

É compreendermos melhor quem somos, onde estamos e o que devemos vivenciar e partilhar, ou mesmo em relação a nós quem são os outros e quais são as suas necessidades.

É comungarmos com o corpo místico da Humanidade, dos antepassados aos santos e santas, mestres e anjos, e ao Logos, à Divindade...
 
É aproximar-nos ou conhecermos um pouquinho mais o nosso coração espiritual, o santo Graal...
 
É despertarmos mais a nossa consciência espiritual imortal e usufruirmos  da vastidão de ligações ou entretecimentos na pluridimensionalidade cósmica e Divina...
 
Meditar é um meio de sintonizarmos, invocarmos e comungarmos com a energia psico-espiritual, com o fogo do Amor, com o Espírito Santo, ligando luminosa e benéficamente a Terra, o Céu,  a Humanidade e os arquétipos, virtudes e seres celestiais.
 
Meditar-orar é um modo de podermos adorar melhor a Divindade, a Fonte Primordial, ou a sua manifestação em nós...


terça-feira, 22 de abril de 2025

O fim da missão terrestre abnegada do Papa Francisco I, em dia de Pascoela. Breve apresentação da notícia biográfica e elogiosa da Press.tv.com...

 Pedindo-me uma amiga muito culta de ascendência síria, mas que não aderiu ao Facebook, que lhe partilhasse o que escrevera sobre o Papa Francisco I no dia da sua desencarnação, resolvi transcrevê-lo com leves acrescentos, tanto mais que outros leitores do blogue não frequentam  tal rede social, justificadamente pois ela é  bastante opressora e manipuladora.

O que escrevi foi uma breve introdução ou apresentação a uma notícia biográfica publicada na Press.tv,  uma agência alternativa ao jornalixo ocidental, e que, tal como a Tass.com, são as que consulto diariamente, embora mais ou menos rapidamente, para me darem a visão mundial não ocidental, não-oligárquica e não-amilhazada. E portanto multipolar, libertadora da visão opressiva oligárquica e autoritária ocidental...

Escrevi assim: «O papa Francisco, o primeiro jesuíta mas bastante franciscano a assumir a posição de cabeça da Igreja e representante de Jesus Cristo, o que fez com notável dinamismo e abnegação até ao limite máximo (o dia seguinte aos das celebrações da Páscoa), deixou hoje a vestimenta terrena já inútil e ressuscitou para os mundos astrais e espirituais. Não tendo acompanhado nem lido suficientemente a sua obra não me pronunciarei sobre os que o criticam nem os que o canonizam, e sabemos como é bem difícil agradar a gregos e a troianos, ou fazer as unipolaridades dialogarem na multipolaridade justa, mas creio que todos deveremos reconhecer a sua defesa constante da Natureza e da Paz, o interesse intenso pela sorte dos cristãos palestinianos (com quem falava diariamente ao telefone), a sua posição contra as sanções do globalismo ocidental que oprimem tantos países do mundo,  o seu apoio a Julian Assange oferecendo até asilo político, a sua grande abertura ao diálogo inter-religioso e até aos cultos mais antigos do Brasil e as suas advertências contra a dependência da tecnologia e da inteligência artificial. Por mim apenas posso testemunhar que quando nos encontramos por três vezes nos mundo subtis foi sempre de grande afabilidade e abertura espiritual, embora uma das vezes travado ou desviado por um acólito. 

Quem virá a seguir, em que rumos tentará orientar a Igreja, que capacidades e qualidades tentará desenvolver nos cristãos e nos fiéis de outras religiões, o que intensificará na compreensão mais profunda da mensagem de Jesus e do Cristianismo, como impulsionará ou defenderá a realização ou vivência mais justa e fraterna da Humanidade.  são mistérios que nos interpelam a todos. Oremos pelo inspiração do Logos, o bom fumo branco e o fogo do Amor e do Espírito Santo...» 


O artigo da Press.tv iraniana pode ser lido através desta ligação, se é que Facebook e Blogspot deixam aceder a ela: 

 https://www.presstv.ir/Detail/2025/04/21/746575/obituary-pope-francis-first-latinm-amrican-pontiff-iran-friend-critic-gaza-genocide?

Certamente muito mais poderia ser dito, pois sabemos que há tanto muitas críticas como muitos elogios a vários aspectos da sua obra, e também algumas pessoas que o acompanharam e conheceram mais de perto muito poderão esclarecer, mas ficamos por estes dois contributos, o meu e o iraniano, algo gerais mas  prementes de serem realçados no fogo do seu amor da Justiça e do Bem, da Fraternidade e da Divindade.  Acrescentemos agora apenas duas fotografias significativas:  

Fotografia, recebida via mural de homenagem de Inesh Clo Fran, dum encontro do Papa e dum Swami, do Ocidente e Oriente, de gurus ou mestres do caminho religioso e, certamente em muitos aspectos, espiritual, e logo perene do universal Graal.

Na primeira, o Papa e um swami ou monge do Sanata (eterno) Dharma (em sânscrito,  Dever, ou Ordem, ou Religião) indiano cumprimentam-se e esta linha de diálogo inter-religioso com as religiões e vias orientais é muito importante para se sair da estreiteza relativa das três religiões do Livro (tidos como revelados por Deus), tanto mais que a realização gnóstica e mística oriental é profundamente rica e tem influenciado muitos ocidentais, pelo que o diálogo realizado por conhecedores das teologias, filosofias e práticas espirituais será muito valioso para a formação duma Humanidade multi-religiosa mais fraterna, inclusiva e em especial até espiritualmente realizada...

A segunda é também importante, e em especial neste tempo de fomentação manipulada no ocidente de russofobia, pois mostra o Papa Francisco I e  o Patriarca  de Moscovo e de toda a Rússia Kyrill I em alegre encontro,devido certamente há afinidade espiritual de serem já dois elevados  seres na demanda Divina e do seu santo Graal...

Será valioso então sabermos o que o patriarca Kyrill disse a propósito da morte do Papa Francisco, segundo notícia da Tass.com: 

“Ele era um homem de opiniões e crenças fortes, embora estivesse sob muita pressão, incluindo tentativas de esfriar as relações com a Igreja Russa. Agora que ele passou para o outro mundo, posso citá-lo com segurança sem pedir o seu beneplácito. Quando foi muito pressionado, perdoe-me a franqueza, ele disse com firmeza: 'Não me ponham contra Kirill', virou-se e foi-se embora”, disse o Patriarca Kirill ao Presidente russo Vladimir Putin e ao Patriarca Porfírio da Sérvia.
O Patriarca Kyrill, ou Kirill, ou Cirilo, observou que a atitude do Papa Francisco em relação à Rússia e à Igreja Ortodoxa Russa não será esquecida. “Agora o Senhor chamou-o para outro mundo, mas recordaremos com carinho a sua atitude para com a Rússia e a Igreja Russa”, disse ainda.

domingo, 20 de abril de 2025

Noite de Páscoa, um poema. E orações-mantras, num video com introducão bilingue. Prayers and mantras.

 

Onde se celebra bem a ressurreição de Jesus
a imortalidade da sua realização espiritual
e da sua ligação à Divindade,
Pai e Mãe, e íntimo, de todos os seres?

É na Rússia, nas celebrações pascais,
realizadas com tantas e intensas forças
devocionais, espirituais e divinas.

Que o esplendor com que são realizadas,
quando a guerra reina violenta às portas,
que sejam tantas as almas heróicas e devotas,
que atravessam tantas distâncias para comungar, 
faz com que celebrações transmitidas 
impulsionam-nos a adorar mais a Divindade,
ou seja, amá-la em Si, em nós e na fraternidade.

Arrancar o fogo do Amor do nosso interior,
dos cansaços, desinteresses e desânimos,
e ressuscitá-lo, celebrá-lo pela oração e canto
e pela acção abnegada ou criativa,
eis  tarefas ao alcance de todos
que religam e harmonizam a Terra com o Céu,
a Natureza e a Humanidade com a Divindade.

Saibamos pois ressuscitar o espírito de Amor.
o Logos Divino no níveis psíquicos e espirituais
e que Jesus, santos e santas, mestres e sábios
têm manifestado e tão igneamente exemplificado.

Despertemos e renasçamos mais! 


 Escrito o texto acima perto da meia noite enquanto via ou ouvia a transmissão da celebração em Moscovo,  já por volta das cinco e tal da manhã [do Domingo], após uma boa meditação,  gravei o vídeo, às escuras, de orações e sons ecuménicos (cristãos, islâmicos, indianos, shintoístas, etc.),  que pode ouvir:

                      

sábado, 19 de abril de 2025

Renasça bem: celebrações da ressurreição do espírito e alma de Jesus Cristo, lideradas pelo Patriarca Kyrill, directamente de Moscovo. Com o vídeo.

         Que o Espírito santo de Jesus e da Divindade ressuscite mais em nós, na Terra e em todos os seres... 

As Potências Celestiais estão agora a servir ou trabalhar connosco. De Nicholai Roerich, 1934. Noite da Páscoa na Rússia...

    As cerimónias, iniciadas à meia-noite, na belíssima catedral de Cristo o Salvador, em Moscovo, foram lideradas pelo patriarca de Moscovo e de toda a Rússia Kyrill, ou Cirilo I, nascido em Novembro de 1946, filho e neto de padres ortodoxos, e formado em Teologia desde 1970. 

O patriarca Cirilo I, pouco antes de fracionar o pão eucarístico que, molhado no vinho e sangue, seria partilhado com os fiéis, pelos seus coadjuvatores.  

                          

Esteve presente, como uma das milhares de almas devotas, Vladimir Putin, empunhando também uma vela em fogo, símbolo da fé e da aspiração, da ressurreição e do amor. Ligação: https://www.youtube.com/watch?v=Mah8CpIw_MI

Dois dos comentários que escrevi na página da entidade transmissora, CRLCUT, um elogiando-a: "Great realization. Sometimes, some moments, some shots, some souls, are the same from the movies of Andrei Tarkovsky and perennial Russia..." "Grande realização da reportagem. Por vezes, alguns momentos,  planos, almas, são iguais às dos filmes de Andrei Tarkovsky e da Rússia perene..."

                        

 Outro, esclarecendo alguém que considerava inúteis tais cerimónias: "The spirit within each one can be awakened or stimulated by all these symbols, icons, prayers, songs, music, ceremonies. And as Erasmus following Jesus, said [in his Modus Orandi Deum, that I translated and commented] if more people is worshiping God, His blessings descend more..." Ou: “O espírito dentro de cada um pode ser despertado ou estimulado por todos estes símbolos, ícones, orações, cânticos, música, cerimónias. E como Erasmo, seguindo Jesus, disse [no seu Modus Orandi Deum, que traduzi e comentei], se mais pessoas adoram Deus, as Suas bênçãos descem mais...”

Com os Anjos e o corpo místico da Humanidade, avancemos luminosamente, religando-nos mais ao Espírito, à Divindade e ao seu Logos...

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Um poema oração espiritual.

Um poema, e agora adornado pela pintura crística de Hilma Af Klint...

A poesia e oração é como seta ardente
que rasga as nuvens obscurecedoras
e abre-nos ao espaço da luz do Sol.

Vem tu, ó Ser Primordial, 
Absoluto sem nome, ou de mil sons,  
tinge a nossa alma da Tua essência,
para libertar-nos das ilusões do mundo. 
 
Que alma lúcida se plenifica só na vida egoísta,
Que sofrimento, se limitados só a ela, sem Ti?

Não, não nos desculpemos mais.
Que a justiça ou karma caia sobre nós:  
aspiremos, lutemos e saibamos unir-nos mais a Ti,
ou então purifiquemo-nos nas consequências.

Desejos e envolvimentos constantes no mundo,
quem mantém a alma noiva da Divindade?

Cruzo dias e noites, ruas e campos,
tremendo no seio do ar e do sangue,
entre mil opiniões e redes em conflito,
e em poucas escuto os ecos da Verdade.
 
Quem conseguirá harmonizar-se,  
quem conhecerá a Vida libertadora, 
senão as almas perseverantes,
ungidas na fraterna multipolaridade,
 os corações aspirando à bênção Divina?

terça-feira, 15 de abril de 2025

Do Japão sagrado. Texto escrito algum tempo depois da peregrinação de 45 dias em 2010 e agora partilhado

Ainda acrescentarei imagens neste artigo...

 Escrever sobre o Japão e a sua religião e espiritualidade, e após uma única curta estadia, é tarefa bem difícil, não só pela tremenda riqueza do seu passado, que se estende bem até aos dias de hoje, como também pela vitalidade riquíssima dos seus santuários, cultos e festividades religiosas, os matsuri, além dos seus numerosos e activos grupos e seitas,  antigos ou recentes.
Uma peregrinação de apenas seis semanas e pouco como fiz a alguns dos seus centros tradicionais, isto é, ligados às suas duas religiões principais, o Shintoísmo e o Budismo, e mais até ao Shintoísmo (que significa o caminho do espírito, kannagara no michi, descrito ainda nos textos mais antigos como yao yorozu no kami, o das miríades de espíritos ou deidades), não pode deixar de ser limitada e incompleta, dada a variedade imensa de escolas, tradições, festivais, santuários e templos, espalhados por um território grande e diversificado.
Para sermos mais objectivos, a minha viagem no Verão de 2010 concentrou-se na ida a locais sagrados ou harmoniosos, seja a santuários e templos, seja a montanhas, jardins e rios, para os sentir e contemplar, e neles meditar e orar. As pessoas foram surgindo não só como as presenças locais humanas como também como elos de ligação para outros locais e ambientes. Trata-se pois de uma peregrinação a locais espirituais, associados a espaços sacralizados e em certos casos a práticas não só religiosas mas também esotéricas. Não contactei, nem procurei, qualquer seita, apesar de já ter lido sobre algumas, tal como a ligada Masahisa Goi, de quem li um notável livro, e que é ainda um grupo relativamente dinâmico.
Não pude assim discernir o que distingue animicamente tais praticantes em relação ao japonês normal que cultua o sagrado ou o divino, seja nos santuários ou nos templos, na maior parte dos casos nos dois (sobretudo enquanto peregrino), com a regularidade adequada e que pode ser mensal, ocasional ou diária, seja em sua casa, no seu pequeno santuário ou altar, em geral ligado também aos antepassados (otoke sama), nem compreender se realmente esses grupos permitem e causam um desenvolvimento espiritual maior que as religiões, embora seja natural pois trabalha-se e dialoga-se em grupos e ensinamentos nos quais se entrou por uma escolha selectiva e onde há instrutores ou mestres para esclarecerem ou impulsionarem individualmente... 


Pelo o que me foi dado ver e sentir nos templos e santuários, muitas das pessoas têm neles uma relação rápida com o mundo espiritual ou divino, bastando-lhes visitá-los, oferecer um óbolo, inclinar-se e pronunciar alguma curta oração ou desejo, sendo esta certamente por vezes intensa e sincera. Mas também vi, embora não com tanta frequência, pessoas a pronunciarem mais demoradamente orações, por vezes acompanhadas de gestos rituais (mudras, em sânscrito) com as mãos. E lembro-me num templo budista de Kyoto, uma mulher forte pronunciar as suas orações em voz alta, com os mudras e com a particularidade de parecer estar a emitir uma segunda voz harmónica simultaneamente. 


Vi no santuário considerado o principal do Japão, Ise, uma mulher na postura sentada de seiza, meditando ou orando, demoradamente, com as mãos juntas no peito, perto do muro que delimita o pátio do acesso sul ao santuário externo (gegu). Lembro-me de peregrinos, com a roupa e o chapéu característicos, a recitarem as suas orações acompanhadas do gesto típico de massajarem as contas do rosário, ou ainda de outras pessoas orando mais profundamente, nomeadamente no santuário de Shimogamo, em Kyoto, quando uma mulher me explicou como um pequeno santuário lateral estava consagrado a dois kami e como ali se sentia mais energia. 


Também num dos santuários-montes que mais peregrinei, o de Omiwa, perto de Nara, uma jovem, no local mais alto, tirou da sua mochila um livrinho e leu demoradamente um norito, uma oração antiga shintoísta, em voz alta. E, depois de uma conversa, sempre difícil pela escassez vocabular da língua comum, pedindo-lhe eu para recitar outra vez o norito, para que assim se abençoassem certos objectos, tal como um cristal da serra do Marão, trazido de Portugal (para depositar no cimo da montanha, algo que para elas não se devia fazer, mas que acabaria por acontecer...), ela concordou e, sacando da carteira uma ou duas pedras jóias-amuletos e pondo-as numa espécie de altar, sobre eles pronunciou as orações, acompanhadas pelas minhas, ambas expressas com kotodama, a gentileza e força da verdade da Palavra pronunciada conscientemente.
Dentro da religiosidade normal dos frequentadores dos santuários shintoístas e templos budistas há praticantes mais esotéricos e espirituais como também os membros de seitas e grupos das chamadas novas religiões não desdenham cultuar o sagrado nos sítios tradicionais, tanto mais que estão em locais de grande beleza, harmonia e forças.
Falemos um pouco sobre locais sacralizados: o Shintoísmo, sendo a religião mais antiga do Japão e intimamente ligada e nascida da Natureza, sem estátuas e antes cultuando os kami, as deidades ou espíritos subtis e os agentes dos fenómenos da natureza, e sobretudo as árvores, as pedras, as quedas de águas e as construções sagradas como locais de possível habitação das tais miríades ou 80.000 kami, conseguiu por essa percepção, sensibilidade, reverência e consciência preservar muitas árvores, florestas, bosques, montes e montanhas que foram sacralizados e incorporados nos santuários e assim Ise, Izumo, Omiwa, Kamigamo, Shomigamo, Nikko, Daizen e muitos outros santuários shintoístas (denominados jinja, miya, yashiro, taisha, etc.) têm agregados a si grandes extensões territoriais, nas quais a natureza pura vigora poderosa, permitindo-se assim mais facilmente uma percepção aos humanos do divino nela e a possibilidade dos kami estarem mais perto de nós...
O próprio Budismo, que na sua origem era apenas uma doutrina e uma prática ou caminho (do meio) para se evitar ou sair da ignorância e do sofrimento e chegar à libertação-iluminação, ao chegar ao Japão no princípio do séc. VI e logo sendo adoptado como religião da corte, embora só nos sécs. XII e XII, com as seitas de Nichiren (e o seu simples mantra salvífico Namu Myoho Renge Kyo) e da Terra Pura ou Jodo, do monge Shiran, e a do Zen se estendeu mais ao povo, acabou também por desenvolver uma profunda sensibilidade estética da natureza e do espaço puro, em jardins e artes que ainda hoje sobrevivem na sua beleza e espiritualidade. Este amor à natureza do povo japonês e do shintoísmo, este com milhares de festivais e deidades ligadas ao ciclo anual de estações, à agricultura e à fertilidade, acabou por conseguir trazer até ao séc. XXI e mesmo às grandes cidades (construídas em geral com grande qualidade e harmonia arquitectónica-ambiental), não só esses espaços sagrados dos santuários rodeados de grande bosques ou arvoredos, mas também os festivais e procissões que, periodicamente, fazem descer as divindades do céu ou dos santuários à rua, à gente, fecundando assim o quotidiano com a erupção do sagrado e a participação solidária, fraterna e libertadora de todos os extractos da população. 


Observei e participei em alguns festivais, os Matsuri (da raíz etimológica que significa servir, oferecer), nomeadamente em Osaka, Kyoto, Tokushima e Hoguro, em Dewa Sanzan, e pude testemunhar o entusiasmo dos que participam e como o sagrado está presente, havendo em geral, em certos momentos, ou em todos eles, a presença do clero shintoísta, com a sua gravidade e dignidade masculina, e a graciosidade, reverência e elevação das miko, ou sacerdotisas femininas. 

Em Dewa Sanzan,com a amiga Takako, e onde comungamos o sake...

Nos santuários shintoístas, além da natureza preservada e e reconhecida como sagrada, em que há quase sempre pedras e árvores sacras (shinboku), marcadas com as shime nawa (cordas e papéis recortados em ziguezague pendurados) assinaladas deste modo como shintai, objectos sagrados em que os Kami podem estar ou descer, destacam-se as construções belíssimas, nos seus estilos estruturais característicos, em geral em madeira de cipreste e com telhados em colmo, renovados com a periocidade de vinte anos, e nas quais se encontram o santuário mais íntimo (honden), com os objectos sagrados, além de espaços e construções para a realização das cerimónias, nas quais se destacam as purificações (harae) feitas pelos graves e dignos sacerdotes (kannushiguji) ou pelas sacerdotisas auxiliares, as miko, jovens que, de saia branca e uma espécie de calça vermelha, tingem o espaço de uma sacralidade graciosa que não deixa de lembrar ao ocidental familiarizado com a história as vestais de Roma. Assisti a algumas cerimónias ou rituais, vi tanto sacerdotes como mikos realizarem orações e purificações com os instrumentos que utilizam para o efeito e, no caso delas, também com danças lentas ou movimentos harmoniosos, com as campainhas (suzus) nas mãos, acompanhadas da flauta , tocada por sacerdotes, e que transmitiam ou proporcionavam uma clara ambiência e sensação sacralizante e invocadora dos kami...
Pela dificuldade da língua, ou a brevidade das conversas, não falei se não umas poucas de vezes sobre as práticas esotéricas, nomeadamente das respirações, gestos, sons, visualizações e concentrações mas há muitos testemunhos de diversas fontes e grupos, e assim fui meditando e inspirando-me... 

Relembro as conversas com o guji de Omiwa, com um praticante de shugendo em Fushimi Inari e, num jardim Zen, em Kyoto, com uma mulher que vendo-me a meditar sentou-se ao meu lado e entabulou diálogo comigo, acerca das práticas espirituais e tipos de respiração  que praticava. Utilizei com frequência uma das orações transmitida por Norinaga Motoori, um dos principais doutrinadores do Shintoísmo do séc. XVIII: “Mujo Reiho Shinto Kaji...”, e que significa a invocação da descida divina sobre nós, no maravilhoso caminho espiritual. E consegui também fazer o misogi ou purificação com a água, numa cascata, em rios e no oceano, talvez a prática mais primordial e essencial (como purificação do corpo e alma e abertura ao alto) no kannagara no michi, a religião dos kami, ou shintoísmo. 


Passei, visitei, meditei, adorei em dezenas de jinjas ou santuários, a maior parte deles consagrados a Kami particulares, ou seja, em que os honden consideram-se como albergando certos Kami, do extenso panteão existente e cuja origem está marcada nas primeiras crónicas religiosas, históricas e mitológicas do Japão, o Kojiki e o Nihon shoki, dos anos 712 e 720. Contudo, não senti muito tais Kami em particular, mas sim a invocação ou mesmo a presença do Divino, ou do sagrado....
Não devo porém deixar de mencionar que, após ter dado o meu pequeno óbolo, ter puxado a corda ligada a um guizo, inclinado o busto e batido as palmas (kashiwade, o típico gesto de culto) e orado um pouco, em quase todos os santuários ou Jinja senti uma brisa, qual sopro misterioso, balsâmico, perfumado mesmo por vezes, vir, passar, questionando-me se seria proveniente de espíritos, anjos, kami, ou se mera circunstância material de estarem colocados em zonas que os ventos mais tendem ou gostam de passar e soprar...
A espiritualidade no Japão sente-se e exerce-se muito na peregrinação (junpai) e podemos dizer que cada visitante de um santuário ou templo é um peregrino em pequena dimensão, havendo depois aqueles que passam meses em peregrinações a zonas especiais, pois há várias montanhas e circuitos de santuários e templos, tais como o dos 88 templos da ilha de Shikoku, aquela onde está a cidade de Tokushima, peregrinação da qual o nosso escritor apaixonado pelo Japão do séc.XIX-XX, Wenceslau de Moraes, fala bastante admirador, ou ainda a dos 33 templos consagrados à compassiva Kannon budista, ou a dos santuários shintoístas da zona de Kumano. É nesse esforço contra as dificuldades do caminho e as limitações do corpo que se desenvolve uma energia espiritual irradiante que tanto toca o peregrino como aqueles a quem ele está mais ligado ou próximo, e que ainda hoje sustenta a volatilidade e a aventura peregrinante...
Peregrinação máxima no Japão, quase tão generalizada como a peregrinação a Meca dos islâmicos, ainda que sem nada de obrigatório, pois isso é palavra quase estranha ao Shinto (embora haja interditos e a noção forte de polução ou impureza), é a subida da montanha do Fuji (Fujiyama, e que também cumpri, de noite), algo empinada e árdua nos seus 4. 000 metros e tal de altura, estando no alto um santuário shintoísta consagrada ao kami da montanha (yama, zan). Mas são muitas outras as montanhas consideradas reizan (montanha-espírito) ou shintai-zan (montanha receptáculo do espírito ou do divino) e que nos seus tempos antigos não teriam mais do que uns postes ou pedras no alto, delimitando um recinto (himorogi) de acolhimento e adoração e que com o tempo acabaram por originar as construções de santuários, em pontos intermédios ou nas bases das montanhas, mais acessíveis a toda a gente.
Aspecto importante de espiritualidade comum ao Shintoísmo e ao Budismo é o culto dos jardins sagrados, cuidadosa e muito planeadamente construídos e mantidos, com as suas específicas variedades e princípios, adjacentes aos santuários ou aos templos, e onde se sente fortemente a presença do sagrado ou do divino, e em que a ideia do paraíso terreal aflora facilmente. Aí, céu e terra fundem-se harmoniosamente, com os cinco elementos a circularem ou a interagirem fluidicamente, participando nisso os vários reinos, destacando-se do animal os peixes, em especial as carpas, e as tartarugas, embora garças e outras aves não deixem de trazer a ligeireza e a liberdade que as caracteriza...
Também nas artes do bonsai, ou árvores reduzidas (de que há uma boa colecção no jardim botânico de Kyoto), do ikebana ou arranjo floral, ou mesmo a do chá (que pude participar uma ou outra vez), podemos sentir que elas brotam naturalmente do aprofundamento da grande sensibilidade do povo japonês à natureza, e que tal como os jardins, atingiram no Japão grande requintes de sensibilidade, estética e espiritualidade.
Falámos há pouco a existência nos santuários de certos objectos sagrados (shintai) e realmente eles dão ou aumentam a sacralidade do local, pois são meios do divino se tornar mais acessível sendo por isso também instrumentos ao serviço do divino. Destacamos
da divindade solar Amaterasu o mi kami, o Kagami ou o espelho mágico-sacro, a espada, Kusanagi no Tsurugi, e a joia Yasakani no Magatama. E comum a quase todos os serviços nos santuários os tamagushi, ou os ramos de sakaki com as dobras de papel, e o harai gushi, feito de dezenas de tiras de papel e que se abanam ou sacodem diante da pessoa, e depois à esquerda e à direita, todos eles com funções específicas, em geral purificadoras, e que sacerdotes e mikos, ou mesmo leigos, empunham; no caso do espelho, existente mesmo em casas (nos kamidamas), é uma imagem solar e da verdade muito venerada. Importantes também são os carros ou andores-palanquins, os mikoshi, onde segue, ou que contêm, um mitama-shiro, um objecto sagrado onde o Kami está presente ou actualizável... 

As danças, competições, músicas, cerimoniais, rituais, oráculos e adivinhações que se desenrolam nos templos e seus terrenos (sobretudo nas ocasiões dos festivais) são certamente um dos factores mais fortes de expressão da espiritualidade japonesa, mas convém lembrar ainda que a maior parte dos devotos shintoístas têm permanentemente um contacto com o sagrado em sua casa, através do santuário pequeno ou em miniatura (o kamidana, denominando-se butsudana o budista, que frequentemente está ao lado dele) onde fazem as suas oferendas e orações aos antepassados e ao divino, tingindo assim a casa e o quotidiano com uma maior espiritualidade. E certamente que muitos farão as suas práticas respiratórias, psíquicas e contemplativas diante do seu pequeno santuário...
Que outros factores poderemos mencionar como fazendo parte ou contribuindo para a espiritualidade japonesa?
Sem dúvida a sua cerâmica, os seus designs, as suas indumentárias e vestuários, a sua alimentação e terapêuticas naturais, as suas termas (onseen) as suas artes marciais (com o Bushido, o caminho da cavalaria, coragem e lealdade) e, sobretudo, claro, a literatura, a poesia (com os seus concisos mas tão sugestivos e impressivos haikus) e a arte, nesta a caligrafia, a pintura, a dança, o teatro nô, ou mesmo o desenho animado (anime, frequentemente com temas mito-religiosos) e, no Budismo destacam-se a pintura e a estatuária, pelo que os templos budistas (ao contrário dos shintoístas, mais simples e naturais) estão cheios de estátuas e pinturas (nomeadamente os mandara, suportes diagramáticos para a contemplação) frequentemente de grande antiguidade e qualidade, além dos objectos ritualistas diante dos altares.
Já quanto à teologia e doutrinas o Budismo leva a palma com milhões de obras publicadas, perante a mais modesta fecundidade shintoísta, assente nos antigos livros sagrados (shinten) de crónicas e de orações (norito) e sobretudo nas práticas e rituais praticados seja nos santuários (imperiais ou locais), seja popular, mágica e oracularmente, embora ao longo dos séculos tenha havido várias especulações e aprofundamento das bases, ou das doutrinas ou teologia Shinto, destacando-se Kado Azumamaro, Norinaga Motoori e vários outros autores, sobretudo a partir de meados do séc. XVIII, até para resistirem ao avassalamento que os Budistas causavam, e que levara à criação mesmo cedo do Ryobu Shinto, o Shinto dual, em que os kami eram apenas manifestações (honju) do Buddha, ou guardiões da sua doutrina...
Outro aspecto importante a termos em conta na sobriedade e espiritualidade japonesa é facto do Japão ser um conjunto de ilhas, vulcânicas e assentes sobre placas tectónicas muito instáveis e propícias aos terramotos, já que isso, parece-me, contribui para uma intensificação e concentração de energias, com várias consequências, duas delas são as que perante a transitoriedade e fragilidade da vida humana foram enunciadas em dois famosos princípios de vida ou mesmo conceitos filosóficos: o mono no ahare, a simpatia para todas as entidades, e o naka-ima, aqui e agora, pelo qual as pessoas vivem intensamente o presente seja no trabalho, seja na festa, seja nas purificações e práticas espirituais (harae, e mitama shimuze).
Por outro lado esta intensidade vai tanto dinamizar as pessoas para melhor resistirem às dificuldades e tragédias que constantemente as visitam, como a que a há dias (11-3-11) tragicamente se abateu sobre Sendai, como também impulsioná-las para a realização de objectivos materiais e espirituais, para os quais a beleza e fertilidade da natureza, e dos seus rios, florestas, culturas agrícolas e termas também muito ajudam, gerando as famosas qualidades de gratidão, kansha, a reverência e a sinceridade ou verdade, makoto. Assim as suas pessoas e famílias constituem um povo resistente, feliz, ordeiro, simpático, respeitador, trabalhador, concentrado, prestável, hospitaleiro e belo, e que encontramos tanto na cidade como no campo...
Já quase no final da peregrinação de 45 dias ao Japão consegui participar no monte Haguro, uma das três montanhas (Sanzan) de Dewa, num dos dias mais sagrados, sobretudo para os adeptos do Shugendo, essa mistura ou fusão de práticas e teorias do shamanismo, do taoísmo, do shintoísmo e do budismo, podendo contacar os Yamabushis, os ascetas das montanhas, das quedas de água e das caminhadas, tendo com dois grupos deles caminhado, comunicado e cultuado o divino com o fogo, as orações, meditações, contemplações e olhares, ao som de conchas, sopradas como os nossos cornos de boi lusitanos...
Mas, certamente, a religiosidade e espiritualidade do Japão tem cada um de a descobrir, sentir, viver e aprofundar por si próprio, com as suas osmoses, meditações, reflexões, leituras, práticas, peregrinações e diálogos, e este breve texto é sobretudo um convite, um apelo a sentirmos mais simpatia e atracção por este país e as suas gentes, e a visitá-lo de modo a convivermos e a comungarmos com as suas pessoas e tradições, ou a estudarmos e aprofundarmos mais os seus ensinamentos, qualidades, realizações... e os Kami...
Em Tokushima, junto ao túmulo de Wenceslau de Moraes e das suas duas mulheres, na noite do Bon-Odori, o festival dos mortos, que ainda dancei e filmei (youtube), e que foi, com a subida ao monte Fuji e a entradas e meditações nos santuário de Ise, Omiwa e Fushini Inari, os pontos altos..

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Do amor e culto dos pés santos e suas medidas e pegadas, no caminho da vida e verdade. Maria, mãe da Graça.

 Do culto e amor dos pés puros e suas medidas e pegadas, no caminho da vida, virtudes e verdade.

A importância dos pés na peregrinação da vida é um dado adquirido pelos que caminham ou caminharam muito. Seja pelo que sofreram,  conseguiram, ou a segurança, prazer ou alívio que sentiram...
A sacralização dos pés é pois natural dada a sua maravilhosa anatomia, bela apresentação, extraordinária capacidade de utilização (pense-se nos que pintam com os pés), e simultaneamente a fragilidade face aos mil acidentes da vida, que quase todos já experimentaram, a via crucis...
Para quem conhece as tradições orientais da circulação da energia, prana ou ki por centros de força e meridianos, alguns destes terminando ou começando nos pés, ou ainda as técnicas ocidentais da reflexologia e massagem metamórfica, sente bem justificado o seu cuidar, massajar ou cultuar.
Tal acontece mais tanto entre as pessoas que se amam, como nas que sabem utilizar bem, apreciar e massajar os pés, e ainda na adoração  dos gurus ou mestres através dos pés, muito prevalecente na Índia; onde os fundadores das religiões, tal Mahavira e Budha, e dos avatares, ou descidas-incarnações da Divindade entre os humanos, tal Rama e Krishna, recebem também um culto forte e exemplar, pois pelos pés o espírito se liga no solo, e pelos pés e mãos nus religa o Céu e a Terra...
Um dos cultos que entre nós, Portugal mas não só, existiu é o das pegadas ora de Jesus, ora de Maria, ora de algum santo e santa, ou mais recuadamente de moiras, e que se descortinam, ou legendariamente se atribuem, em penedos e santuários, tal no cabo Espichel, na serra de Sintra e em vários locais do Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes
Outro culto é o das medidas do pé em forma, e que apresentamos um exemplar, e haverá certamente outras versões, e no fundo extraviadas do grande e em falta Museu Devocional de Portugal. Referimo-nos à medida do pé de Maria, mãe de Jesus, e que se usava para estimular a devoção, oração e contemplação. E talvez para se venderem em  cópias, que prometiam indulgências a quem rezasse com elas
O exemplar que conhecemos é um paciente trabalho artístico sobre papel de início do séc. XIX, com 14x28 cm (e dobrado fica fechado e protegido), pois entre as quatro orlas que fazem de aura protectora ou irradiadora do pé-alpercata (7x20 cm) e da mensagem escrita (que está encimada por uma irradiação óctupla dum DSol central duplamente "encirculado"), desenhou-se um denteado de triângulos preenchidos de belo efeito e que faz até lembrar a decoração geométrica dos ídolos placas em xisto.
Desconhecemos se esta cópia do original foi única ou se foi produção dum devoto, dum artista ou provavelmente dum monge ou soror dum mosteiro. E ignoramos se foi e é uma cópia fiel da alpercata ou sandália existente (certamente lendária), ou se é apenas uma criatividade própria a partir de se ter ouvido...
Quanto ao seu uso, se fosse na Índia não teríamos dúvidas que as pessoas tocariam a testa com o desenho. Em Portugal, pensamos que talvez beijassem a imagem, ou rezassem diante dela ou ainda andassem com ela no bolso do casaco. Mais curativa paracelsicamente seria deporem um pé sobre ela e invocar ou evocar forças e  bênçãos.
Quanto à contemplação mais demorada dela, na totalidade ou em pormenores e na assimilação no corpo e alma do devoto que a possuía ou do peregrino que a contemplava, apenas poderemos intuir...
Vamos transcrever a legenda e compreender talvez melhor este invulgar e belo ícone português:

«Medida exactíssima de pé da Bemaventurada Mãe de Deus tirada da sua verdadeira alpercata   que se venera com grande devoção em um mosteiro de Hespanha. O Pontífice João XXII [1249-1344]  concedeu 300 anos de indulgências a quem beijar 3 vezes esta medida  e rezar três vezes a ave Maria: o que também foi confirmado pelo Papa Clemente 8º [1536-1605] no ano de 1603.
Esta indulgênci
a não havendo prescrição de um ano se pode adquirir quantas vezes quiserem os devotos da Santíssima Virgem Maria. Pode aplicar-se pelas almas do Purgatório. (...)
Maria, Mãe da G
raça rogai por nós». 

Já um outro exemplar do mesmo culto, apresenta Maria no interior do pé, pegada, aura: 

                                           

Encontra-se  na web esta versão bela do culto da medida do pé, a qual reza assim: "Medida do santíssimo pé da Bem Aventurada Virgem Maria Mãe de Deus, tomada de um calçado da mesma Senhora o qual existe no mosteiro de Saragoça em Madrid. O Santo Padre João XXII  concedeu 700 anos de indulgência às pessoas que beijarem três vezes esta bendita medida e ao mesmo tempo rezarem três Ave Maria, alcançarão ainda: livramentos de todos os males. Confirmada pelo Santo Padre Clemente VII no ano de 1604, Aquelas pessoas que as trouxerem consigo serão livres de morte repentina» 

Este exemplar diferencia-se do nosso porque a imagem de Maria é transmitida, promete-se o livramento de morte repentina a quem andasse com a estampa, alonga-se o prazo da indulgência e explicita-se que tal relíquia se encontra num mosteiro de Saragoça. Desconhecemos se existiu em algum mosteiro seja de Saragoça, seja de Madrid. 

De realçar no desenho da Tradição Portuguesa a possibilidade de  diante do Santo Pé se orar mais eficazmente pelas almas já partidas da Terra, o que é bastante original ao nível de transmissão psico-mórfica subtil e ígnea que constitui a oração e em especial a oração pelos outros, e na realidade o fogo do Amor une o Cosmos...

Caminhemos na verdade e na coragem e saibamos  interligar-nos no fogo do amor, pelo coração, dos pés à cabeça! Aum Agni Ignis Aum...