Registo do meu diário de Março de 1994 (e ao longo dos anos são dezenas), que passo a transcrever: «Terça, ida a Lisboa. Visito Agostinho
da Silva. O velho leão marinho está sentado na sua última lunação.
Já não tem rivais à volta a invejarem-no. Pode morrer sozinho, com
dignidade. O cérebro lentamente vai-se desagregando, ficam os olhos
perfeitos, ora vazios, ora calmos, ora ainda prescrutativos: visitara-o há dias, uma semana provavelmente, mas por pouco tempo,
pois estava cansado, fraco. Uns dias antes visitara-o também e aí
transmitiu-me as forças de “ter o inteiro amor na vontade” e “é
preciso querer para ser.”
Deu-me como dois mantras, duas
iniciações, dois presentes.
“Estás a pedir sabedoria? Duvidas da
minha capacidade de transmitir ainda?
Estás a estimular-me? Então toma um
presente, acolhe, recebe com amor porque com amor te dou!”
Foi a última conversa com o velho e
ilustre professor.
Agora cada vez mais o corpo vai-se
inclinando, enfraquecendo e ele retirando-se...
Dizem as duas governantes, ou mulheres
que o tem ajudado nos últimos tempos, como «ele acordava nos últimos
tempos todo preocupado com o trabalho, o trabalho... Sempre foi um
grande trabalhador. Há dias já doente, ainda se inquietava pelo
trabalho que se fazia.»
O Círculo dos Leitores publicou as suas
traduções de Virgílio e enviaram-nas. Li-lhe umas páginas, com ele atento.
Velho capitão-mór, estás-te a
libertar.
Longos minutos de mão dada.»
Eis o registo do diário....
Segue-se: «Casa da mãe. Manhã. Nascer do Sol
belo. Hora de missa, boa elevação junto ao mar. Se cada pessoa
tivesse uns trinta minutos por dia de comunhão com a Natureza pura que
gostar, que melhorias na sociedade. Mas não, está quase tudo muito
artificializado e alienado.
Agostinho piora, diz-me pelo telefone
Luísa de Carvalho, e comunico a Dalila Pereira da Costa.
Anjos da Guarda, Anjos custódios
estai vós em todos os seres
diferentes e de acordo com eles?
Ou sobrevoais a terra e seus mortais
míseras formigas, atarefadas abelhas
que somos nós na nossa ignorância?
Ó quanto custa esta errância
em que só a alma arde
e aspira à visão de vós?
em que só a alma arde
e aspira à visão de vós?
Porque ficamos tanto tempo
perdidos na fé e na lembrança
porque não se repetem as visões
que alegraram os nossos corações?
Anjo, quero o que tu queres
calo-me para que tu fales
no silêncio e telepaticamente.
Tanto tempo que clamo por ti
Há quantos anos sem te ver
Mas eis que vem o Natal
A melhor quadra para vos ver
E redobra a esperança
de enfim comungarmos.
Sei que o véu e a separação
são meras ilusões e aparências.
Não estou só, grande é a comunidade,
Ah adoro a Santa Unidade.
Nasça esta luz ardente
no peito de todo o ser fremente
E que as limitações e prisões
se estilhacem em mil clarões,
Porque a Aurora está em nós
Que a Divindade, no íntimo,
esteja a crescer em ti, amigo (a).
«Alguns sonhos ou visões interessantes
após meditação prolongada às 5 horas da manhã, com forte aspiração
ao anjo e a Cristo. Surgia uma caminhada [ou caminho vivido...] e o aproximar de um arco
donde se destacavam uns dois bustos no frontão, cujas figuras ou
figura subitamente se animaram tanto para mim como para um companheiro,
o que nos regozijou pois não éramos só um a ver a comunicação
com o alto. Poetizei o sonho ao acordar:
Caindo os véus nos sonhos
nossa alma avança
passando pelos arcos
onde as assinaturas
desvendam o mistério.
O anjo falou e incendiou-me:
Nós que os petrificáramos
teremos de os despertar das pedras
por ardente e perseverante invocação.
São bustos de religiosos ou anjos
os que subitamente se animam
e revelam num trocar de expressões
que do alto seguem as nossas
aspirações.
Esquecemo-nos por vezes
do preço das colheitas.
É preciso tempo e trabalho
e mais devoção para que se
verifique a revelação.
Vestidos de burel da simplicidade
eu e outro peregrino surpreendemo-nos,
participantes de uma mesma comunicação
que do Alto alegrou e alumiou
nossas almas agora em exaltação.
Vou agora mais firme
no dia quotidiano
pois levo no peito o sorriso
que o Anjo trocou comigo.»
Post scriptum: O que aqui escrevi sobre o Anjo serve também para os seres que amámos e nos amaram, ou amamos, o caso de Agostinho da Silva e que hoje 13 de Fevereiro 2022 me confirmou a sua sobrevivência espiritual individualizada como sábio da Tradição Espiritual Portuguesa e Universal, e Cavaleiro ou Fiel do Amor...
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