sábado, 27 de maio de 2017

Luís da Câmara Reis. "Aspectos da Literatura Portuguesa": Antero de Quental.

                                                        
Luís da Câmara Reis (1885-1961), pedagogo, professor, jornalista e um dos fundadores da revista Seara Nova, em 26 de Outubro de 1926 pronunciava em Madrid, a propósito da Exposição do Livro Português que se realizava na Biblioteca Nacional de Madrid, uma conferência intitulada Aspectos da Literatura Portuguesa, publicada depois pela revista Seara Nova, na qual tece algumas apreciações valiosas sobre as qualidades de vários escritores e escritoras, das quais resolvemos transcrever algumas, com as motivações de preservar o conhecimento de tal obra e das suas subtis observações, e de partilhar para as páginas Antero de Quental, escritor, e Shinto em Portugal e no Mundo, no Facebook, pelo que é a imagem do vate açoriano, desenhada por Tagarro quem encabeça este breve artigo.
                                         
                 
Antero, entre o dia e a noite, a vida e a morte, lúcido!
                                      
                                    
                                            
Seleccionamos apenas algumas das numerosas observações e intuições que relacionam a palavra e o ambiente, a alma e a aspiração de alguns dos escritores e escritoras revisitados:
«Antero, o maior poeta português depois de Camões, romântico enamorado do Amor, da Liberdade e da Morte. (...)
«Nas tentativas dos últimos anos é justo citar a Contemporânea, revista a que o gosto excepcional de José Pacheco deu os mais surpreendentes encantos de beleza gráfica, e em que se afirmaram, entre outros, o talento doutrinário de Fernando Pessoa, o malogrado Mário de Sá Carneiro e o lápis e a verve humorística de Almada. (...)
«Virgínia Vitorino criou nos Namorados, o livro de cabeceira de todos namorados portugueses. (...)
Alberto Osório de Castro, gloriosamente saudado por Ruben Dario, buscou, como Wenceslau de Morais e Camilo Pessanha, no remoto Oriente, imagens e ritmos de peregrina beleza, sem que nos seus versos se desvanecesse a a linguagem, a luz e a cor da Beira natal. [Jaime] Cortesão celebrou em versos admiráveis, a Glória Humilde. E Cândido Guerreiro cantou o Algarve a mulher, erguendo-se por vezes à emoção filosófica dos Sonetos de Antero.
Na prosa, Wenceslau de Morais, émulo de Loti e de Lafcadio Hearn, evocou o Japão, as grandezas do seu passado, o exotismo da sua arte, a atraente feitiçaria das suas mussumés, em livros cuja perfeição de forma se irmana à mais requintada ternura. Teixeira Gomes e António Patrício, almas soberanamente d'annunzianas, recamam de sumptuosas galas a sonora linguagem que os quinhentistas revigoraram no banho lustral do latim clássico. Jaime Magalhães de Lima prossegue infatigavelmente na sua bela obra de moralização e evangelização tolstoiana.
«Leonardo Coimbra, orador magnífico mesmo nos seus livros, reveste duma fulgente espuma literária os mais áridos problemas de filosofia»
No fim da conferência, Câmara Reis analisou mais detidamente as obras de Raul Brandão («Escreveu a epopeia das misérias, da dor, dos vencidos, dos oprimidos, dos que morrem de fome ou por uma insaciada sede de ternura», Aquilino Ribeiro («estupendo paisagista» e Eugénio de Castro («Dormiram no seu leito espiritual, as mais célebres e mais belas mulheres do mundo. Não têm segredos para ele os corpos e as almas de Belkiss...»)
A conferência, ao ser editada no opúsculo da Seara Nova, termina com uma carta de Teixeira Gomes.
Segue-se o autógrafo de Luís da Câmara Reis:
                          
Luz e amor nas almas das nossas almas, nesta grande comunhão perene...

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