1-III.«Era 1198 [1160 de Cristo], reinando Afonso ilustríssimo Rei de Portugal, Gualdim Pais, Mestre dos Cavaleiros Portugueses do Templo, com seus freires começou a edificar este castelo, chamado Tomar, que, concluído, o rei ofertou a Deus e aos Cavaleiros do Templo...». Assim iniciava D. Gualdim Pais, que fora como cavaleiro cruzado à Terra Santa, a construção do castelo de Tomar (no que fora já fortificação romana e islâmica) e, depois, da Charola, templo octogonal com o altar no centro, talhada de acordo com a geometria sagrada de que os Templários foram conhecedores, «com as suas próprias mãos e pés» e que, depois de albergar tal mítica milícia, na qual alguns membros eram verdadeiros portadores corajosos do Santo Graal e fazendo as ligações entre a terra e o céu tal como a miniatura quinhentista colorida ilustra, será a sede da liderança espiritual dos Descobrimentos, enquanto casa-mãe da Ordem de Cristo, a sucessora da Ordem Templária.
Em 1476, o porta-estandarte de Portugal na batalha de Toro contra as tropas de Castela e Aragão, Duarte de Almeida, entra na terra das lendas imortais ao segurar, já sem as duas mãos, o estandarte com cotos e dentes até cair, mas sobreviver como o heróico decepado. D. Francisco de Almeida, futuro vice-rei na Índia, então com 27 anos, distingue-se pela bravura, na ala esquerda, comandada pelo futuro D. João II. Embora vencendo D. Afonso V teve de reconhecer que a sua sobrinha Joana a Beltraneja não conseguiria aceder ao trono de Castela.
Morrem na Aguada do Saldanha, depois do Cabo da Boa Esperança, neste dia em 1510, o 1º vice-rei na Índia D. Francisco de Almeida — "aquele que nunca mentiu nem fugiu" — seu amigo Lourenço de Brito, comendador da Ordem de Cristo em Salvaterra e nove outros capitães esforçados e vitoriosos na Índia, em luta contra indígenas armados de paus e pedras, por desentendimentos em trocas de bugigangas quando faziam a aguada. Diogo Pires, o aio de D. Lourenço de Almeida, que conseguira escapar para o barco, quando soube que o vice-rei fora abatido, disse: «maldito seja eu se aparecer em Lisboa, deixando atrás de mim os cadáveres do filho e do pai» e foi para terra lutar até morrer. Uns dias antes, D. Francisco tivera um pressentimento, como intuitivo que seria, e resolvera fazer o testamento «porque vira cair uma polé e podia vir a cair-lhe outra na cabeça». Mas agora, forçado pelas instâncias dos mais aguerridos, teve de saltar em terra, exclamando: «Onde levais estes sessenta anos?» Se dele diz João de Barros: «nunca ninguém lhe sentiu cobiça, senão de honra», já Damião de Goes critica-o por ter disparado sobre Cananor tiros de bombarda cheios de pedaços dos rumes cativos que lhe mataram o filho, «negócio tão bárbaro, que parece que quis Deus por castigo de uma tamanha desumanidade, que morresse ele depois a mãos da mais bárbara gente que se sabe em todo o universo Mundo». D. Francisco de Almeida, participante nas viagens europeias de D. Afonso V e que se destacara na conquista de Granada, segundo certa tradição, imaginativa ou não que me transmitiu o professor antropósofo Weltmann, teria aí recebido manuscritos alquímicos que em seguida passou a Basilius Valentinus, dos Países Baixos ou Holanda.
Em Cochim, em 1645, liberta-se do corpo o irmão Pedro de Basto (natural das terras de Basto), místico iletrado mas ardente e agraciado com os dons necessários do espírito.
João de Brito nasce neste dia 1 em Lisboa em 1647, filho de D. Brites e de D. Salvador Brito Pereira, comendador da vila de Monforte da Ordem de Cristo, Governador do Rio Janeiro. Frágil mas animado por decidida vocação missionária, com alguns laivos de ecumenismo, virá a ser santificado pela sua vida e morte, com 46 anos, no sul da Índia, depois de ainda ter vindo a Portugal despedir-se de certo modo dos seus mais próximos. Foi canonizado em 22 de Junho de 1947, e encontramos assim muitos santinhos dos anos posteriores a ele dedicados, ou mesmo estátuas, tal como encontramos no Jerónimos.
Nasce em Lisboa Frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas em 1724, religioso franciscano formado em Coimbra onde chegou a ensinar Teologia na Universidade. Aprendeu além do latim e do grego, siríaco e arábe e pode assim valorizar os estudos orientalistas em Portugal. Viajou a Roma onde teve contactos que muito o estimularam na sua missão pedagógica. Foi um dos reformadores do ensino em Portugal, colaborando com o marquês de Pombal, bibliófilo (inclusive de livros indianos, hoje na Biblioteca de Évora) e fundador de bibliotecas, sócio da Academia das Ciências de Lisboa, da qual provém esta pintura de António Joaquim Padrão, quando estava nos seus 47 anos. Dedicou-se após a queda do algo despótico Marquês de Pombal a um apostolado dos seus diocesanos, primeiro em Beja, onde esteve 25 anos como Bispo, segundo em Évora, de 1801 até morrer em 1814. E ao apoio das bibliotecas, museologia e cultura, tendo o que escapou da sua colecção à rapinagem dos invasores franceses ficado para o actual Museu de Évora- Museu Nacional de Frei Manuel do Cenáculo, ainda assim de valiosa visita.
João de Brito nasce neste dia 1 em Lisboa em 1647, filho de D. Brites e de D. Salvador Brito Pereira, comendador da vila de Monforte da Ordem de Cristo, Governador do Rio Janeiro. Frágil mas animado por decidida vocação missionária, com alguns laivos de ecumenismo, virá a ser santificado pela sua vida e morte, com 46 anos, no sul da Índia, depois de ainda ter vindo a Portugal despedir-se de certo modo dos seus mais próximos. Foi canonizado em 22 de Junho de 1947, e encontramos assim muitos santinhos dos anos posteriores a ele dedicados, ou mesmo estátuas, tal como encontramos no Jerónimos.
Nasce em Lisboa Frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas em 1724, religioso franciscano formado em Coimbra onde chegou a ensinar Teologia na Universidade. Aprendeu além do latim e do grego, siríaco e arábe e pode assim valorizar os estudos orientalistas em Portugal. Viajou a Roma onde teve contactos que muito o estimularam na sua missão pedagógica. Foi um dos reformadores do ensino em Portugal, colaborando com o marquês de Pombal, bibliófilo (inclusive de livros indianos, hoje na Biblioteca de Évora) e fundador de bibliotecas, sócio da Academia das Ciências de Lisboa, da qual provém esta pintura de António Joaquim Padrão, quando estava nos seus 47 anos. Dedicou-se após a queda do algo despótico Marquês de Pombal a um apostolado dos seus diocesanos, primeiro em Beja, onde esteve 25 anos como Bispo, segundo em Évora, de 1801 até morrer em 1814. E ao apoio das bibliotecas, museologia e cultura, tendo o que escapou da sua colecção à rapinagem dos invasores franceses ficado para o actual Museu de Évora- Museu Nacional de Frei Manuel do Cenáculo, ainda assim de valiosa visita.
2-III. Compreendida a proximidade da Índia, cruzado o Cabo da Boa-Esperança, já na ilha de Moçambique, em 1498, o estado anímico da armada de Vasco da Gama é registado no Diário da Viagem: «Éramos tão ledos, que com prazer chorávamos e rogávamos a Deus que lhe aprouvesse de nos dar saúde para que víssemos o que todos desejávamos». Ares quentes e vibrações luminosas da Índia bela, misteriosa e sagrada que poderima ter sido bem mais acolhidas ecumenicamente...
Carta de D. João III à cidade de Goa congratulando-se por o rei de Tanor se ter feito cristão e ter sido bem recebido na cidade, escrita neste dia em 1554. Mas antes a opinião do Conselho de Goa era que «ao bem da coroa deste reino tão pouco importava ser aquele Rei cristão, como não o ser, e está certo que quão mal pareceria este voto a Mestre Diogo de Borba, que se achou presente, e aos padres da Companhia, que então residiam no Colégio», diz-nos o P. Francisco de Lucena, o biógrafo mais famoso de S. Francisco Xavier. Outras conversões reais foram as do rei das Maldivas que casou com uma portuguesa, em 1552, a princesa de Bijapur, neta do Âdhil Khân (o Idalcão) em 1557, a rainha de Baial em 1599, a princesa de Ormuz em 1611 e a de Madagáscar em 1614.
Em 1560 o cardeal D. Henrique determina o estabelecimento do tribunal da Inquisição em Goa, o qual virá a condenar sobretudo ideias protestantes, práticas das religiões judaicas e indianas, sodomia. Os inquisidores perseguirão muitos (16.000 processos), matarão alguns nos autos-de-fé (cerca de 145 pessoas até 1773) mas, pior que isso, destilam o gás mortal da delação, medo e fanatismo, ocasionam a emigração forçada de muita gente e destroem as possibilidades de relacionamento amistoso inter-religioso e os melhores sentidos do encontro do Ocidente com o Oriente.
D. Sebastião, ainda menor, recebe em carta deste dia em 1568 da Mesa de Consciência e Ordens como conselhos para a governança da «porção maior e mais importante da Monarquia»: «Assentou-se que a primeira e principal obrigação, que El-rei nosso Senhor, e os seus sucessores têm nas partes da Índia, é o negócio da conversão, e competente provimento das coisas Eclesiásticas, e que é assim conforme ao direito Divino, natural e positivo, e à condição com que pelas Bulas Apostólicas se concedeu o comércio das ditas partes aos reis de Portugal, e se defendeu aos outros Príncipes Cristãos... castigar gravemente os que impeçam o negócio da conversão... Tem sua alteza obrigação de mandar que nos lugares, e terras, de que é senhor, não hajam ídolos, nem se lhes façam festas». Era a continuação duma religiosidade intolerante ou fanática que ainda assim foi contrabalançada por alguns dos governadores e pela convivialidade de muitos portugueses.
Naufrágio do galeão S. Alberto, em 1587, junto ao Cabo de Boa Esperança. Depois duma odisseia tremenda, os que sobreviveram, já na nau Chagas que os recolhera em Moçambique, ao chegarem aos Açores tiveram de lutar contra três fragatas inglesas e como o fizeram valerosamente os ingleses atearam fogo ao galeão pelo que os 600 passageiros arderam ou pereceram nas ondas, sendo repescados apenas quatorze que acenavam com colares de pérolas e diamantes. Para alguns ainda são os nosso fiéis aliados...
Carta de D. João III à cidade de Goa congratulando-se por o rei de Tanor se ter feito cristão e ter sido bem recebido na cidade, escrita neste dia em 1554. Mas antes a opinião do Conselho de Goa era que «ao bem da coroa deste reino tão pouco importava ser aquele Rei cristão, como não o ser, e está certo que quão mal pareceria este voto a Mestre Diogo de Borba, que se achou presente, e aos padres da Companhia, que então residiam no Colégio», diz-nos o P. Francisco de Lucena, o biógrafo mais famoso de S. Francisco Xavier. Outras conversões reais foram as do rei das Maldivas que casou com uma portuguesa, em 1552, a princesa de Bijapur, neta do Âdhil Khân (o Idalcão) em 1557, a rainha de Baial em 1599, a princesa de Ormuz em 1611 e a de Madagáscar em 1614.
Em 1560 o cardeal D. Henrique determina o estabelecimento do tribunal da Inquisição em Goa, o qual virá a condenar sobretudo ideias protestantes, práticas das religiões judaicas e indianas, sodomia. Os inquisidores perseguirão muitos (16.000 processos), matarão alguns nos autos-de-fé (cerca de 145 pessoas até 1773) mas, pior que isso, destilam o gás mortal da delação, medo e fanatismo, ocasionam a emigração forçada de muita gente e destroem as possibilidades de relacionamento amistoso inter-religioso e os melhores sentidos do encontro do Ocidente com o Oriente.
D. Sebastião, ainda menor, recebe em carta deste dia em 1568 da Mesa de Consciência e Ordens como conselhos para a governança da «porção maior e mais importante da Monarquia»: «Assentou-se que a primeira e principal obrigação, que El-rei nosso Senhor, e os seus sucessores têm nas partes da Índia, é o negócio da conversão, e competente provimento das coisas Eclesiásticas, e que é assim conforme ao direito Divino, natural e positivo, e à condição com que pelas Bulas Apostólicas se concedeu o comércio das ditas partes aos reis de Portugal, e se defendeu aos outros Príncipes Cristãos... castigar gravemente os que impeçam o negócio da conversão... Tem sua alteza obrigação de mandar que nos lugares, e terras, de que é senhor, não hajam ídolos, nem se lhes façam festas». Era a continuação duma religiosidade intolerante ou fanática que ainda assim foi contrabalançada por alguns dos governadores e pela convivialidade de muitos portugueses.
Naufrágio do galeão S. Alberto, em 1587, junto ao Cabo de Boa Esperança. Depois duma odisseia tremenda, os que sobreviveram, já na nau Chagas que os recolhera em Moçambique, ao chegarem aos Açores tiveram de lutar contra três fragatas inglesas e como o fizeram valerosamente os ingleses atearam fogo ao galeão pelo que os 600 passageiros arderam ou pereceram nas ondas, sendo repescados apenas quatorze que acenavam com colares de pérolas e diamantes. Para alguns ainda são os nosso fiéis aliados...
Maurice Magre nasce em Toulouse, em 1877 e cedo sentiu e partilhou a musa poética e do romance, sendo elogiado por Apolinaire e Gide. Depois de uma vida bastante libertina tornar-se-á um interessado na história secreta da Ocitânia, no esoterismo, nos mistérios da vida e da morte. Passara pelo ópio, pelo martinismo e o catarismo (deixando obras importantes) e, foi à Índia, em 1935, ainda que doente, para se encontrar com o mestre Sri Aurobindo. As suas últimas obras são mais filosóficas e esotéricas, tendo recebido em 1937 o prémio de Literatura da Academia Francesa pelo conjunto da sua obra. Desincarnará em 11-12-1941. No prefácio à tradução por Jean Herbert e Pierre Sauvageot, do livro de Lily Adams Beck, A La Découverte du Yoga, du Kashmir au Tibet, 1938, depois de realçar "o um não sei quê de sobrenatural, de fascinante" no livro, diz: «Só o nome dos tradutores deveria ser o suficiente para dar vontade de ler a obra, pois Jean Herbert e Pierre Sauvageot são mais reveladores do que tradutores. É devido ao seu esforço que temos a tradução das obras de Swami Vivekananda e de Sri Aurobindo, o que é um título precioso para os que não conseguem ler nos originais as obras destes grandes pensadores. Esses que estão sedentos de conhecer o pensamento da Índia, quantos são em França? Talvez não sejam ainda muitos mas o seu número crescerá à medida que será revelada a riqueza extraordinária de beleza que se encontra sob a filosofia e sobre o aparato multiforme das religiões da Índia. É um grande serviço ensinar aos Franceses uma fonte nova e imensa de reflexões, de aquisições morais e espirituais». Acrescentará ainda: Cada um tem um segredo a descobrir em si mesmo, que lhe permite atingir a felicidade. E como há uma escala nas felicidades, o verdadeiro e grande segredo é aquele pelo qual se chega à elevação do espírito, à mais alta forma de felicidade, aquela que vos aproxima da felicidade», advertindo que as ideias materialistas e os gozos excessivos corporais criam uma barreira de trevas impeditiva de se chegar à felicidade.
Dalila Pereira da Costa abandona neste dia o seu corpo físico em 2012, no Porto, já com 93 anos de idade. Formou-se em Coimbra em 1944 em Ciências Históricas Filosóficas, e foi uma notável estudiosa das raízes psíquicas e míticas, religiosas e espirituais de Portugal, tendo-se dedicado com mais originalidade à pesquisa do fundo celta e do culto da Deus Mãe na nossa literatura e tradições e ainda à via onírica como anamnese (trazer de novo à memória) de épocas ou mesmo vidas anteriores, relacionando-a ainda com a infância e a dupla face que ela contém. Deixou uma vasta obra, alguma dela inspirada em visitações nocturnas ou aurorais, ainda hoje pouco estudada, com várias aberturas ao Oriente, tanto pelos Descobrimentos (vistos como missão e demanda), como por Gil Vicente e Camões, como ainda pelos mestres espirituais indianos e persas, citando com frequência Rumi e Shorawardi, este através de Henry Corbin, e assinalando a complementaridade entre a Pérsia e Portugal «extremo ocidental oposto ao Irão» e como ele aprofundando ao máximo essa anamnese ou reminiscência dos níveis ou estados primordiais e que entre nós a saudade de certos modos realiza. Convivi razoavelmente com ela e no blogue e no Youtube transmiti alguns testemunhos. Extracto de uma das suas cartas: «Pedro amigo, continue sua obra, abrindo aos portugueses novos planos do seu ser, fazendo-os conscientes das forças não ainda utilizadas que cada um de nós detém em si: e que o reino futuro do Espírito será também o da liberdade.»
3-III. Gaspar Correia entra ao serviço de D. Manuel como moço de câmara em 1506. Na Índia desde 1512, secretário de Albuquerque até à sua morte, desenhou os retratos dos vice-reis (que depois D. João de Castro fez pintar em grande ou natural tamanho), guerreiro em Baçaim e Diu, as suas Lendas da Índia, que esperaram contudo pelo século XIX para serem publicadas pela Academia das Ciências, contêm das descrições mais fidedignas da época, porque, como se apresentará, «nada acrescentarei nem diminuirei da verdade que melhor pude saber». Já quanto ao que não presenciou, a sua acuracidade diminui.
Os padres Aquaviva e Monserrate oferecem ao imperador mogol Akbar (1542-1605) a erudita e magnífica Bíblia Poliglota
da oficina de Christophe Plantin, preparada pelo sábio humanista
Benito Arias Montano, neste dia 3 de Março de 1580, em Fatehpur Sikri,
Índia numa encadernação fechada em ouro, com as belas gravuras da escola
flamenga de Quentin Matsijs que, copiadas e adaptadas, entrarão
imediatamente na simbólica artística imperial mogol. O imperador Akbar,
na demanda da religião universal, recebe este Livro sagrado, com a
devoção dum discípulo ardente: tira o turbante e coloca-o sobre a
cabeça, depois aperta-o contra o peito e por fim beija-o. De noite, pela 1ª vez, os padres participam nos debates, como nos narra Abu’l Fazl, na crónica oficial de Akbar, Akbarnama: «A Casa de Adoração foi uma noite iluminada pela presença do Padre Rudolfo, que não tinha rival quanto a inteligência e sabedoria entre os doutores cristãos. Vários homens críticos e enganadores atacaram-no e isso permitiu a assembleia presenciar o julgamento calmo e justo. Esses homens lançavam as velhas asserções, e não tentavam chegar à verdade por meio do raciocínio. Os seus argumentos foram desfeitos em pedaços, e foram quase postos em estado de vergonha; tentaram então atacar as contradições dos Evangelhos, mas não conseguiram provar as suas afirmações. Com perfeita calma e grave convicção da verdade, o Padre replicou aos seus argumentos». Akbar no fim aconselhou cautela, sobretudo ao fogoso P. António de Monserrate, mas tinha ainda dúvidas, «como é que o Mais alto Deus pode ser três e um, e como pode ter Ele um filho, um homem nascido duma virgem».
Na reunião do Conselho de Goa, realizada neste dia em 1663, o casado António de Melo e Castro declara «que El-Rei não tem fazenda com que lhe acudir, e a seus vassalos falta cabedal para ajudar», diagnóstico preciso da situação grave que se vivia.
Do porto de Brest em 1685 embarcam para a China os primeiros «seis jesuítas (franceses) hábeis em matemáticas», como pedira o ministro Colbert, para cartografarem e missionarem, quebrando o monopólio do Padroado português e aproveitando o enfraquecimento do império luso. Serão cem anos de intercâmbio cultural intenso com umas trezentas mil conversões, até ser extinta a Companhia de Jesus.
O P. Filinto Cristo Dias nasce neste dia em 1904 em Chinchinim. Escreverá entre outras obras o Esboço da História da Literatura Indo-Portuguesa e até morrer em 1986 será um virtuoso cultor da linguagem clássica portuguesa. Com o Padre Chico e o Reverendo António de Mendonça, um sábio da união filosófica e religiosa do Oriente e do Ocidente, serão os animadores da casa de padres retirados ou reformados no Alto de Porvorém, tendo eu com eles ainda dialogado. Inicia assim a separata do Boletim do Instituto Menezes Bragança, de 1979, Acerca da Arte de Ensinar, «Quem se devotou, com amor, por cerca de quatro décadas à actividade docente, como o autor deste desambicioso trabalho, não admira que experimente particular prazer em ventilar assuntos concernentes à técnica do ensino (...) o espírito humano é susceptível de progredir ao infinito (...) ninguém poderá medir ao certo, a soma de conhecimentos que uma criança deseje e possa assimilar se lhes forem administrados de modo adequado». Considerará como requisitos da arte de ensinar: saber e estudar a disciplina dada, gostar dela e conhecer bem os alunos e gostar deles, afirmando que «entre os mais importantes predicados que devem exornar um bom mestre, figura o segredo de saber impregnar de alegria o ambiente escolar». Quanto às qualidades ou virtudes que se requerem do professor nomeia a memória, a força da vontade e bondade.
Na reunião do Conselho de Goa, realizada neste dia em 1663, o casado António de Melo e Castro declara «que El-Rei não tem fazenda com que lhe acudir, e a seus vassalos falta cabedal para ajudar», diagnóstico preciso da situação grave que se vivia.
Do porto de Brest em 1685 embarcam para a China os primeiros «seis jesuítas (franceses) hábeis em matemáticas», como pedira o ministro Colbert, para cartografarem e missionarem, quebrando o monopólio do Padroado português e aproveitando o enfraquecimento do império luso. Serão cem anos de intercâmbio cultural intenso com umas trezentas mil conversões, até ser extinta a Companhia de Jesus.
O P. Filinto Cristo Dias nasce neste dia em 1904 em Chinchinim. Escreverá entre outras obras o Esboço da História da Literatura Indo-Portuguesa e até morrer em 1986 será um virtuoso cultor da linguagem clássica portuguesa. Com o Padre Chico e o Reverendo António de Mendonça, um sábio da união filosófica e religiosa do Oriente e do Ocidente, serão os animadores da casa de padres retirados ou reformados no Alto de Porvorém, tendo eu com eles ainda dialogado. Inicia assim a separata do Boletim do Instituto Menezes Bragança, de 1979, Acerca da Arte de Ensinar, «Quem se devotou, com amor, por cerca de quatro décadas à actividade docente, como o autor deste desambicioso trabalho, não admira que experimente particular prazer em ventilar assuntos concernentes à técnica do ensino (...) o espírito humano é susceptível de progredir ao infinito (...) ninguém poderá medir ao certo, a soma de conhecimentos que uma criança deseje e possa assimilar se lhes forem administrados de modo adequado». Considerará como requisitos da arte de ensinar: saber e estudar a disciplina dada, gostar dela e conhecer bem os alunos e gostar deles, afirmando que «entre os mais importantes predicados que devem exornar um bom mestre, figura o segredo de saber impregnar de alegria o ambiente escolar». Quanto às qualidades ou virtudes que se requerem do professor nomeia a memória, a força da vontade e bondade.
Roberto Bruto da Costa, natural de Margão, notável «jornalista militante, amante da minha terra natal» e homem público, alma de vários dos Congressos Provinciais da Índia Portuguesa, parte neste dia, em 1930, para os mundos espirituais, na sua cidade natal. Dentro da sua intensa vida e obra, destaca-se o seu valioso contributo para a história política da Índia Portuguesa, A Hidra do Nativismo. Rebatendo a Calúnia de: Independência de Goa, Domínio Inglês, Ódio aos Brancos e Aniquilamento da Colónia Portuguesa, impresso em Nova Goa em 1920, onde juntou um valioso conjunto de ensaios e artigos em jornais defendendo o amor que sempre unira a maior parte dos naturais da Índia com os portugueses europeus lá residindo e opondo-se aos que queriam que Goa se unisse aos ingleses e historiando os momentos de tensões nos séculos XIX e XX, tais como a extinção do exército, a revolta dos ranes, etc, narrando alguns episódios menos conhecidos como os tiros desfechados pelo notável jornalista Constâncio Roque da Costa em legítima defesa contra o ataque à bengalada do capitão Gomes da Costa e do governador Rafael de Andrade, em 1896, por terem sido criticados no jornal Universal. Critica também fortemente Frederico Diniz Aiala e a sua obra Goa Antiga e Moderna, considerando e provando «que tem porfiado, por meio de artifícios de toda a ordem, em dar foros de verdade à calúnia de que os indo-portugueses odeiam os portugueses, e tramam contra o seu domínio na Índia».
4-III. O infante D. Henrique, filho de D. João e de D. Filipa de Lencastre, nasce no Porto em 1394. Trará sobre o peito um pedaço da Vera Cruz e um silício no corpo. Casto e determinado será uma das primeiras grandes almas dos Descobrimentos, e terá como divisa Talant de Bien Faire, envolta em ramos ásperos de carrasqueiro, ou seja, «Vontade de Bem Fazer» e que Fernando Pessoa mais tarde escolherá para tenção da Ordem de Cristo que pretendia ressurgir e que desenhará imperialmente na sua Mensagem. A impassibilidade perante o sacrifício de D. Pedro em Alfarrobeira pode ser criticada, reservando-se os elogios para a sua vontade férrea ao serviço dos ideais de desbravamento dos oceanos, expansão nacional, cruzada e enriquecimento que prosseguiu com toda a ciência que lhe foi possível. Outro mote do infante foi a palavra «IDA», assim como um símbolo que uns interpretaram das pirâmides do Egipto, ou do triângulo montanhoso.
Bartolomeu de las Casas, segundo o Diário da viagem de Colombo, relata que neste dia em 1497 Cristovão Colombo e o seus padeceram de noite tão terrível tormenta «que se pensaram perder das marés que de duas partes vinham e os ventos que parecia que levantavam a caravela nos ares e água do céu e relâmpagos de muitas partes... e assim os guardou Deus até ao outro dia que foi com infinito trabalho e espanto. Chegado o dia, conheceu a terra, que era a Rocha de Sintra, que está junta com o rio de Lisboa, donde determinou entrar, porque não podia fazer outra coisa: tão terrível era a tormenta que fazia na vila de Cascais, que está na entrada do rio. Os do povo disseram que estiveram toda aquela manhã fazendo orações por eles, e, depois que esteve dentro, vinha gente a vê-los pela maravilha de como tinham escapado; e, assim, à hora de terça veio a passar ao Restelo dentro do rio de Lisboa, donde soube da gente do mar que jamais houvera inverno de tantas tormentas e que se haviam perdido 25 naus na Flandres e outras estavam ali há quatro meses sem poder sair. Logo escreveu o Almirante ao Rei de Portugal» para que lhe «mandasse dar lugar para ir com a caravela à cidade de Lisboa».
O italiano Sebastiano Caboto, que exercia o cargo de piloto-maior em Sevilha, assina com o governo espanhol em 1525 um contrato para chegar às Molucas pelo estreito de Magalhães no extremo da América do Sul, mas não conseguirá passar e acabará por internar-se longamente pelo rio Prata até Assunção no Paraguai.
O P. Gonçalo Rodrigues, missionário em Ormuz, embaixador ao Preste João, após muitos debates teológicos com os indianos, em que convictamente triunfou, morre em 1564 no Colégio de S. Paulo em Goa.
Dalila Pereira da Costa nasce neste dia em 1918, no Porto. Formou-se em Coimbra em 1944 em Ciências Históricas Filosóficas, um dos seus mestres tendo Joaquim de Carvalho, e foi uma notável estudiosa das raízes arqueológicas, psíquicas, literárias míticas, religiosas e espirituais de Portugal, tendo-se dedicado com mais originalidade à pesquisa do fundo Celta, da Grande Deusa e suas Deusas (nos seus aspectos benéficos e maléficos) e dos grandes mitos na nossa história, não só por via erudita mas também visionária, pois dotada de apurada sensibilidade onírica e silenciosa conseguiu captar da memória dos lugares imagens e ensinamentos, bem como ter acesso a intuições de Anjos, que partilhou nos seus cerca de 40 livros. Num dos seus últimos e mais interrogantes livros, A Contemplação dos Painéis, interrogando-se sobre o que terá falhado na missão de Portugal, admite a hipótese (além de culpabilizar a Inquisição) de o português não ter conseguido dominar interiorizada em si a natureza telúrica (ctónica), a qual seria em certos níveis energéticos denominada na Índia, Kundalini: «uma certa dificuldade do português de levar a cabo essa subida da sua energia até ao supramental. Subida que preferentemente ficaria, ao nível subtil, ainda nessa referência hindu, na chakra situada na região do coração, como região feminina, logo abaixo daquela outra masculina...» Ressoam nesta afirmação leituras de Sri Aurobindo (que contemplou a descida do supramental na Terra em 1956) e quem sabe se um reconhecimento em si mesma, em alguns aspectos de facto bastante sentimental e forte nela, do culto de Maria, nossa Senhora, apesar dos dois êxtases mais fortes que teve e que relata na Força do Mundo e num dos seus últimos livros, Instantes, os quais a abriram para uma experiência da Divindade como força, poder impessoal. Uma das duas ou três biografias ou evocações que lhe dediquei poderão ser-lhe úteis: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2021/03/dalila-pereira-da-costa-vida-obra-e.html, ou https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2016/11/dalila-pereira-da-costa-uma-alma.html
Dalila Pereira da Costa com Sandra Pinheiro, na biblioteca da sua casa, 2009.
5-III. Larga da barra do Tejo, em 1501, a 3ª armada para a Índia comandada pelo alcaide menor de Lisboa, o galego João da Nova (que regressaria em Setembro de 1502), e onde seguem alguns florentinos, tal Leonardo Nardi, agente de Marchioni e que como feitor será louvado depois por Albuquerque. Também vai Duarte Barbosa que, anos mais tarde, será escrivão em Cananor e escreverá as primeiras descrições mais circunstanciadas dos usos e costumes indianos, para o que aprendera a falar malabar. Dirá que convivera com os yogis «gentis homens dos rostos; nunca penteiam cabelos, trazem-nos feitos em tranças. Eu lhes perguntei muitas vezes porque andavam assim», explicando-lhe alguns que era por razões penitenciais de se terem deixado vencer pelos muçulmanos. Foi enviado por Nuno da Cunha para fazer um tratado de paz com o Samorim de Calecut. Regressado a Portugal, torna a viver em Sevilha, donde partirá com Fernão Magalhães, para a volta ao mundo.
Dobrado o Cabo da Boa Esperança, morre e entra no mar que tudo leva o corpo exangue de Nuno da Cunha, envolto no manto da Ordem de Santiago, neste dia em 1538, governador do Estado Português na Índia por dez anos e, desde o tempo de seu pai, Tristão da Cunha e de D. Francisco de Almeida, herói nas partes orientais, ainda que culpado na morte traiçoeira do sultão Bahadur. Acusado injustamente, jurou à hora da morte não ter da fazenda real mais do que cinco moedas de ouro, «e já que Deus havia bem de o levar no mar, que o mar fosse a sua sepultura, pois a terra não o quisera; e se ela tão mal recebia os seus serviços, não lhe queria entregar os ossos», e mandou pagar ao rei os ferros com que o seu corpo foi lançado para as areias brancas do fundo do oceano. Na ilha da Terceira, por intrigas e pela proverbial ingratidão real, o delegado do rei aguardava-o com ordem de prisão e grilhetas, que lançou nos pés dos seus fiéis, só posteriormente reabilitados.
O P. António Monserrate, participante da 1ª missão à corte do imperador mogol Akbar, nascido na Catalunha, morre em Goa em 1600, com 64 anos de idade, após aturados trabalhos. Ao obedecer às instruções superiores de registar num diário a sua missão deixou-nos um valioso Mongolical Legationis Comentarius, fundamental para a história indiana do reinado de Akbar e particularmente para os diálogos ecuménicos realizados sob os seus auspícios.
4-III. O infante D. Henrique, filho de D. João e de D. Filipa de Lencastre, nasce no Porto em 1394. Trará sobre o peito um pedaço da Vera Cruz e um silício no corpo. Casto e determinado será uma das primeiras grandes almas dos Descobrimentos, e terá como divisa Talant de Bien Faire, envolta em ramos ásperos de carrasqueiro, ou seja, «Vontade de Bem Fazer» e que Fernando Pessoa mais tarde escolherá para tenção da Ordem de Cristo que pretendia ressurgir e que desenhará imperialmente na sua Mensagem. A impassibilidade perante o sacrifício de D. Pedro em Alfarrobeira pode ser criticada, reservando-se os elogios para a sua vontade férrea ao serviço dos ideais de desbravamento dos oceanos, expansão nacional, cruzada e enriquecimento que prosseguiu com toda a ciência que lhe foi possível. Outro mote do infante foi a palavra «IDA», assim como um símbolo que uns interpretaram das pirâmides do Egipto, ou do triângulo montanhoso.
Bartolomeu de las Casas, segundo o Diário da viagem de Colombo, relata que neste dia em 1497 Cristovão Colombo e o seus padeceram de noite tão terrível tormenta «que se pensaram perder das marés que de duas partes vinham e os ventos que parecia que levantavam a caravela nos ares e água do céu e relâmpagos de muitas partes... e assim os guardou Deus até ao outro dia que foi com infinito trabalho e espanto. Chegado o dia, conheceu a terra, que era a Rocha de Sintra, que está junta com o rio de Lisboa, donde determinou entrar, porque não podia fazer outra coisa: tão terrível era a tormenta que fazia na vila de Cascais, que está na entrada do rio. Os do povo disseram que estiveram toda aquela manhã fazendo orações por eles, e, depois que esteve dentro, vinha gente a vê-los pela maravilha de como tinham escapado; e, assim, à hora de terça veio a passar ao Restelo dentro do rio de Lisboa, donde soube da gente do mar que jamais houvera inverno de tantas tormentas e que se haviam perdido 25 naus na Flandres e outras estavam ali há quatro meses sem poder sair. Logo escreveu o Almirante ao Rei de Portugal» para que lhe «mandasse dar lugar para ir com a caravela à cidade de Lisboa».
O italiano Sebastiano Caboto, que exercia o cargo de piloto-maior em Sevilha, assina com o governo espanhol em 1525 um contrato para chegar às Molucas pelo estreito de Magalhães no extremo da América do Sul, mas não conseguirá passar e acabará por internar-se longamente pelo rio Prata até Assunção no Paraguai.
O P. Gonçalo Rodrigues, missionário em Ormuz, embaixador ao Preste João, após muitos debates teológicos com os indianos, em que convictamente triunfou, morre em 1564 no Colégio de S. Paulo em Goa.
Dalila Pereira da Costa nasce neste dia em 1918, no Porto. Formou-se em Coimbra em 1944 em Ciências Históricas Filosóficas, um dos seus mestres tendo Joaquim de Carvalho, e foi uma notável estudiosa das raízes arqueológicas, psíquicas, literárias míticas, religiosas e espirituais de Portugal, tendo-se dedicado com mais originalidade à pesquisa do fundo Celta, da Grande Deusa e suas Deusas (nos seus aspectos benéficos e maléficos) e dos grandes mitos na nossa história, não só por via erudita mas também visionária, pois dotada de apurada sensibilidade onírica e silenciosa conseguiu captar da memória dos lugares imagens e ensinamentos, bem como ter acesso a intuições de Anjos, que partilhou nos seus cerca de 40 livros. Num dos seus últimos e mais interrogantes livros, A Contemplação dos Painéis, interrogando-se sobre o que terá falhado na missão de Portugal, admite a hipótese (além de culpabilizar a Inquisição) de o português não ter conseguido dominar interiorizada em si a natureza telúrica (ctónica), a qual seria em certos níveis energéticos denominada na Índia, Kundalini: «uma certa dificuldade do português de levar a cabo essa subida da sua energia até ao supramental. Subida que preferentemente ficaria, ao nível subtil, ainda nessa referência hindu, na chakra situada na região do coração, como região feminina, logo abaixo daquela outra masculina...» Ressoam nesta afirmação leituras de Sri Aurobindo (que contemplou a descida do supramental na Terra em 1956) e quem sabe se um reconhecimento em si mesma, em alguns aspectos de facto bastante sentimental e forte nela, do culto de Maria, nossa Senhora, apesar dos dois êxtases mais fortes que teve e que relata na Força do Mundo e num dos seus últimos livros, Instantes, os quais a abriram para uma experiência da Divindade como força, poder impessoal. Uma das duas ou três biografias ou evocações que lhe dediquei poderão ser-lhe úteis: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2021/03/dalila-pereira-da-costa-vida-obra-e.html, ou https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2016/11/dalila-pereira-da-costa-uma-alma.html
Dalila Pereira da Costa com Sandra Pinheiro, na biblioteca da sua casa, 2009.
5-III. Larga da barra do Tejo, em 1501, a 3ª armada para a Índia comandada pelo alcaide menor de Lisboa, o galego João da Nova (que regressaria em Setembro de 1502), e onde seguem alguns florentinos, tal Leonardo Nardi, agente de Marchioni e que como feitor será louvado depois por Albuquerque. Também vai Duarte Barbosa que, anos mais tarde, será escrivão em Cananor e escreverá as primeiras descrições mais circunstanciadas dos usos e costumes indianos, para o que aprendera a falar malabar. Dirá que convivera com os yogis «gentis homens dos rostos; nunca penteiam cabelos, trazem-nos feitos em tranças. Eu lhes perguntei muitas vezes porque andavam assim», explicando-lhe alguns que era por razões penitenciais de se terem deixado vencer pelos muçulmanos. Foi enviado por Nuno da Cunha para fazer um tratado de paz com o Samorim de Calecut. Regressado a Portugal, torna a viver em Sevilha, donde partirá com Fernão Magalhães, para a volta ao mundo.
Dobrado o Cabo da Boa Esperança, morre e entra no mar que tudo leva o corpo exangue de Nuno da Cunha, envolto no manto da Ordem de Santiago, neste dia em 1538, governador do Estado Português na Índia por dez anos e, desde o tempo de seu pai, Tristão da Cunha e de D. Francisco de Almeida, herói nas partes orientais, ainda que culpado na morte traiçoeira do sultão Bahadur. Acusado injustamente, jurou à hora da morte não ter da fazenda real mais do que cinco moedas de ouro, «e já que Deus havia bem de o levar no mar, que o mar fosse a sua sepultura, pois a terra não o quisera; e se ela tão mal recebia os seus serviços, não lhe queria entregar os ossos», e mandou pagar ao rei os ferros com que o seu corpo foi lançado para as areias brancas do fundo do oceano. Na ilha da Terceira, por intrigas e pela proverbial ingratidão real, o delegado do rei aguardava-o com ordem de prisão e grilhetas, que lançou nos pés dos seus fiéis, só posteriormente reabilitados.
O P. António Monserrate, participante da 1ª missão à corte do imperador mogol Akbar, nascido na Catalunha, morre em Goa em 1600, com 64 anos de idade, após aturados trabalhos. Ao obedecer às instruções superiores de registar num diário a sua missão deixou-nos um valioso Mongolical Legationis Comentarius, fundamental para a história indiana do reinado de Akbar e particularmente para os diálogos ecuménicos realizados sob os seus auspícios.
6-III. Partem de Lisboa na armada de onze naus do vice-rei D. Garcia de Noronha, em 1538, D. Cristóvão da Gama e os irmãos Francisco e Onofre de Abreu, que serão capitães na expedição cavalheiresca de D. Cristóvão ao Preste João. D. João de Castro capitaneia a Grifo e tem a missão de apenas fazer observações científicas que ele enumera assim «entender a variação das agulhas, levação do polo a toda a hora do dia, notações sobre o correr das águas, contemplação da ordem dos ventos, sinais no mar para reconhecimento das terras», do que resultará o sábio e belo Roteiro de Lisboa a Goa.
O P. Estêvão Cacela, que aprendera o tibetano, morre (com 16 anos de Oriente) aquando da sua 2ª estadia (curta) no Tibete, em Shigatsé em 1630, sendo acompanhado na morte, ou seja, para atravessar o Bardo Thodol, o estado intermediário post-mortem, não pelas ladainhas cristãs, mas pelos mantras tibetanos de que os lamas eram e são especialistas. Com efeito, após sete meses de viagem, chegara só, pois o padre Manuel Dias morrera no caminho no reino de Morang. Mas como soube apreciar a religiosidade tibetana, ao confessar que: «vê-se bem por estas coisas que, de certo modo, a luz do Santo Evangelho chegou aqui. Quanto ao filho de Deus, que dizem já ter nascido, afirmam que é o seu Sakya Muni» (o sábio do clan de Sakya, ou seja Gautama Buddha), não terá estranhado o canto tibetano, a modo do canto-chão, entoado pelos lamas para o ajudarem, enquanto agregado de corpos subtis, a elevar-se para as regiões de luz, nem o funeral com honras de Lama maior que lhe prestaram, numa bela e eterna imagem de ecumenismo.
O Tribunal da Real Mesa Censória determina em 1775 a proibição do livro composto de doze sermões pregados na Sé de Goa pelo padre D. António Ardizone Spinola, intitulado Cordel Triplicado de Amor a Cristo Jesus Sacramentado, ao Encoberto de Portugal nascido, a seu Reino Restaurado, impresso em 1680 em Lisboa, por atestar «que um dos Reis de Portugal, ainda esperado, e já conhecido como Encoberto, havia de ser o chefe do novo futuro Império: conduzindo por este modo os Cristãos a Erros enormes; e fazendo--os Fanáticos, e Entusiastas, persuadindo-lhe a crença de afectados Prognósticos, falsas Profecias, e fingidas Revelações». O rei D. José (e o marquês de Pombal) condenam ainda 24 proposições, entre as quais uma algo inconveniente enquanto profecia crítica: «Se El-rei D. João IV no baptismo se chamara José, duvidara eu, que pudesse chegar a ser Rei, e Senhor do seu Império... Pela reverência, e acatamento devido a S. José (Padroeiro dos Reis Encobertos), não quis, nem quer Deus, que Príncipe algum, Rei, Imperador, ou Monarca, por grande que seja, se chame José»...
O Dr. António Bettencourt Rodrigues nasce em Cabo Verde em 1854, filho de goeses. Doutorado em Paris, especialista em psiquiatria, ministro plenipotenciário em Paris, chegará a Ministro dos Negócios Estrangeiros em 1926.
O Prof. Luís de Albuquerque nasce em 1917, e foi um notável matemático, geógrafo e historiador dos Descobrimentos. Considerou Vasco da Gama um homem feliz por ter concluído uma tarefa já preparada, por ter escapado às insídias que o rodearam em Calecut, por ter sido honrado pelo rei, e por ter deixado descendência tão insigne como a de D. Estêvão e D. Cristóvão da Gama. Dialoguei uma vez com ele num colóquio em Tomar, um cientista objectivo mas escutando a demanda espiritual.
O Prof. Luís de Albuquerque nasce em 1917, e foi um notável matemático, geógrafo e historiador dos Descobrimentos. Considerou Vasco da Gama um homem feliz por ter concluído uma tarefa já preparada, por ter escapado às insídias que o rodearam em Calecut, por ter sido honrado pelo rei, e por ter deixado descendência tão insigne como a de D. Estêvão e D. Cristóvão da Gama. Dialoguei uma vez com ele num colóquio em Tomar, um cientista objectivo mas escutando a demanda espiritual.
7-III. Parte de Lisboa em 1533, numa das sua viagens, o piloto da nau Santa Clara, Diogo Afonso, autor do Roteiro da Carreira da Índia, obra que será o protótipo ou modelo doe futuros roteiros: «Quando fores 50 a 60 léguas da terra do Natal e achares muitas e infindas aves, quantas mais achares mais tormenta, e quando achares muitas entende que és ainda longe da terra. E como as perdereis, olha por ti que estás com a terra».
Aurangzeb, um dos filhos do imperador mogol Shah Jahan, em 1639, neste dia, ataca Damão à frente de grande exército mas, perante a resistência decidida e uma surtida inesperada dos portugueses, sofre pesadas perdas, negoceia a paz e retira-se. E embora fosse Dara Shikoh o filho mais velho e mais sábio, será o mais fanático Aurangzeb que triunfará, começando o fim do império mogol que Akbar tão ecumenicamente assentara.
António Ribeiro Sanches nasce neste dia em 1699 em Penamacor. Médico, cientista e filósofo, por ser cristão-novo foi obrigado a emigrar para a Europa livre, notabilizando-se na Rússia como físico-mor do Exército, 1º médico da imperatriz e pedagogo. Retira-se depois para a França onde colabora com o enciclopedismo e com Buffon, influenciando ainda algumas reformas do ensino em Portugal, por via do iluminismo do marquês de Pombal. Os seus conselhos, bastante revolucionários para a época, defendiam o desenvolvimento da agricultura, pescas e indústria, a abolição do parasitismo da nobreza e do clero, a independência em relação a Roma. Acerca das missões católicas argumenta que também devíamos permitir a vinda de «missionários de Fo-Hi, Confúcio e Mahomet», de acordo com o princípio do Direito das Gentes: «Não faças o que tu não queres que te façam», e acrescenta: «Se Portugal fizer bem o cálculo, como Reino Católico, dos Cristãos que perde cada ano nas conquistas e dos Cristãos que convertem os missionários, que manda cada ano nos seus Navios, achará por balanço que perde mais Cristãos o Reino do que ganha a Religião; e que nós desgraçadamente vimos a ser os convertidos». Defendendo um porto franco na foz do Tejo de Sacavém a Cascais, a imitação do florentino, dirá: «É digno de reparo que o Comércio Geral não foi conhecido nas quatro partes do mundo, senão depois do Reino da Rainha Isabel de Inglaterra, e depois que se formou a República da Holanda, reconhecida livre por todos os Estados da Europa e da Ásia», e cujos Estados «têm por único alvo e fim, nas suas operações o Dinheiro que provém do comércio; e da comunicação com todas as nações conhecidas, ligadas somente pelas leis da natureza sociável, reciprocamente prometidas e observadas».
O mestre Parahamsa Yogananda, em Chicago, depois duma longa vida de ensino espiritual nos USA, ao findar um discurso perante centenas de pessoas, em 1952, sai do corpo conscientemente, depois de ter dado uma volta sobre si, saudando os que o ouviam. «Todo o ser humano está a procurar atingir a Beatitude (Ananda) pela realização do desejo, mas erradamente pára no prazer, os seus desejos nunca findam e é arrastado pelo remoinho da dor». As técnicas de Kriyia Yoga que ensinou ajudam as pessoas a interiorizar-se através da respiração mais consciente das energias subtis em jogo, mas foi provavelmente o amor (bhakti) que soube inspirar ou despertar nos seus discípulos e discípulas que o fez obter tanto sucesso, sobretudo na tão materialista USA.
Aurangzeb, um dos filhos do imperador mogol Shah Jahan, em 1639, neste dia, ataca Damão à frente de grande exército mas, perante a resistência decidida e uma surtida inesperada dos portugueses, sofre pesadas perdas, negoceia a paz e retira-se. E embora fosse Dara Shikoh o filho mais velho e mais sábio, será o mais fanático Aurangzeb que triunfará, começando o fim do império mogol que Akbar tão ecumenicamente assentara.
António Ribeiro Sanches nasce neste dia em 1699 em Penamacor. Médico, cientista e filósofo, por ser cristão-novo foi obrigado a emigrar para a Europa livre, notabilizando-se na Rússia como físico-mor do Exército, 1º médico da imperatriz e pedagogo. Retira-se depois para a França onde colabora com o enciclopedismo e com Buffon, influenciando ainda algumas reformas do ensino em Portugal, por via do iluminismo do marquês de Pombal. Os seus conselhos, bastante revolucionários para a época, defendiam o desenvolvimento da agricultura, pescas e indústria, a abolição do parasitismo da nobreza e do clero, a independência em relação a Roma. Acerca das missões católicas argumenta que também devíamos permitir a vinda de «missionários de Fo-Hi, Confúcio e Mahomet», de acordo com o princípio do Direito das Gentes: «Não faças o que tu não queres que te façam», e acrescenta: «Se Portugal fizer bem o cálculo, como Reino Católico, dos Cristãos que perde cada ano nas conquistas e dos Cristãos que convertem os missionários, que manda cada ano nos seus Navios, achará por balanço que perde mais Cristãos o Reino do que ganha a Religião; e que nós desgraçadamente vimos a ser os convertidos». Defendendo um porto franco na foz do Tejo de Sacavém a Cascais, a imitação do florentino, dirá: «É digno de reparo que o Comércio Geral não foi conhecido nas quatro partes do mundo, senão depois do Reino da Rainha Isabel de Inglaterra, e depois que se formou a República da Holanda, reconhecida livre por todos os Estados da Europa e da Ásia», e cujos Estados «têm por único alvo e fim, nas suas operações o Dinheiro que provém do comércio; e da comunicação com todas as nações conhecidas, ligadas somente pelas leis da natureza sociável, reciprocamente prometidas e observadas».
O mestre Parahamsa Yogananda, em Chicago, depois duma longa vida de ensino espiritual nos USA, ao findar um discurso perante centenas de pessoas, em 1952, sai do corpo conscientemente, depois de ter dado uma volta sobre si, saudando os que o ouviam. «Todo o ser humano está a procurar atingir a Beatitude (Ananda) pela realização do desejo, mas erradamente pára no prazer, os seus desejos nunca findam e é arrastado pelo remoinho da dor». As técnicas de Kriyia Yoga que ensinou ajudam as pessoas a interiorizar-se através da respiração mais consciente das energias subtis em jogo, mas foi provavelmente o amor (bhakti) que soube inspirar ou despertar nos seus discípulos e discípulas que o fez obter tanto sucesso, sobretudo na tão materialista USA.
8-III. O almirante Cristóvão Colombo, em 1493, fundeado no porto de Lisboa há quatro dias, no regresso da sua 1ª navegação a Cuba, recebe uma carta de D. João II, «pela qual lhe rogava que chegasse onde ele estava, pois o tempo não era de partir com a caravela; e assim o fez para tirar suspeita, ainda que não quisesse ir, e foi dormir a Sacavém», encontrando-se e dialogando nos dias seguintes com o rei que, segundo conta Bartolomeu de las Casas, embora congratulando-se com a viagem «entendia que na capitulação que havia entre os Reis (de Espanha) e ele que aquela conquista lhe pertencia», tendo mesmo pensado enviar uma armada comandada por D. Francisco de Almeida para resolver a questão que será solucionada pelo Tratado da Tordesilhas. Mas não era nem a Índia, nem a Ásia, como Colombo até ao fim pensou...
Nasce em 1495 em Montemor, e morre no mesmo dia em Granada, Espanha, em 1550, o santo português João de Deus que, como S. Teresa de Calcutá, foi um descobridor do amor a Deus nos miseráveis e doentes e dando origem a uma ordem religiosa hospitalária. Disse ou consta que foi muito agraciado com a ligação com o Arcanjo Rafael, considerado o Arcanjo mais ligado à cura e portanto talvez superintendendo os milhões de Anjos dedicados a tais tarefas
Instruções de D. João III, após ter sido informado em pessoa pelo P. Miguel Vaz que viera de Goa, para o governador D. João de Castro, escritas neste dia em 1546: «Como sabeis a idolatria é tamanha ofensa de Deus que não devo eu consentir que haja nas terras dessas partes que são do meu senhorio, e porque sou informado que na ilha de Goa há alguns públicos e secretos, o que é tamanho desserviço de Nosso Senhor como vedes, vos encomendo muito que não haja na dita ilha de Goa alguns dos ditos pagodes públicos, nem secretos, e que nenhum oficial possa fazer peças». Aconselha a persuadir brandamente os gentios da «tamanha ofensa de Deus que é estarem dando a honra devida a Ele a ídolos, que vejam eles que nenhuma outra coisa se pretende senão a salvação das suas almas... O serviço de Deus e o acrescentamento da sua fé é o que eu pretendo». Branduras vãs sobre concepções e ritos diferentes do culto divino...
Bocage, intuído pela pintora Maria De Fátima Silva.
O tenente de infantaria Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) é colocado neste dia em Damão em 1789 mas, na peugada e exemplo de Camões, ausenta-se sem ordens para Surate em busca da afeição duma «Manteigui gentil e bela» e para Macau, onde viverá de fiados e amigos, em copos, amores e poesias. Regressado a Portugal, o intendente Pina Manique, muito temeroso dos ventos revolucionários de França a que Bocage, de origem maternal francesa, estava naturalmente fadado, acaba por o prender e estará mesmo detido na Inquisição que por fim, graças a protecção de amigos será mandado recolher e trovar mais manso no Convento das Necessidades, com os Oratorianos, onde conviverá com alguns sábios. Será ocasião para fazer algumas traduções valiosas e para aproveitar certas leituras e poetizar belas elegias onde se manifesta bem o seu génio quase clarividente.
Nasce na ilha de Wight, Reino Unido, em 1904, o capitão Charles Ralp Boxer. Publica o seu primeiro estudo sobre os Descobrimentos em 1926, no Boletim Geral das Colónias, e até 2000 editou mais de 300 títulos. Capitão dos Serviços Secretos Ingleses na 2ª grande guerra, aí perdeu um olho. É considerado um melhores historiadores modernos dos Descobrimentos, em especial ligados aos portugueses e holandeses.
Na sessão de 8 de Março de 1912 da Camâra dos Deputados, em Lisboa, transcreve-se a fala do deputado pela Índia Jovino de Gouveia Pinto, cônscio do valor da civilização indiana e esclarecendo um outro deputado:«Qual de nós não precisa de aprender? Precisam Vossas Excelências completar os parcos conhecimentos que possuem sobre as coisas da [tão antiga quão sagrada] Índia, da qual fazem uma ideia que fica muito longe da verdade. Há mesmo quem saiba apenas por ouvir dizer, que o Estado de Goa é a terra do arroz e do caril. Outros julgam-na tão selvagem que nao os surpreenderia ver os seus representantes entrar no Parlamento revestidos de tanga e turbante enfeitado de penas variegadas cores, com uma pena de pavão no fundo das costas (riso). Pois enganam-se os que pensam tão pitorescamente. A nossa Índia mantém o alto nível intelectual (apoiados)...Há por cá muita ignorância sobre as coisas da Índia, e oq ue é lamentável é que se faça gala dessa ignorância, pretendendo amesquinhar os oriundos da mais ilustrada colónia portuguesa, da única onde existe civilização e cultura espiritual. Mas, procdendo assim, esse ignorantessós e amesquinham a si próprios.» Assim registou C. M. Ribeiro no seu Os Indo-Portugueses, perante a história da colonização de Moçambique, perante a Cosntituição da República e perante o mundo culto, impresso em Lourenço marques, 1930, onde citará ainda palavras de Francisco Trancoso, Artur R. de Almeida Ribeiro, Luís da Cunha Gonçalves e de Francisco Correia Afonso, nomeando por fim alguns nomes de Indo-portugueses vivos, tais o juíz Caetano Gonçalves, Eduardo Soares, Alberto Xavier, Hopfer Gomes, Manuel V. Bruto da Costa, o médico Wolfango da Silva, Acácio Viegas, António Floriano Noronha, Mariano Gracias e Acácio Gama.
9-III. Nasce em Florença em 1454 Américo Vespúcio. Foi sobrinho de Giorgio Antonio Vespuci, sacerdote, humanista e membro da Academia Platónica florentina de Marsilio Ficino. Trabalhando para os Medici virá a Espanha em 1492, contactando o fervilhar do começo dos Descobrimentos. Servirá os reis de Espanha e de Portugal em viagens à América do Sul e das suas cartas algo fantasiadas sairão as Quattuor Navigationes e o Mundus Novus, amplamente divulgados na Europa. Nas suas viagens perante a inaudita beleza da América afirma: «todas as árvores são odoríferas e produzem goma, óleo ou qualquer outro líquido, que se conhecessemos as suas virtudes, curariam os nossos corpos. Penso que se o paraíso terrestre fosse neste mundo, não ficaria longe destas regiões, situadas, como disse, contra o sul e com o ar tão temperado que nunca há invernos gelados e verões ardentes». Mas, tal como no mito, a queda de tal paraíso possível logo viria pela ganância de muitos dos que vindo do velho mundo não souberam respeitar e amar a terra e as gentes do Novo Mundo.
Amerigo Vespucci desvendando a América ao mundo, por Theodor Galle.
Parte de Belém em 1500 a armada de treze velas de Pedro Álvares Cabral rumo à Índia, depois da celebração de missa abençoadora e do rei D. Manuel I entregar, tirando do altar, o estandarte com a cruz da Ordem de Cristo, que no caminho, por acaso ou não, anunciará a civilização cristã ocidental, a 24 de Abril, ao Brasil. Nela seguem Sancho Toar, Simão Miranda, da Ordem de Cristo, e veteranos dos mares e dos encontros com outros povos tais como Nicolau Coelho, Pêro de Ataíde, Bartolomeu Dias e Gaspar da Gama. E Álvares Cabral leva consigo um regimento: «Este é a maneira que pareceu a Vasco da Gama que deve ter Pedro Álvares em sua ida prazendo a nosso Senhor».
Pedro Álvares Cabral
Domingos António Sequeira, um pintor sensível à aura misteriosa e nebulosa do encontro do Oriente e do Ocidente, formado por bolsa de D. Maria I em Itália, onde foi mesmo professor, regressando a Portugal foi pintor da corte, pintando por vezes como mandalas, tal a da imagem em baixo. Com o governo absolutista de D. Miguel emigrou para França e depois para Itália donde se evolou para as regiões supra-sensíveis em Roma, neste dia de 1837, com 68 anos, estando o seu túmulo na singela mas espiritual igreja de S. António dos Portugueses.
No Karar Ashram, em Puri, no sudeste indiano, o mestre Sri Yukteswar Giri abandona em 1936 o seu corpo. Como então, este centro está aberto aos peregrinos de qualquer credo que queiram aprender a trabalhar mais profundamente com a energia interna e a meditação. No livro A Ciência Sagrada avisa: «As raízes da dor são as acções egoístas, que baseadas em ilusões conduzem à miséria. O propósito do homem é a libertação completa da infelicidade. O egoísmo resulta da falta de discriminação entre o corpo físico e o Eu real. A libertação é a estabilização da alma no seu Eu real. A emancipação é obtida quando se realiza a unidade do Eu com o Eu Universal, a Realidade Suprema».
10-III. O famoso D. Luís de Ataíde, que durante décadas brilhou no Oriente e Ocidente, armado cavaleiro junto ao monte de Sinai por D. Estêvão da Gama, embaixador na Europa e, por fim, por D. Sebastião nomeado (desterrado...) 2ª vez vice-rei na Índia, por se opor à expedição a Kibir, morre em Goa com a Pátria em 1581, com 64 anos, e parece que ainda tentando voltar a Portugal com tropas. Consta que o seu corpo foi achado incorrupto no braço e na mão direita por onde mais exercera varonilmente o poder, quando foi transladado para Peniche, onde se encontra na igreja de Nossa Senhora da Ajuda. André de Resende dedicou-lhe um longo poema em que termina sabiamente considerando-o um daqueles «cuja mente arde com o fogo etérico e que pensam que, desamparada a virtude, nenhum bem existe nas coisas».
Nasce neste 10 de Março de 1772 em Hanover o filósofo, poeta, professor e linguista Frederich Schlegel. Depois de estudos de comércio, direito e literatura, começa a escrever e faz grandes amizades com Novalis, Fichte, Schiler, Schelling, publicando obras valiosas onde exprime a universalidade da poesia que une todas a facetas do saber humano. Em 1799 com seu irmão e os amigos criam o círculo de Iena e iniciam o primeiro romantismo alemão. Estuda sânscrito em Inglaterra entre 1801 e 1802 comAlexandre Hamilton, e depois em Paris, publicando em 1808a sua obra pioneira Über die Sprache und Weisheit der Indier, Sobre a língua e a sabedoria dos Indus, em francês Essai sur la langue et la philosophie des Indiens, que se tornou a base da ciência da linguagem no dizer de Max Muller, que diz ainda: «era um homem de génio, e quando se trata de criar uma ciência nova, a imaginação do poeta é ainda mais necessária que a exactidão do sábio. Era fatalmente necessário o olhar do génio para abraçar num só olhar as línguas da Índia, da Pérsia, da Grécia, da Itália e da Alemanha, e para as incluir todas sob a denominação simples de indo-germânicas [ou indo-europeias]. Tal foi a obra de Schlegel, e, na história da inteligência, foi chamada com toda a verdade "a descoberta de um novo mundo"». A sua vida será muito intensa a todos os níveis e será de um ataque cardíaco que morrerá em 1829.
Promulgada a Nova Constituição do Tibete, no exílio, no reino da utopia, no norte da Índia, em 1963.
Declaração do Dalai-Lama neste dia em 1987: «A chamada liberdade de religião hoje em dia no Tibete consiste em ser permitido ao nosso povo adorar e praticar religião num sentido só ritualístico e devocional, pois restringe-se o ensino e estudo da filosofia budista. O budismo é assim reduzido a uma fé cega, que é exactamente como o comunismo chinês vê e define a religião».
11-III. Jean Jacques de Molay, o último grão-mestre Templário, morre queimado na ponta da ilha do rio Sena em Paris, em 1314, devido à ambição do famigerado rei de França Filipe IV e à fraqueza do papa francês Clemente V, dando origem à legenda imortal duma Ordem, que unira talvez até de modos demasiado pioneiros mágicos e menos ortodoxos o Ocidente e o Oriente, na Terra Santa e em si, e que começaria a ganhar os seus seus foros míticos bem crepitantes ainda nos nossos dias. Extinta a ordem, o rei de Portugal D. Dinis consegue orientar os seus bens e vários dos seus cavaleiros para assumirem uma outra missão de liderança monástico-militar da Europa rumo ao Oriente, fundando a Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, vulgo Ordem de Cristo, em 14 de Março de 1939. Um dos últimos cultores desta linha energético-iniciática foi Fernando Pessoa que na sua nota autobiográfica de 30 de Março de 1935, a seis meses de morrer, se afirma como iniciado por mestre a discípulo nos três graus menores da Ordem Templária de Portugal, terminando tal testamento com a seguinte aviso: «Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos – a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania».
António Galvão morre neste dia 11 de Março de 1557. Sábio mareante, esforçado capitão e depois governador da Molucas, distinguiu-se pelas armas materiais, mas não descurou as espirituais, edificando escolas e um seminário (1536) para os naturais de Ternate que o quiseram por soberano, o que não aceitou por fidelidade ao seu rei. Em vez de procurar ardilosamente o enriquecimento, apoiou a agricultura, as artes e ofícios nas Molucas, criando uma época de estabilidade como houve poucas. Enviou um cavaleiro honrado, Francisco de Castro, com dois sacerdotes à ilha de Satigano onde, no assentamento de paz, o rei e Francisco «sangraram ambos no braço ao costume daquela terra, e bebeu um o sangue do outro» como nos conta João de Barros. Depois de ter servido excelentemente como piloto, mareante, militar e governador, ao regressar a Portugal viu-se na indigência pela inveja dos triunfalistas e gananciosos, tendo por asilo o Hospital de Lisboa por 17 anos, perseverando contudo na sua religiosidade, até morrer, deixando-nos o Tratado dos Diversos e Desvairados Caminhos (mais conhecido como o Tratado dos Descobrimentos Antigos e Modernos), «feitos de suspiros e aflições de ânimo afligido», como nos diz o seu testamenteiro Francisco Sousa Tavares. Manuel Faria e Sousa dirá que a «sua fama durará enquanto houver mundo, pois nela não tem jurisdição, reis fracos, ministros maus, fortuna cega, idades caducas».
Carta de D. Filipe III de Espanha ao vice-rei em Goa em 1609: «Porque tenho informação do martírio que pela confissão da fé recebeu naquelas partes Dom Cristóvão da Gama e dos milagres que piamente se crê que Deus tem obrado por seus merecimentos, vos-ei por muito encarregado procurardes com toda a diligência assim a relação do seu martírio e milagres, como por se haver o seu corpo, havendo certeza da parte em que está». Terão ao certo encontrado a sua espada e elmo, mas D. Filipe III, que veio a Portugal só em 1619, tentava assim cultuar, sincera ou interesseiramente, a grande alma portuguesa em um dos seus heróis.
12-III. Carta de D. Manuel em 1512 a «Afonso Albuquerque amigo. Nós el-rei vos enviamos muitas saúdes: porque da gente andar bem paga dos seus soldos se lhe segue mais contentamento para bem servirem e folgarem de andar lá mais tempo... encomendamos-vos que trabalhais para que sejam pagos à custa de outrem e não nossa; e que esperemos que assim o haveis de fazer com ajuda de Deus, porque nós o desejamos assim muito não se perca esta lembrança». Era a arte de governar maquiavelicamente, e como nem sempre haveria grandes lucros, ou presas da pirataria, para se pagarem os ordenados, a corrupção mercantilista grassava. D. João de Castro queixar-se-á mais tarde em carta ao rei: «porque todo o homem que cá anda se fez chatim (comerciante) e andam buscando a sua vida por toda a Índia sem a isso se poder dar remédio».
Embaixada de mais de cem pessoas de D. Manuel ao papa em 1514, para impressionar, discutir pontos religiosos, e oferecer obediência e as primícias dos tesouros do Oriente. Tristão da Cunha, Garcia de Resende, fidalgos, doutores e animais exóticos atravessam Roma e o que é oferecido, ao contrário do presente luso ao samorim de Calecut, é considerado o melhor recebido até então pelo papado. As propostas de reforma do clero, que a serem adoptadas talvez tivessem diminuído as reivindicações da Reforma protestante, e os tributos, foram trocados pela oferta da bula de cruzada, duma rosa benta, duma espada e duma carapuça. As bulas de aprovação da política de D. Manuel sairão nos anos seguintes, embora bem pagas. Resta saber o que isto pode ter descontentado outros países, protestantes depois...
A armada capitaneada por Martim Afonso de Sousa deixa o Tejo em 1534 e leva consigo o Dr. Garcia de Orta, o Ervas, médico do capitão, talvez a pressentir maus tempos para os cristãos-novos e a pensar «tenho grande desejo de saber das drogas medicinais e destoutras mezinhas simples... e assim queria saber como usam delas os físicos indianos». Instalado na rua dos Namorados, em Goa, casa com uma prima, cria o seu horto botânico, cura quantos pode e vai aprendendo o conteúdo dos Colóquios dos Simples e das Drogas que sairá em 1563. A partir de 1549 parece que está mais tempo em Bombaim, onde a intolerância que mataria o seu colega Jerónimo Dias era menor.
Fernão Mendes Pinto inicia as suas peregrinações saindo pela barra do Tejo a fora em 1537, para vinte e um anos de «trabalhos e perigo de vida», o mundo pátria do forte. Muito lúcido, desenhará na Peregrinação um menino chinês a dizer dos portugueses: «Bendita seja, Senhor, a tua paciência, que sofre haver na terra gente que fale tão bem e use tão pouco da tua lei, como estes miseráveis e cegos, que cuidam que furtar e pregar os pode satisfazer como aos príncipes tiranos que reinam na terra».
D. Sebastião recomenda ao vice-rei D. Luís de Ataíde ao partir para a Índia, no regimento geral, em 1568: «Fazei muita cristandade, fazei justiça; conquistai tudo quanto puderdes; favorecei os que pelejarem; tirai a cobiça dos homens, tende cuidado da minha fazenda. Para tudo isto vos dou o meu poder». As ilusões dos 14 anos de idade, educados em sonhos de ascese e de grandeza, falavam. E «que todos os que se converterem seja com tanta temperança e amor como a mesma obra requer, não intervindo nela por nenhuma via escândalo nem força alguma, porque quanto desta maneira se fizesse seria desservir a Deus e impedir os que buscarem sua fé, que trazê-los a seu serviço e ao conhecimento dela... e que assim cristãos como gentios e mouros que na terra viverem... não seja consentido que lhes seja feito mal, dano, nem sem razão». Mas entre 1573 e 1575 o governador António Moniz Barreto promulgará uma série de medidas altamente repressivas.
Carta do governador na Índia D. Pedro de Almeida de Portugal, em 1678, advertindo os ingleses que apesar da entrega de Bombaim «nos mares da Índia não pode navegar barco algum sem cartazes (licença) deste Estado, como se tem estabelecido por leis e costumes antigos, e nesta conformidade temos dado ordem geral para que se tome todos os barcos que se caçarem sem os ditos cartazes». Esta instituição, que de início se destinava aos orientais, tinha a peculiaridade, como os cartazes continham imagens cristãs, de desgostar a alguns muçulmanos, menos apreciadores da arte antropomórfica religiosa.
Carta do governador na Índia D. Pedro de Almeida de Portugal, em 1678, advertindo os ingleses que apesar da entrega de Bombaim «nos mares da Índia não pode navegar barco algum sem cartazes (licença) deste Estado, como se tem estabelecido por leis e costumes antigos, e nesta conformidade temos dado ordem geral para que se tome todos os barcos que se caçarem sem os ditos cartazes». Esta instituição, que de início se destinava aos orientais, tinha a peculiaridade, como os cartazes continham imagens cristãs, de desgostar a alguns muçulmanos, menos apreciadores da arte antropomórfica religiosa.
Vishuddhananda Paramahansa nasce em Boondul, distrito de Bardhaman, Benagala Ocidenta, neste dia 12 de Março de 1853, e será um notável yogi, vivendo até 14 Julho de 1937. Era um bramâne conhecido como Gandha Baba e foi mestre do notável filósofo e espiritualista Gopinath Kaviraj, havendo ainda descrições dele na Autobiografia de um Yogi, de Yogananda.
Mahatma Gandi lidera neste dia em 1930 a marcha não violenta ou de resistência activa ao imposto sobre o sal com o qual o imperialismo colonial inglês sujeitava qualquer indiano que quisesse apanhar sal do mar. Levou consigo milhares de indianos até Dandi, numa marcha épica e num gesto simbólico que marcou o começo da queda da opressão do povo indiano e dos seus políticos independentistas, embora Gandhi e cerca de 50.000 mil dos manifestantes viessem a ser presos. Presos foram também o seu sucessor Vinoba, que eu ainda conheci no seu ashram, além de Sri Aurobindo e de outros mahatmas (de maha grande e atman, espírito), significando grandes espíritos, numa época em que os políticos não estavam despidos da realização espiritual, como hoje é regra sobretudo no Ocidente.
Lady Hester Lucy Stanhope nasce neste dia em Inglaterra em 1776 e viverá até 23-VI-1839. Foi uma notável e corajosa viajante no Médio Oriente, realizando as primeiras escavações arqueológicas com algum rigor metodológico, em Askalon, mas na busca das suas intuições e adivinhações. Foi muito admirada e respeitada por vários potentados locais e viveu vários anos da sua vida em antigos mosteiros cristãos do Líbano onde dialogava sobre a espiritualidade universal, praticava formas de clarividência e acolhia e protegia drusos, dervishes e outros peregrinos.
13-III. A bula Inter cetera de Calisto III, em 1456, confirma o exclusivo do rei de Portugal nas conquistas de África e nas descobertas, concedido pela bula de Nicolau V, e garante à Ordem de Cristo a jurisdição espiritual de todas as regiões conquistadas e por conquistar pelos portugueses desde os cabos Bojador e Não até à Índia. Assim vai competir ao prior do convento de Tomar a jurisdição sobre os sacerdotes em África e no Oriente, enviando este um vigário geral que o representava. Para além disso serão enviados os bispos de anel para administrarem ordens e crisma e só em 1538 é que surge o primeiro bispo de Goa, D. Fr. João de Albuquerque, sucedendo-lhe em 1560 D. Gaspar de Leão, o primeiro arcebispo de Goa, autor do tratado ascético e místico Desengano dos Perdidos, de que se conhece um só exemplar, estudado valiosamente e reeditado por Eugenio Asensio.
Em 1615 as tropas de Baçaim derrotam os exércitos mogóis que a tinham cercado e sitiado. Baçaim, situada a norte da costa ocidental indiana, esteve sob a bandeira portuguesa desde 1536, data em que foi depositada a primeira pedra da fortaleza por António Galvão, em recompensa da suas acções em defesa da cidade, com o governador do Estado Português na Índia Nuno da Cunha ao lado, e que servirá até 1738 de anteparo a Goa.
Datada de 13 de Março de 1568 é a carta do rei D. João III para D. João de Castro onde confirmando as anteriores provisões, diz que « quero e mando que tudo o que for necessário se faça para que por todas as vias de minha parte se cumpra a minha obrigação» a qual é «a obra de conversão, mandando fazer nelas tudo o que para aumento e dilatação da fé fosse necessário.». Desta santa ambição de impôr uma fé, a cristã, numa civilização, a indiana, com fés tão antigas e poderosas, pouco chegou, naturalmente, de resultados aos nossos dias: uns poucos de cristãos indianos. De resto, a consciência cada vez mais universal de que cada religião é uma escolha subjectiva numa humanidade tão diversificada, que nenhuma delas pode aspirar a mais do que uma convivência, idealmente fraterna, com as diferenças das outras.
Neste dia o Mahatma Gandhi visita no seu ashram Sri Narana Guru, então com 69 anos, e recebe as suas bênçãos, dialogando com ele sobre religião, castas e o desenvolvimento social da Índia. Escreverá mais tarde: «Eu tive o enorme privilégio de ter visitado o belo estado de Travancore e de ter recebido a vista e bênção do venerável sábio Sri Narayana Guru (20.8.1856 a 20.9.1926). E tive a fortuna de permanecer um dia com ele no seu ashram». Sri Narayana era de facto um grande mestre espiritual, qua após arduas meditações antingira um estado de ilimunação forte que manifestou não só no ensino espiritual e construção de templos como sobretudo em escolas, reforma social e desenvolvimento da agricultura e indústria.
14-III. O papa João XXII institui pela bula Ad ea exquibus em 1319 a Ordo Militae Jesu Cristo, a Ordem dos Cavaleiros de Jesus Cristo, aprovando a ideia de D. Dinis, para dar continuidade aos impulsos, riquezas, tradições e homens templários, e que virá em grande parte a liderar e a sublimar a expansão portuguesa. A sua sede inicial será no Algarve em Castro Marim e o seu 1º mestre D. Gil Martins.
D. Luís de Ataíde resolve dar batalha em Chaul e Goa simultaneamente em 1571, e não abandonar Chaul, porque «o valor português sempre empreendera dificuldades maiores que as suas forças e sempre com felicidade. Que, finalmente, a fortuna aborrecia aos temidos, e se namorava dos corações generosos, e dos conselhos ousados». Em ambas as frentes vencerá.
Sri Jnananda Saraswati, filha do rei de Nepal e grande yogini, em 1947, liberta-se do corpo ao som do mantra: Hari Om Tat Sat, uma das orações ou jaculatórias mais populares na Índia e Nepal. Disse: «Sabeis porque uma pessoa se chateia com certas coisas? Uma vez que ela é Beatitude incarnada, a dor é contrária à sua natureza. O espírito é eternamente livre e independente e nunca espera nada dos outros, pois ele própria é a Felicidade (Ananda) Divina».
15-III. Cristóvão Colombo, ao meio dia, com maré de montante, entra na barra de Saltes em Espanha, no regresso da sua 1ª viagem ao Novo Mundo, em 1493, ao fim de 7 meses e 11 dias de navegação, em que chegou às Bahamas e a Cuba, convencido que chegara à Ásia.
Giovani Francesco Pico della Mirandola (o sobrinho do legendário Pico), na introdução da Geografia do astrónomo egípcio do séc. II Ptolomeu, impressa em 1513 em Estrasburgo, referencia as terras desconhecidas dos antigos e descobertas pelos marinheiros portugueses, que ousaram deixar os campos férteis da pátria, através de mares dificultosos, percorrendo os reinos até à Índia.
O rei D. Manuel assina neste dia 15 de Março de 1518 em Lisboa, a graça e mercê de conceder aos portugueses que ajudaram na conquista, comandada por Afonso de Albuquerque, da cidade de Goa aos mouros, e que casados ou que se casassem e assentassem em Goa, as terras que pertenciam aos mouros, «para que tenham em que lavrem e aproveitem a terra para melhor sustentamento seu e dos seus filhos», havendo uma graduação do terreno doado, maior para o fidalgo (três quinhões) cavaleiro e escudeiro (2 quinhões) e peão (1 quinhão). Esta carta de mercê é uma extensa instrução dirigida ao Vedor da Fazenda para impulsionar a ocupação, lusitanização ou colonização de Goa, e foi fecunda dando origem aos luso-descendentes.
É publicada, em 1548, em Goa a provisão do 13º governador (de 1545 a 1548) do Estado Português na Índia D. João de Castro, a partir da carta régia trasladada pelo bispo de Goa e da Índia D. João de Albuquerque:«e bem que nos fica obrigação para trabalhar que em Baçaim e nas ditas ilhas de Goa não haja idolatria, e como eu seja prelado tenho obrigação do meu ofício até do mandado del Rey nosso senhor de trabalhar deservir esta idolatria péssima, assim por mim como pelos servos de Deus, a que eu o encomendo pelo qual rogo e peço ao padre Belchior Gonçalves e aos da Companhia de Jesus e assim ao Padre Vigairo Simão Travaços e aos padres de S. Francisco, que onde acharem pagodes feitos, ou começados a fazer ou a reparar, que os destruam e derrubem, para o qual lhe dou poder e autoridade». Quantos templos ainda haveria após tantos anos, cerca de trinta e cinco, de ocupação portuguesa e cristã? Quanto sofrimento não provocaram?
A nau S. Ana não podendo prosseguir em Baticala (cidade em Carnacata) a travessia de Malaca a Goa, é uma fusta com quatro jesuítas, Fernão Mendes Pinto e quatro meninos, que vai buscar o corpo de S. Francisco Xavier e o traz com devoção até Ribandar e à sua ermida, neste dia em 1554.
Sá de Miranda, o poeta renascentista introdutor do petrarquismo em Portugal, retira-se deste mundo em 1558 (se for correcta a tradição que assinala este dia), recolhido na sua quinta da Tapada, sem temor de insolentes, nem dependência de poderosos. «Homem de um só parecer, / de um só rosto e duma fé, / de antes quebrar que volver, / esse tudo pode ser / mas da corte homem não é». Pela sua poesia impregnada de filosofia moral, foi chamado o Platão português: «Cura-me a Filosofia, que me promete saúde; / dou-llhe a noite, dou-lhe o dia; / ouço falar da virtude: / Se a visse, sarar-me-ia. Diz Platão, que é dos melhores: / Quem pusesse os olhos nela, / que altos, que acessos amores / Sempre traria com ela!» Céptico contra o cheiro de canela que despovoava o reino, pois «destes mimos indianos hei grão medo a Portugal, que nos recresçam tais danos», insurge-se contra o vil interesse que matava «os momos, os serões de Portugal, / tão falados no mundo, onde são idos, / E as graças temperadas do seu sal? Dos motes o primor e altos sentidos, / Os ditos delicados e cortesãos, / Que é deles? Quem lhes dá somente ouvidos?».
Nasce em Jamba, Maharastra, em 1608, Ramdas, guru, ou perceptor espiritual, especialmente de Shivaji o líder militar dos maratas, vizinhos de Goa. No seu tempo, a literatura marata teve grandes poetas como Tukaram, Eknath, Mukteswar e Vamam Pandita. Deu grande impulso ao renascimento da espiritualidade indiana perante a opressão islâmica. Defendeu o uso das imagens e o aparente politeísmo como meios de se avançar para a realização do Supremo Ser. Considerou como prática essencial a meditação no Nome divino até se alcançar a visão de Deus e realizar-se que há só um Espírito, um só Eu, Ek Atman
S. João de Brito parte para a Índia neste dia em 1673. «Vim à Índia para suportar trabalhos e privações, não para levar uma vida de comodidades», escreverá, sinalizando a sua abnegação e renúncia.
Guilherme Joaquim Moniz Barreto nasce neste dia 15 de Março em 1865 em Ribandar, Goa, de ascendentes açorianos que morreram cedo, sendo educado pela sua avó materna, a Viscondesa de Bucelas e depois pelo seu tio, bom amante da cultura, Tomás de Aquino Garcez Palha, deputado por Salsete e Barão de Combarjua, que o estimula a ir frequentar em Lisboa o Curso Superior de Letras, para onde virá, ouvindo como professores Teófilo Braga, Jaime Moniz, Manuel Ferreira-Deusdado e Adolfo Coelho, e convivendo ainda com Oliveira Martins, Junqueiro, Gomes Leal, amigos fortes de Antero. Distinguir-se-á como crítico literário e ensaísta, tendo o seu Oliveira Martins, Estudo psychologico, editado em Paris, em 1887, sido elogiado por Antero de Quental: «O seu livrinho é perfeito: ideias, ordem, estilo, tudo está como deve ser. E como a perfeita aprovação é de sua natureza concisa, aqui termino esta carta.» A sua ascendência de aristocracia militar, ensinava-lhe «o desprezo do oiro, irmão do desprezo da morte» e sucessivas experiências profissionais fracassadas, mesmo no fim com o cargo de colaborador permanente do Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, foram insuficientes para que não estivesse quase na miséria, embora convivendo com Eça de Queiroz e António Nobre e, tal como nos assinala o seu biógrafo Vitorino Nemésio, «a sua vara de crítico, tolhida por uma vida reclusa, hesitante e infeliz, caiu-lhe da mão aos 33 anos», em Paris, quando se preparava para emigrar para o Brasil, passando por Lisboa. Foi muito amigo do seu primo José Ayala e sobretudo de Silva Gaio, que o apoiou. Sobre Antero de Quental escreveu o seguinte no número de Agosto de 1888 do Reporter, a propósito da filosofia portuguesa:«Ocorre aqui naturalmente o nome de um escritor, que é um dos maiores de toda a nossa literatura e o mais elevado poeta que tem pulsado a lira portuguesa./Conquanto o tratado de filosofia anunciado pelo sr. Antero de Quental seja apenas uma esperança, pode-se ajuizar quais serão as tendência da sua síntese. (...)/ O que há de original na maneira por que o sr. Antero de Quental repensa a velha explicação dinâmica [a Vontade, de Franz Hartmann], só se poderá conhecer quando aparecer o seu livro. / É ainda o espírito quase isolado, que representa entre nós uma grande direcção da filosofia moderna - a escola crítica.». Anos mais tarde, em 27-III-1894, ofereceu-se em carta a Silva Gaio para escrever duas biografias, sobre Alexandre Herculano e Antero de Quental, então as duas almas com mais brilho ético e com testamentos anímicos ainda muito vivos, num projecto com que ele e mais alguns rapazes novos tentariam dinamizar o ambiente cultural e social português, e uma vez publicadas foram reconhecidas como de grande qualidade.
Guilherme Joaquim Moniz Barreto nasce neste dia 15 de Março em 1865 em Ribandar, Goa, de ascendentes açorianos que morreram cedo, sendo educado pela sua avó materna, a Viscondesa de Bucelas e depois pelo seu tio, bom amante da cultura, Tomás de Aquino Garcez Palha, deputado por Salsete e Barão de Combarjua, que o estimula a ir frequentar em Lisboa o Curso Superior de Letras, para onde virá, ouvindo como professores Teófilo Braga, Jaime Moniz, Manuel Ferreira-Deusdado e Adolfo Coelho, e convivendo ainda com Oliveira Martins, Junqueiro, Gomes Leal, amigos fortes de Antero. Distinguir-se-á como crítico literário e ensaísta, tendo o seu Oliveira Martins, Estudo psychologico, editado em Paris, em 1887, sido elogiado por Antero de Quental: «O seu livrinho é perfeito: ideias, ordem, estilo, tudo está como deve ser. E como a perfeita aprovação é de sua natureza concisa, aqui termino esta carta.» A sua ascendência de aristocracia militar, ensinava-lhe «o desprezo do oiro, irmão do desprezo da morte» e sucessivas experiências profissionais fracassadas, mesmo no fim com o cargo de colaborador permanente do Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, foram insuficientes para que não estivesse quase na miséria, embora convivendo com Eça de Queiroz e António Nobre e, tal como nos assinala o seu biógrafo Vitorino Nemésio, «a sua vara de crítico, tolhida por uma vida reclusa, hesitante e infeliz, caiu-lhe da mão aos 33 anos», em Paris, quando se preparava para emigrar para o Brasil, passando por Lisboa. Foi muito amigo do seu primo José Ayala e sobretudo de Silva Gaio, que o apoiou. Sobre Antero de Quental escreveu o seguinte no número de Agosto de 1888 do Reporter, a propósito da filosofia portuguesa:«Ocorre aqui naturalmente o nome de um escritor, que é um dos maiores de toda a nossa literatura e o mais elevado poeta que tem pulsado a lira portuguesa./Conquanto o tratado de filosofia anunciado pelo sr. Antero de Quental seja apenas uma esperança, pode-se ajuizar quais serão as tendência da sua síntese. (...)/ O que há de original na maneira por que o sr. Antero de Quental repensa a velha explicação dinâmica [a Vontade, de Franz Hartmann], só se poderá conhecer quando aparecer o seu livro. / É ainda o espírito quase isolado, que representa entre nós uma grande direcção da filosofia moderna - a escola crítica.». Anos mais tarde, em 27-III-1894, ofereceu-se em carta a Silva Gaio para escrever duas biografias, sobre Alexandre Herculano e Antero de Quental, então as duas almas com mais brilho ético e com testamentos anímicos ainda muito vivos, num projecto com que ele e mais alguns rapazes novos tentariam dinamizar o ambiente cultural e social português, e uma vez publicadas foram reconhecidas como de grande qualidade.
16-III. Babar, rei de Kabul, culto e poeta, autor de belas memórias, filho dum turco e duma mongol, em Kanwaha em 1527, com o apoio da nobreza turani, derrota pela primeira vez os exércitos indianos dos Rajputs comandados pelo heróico Rama Chandra, depois duma batalha renhidíssima, e inicia a submissão do norte da Índia, do que resultará o chamado império mogol, do qual sobreviveu até aos nossos dias sobretudo a pintura e a arquitectura.
O corpo de S. Francisco Xavier é trazido em procissão muito devota, com os meninos da doutrina trazendo palmas de martírio e os padres entoando os cânticos, de Ribandar para Goa, em 1554, «onde estava o vice-rei D. Afonso de Noronha, com todos os fidalgos e corte da Índia... Pôs-se todo o povo (5 ou 6 mil almas), em não se querer apartar da igreja se não lhe mostrássemos o corpo, e assim o mostrámos». Começam então a surgir mais os seus dons miraculosos.
Hypacio de Brion, oficial da Marinha, após uma comissão em Goa como comandante da estação naval nos anos de 1897-1898 e de ter publicado um belo e valioso livro 10.000 léguas no Hindustão, profere na Sociedade de Geografia de Lisboa uma conferência neste dia em 1908 intitulada A India Portugueza onde tenta descrever resumidamente as suas ideias e impressões, seja da Índia em geral seja da acção portuguesa, realçando o heroísmo e espírito de justiça que houve no séc. XVI e depois como a cobiça, a inquisição («os sinistros clarões dos autos de fé»), o relaxamento causaram o enfraquecimento perante os predadores ingleses e holandeses, descrevendo algumas das batalhas navais mais famosas (tal a de António de Melo e Castro), ou ainda Goa na sua fase áurea, com 150.000 habitantes, o grande comércio, o moderno hospital, as igrejas. Atento aos meios de comunicação tece importantes considerações sobre os caminhos de ferro e o excelente porto de Mormugão, que seria português até 1961 sendo o seu último comandante o notável oficial de marinha Abel Campos de Oliveira, casado com uma das netas do Conde Mahem. Também a reforma do Exército foi por ele cogitada. A sua sócio-antropologia é bem lúcida, escrevendo:«A mulher indiana está bem longe de disfrutar a milésima parte da liberdade que tem a mulher europeia, e não será ali que facilmente entrarão as modernas ideias do feminismo. A indiana não tem nem goza dos mais pequenos direitos. Vive sempre na mais absoluta dependência primeiro, do pai, depois do marido e dos filhos masculinos. As leis de Manú determinam que a mulher nunca pode conduzir-se pelo seu próprio critério». Sobre a religiosidade diz a dado passo:«Em Benares, a Roma indu, há mais de 4:000 templos e santuários e o seu poder sagrado é tão grande, que o avistar as flechas dos seus templos é suficiente para purificar o maior pecador, mesmo que o seu pecado tenha sido comer carne de vaca! A mais pequena descrição ou notícia que eu tentasse dar-vos sobre o panteísmo indu levar-me-ia muito longe e para não vos fatigar direi apenas duas palavras. A base do bramanismo puro é o culto às origens da vida, ao poder criador, às forças da natureza em todas as suas manifestações.»
O notável magistrado e historiador Bragança Pereira morre neste dia em 1955. Na sua Etnografia da Índia Portuguesa diz que Goa fez parte do império de Asoka e fala do imperador Chandragupta Maurya, adepto dos jainas, que venceu um dos sucessores de Alexandre em 310 a.C. e que se casou com uma princesa grega, havendo então um grande intercâmbio entre gregos e indianos. O seu neto Asoka convertendo-se ao budismo abandonou a via da guerra e enviou missionários para as partes distantes do mundo, publicando os seus éditos gravados em pedra que ainda hoje existem: «O dever (dharma) consiste em misericórdia, liberalidade, verdade, pureza, e então crescerão no mundo a suavidade e as boas obras». «Não há mais alto dever que o bem estar do mundo inteiro. E o pequeno esforço que eu faço é para que fique livre de dívidas às criaturas, para que as possa tornar felizes aqui e para que possam ganhar o céu no próximo mundo».
Hypacio de Brion, oficial da Marinha, após uma comissão em Goa como comandante da estação naval nos anos de 1897-1898 e de ter publicado um belo e valioso livro 10.000 léguas no Hindustão, profere na Sociedade de Geografia de Lisboa uma conferência neste dia em 1908 intitulada A India Portugueza onde tenta descrever resumidamente as suas ideias e impressões, seja da Índia em geral seja da acção portuguesa, realçando o heroísmo e espírito de justiça que houve no séc. XVI e depois como a cobiça, a inquisição («os sinistros clarões dos autos de fé»), o relaxamento causaram o enfraquecimento perante os predadores ingleses e holandeses, descrevendo algumas das batalhas navais mais famosas (tal a de António de Melo e Castro), ou ainda Goa na sua fase áurea, com 150.000 habitantes, o grande comércio, o moderno hospital, as igrejas. Atento aos meios de comunicação tece importantes considerações sobre os caminhos de ferro e o excelente porto de Mormugão, que seria português até 1961 sendo o seu último comandante o notável oficial de marinha Abel Campos de Oliveira, casado com uma das netas do Conde Mahem. Também a reforma do Exército foi por ele cogitada. A sua sócio-antropologia é bem lúcida, escrevendo:«A mulher indiana está bem longe de disfrutar a milésima parte da liberdade que tem a mulher europeia, e não será ali que facilmente entrarão as modernas ideias do feminismo. A indiana não tem nem goza dos mais pequenos direitos. Vive sempre na mais absoluta dependência primeiro, do pai, depois do marido e dos filhos masculinos. As leis de Manú determinam que a mulher nunca pode conduzir-se pelo seu próprio critério». Sobre a religiosidade diz a dado passo:«Em Benares, a Roma indu, há mais de 4:000 templos e santuários e o seu poder sagrado é tão grande, que o avistar as flechas dos seus templos é suficiente para purificar o maior pecador, mesmo que o seu pecado tenha sido comer carne de vaca! A mais pequena descrição ou notícia que eu tentasse dar-vos sobre o panteísmo indu levar-me-ia muito longe e para não vos fatigar direi apenas duas palavras. A base do bramanismo puro é o culto às origens da vida, ao poder criador, às forças da natureza em todas as suas manifestações.»
O notável magistrado e historiador Bragança Pereira morre neste dia em 1955. Na sua Etnografia da Índia Portuguesa diz que Goa fez parte do império de Asoka e fala do imperador Chandragupta Maurya, adepto dos jainas, que venceu um dos sucessores de Alexandre em 310 a.C. e que se casou com uma princesa grega, havendo então um grande intercâmbio entre gregos e indianos. O seu neto Asoka convertendo-se ao budismo abandonou a via da guerra e enviou missionários para as partes distantes do mundo, publicando os seus éditos gravados em pedra que ainda hoje existem: «O dever (dharma) consiste em misericórdia, liberalidade, verdade, pureza, e então crescerão no mundo a suavidade e as boas obras». «Não há mais alto dever que o bem estar do mundo inteiro. E o pequeno esforço que eu faço é para que fique livre de dívidas às criaturas, para que as possa tornar felizes aqui e para que possam ganhar o céu no próximo mundo».
17-III. António Melo e Castro, capitão do galeão S. Tiago, regressando de Goa tão carregado que teve até de deitar alguma carga fora, encontra à sua espera na baía de S. Helena três naus holandesas, em 1602. A luta desigual é compensada pela perícia do capitão. Por fim, arvorada a bandeira branca pela tripulação, o capitão e o imediato recusam terminantemente entregar os correios e pedrarias que o holandês lhes pedia: «Que perecesse embora a vida, não perecesse um ponto da sua obrigação, nem permitisse Deus que os inimigos soubessem os segredos de El-Rei!» E deitam-nos ao mar. Recomeçada a luta, o barco irá para o fundo também...
A câmara de Lisboa faz uma circular às outras câmaras informando-as em 1625 do desígnio real «para bem universal deste reino e da Índia e mais conquistas ultramarinas, que houvesse nesta cidade de Lisboa outra companhia contraposta à dos inimigos (Holanda e Norte), para que tivéssemos nós ganhos do comércio e os tirássemos a eles». Esta companhia do Comércio da Índia Oriental terá porém vida curta, pela falta de recursos e pelo individualismo português, e será extinta em 1633.
A recente viagem pioneira de Gago Coutinho e Sacadura Cabral no avião Lusitânia ao Brasil permite ao ministro dos Negócios Estrangeiros inglês Lord Curzon escrever em 1923: «De que no Portugal de hoje continua a viver aquele heróico sentimento que inspirou no passado as suas Grandes Figuras, são eloquente testemunho as recentes façanhas dos seus intrépidos navegadores».
18-III. Duarte Pacheco Pereira defende o reino de Cochim na passagem de Cambalam com um pequeno número de homens, desbaratando as numerosas tropas do samorim de Calecut, em 1504, prolongando-se as tentativas e sucessivas derrotas até este vencido abandonar a luta em Junho. Recusa a «grande soma de especiarias» que o raja Trimumpara, aliado de 1ª hora dos portugueses, lhe oferece, e segundo Castanheda, «o trabalho que levara por defender sua terra não fôra por outro interesse mais que por desejar o servir, porque conhecia sua bondade e tamanho amigo era del-rei de Portugal, seu senhor e dos seus vassalos». O historiador Hernâni Cidade considerou Duarte Pacheco Pereira «dos mais perfeitos e equilibrados tipos do Portugal de quinhentos. Homem de estudo, homem de acção e homem de bem — e excelente sob todos estes aspectos», e Joaquim Barradas de Carvalho dedicou--lhe um estudo exaustivo com o título À Procura da Especificidade do Renascimento Português, onde defende, como Luciano Cordeiro e Jaime Cortesão, que Duarte Pacheco Pereira estivera já no Brasil em 1498, antes da expedição confirmadora de Cabral.
O jovem D. Lourenço de Almeida, em 1506, é enviado pelo vice-rei seu pai contra a numerosa armada de Calecut, que vence num feito retumbante. Para controlar as vias marítimas que os mouros procuravam fora do alcance dos portugueses, parte para o Ceilão, onde deixa um padrão, e regressa a Cochim, então a sede da administração portuguesa na Índia, donde se transferirá para Goa, com Afonso de Albuquerque. D. Francisco de Almeida desejara o Ceilão como base, respondendo-lhe D. Manuel que seria «coisa de muito grande gosto e contentamento nosso estardes vós e a nossa fortaleza na Trapobana», o que provavelmente resultaria melhor para um império marítimo e comercial mais pacífico, como o comandante Moreira Campos realçou citando João Ribeiro na sua Fatalidade Histórica da Ilha do Ceilão: «O grandíssimo erro que tivemos em nos espalhar por todo o Oriente... povoando e fortalecendo quantos portinhos nos vieram à notícia», e em que conclui com um capítulo com o título: Discursos que mostram os desacertos, que houve na conquista da Índia, e só nos convinha povoar Ceilão”.
19-III. Nasce nas ilhas Canárias em 1534 o biscainho José Anchieta, o apóstolo do Brasil, que estudará e se ordenará jesuíta em Coimbra, partindo logo para o Brasil onde servirá 44 anos (falando e escrevendo tupi), como professor, poeta, médico, enfermeiro e santo na sua ciência da paz ou paciência.
Nasce em 1604, em Vila Viçosa, a casa-mãe do ducado de Bragança, o seu oitavo duque D. João, que em Dezembro de 1640 será aclamado D. João IV, rei de Portugal. Sendo um bom musicólogo, administrou com acerto, tentando manter a independência do reino face às pressões e ataques castelhanos, e sem ser reconhecido por Roma. Muito pragmático, e prenunciando a entrega de Bombaim aos ingleses, dirá lamentavelmente ao embaixador francês sobre a Índia: «Colosso que me não dá proveito nenhum e prouvera a Deus que eu pudesse abandoná-lo honrosamente». Já quanto ao Brasil, devido ao tabaco, açúcar e pau-brasil, chamava-lhe «a minha vaca de leite».
O P. António Andrade, nascido em Oleiros em 1580, jesuíta, formado em Teologia e Filosofia em Coimbra, Lisboa e Goa, dos primeiros portuguêses a chegar ao Tibete, em
1624 e onde esteve segunda vez em 1625, redactor de duas cartas que serão publicadas em Lisboa em 1626
já com o título sensacionalista Relação
do Novo Descobrimento do Grande Cataio ou reino de Tibet), morre neste dia 19 de Março em 1634, em Goa, envenenado por um jesuíta cristão-novo que estava a ser investigado e nas vésperas de iniciar a 3ª viagem com seis companheiros, entusiasmado com a autorização que fora concedida ao P. Francisco de Azevedo de aí missionar de novo. Ainda depois de morto a sua virtude exerceu-se logo sobre os que o invocavam, rezam os testemunhos da época, e com efeito as suas jornadas ao Tibete foram épicas e revelam tanta invencibilidade anímica face às adversidades, tanta realização espiritual e divina que não admirará poder ter continuado activo no além. Nas suas duas cartas-relações, cita a oração sagrada dos Tibetanos: «Om mani padme hum hri» que, embora um dos seus significados seja «Saudações à jóia da Consciência pura na flor de lótus», traduziu por «Senhor, perdoai-me os meus pecados», pois os que consultava não conseguiam transmitir-lhe o seu significado. Já o P. Hipólito Desideri, missionário também no Tibete, a traduz em 1720 como uma invocação a Cen-ree-zij, o Senhor da Compaixão budista: «Oh! Tu, que seguras uma jóia na mão direita, e estás sentado na flor de lótus». O misterioso significado deste mantra ecoará ainda entre nós nos finais do século XIX, com Francisco Esteves Pereira, que reeditou em 1921 a Relação do Novo Descobrimento..., a traduzi-lo por: «Salvé, jóia no lodão; assim seja», e até o o insuspeitado publicista e ocultista portuense Sampaio Bruno o citou «o mistério dos mistérios. Om! mani padmê hum».
O infante D. Afonso Henriques, duque do Porto, 2º filho de D. Luís e da rainha D. Maria Pia, desportista, automobilista, mais conhecido pelo “Arreda”, por assim dizer aos carros que queria ultrapassar, foi nomeado comandante da expedição de pacificação dos ranes e dos militares maratas que se recusavam viajar para Moçambique e, desembarcado em Pangim em 13 de Novembro de 1895, assume neste dia por uns meses o título, o último, de vice-rei da Índia, em 1896. Com o capitão Gomes da Costa, sossegará os ânimos, facilmente exaltados em ambientes tropicais e tão mal dirigidos pelas secretarias do reino.
Fernando da Costa, nasce em Curtorim, Salsete, Índia, neste dia, em 1904. Formar-se-á na Alemanha em Engenharia Químico-Industrial e trabalhará em Angola e Portugal. Em 1925 publicou em Lisboa uma brilhante e ousada conferência intitulada a Índia Antiga e Moderna, onde traça bem a sua história e alma, com bons conhecimentos da espiritualidade indiana, e manifesta o desejo de independência que animava os indianos e goeses e transcreve e faz algumas projecções futurantes, terminando assim: «Não temos ilusões! Confiamos em nós próprios, para conseguir a Independência! (...) A Índia Nova não se ocidentalizará com a Turquia e o Japão, mas adaptará a sua antiga civilização aos inventos modernos. (...) A nossa missão consiste em estabelecer a Paz no Mundo!». No prefácio, Coelho Carvalho, tenta domesticar um pouco o movimento de independência, embora faça distinção entre a Índia Inglesa, designação má, e a Índia dos Ingleses, explicitando que «também a Índia Portuguesa foi a Índia dos portugueses, quando a Inquisição e alguns maus vizos-reis, em tempos idos, a dominavam e oprimiam. Hoje, porém, a nossa Índia é dos indús, e a bandeira portuguesa, cuja sombra radiante a cobre ondulando em lampejos de gloria, não abafa a afirmação de autonomia espiritual da raça indú, e, por isso aplaudo, de todo o coração e com entusiasmo, o esforço de propaganda de Fernando Costa a favor do nacionalismo Indú, porquanto nacionalismo não exclui nem degrada a mais natural das diferenciações sociais e políticas - o regionalismo. Avante, pois, meu jovem amigo, na cruzada pró-Índia».
20-III. Em Goa em 1559 uma provisão real manda arrecadar 1% de todas as rendas, tratos e direitos de fazenda, destinados a obras pias, do mesmo modo como se arrecadava no reino. É deste dinheiro que serão as pagas pensões aos familiares dos funcionários falecidos.
Numa carta, em 1600, o P. Melchior escreve ao P. Pimenta sobre o bom acolhimento do rei Pratapaditya, em Bengala: «O rei honrou-nos de tal modo que assim que nos viu levantou-se do trono e curvou-se diante de nós. Era devido à nossa virtude da castidade». Com efeito, nas cortes indianas, sacerdotes e mestres espirituais, quaisquer que fossem as religiões ou seitas, eram venerados e consultados, sobretudo se irradiando mais luz.
O
príncipe mogol Dara Shikoh, filho do imperador Shah Jahan (1592-1666), nasce neste
dia 20 de Março, numa segunda-feira, em 1615, perto de Ajmer, na Índia então sob o domínio mogol. Na linha do seu
bisavô Akbar (1542-1605) será um ardente advogado da unidade de Deus e um místico
entusiástico, discípulo do mestre sufi Mian Mir, dialogante com jainas,
hindus e cristãos (especialmente do padre flamengo Henrique Busée). Numa
nota autobiográfica confessa-nos: «Este Dara Shikoh pertence à classe
de devotos que são atraídos naturalmente para Deus, sem a realização de
quaisquer austeridades. Ele veio a conhecer os mistérios da Divindade,
através da graça dos santos e amigos de Deus. Beneficiou da sociedade
desses Mestres, e investigou a verdade dos seus ensinamentos».
Escreveu
algumas obras notáveis de espiritualidade, duas de vidas de santos
sufis, outra de aforismos deles, depois ainda a Bússola da Verdade, de ensinamentos iniciáticos e, finalmente o Majma' ul-Bahrain, A Junção dos dois Oceanos,
uma das primeiras obras de religiões comparadas, no caso sufismo
islâmico e yoga vedanta indiano. Foi ele que deu origem à primeira
tradução dos Upanishads, Sirr-i-Akbar,
para persa, vindo depois a ser traduzida na Índia por
Anquetil-Duperront (1731-1805), para o latim sendo impressa em Paris em 1801, tradução que permitiu ao Ocidente conhece esses textos
tão profundos da espiritualidade indiana, sendo então admirados
entusiasticamente por Schopenhauer, Schlegel e outros.
Na luta pela sucessão ao trono mogol foi derrotado pelo irmão mais ortodoxo e cruel Aurangzeb, que acabará por alienar as simpatias que os imperadores Akbar, Jahanguir e Shah Jahan tinham conseguido entre os indianos, fazendo esfumar-se a unidade inter-religiosa e abrindo as portas à futura dominação inglesa.
Oiçamos Dara Shikoh, num extracto de um livro sobre ele que tenho trabalhado: «Todo aquele que adormece, e vagueia pelo mundo de Malakut (o mundo subtil), quer esteja consciente dos seus ambientes, ou inconsciente, faz isso porque a sua alma assume um corpo muito refinado, que é a exacta contra-parte do corpo físico, com olhos, ouvidos, língua e todos os órgãos de sentidos e órgãos funcionais internos, sem contudo ter os órgãos físicos externos de carne e sangue. // Quem quer que tenha o seu coração refinado, e despertou, vê neste mundo de Malakut formas refinadas e belas, ouve música maravilhosa e come deliciosos alimentos. Mas aquele cujo coração está carregado de grosseria e não está desperto, vê formas horrorosas e ouve sons desagradáveis, durante os seus devaneios no sonho. // Portanto, ó amigo! Se praticares com diligência e perseverança, os métodos de meditação descritos mais à frente, a ferrugem do teu coração será removida, e o espelho da tua alma tornar-se-à brilhante, e verás reflectido nele as formas dos profetas, santos e anjos».
Liberta-se da terra, em Pazhur, Kerala, neste dia 20 de Março de 1733, Johann Ernst Hanxleden, missionário poliglota jesuíta alemão que viveu de 1700 a 1733 em grandes trabalhos de estudos linguísticos, pregações e conversões no seio dos cristãos do Malabar e de Kerala. Chegou a ser de 1707 à 1711 secretário do arcebispo de Cranganor João Ribeiro, sendo depois até 1729 vigário em Velur, onde se conserva ainda como monumento a casa onde viveu. Foi conhecido como Arnos Pathiri, tendo deixado várias obras na língua malayalam, além do dicionário, em temática de devoção religiosa, sendo ainda hoje cantado.
Liberta-se da terra, em Pazhur, Kerala, neste dia 20 de Março de 1733, Johann Ernst Hanxleden, missionário poliglota jesuíta alemão que viveu de 1700 a 1733 em grandes trabalhos de estudos linguísticos, pregações e conversões no seio dos cristãos do Malabar e de Kerala. Chegou a ser de 1707 à 1711 secretário do arcebispo de Cranganor João Ribeiro, sendo depois até 1729 vigário em Velur, onde se conserva ainda como monumento a casa onde viveu. Foi conhecido como Arnos Pathiri, tendo deixado várias obras na língua malayalam, além do dicionário, em temática de devoção religiosa, sendo ainda hoje cantado.
Celebra-se um tratado em 1833 entre os Estados Unidos da América e o Sião (Tailândia), no qual se determina que «como os Siameses desconhecem o inglês e os Americanos o siamês, uma tradução portuguesa e uma outra em chinês foram anexas aos originais». Assim se conservava ainda no século XIX a fala portuguesa como a língua franca e diplomática em muitas partes do Oriente, e aqui num país que em 1512 já recebera o embaixador António de Miranda Azevedo, mantendo relações cordiais ao longo dos séculos.
Nasce Alexandre Serpa Pinto, em 1846, um dos grande viajantes terrestres. Separando-se em 1877 da expedição oficial de reconhecimento das bacias do Zaire e do Zambeze, com Capelo e de Ivens, tentou fazer a ligação por terra entre Angola e Moçambique, que por pouco não realizou, sozinho. A sua bela obra Como eu atravessei a África, grangeou-lhe uma vasta popularidade. Foi um intrépido explorador, um militar valoroso e ainda governador fecundo em Cabo Verde.
21-III. Naufrágio do galeão S. Pedro em 1559, vindo da Índia nos baixos das Chagas. Os sobreviventes passarão seis meses como Robinson Crusoé, até fabricarem novo navio calafetado com sedas da China e breado com beijoim e regressarem nele à Índia. Das inúmeras relações sobre as centenas de naufrágios da expansão portuguesa, Bernardo Gomes de Brito compilou doze em 1735 na História Trágico-Marítima, onde o preço da jornada oriental multiplica-se pelas tempestades e tormentas de dor.
Nasce na Índia em 20 de Março de 1923 Nirmala Devi. Instrutora espiritual, dirá que atingiu a sua "iluminação" (sempre subjectiva...) pelo despertar da Kundalini, a energia subtil localizada no fim da coluna vertebral, passando a tentar despertá-la nos outros seres, por vezes até de forma colectiva, esquecendo-se porém que «só quando o discípulo está pronto é que o mestre aparece», e que portanto que cada ser tem a sua hora de maturação e se é que tem de ser por essse meio. Veio a Portugal mais de uma vez e afirmou que todas as doenças seriam apenas uma estagnação desta energia subtil, algo exagerado. Carl G. Jung referiu-se também a essa mítica energia Kundalini e à sua subida de energia ao longo dos centros da coluna, vendo-a bastante à sua maneira de algum modo tentando sobrepor inconsciente colectivo e kundalini o que não é bem o caso: «Na realidade é um desenvolvimento contínuo. Não é saltar e descer, pois aonde se chega não se perde. Podeis dizer que estivestes no centro do fim da coluna e que depois atingistes o centro da água, regressando depois, aparentemente. Mas não retornais; é uma ilusão esse retorno; deixaste algo de vós no inconsciente. Ninguém toca o inconsciente, sem deixar algo dele lá. Podeis esquecer ou reprimi-la, mas não se pode perder a experiência». Os descobrimentos na psique humana e nos corpos subtis estão ainda na sua infância, pois esta navegação é difícil de ser bem investigada e realizada, para além de haver muita exploração perigosa em kundalini tantras e samkya tantra yogas de instrutores brasileiros e portugueses, altamente auto-proclamados, como têm vindo a ser desmascarados...
22-III. Ibn al-Farid nasce neste dia em 1181 no Cairo, Egipto, filho de pais sírios, e será um dos mais valiosos misticos do amor, com vivências muitos fortes de inebriamento divino, que o levou mesmo a escrever uma famosa Ode ao Vinho, Khamriyyah e a deixar um Diwan de alto valor. Fez a pereginação a Meca, onde ficou alguns anos, foi o pregador da mesquita, teve filhos e foi muito amado pelos seus contemporâneos, dançando por vezes com eles. A sua influência foi grande na época e é considerado um dos maiores poetas místicos árabes de sempre. Só em 1866 em Beirute o seu Diwan foi impresso pela primeira vez.
Carlos V, imperador do Sacro Império Romano-Germânico e da Espanha, assina em neste dia em 1518 o acordo e contrato que vai permitir a 1ª viagem de circumnavegação: «Como vós Fernão de Magalhães, fidalgo, nascido no reino de Portugal, e o bacharel Rui Faleiro, também deste reino, intentais prestar um grande serviço dentro dos limites que nos pertencem, dentro da parte do Oceano destinado a nós, determino que o seguinte convénio seja assente para esse fim»... Fernão de Magalhães, mal recebido em Portugal das suas missões no Oriente e em África, ou mesmo acusado de negociar com os árabes no Norte de África, zarpava agora da corte espanhola, com o apoio incondicional do jovem Carlos V rendido ao seu pundonor, como cavaleiro da Ordem de Santiago e comandante duma armada, com direito a 20% dos rendimentos obtidos e a posse de duas das seis ilhas a descobrir.
Armado cavaleiro no norte de África por D. Pedro de Meneses, Fernão Álvares do Oriente recebe a confirmação do rei em 1552. Soldado, capitão de nau e vedor da fazenda, servirá doze anos na Índia e na Lusitânia Transformada, obra bucólica e simbólica, dirá: «No estudo das letras, e em especial no da poesia, a que fui mais inclinado, empreguei a minha primeira idade com tanto gosto, que renunciei por ele outros exercícios, que naquelas partes, sendo de maior proveito, são também os de mais estima». Critica a ambição, a ganância e o fanatismo inquisitorial que ocupavam agora os peitos dos lusitanos, desterrando deles o valor de esforço e arte, o amor da vida simples e da natureza, da poesia e da contemplação divina, valores que os tinham feito merecer serem os primeiros a chegar ao Oriente. Pastor real era Piérico: «Ora ocupado em Deus qual bom Teológo / Desprezava as Napeas, e as Nereiadas / Ora os Céus espreitando como astrólogo / o carro contemplativo, a Lira, as Pleiades. Outrora até o epílogo do prólogo / Os Lusíadas lia, ou os Eneiadas / Gastando o tempo na lição poética / Mas mais na Evangélica, e Profética». Leitor dos clássicos e de Camões, morrerá em data incerta do ano de 1605. A sua naturalidade permanece ainda misteriosa.
Neste dia 22 de Março de 1960, na Homenagem ao Infante D. Henrique na Faculdade de Letras de Lisboa, o historiador goês Panduronga Pissurlencar (1894-1969) narra as inscrições e moedas dos primeiros séculos encontradas em Goa (de Gomanta, terra fresca e fértil)e transcreve parte do 1º documento, uma doação a um templo, traduzido do sanscrito para uma língua europeia, em 1532: «Seria Laca Naique, um bramane de Goa, o autor dessa tradução? Seria Crisna Sinai, que esteve em Lisboa desde 1518 a 1520? Seria o bramane Ramu, língua na feitoria da cidade de Goa? (...) Esta tradução foi usada pelo cronista João de Barros, na sua Década II (...) O principio da qual Doação começava nestas palavras: Em nome de Deus, que é criador de todos os três Mundos, Céu, Terra, Lua e Estrelas, a quem adoram a ele fazem sua boa sombra, e Ele é que os sustenta, a ele dou muitas graças, e creio nele o qual por amor do seu povo lhe aprouve vir tomar carne a este Mundo, etc. Per as quais palavras parece que naquele povo havia notícia da encarnação do Filho de Deus; e em outras mais abaixo, que é no sinal do Rei, confessa a Trindade em unidade.» Panduronga esclarece porém o desconhecimento de Barros: a encarnação de que se fala é a a avatarização de Vishnu (e de certo modo 2ª pessoa) no javali Varaha. Quanto à aparente Trindade, Triambaca, dotada de três olhos, é um nome de Shiva e sabemos bem que quem andou pela Índia nos ashrams certamente cantou alguns mantras com este vocábulo. Esclacerá ainda que «a opinião de Barros foi seguida por Faria e Sousa, na Ásia Portuguesa, e por Frei Paulo da Trindade, na sua Conquista Espiritual do Oriente», um título bocadinho exagerado e ilusório, mesmo que se pesem as conversões numerosas que se fizeram nas zonas costeiras. Eram tentativas algo forçadas de estabelecer relações entre cristianismo e hinduismo. Panduronga Pissurlencar realçará a obra História dos Religiosos da Companhia de Jesus, do Padre Sebastião Gonçalves, escrita em 1614, por este manifestar interesse pelos costumes dos vários grupos étnicos de Goa.
23-III. D. Manuel ordena em 1515 o envio para a Índia de mil cartinhas, trinta catecismos, cem Vida e Paixão dos Mártires, cem livros de Horas de Nossa Senhora e cem da Destruição de Jesus, e provavelmente outros livros, hoje raríssimos, não só por serem quinhentistas como pelo clima goês.
O célebre capitão de mar, ou corsário, com quem Fernão Mendes Pinto andou na aventura, tantas vezes triunfadora, tantas vezes naufragada, António Faria e Sousa tenta resgatar portugueses cativos em Nauday, China, em 1542. Perante a recusa arrogante resolve atacar e, com grande desproporção de forças, desbarata as forças chinesas, destruindo ainda grande parte da vila, segundo Mendes Pinto, ou Minto...
O infante D. Luís, o irmão humanista de D. João III, e que por este foi travado constantemente, escreve ao vice-rei na Índia D. Pedro de Mascarenhas em 1555 apontando-lhe o defeito da ostentação, porque tal é o dever dos amigos e lembrando-lhe que o poder da sua «força há-de ser mais de exemplo que de leis, porque este é o modo que Cristo teve neste mundo onde deu lei muito branda e exemplos muito rigorosos».
A rainha D. Catarina «faz mercê aos naturais de Goa que são convertidos e ao adiante se converterem à nossa santa fé católica, de todos os privilégios e liberdades que têm e de que usam os moradores portugueses da dita cidade», em 1559.
Fernão Lopes Castanheda, com dez anos de Índia, regressado a Portugal, começa a imprimir os dez primeiros livros da História do Descobrimento e Conquista da Índia mas, vivendo pobre do cargo de bedel e guarda da livraria da Universidade de Coimbra, ainda que as edições europeias dos seus livros se multipliquem, abandona este mundo em 1559.
São promulgadas as Ordens do Governo de começar o ensino médico cirúrgico regular no Antigo Hospital Real, em Goa, em 1691, hospital que no século XVI era um dos melhores e maiores do mundo, gratuito.
Nasce em Mormugão, Índia, neste dia 23/3/1899, Telo de Mascarenhas. Formou-se em Direito em Coimbra em 1930 e com Adeodato Barreto e José Paulo Teles fundaram o jornal Índia Nova, as Edições Oriente e o Instituto Indiano, na Universidade de Coimbra, organizando algumas conferências e publicações. Veio a ser advogado e notário e sobretudo um entusiasta divulgador da cultura indiana e da obra de Rabindranath Tagores que traduziu para português (cinco títulos) e sobre o qual escreveu e conferenciou. Publicou ainda outros livros, com contos belos seus de temática hindustânica e inspiração lírica, tal como Kailâsha. Contos e Lendas do Hindustão, nas Edições do Oriente, em 1937, do qual extraímos o seguinte passo do capítulo O Fantasma do Taj Mahal, onde recria a dor do imperador Shah Jahan, engrossando com as suas lágrimas o caudal do rio Jamma, que circunda o poema em mármore oferecido à sua amada Mumtaz: «Minha Nur-Mahal, já não escuto a tua voz deliciosa como um fio de mel que me enchia a alma de suaves harmonias. Já não posso contemplar o teu rosto belo como a lua cheia, e uma negra escuridão povoa a minha alma.»
24-III. O sábio Lau-Tseu terá nascido na China em 600 A.C., segundo uma tradição inconfirmável. A subtileza ilimitada da Natureza e do Espírito é belamente expressa e sugerida no seu Tao te King, um clássico da espiritualidade mundial. Mais secretas são as práticas de imortalidade a que os adeptos ainda hoje se entregam de manipulação da energia subtil, o Ki, tanto alimentar, como magnético, respiratório e psíquico. O carácter mais materializante da espiritualidade, a procura da imortalidade física, é em algumas destas escolas que se encontra, bem como a aplicação do domínio da energia em artes marciais. Conta-se que Confúcio reconheceu a superioridade de Lau-Tseu em 518, mas quem triunfou no império celeste foi a burocracia e o moralismo do sistema confuciano, enquanto os taoístas ficaram à margem, como sacerdotes de fabulosos templos nas montanhas ou então iniciados nas energias subtis. O Ser ou energia do Tao, Ordem do Universo, Caminho, continua a ser indefinível realidade e elevado mistério. Entre os portugueses, Alphonso Sair publicou em 1921 um curioso estudo sobre A Filosofia de Lau-Tseu. As suas relações com o orientalismo hermético. Em 1987, o Padre Joaquim Guerra, sinólogo, apresentou em Macau uma tradução do Daow-Tc-Keq, com interessantes notas. No séc. XXI já surgiram várias outras, bem realizadas.
Erasmo publica em Bâle, em 1527, as Chrysostomi Lucubrationes, com uma carta dedicatória a D. João III datada deste dai, em que louva altamente seu pai D. Manuel e a expansão portuguesa, que obteve a segurança para as navegações que levam o cristianismo a todo o mundo, esperando que a conversão se faça mais pelo exemplo e pelo Verbo do que pela força. Lamenta, contudo que o sistema de monopólios acabe por fazer chegar as mercadorias caras e em mau estado à Europa, «mas a autoridade dos príncipes porá um dia limites aos traficantes. Enquanto se espera isso, a piedade das vossas intenções é louvada como ela merece». Este tipo de observação não deve ter sido muito apreciada por D. João III (se lhe chegou às mãos) e à corte, e pode ser significativa para a hipótese de que a divisão do mundo em Tordesilhas e a tentativa do monopólio da navegação e comércio com o Oriente pelos portugueses (e o da Espanha com o Novo Mundo) sancionados pelo papado, devem ter sido factores na eclosão da Reforma.
As tropas holandesas são derrotados pelos defensores da fortaleza do Arraial, capitaneados pelos irmãos Duarte e Matias Albuquerque, em 1633. Desde 1624 ao ataque no Brasil, só em 1660 é que capitularam, renunciando definitivamente às suas pretensões, num tratado de paz firmado pela viúva de D. João IV.
A alma de S. Francisco Xavier recebe o título de Defensor do Oriente por carta de D. Pedro II em 1699. Uma espécie de Arcanjo. Mas defenderia como e quem? Onde estava ele nos planos invisiveis? A santidade que a Igreja lhe atribuiu rapidamente ajudá-lo-ia a exercer algumas tarefas inspiradoras ou protectoras? Mas em quem? Religiosos, jesuítas, militares? Ou deveremos antes reconhecer que era sobretudo um meio de se aumentar a fé das pessoas, podendo recorrer a ele em casos de necessidade? Por fim, interroguemo-nos sobre o seu corpo seco e peregrinado com tanta devoção, e até que ponto isso faz um espírito ficar mais ligado ao plano terrestre como santo protector?
Nasce neste dia 24 de Março de 1867 em Genève, filho do francês Louis Revon conservador do museu de Annecy, e de uma suiça, Michel Revon estudará Direito em Grenoble e torna-se um notável jurista, seno enviado como professor de Direito francês na Universidade de Tóquio e conselheiro legislativi do governo japonês, o que cumpre de 1893 a 1899. Ao regressar começa a lecionar em 1901 sobre a civilização japonesa na Faculdade de Letras em Paris. A sua Anthologie de la Litterature Japonaise des origines au XXe siàcle, foi muito editada e lida. Mais interessante ainda é o seu Le Shintoisme, 1907, onde faz críticas certeiras aos erros sobre a religião japonesa de estudiosos ocidentais, como M. Hepburn, M. von Brandt e B. H. Chamberlain, defendendo e aprofundando a chave de muitas ideias e crenças, mitos e cultos, mostrando como mesmo a morte precoce de um Imperador era vista sempre como uma negligência do culto dos Kami.
Nasce em Chandernagore neste dia 24, em 1953, Swami Satyasangananda. Yogini da escola de Monghyr, será a sucessora do seu mestre Satyananda desde 2009 e explicará em várias partes do mundo Tantra e a espiritualidade, afirmando: «Apesar da energia (Shakti) e da consciência (Shiva) se terem separado e diversificado para fazer surgir toda a criação, estão sempre esforçando-se por se unir no corpo físico humano, para reexperienciar a unidade cósmica donde involuíram».
Nasce neste dia 24 de Março de 1867 em Genève, filho do francês Louis Revon conservador do museu de Annecy, e de uma suiça, Michel Revon estudará Direito em Grenoble e torna-se um notável jurista, seno enviado como professor de Direito francês na Universidade de Tóquio e conselheiro legislativi do governo japonês, o que cumpre de 1893 a 1899. Ao regressar começa a lecionar em 1901 sobre a civilização japonesa na Faculdade de Letras em Paris. A sua Anthologie de la Litterature Japonaise des origines au XXe siàcle, foi muito editada e lida. Mais interessante ainda é o seu Le Shintoisme, 1907, onde faz críticas certeiras aos erros sobre a religião japonesa de estudiosos ocidentais, como M. Hepburn, M. von Brandt e B. H. Chamberlain, defendendo e aprofundando a chave de muitas ideias e crenças, mitos e cultos, mostrando como mesmo a morte precoce de um Imperador era vista sempre como uma negligência do culto dos Kami.
Nasce em Chandernagore neste dia 24, em 1953, Swami Satyasangananda. Yogini da escola de Monghyr, será a sucessora do seu mestre Satyananda desde 2009 e explicará em várias partes do mundo Tantra e a espiritualidade, afirmando: «Apesar da energia (Shakti) e da consciência (Shiva) se terem separado e diversificado para fazer surgir toda a criação, estão sempre esforçando-se por se unir no corpo físico humano, para reexperienciar a unidade cósmica donde involuíram».
25-III. As Tágides e os lisboetas assistem em 1505 à partida da armada de 20 velas e 1500 guerreiros capitaneada na nau Jesus pelo vice-rei D. Francisco de Almeida e que mostrará coragem e diplomacia em frequentes ocasiões. Entre os que partem destacam-se um dos comendadores da Ordem de Cristo, Lourenço de Brito, notável estratega e guerreiro, o destemido filho do vice-rei, D. Lourenço de Almeida, Fernão Peres de Andrade que chegará à China em 1517, o intérprete Gaspar da Gama e um carregamento de Bíblias hebraicas, desafectadas das sinagogas portuguesas encerradas... Três dos navios pertencem aos Welser e a outras casas capitalistas de Ausburg, pela falta de recursos da coroa e pelo interesse internacional.
Inauguração da catedral de Goa em 1539 pelo bispo D. João de Albuquerque. Começará a ser reconstruída no actual lugar em 1562. Um dos seus guardiães (ainda hoje) é um gigantesco S. Cristóvão com o Menino, um portador da Luz crística, representado também na Charola de Tomar e em tantos outros templos.
A rainha regente, na menoridade de D. Sebastião, em 1559, proíbe ídolos, pagodes e gentilidades nas ilhas de Goa. Com a morte de D. João III, os erros de estratégia política e religiosa aumentaram consideravelmente e tiveram consequências funestas.
D. João IV e as cortes em 1646 afirmam a Conceição Imaculada da mãe de Jesus e elegem-na Protectora e Defensora de Portugal, sobrepondo-a assim de algum modo à invocação ígnea do Anjo Custódio ou Arcanjo de Portugal obtida por D. Manuel e à mais antiga de S. Jorge. Numa das muitas lápides que tiveram então de ser lavradas, e encontrada em Bombaim, se diz «com público juramento prometeu defender que a mesma Senhora foi preservada de toda a mácula do pecado original. Para que a piedade portuguesa vivesse mandou abrir nesta pedra esta perpétua lembrança». Mas quem consegue visitar o interior de toda a lápide e reencontrar e erguer a Nossa Dama dos Templários, a imaculada Pietas de Erasmo e dos humanistas, a Santa ou Haghia Sophia dos gnósticos e ortodoxos russos, ou a Shakti dos indianos?
26-III. Luís de Camões embarca na nau S. Bento em 1553 na armada de Fernão Álvares da Cunha rumo à Índia, como homem de armas e poeta da alma. Perseguido pelo governador Francisco Barreto, protegido por D. Constantino de Bragança, experimentará os prazeres e agruras do Oriente durante 16 anos, irradiando geniais centelhas da sua grande alma provada nas lutas e nas musas. É o vice-rei seguinte D. Francisco Coutinho quem lhe paga a viagem de regresso a Portugal. Conhecedor da tradição clássica, é platónico e realista, mas será como Fiel do Amor que mais brilhará e por isso avisa: «Entendei que, segundo o Amor tiverdes,/ Tereis o entendimento dos meus versos». E a sua contraparte feminina divina (a fravashi, diriam os Persas), ou na tradição indiana a Deusa, a Shakti, que o encaminha para o mais alto e mais extático da ilha alegre e namorada, e lhe diz: «Segue-me firme e forte, com prudência, / Por este monte espesso, tu com os mais. / Assim lhe diz e o guia pelo mato / árduo, difícil, duro a humano trato».
Na Coimbra das tricanas e dos estudantes, no Convento de Santa Clara, aberto o túmulo da rainha Santa Isabel, por ordem do Papa, neste dia em 1612, para se proceder à sua canonização (1625), foi o seu corpo encontrado «mui são, inteiro e sem corrupção, antes muito alvo e cheiroso, e coberto de carne, de maneira que a cabeça estava com os cabelos inteiros, louros e sãos». O cirurgião-mor e terceiro perito Gonçalo Dias assegura «tudo me parece e tenho por certo que é fora do natural e fora da ordem, estar um corpo tantos anos sem corrupção, o que não pode ser senão miraculosamente». Confirmava-se assim o seu grau de mestra do Amor fraterno e universal, por ela manifestado no tratamento de leprosos, nas conciliações familiares, no pão e nas rosas, e no culto do Espírito Santo por ela desenvolvido em Alenquer e que continha tantas potencialidades fraternas no querer amar e recriar a vontade do Espírito divino na Humanidade.
Nasce Eugène Lafont, em 1837 na Bélgica e tornar-se-a um dinâmico missionário jesuíta na Bengala indiana, criando a primeira instituição cientifica moderna na Índia.
27-III. Nasce em Ribandar, Índia, em 1853, Cristóvão Aires, escritor, historiador e militar. Foi deputado, membro da Academia das Ciências, sobre a qual escreveu a importante obra Para a História da Academia das Ciências de Lisboa, dedicando-se ainda à historiografia do exército português, com várias obras e destacando-se a monumental História Orgânica e Política do Exército Português, em 19 volumes. Trabalhou ainda vida e obra de Fernão Mendes Pinto, D. João de Castro e outras grandes almas portuguesas. Sendo um dos lusos-descendentes no Exército da Índia, extinto abruptamente após importantes serviços, veio para Lisboa muito novo graças à amizade de Tomás Ribeiro, elevou-se pelos seus dotes e obras ao posto de coronel e morrerá a 10 de Junho de 1930. Colaborou em várias revistas e jornais e foi mesmo director do Jornal do Comércio. Poeta de uma época cujo estilo mais avançado se denominava Parnasiano, com requintes grandes de linguagem, ao poder assistir às belas representações dramáticas de Sacuntalá, descreve-nos o típico ambiente indiano: «Andavam na atmosfera uns cálidos perfumes; / e à luz d’estrelas mil brilhavam, como lumes, / nos vermelhos turbantes, / mesclados os rubis, pérolas e os brilhantes. / Cruzavam-se no ar milhões de vagalumes; e as graves orações d’austeros celebrantes, / como um murmúrio imenso, / subiam até Deus nas espiras do incenso.»
Neste dia 27 de Março de 1894, Moniz Barreto, natural de Margão (15-III-1863), Índia, ensaísta crítico muito lúcido e amigo de Antero de Quental, escreve uma carta (hoje na Biblioteca Municipal de Coimbra) ao seu outro grande amigo Manuel da Silva Gaio onde manifesta o seu grande amor à cultura e aos grandes seres, em ideias de grande actualidade:«Aplaudo plenamente a ideia que V. nutre de escrever sobre os historiadores e poetas de geração heróica portuguesa, é um excelente assunto, uma obra patriótica, e ainda sob o ponto de vista pessoal é um bom passo de higiene moral. Nunca me aproximo das grandes figuras do nosso passado sem que receba consolação e estímulo. Nos tempos que atravessamos, e em Portugal mais que em nenhuma outra parte, de anonimato e miséria moral, o passado é um refúgio e um ante-gosto do futuro que os nossos olhos não hão-de ver, mas que a fé nos diz há-de exceder em beleza o passado.//Mais de uma vez tenho passado que se poderia fazer uma publicação útil: pequenos estudos biográficos e críticos de 150 a 200 páginas, sobre as principais figuras da nossa literatura antiga e moderna, qu incitassem o publico a ler os nossos bons livros nacionais e o habituassem a entendê-los. V., eu, o Alberto e mais dois ou três rapazes escolhidos podíamos em três anos lançar na circulação duas dúzias de volumitos que posessem em evidência o melhor da nossa literatura. O seu Garret estava indicado para fazer parte da colecção. Eu daria um Herculano e um Anthero. Pense V. nisto. O França Amado [editor conimbricense] podia encarregar-se da publicação, amigo como ele é de editar coisas úteis.»
Da digitalização pública da Biblioteca Nacional de Portugal..
28-III. Os padres Organtino, italiano, e Luís Fróis, em 1581, diante de um mapa-mundi, respondem ao regente Nobunaga que vieram de tão longe para salvar as almas dos japoneses. Nobunaga, bate palmas com espanto e diz: «Não podiam cometer tal viagem arriscada e cheia de perigos senão homens de muito grande ânimo e fortes corações». E rindo-se, confia-lhes: «Ou sois ladrões que pretendeis alguma coisa, ou o que pregais deve ser de muito momento».
Num auto-de-fé em Goa, em 1688, neste dia 28, são sentenciadas 58 pessoas, entre as quais «nove gentios acusados de cerimónias e ritos gentílicos praticados na nossa terra». Com o desaparecimento dos judaízantes, os hindus viram-se cada vez mais perseguidos e os simples cristãos indianos eram a todo o momento suspeitos de práticas supersticiosas ou gentílicas, donde o ambiente insidioso de medo que não escapou a alguns que dele reclamaram, tal Charles Dellon, Pyrard de Laval, e até vice-reis e governadores.
Nasce em Lisboa, ao pátio do Gil, na tão histórica rua de S. Bento, Alexandre Herculano em 1810, filho de Maria do Carmo Carvalho de S. Boaventura e de Teodoro Cândido de Araujo, e estudara na congregação dos Oratorianos de S. Filpe de Nery, no convento e hoje palácio das Necessidades, até aos 15 anos. Aos 21 participa numa revolta contra o absolutismo de D. Miguel, falhada, pelo que terá de refugiar-se num navio francês e exilar-se por França e Inglaterra, para o que estava preparado graças ao seu bom conhecimento de línguas. Voltará no exército liberal e participa corajosamente em lutas junto ao Mindelo e Porto, em 1832. Será nomeado pelo rei D. Pedro IV segundo bibliotecário da Municipal do Porto. Íntegro historiador, propugnador do municipalismo, patriota, anti-clerical e desgostoso da decadência do país, torna-se agricultor e produtorde azeite na quinta de Vale dos Lobos, que passara a dirigiar ao casar-se aos 57 anos com a Mariana Hermínia da Meira. Deixar-nos-á os seus romances históricos bem caldeados de erudição e recriação ambiental, a sua História de Portugal, em quatro volumes, que será a primeira com critérios mais científicos, a colaboração em várias revistas e polémicas, compilada nos seus valiosos tomos de Opúsculos, e uma História da Inquisição. Nesta obra pioneira, e que lhe trouxe bastantes ataques, mostra até onde pode ir a ignorância e a crueldade, e nesse sentido apelará noutra ocasião a uma cruzada santa contra as tendências guerreiras, interrogando: «Nesses dias, que porventura tardam menos do que muitos pensam, que destino darão os sacerdotes da bombarda, da lança e da espada aos seus deuses fulminados? As palavras façanha, glória guerreira, conquista, como serão definidas nos dicionários das línguas vivas, dentro de um ou dois séculos? Como julgará a história os milagres inventados para santificar o derramamento de sangue»? Outrora conquistadores, hoje pequenos, «para obtermos consideração basta que os nossos progressos intelectuais e morais mostrem à Europa que sabemos, queremos e podemos regenerar-nos pela ciência, pelo trabalho, pela morigeração».
Maharaj Saheb Brahm Sankar Misra, nasce em 1861 em Varanasi e foi o 3º guru do movimento Radhasoami. Profundo investigador dos planos subtis, deixou algumas indicações sobre os mistérios das correspondências espírito-somáticas que desafiam ainda hoje a ciência: «Na fissura entre os dois lóbulos do cérebro há doze aberturas que providenciam os meios para a comunhão com as seis subdivisões de Brahmand (mundo subtil) e com as seis da região já puramente espiritual. As primeiras aberturas encontram-se na matéria cinzenta, e as que pertencem à região puramente espiritual, na matéria branca... As localizações mais profundas das aberturas do cérebro devem ser procuradas para se obter comunhão e acesso às altas esferas. As explicações dadas são necessariamente afirmações de natureza ex cathedra, mas podem ser verificadas pela realização dos métodos devocionais ou experimentais aconselhados para o desenvolvimento dos centros cerebrais».
Nasce em Mappilaikuppam, Thanjavar, Índia, o pedagogo, devoto e espiritualista S. Viraswami Pathar, em 1903 e, depois de uma vida activa no ensino e no serviço público, onde foi por mais de uma vez elogiado e galardoado, escreveu alguns livros sobre a tradição espiritual indiana, nomeadamente sobre templos, Narayana e Gayatri, este num livrinho tanto erudito nas muitas citações, como espiritual na aspiração e devoção que partilha. Encontrei-me com ele em sua casa e dialogamos bem sobre a espiritualidade, tendo-me dado a sua iniciação no Gayatri. Eis uma das suas traduções versões do mantra: "Meditemos em Iswara (Savita) e a sua Glória (Devasaya) que criou o Universo, e que deve ser adorado (Varenyam), sendo o removedor de todas as faltas e ignorância (Bhargo). Possa ele iluminar o nosso intelecto", recomendando parar-se 5 vezes durante a recitação.Om/ Bhur bhuva svah/ Tat savitur varenyam/Bhargo devasya dhimahi/ Dhiyo yo na Prachodayat». A minha versão hoje é: «Om - invocação divina nos mundos terrenos, intermediários e celestias. Adoramos esta Fonte primordial, meditamos na Glória ilumindora, possa Ela abençoar a nossa alma.»
29-III. O 1º governador geral do Brasil Tomé de Sousa chega com a sua esquadra em 1549 a S. Salvador da Baía no Brasil, onde começa a edificar a cidade, sendo ajudado pelo famoso Caramuru — o homem de fogo — Diogo Álvares, natural de Viana do Castelo, que naufragando em 1510 vira os seus companheiros serem comidos pelos Tupinambás, mas como matara um pássaro com uma espingarda tornara-se digno de veneração, casando-se depois com Paraguassu, a filha do chefe índio Taparica.
Mestre João Bermudes morre em Lisboa em 1570, após uma vida muito aventurosa. Médico-cirurgião na embaixada à Etiópia de 1512 e na de 1520, regressa de lá nomeado patriarca em 1536, sendo confirmado em Roma como Patriarca de Alexandria, para pedir a D. João III, ajuda ao Preste João. Participa então na expedição de D. Cristóvão da Gama e exercerá o seu múnus com dificuldade, tanto mais que passara de cirurgião a patriarca sem saber pregar e nem sequer rezar os sete salmos penitenciais, como é lamentado na Informação mandada tirar pelo Padre Mestre Gaspar Barzeu, flamengo: «é homem que não tem nenhumas letras e com trabalho reza o seu ofício divino por não o saber melhor... não tem agora mando algum nem dignidade, nem crédito no Reino, nenhum caso se faz dele, não prega porque o não sabe fazer, andou na companhia dos portugueses sem dizer missa nem confessar haverá doze anos». Será a solidariedade dos portugueses que o libertará mesmo da prisão em que chegou a ser detido, escapando de Maçuá por barco até Goa. Virá a ser sepultado na igreja de S. Sebastião da Pedreira em Lisboa, depois de mais algumas andanças.
Entra para os jesuítas em Évora, em 1574, o limiense Sebastião Gonçalves e aspira à missionarização do Oriente. Virá a ser reitor do Noviciado em Goa, e escreve a História dos Religiosos da Companhia de Jesus e do que eles encontraram e fizeram no Oriente, cheia de acontecimentos maravilhosos, e onde mostra razoáveis intenções de comparativismo religioso: no Japão, numa disputa dum monge budista com S. Francisco Xavier, «se foi o bonzo descobrindo tão pitagórico e platónico» pois dizia que já o conhecera noutra vida e que quem tinha memória firme lembrava-se de quando morara noutros corpos.
Carta régia, pombalina, de 1758, ordena a perseguição dos jesuítas. Na Índia é o governador conde de Ega a executá-la. Apesar de valiosos serviços no campo da assistência e da educação, já no séc. XVI um funcionário de Goa acusava-os severamente para Lisboa: «para além de outros vexames e aborrecimentos que infligiam aos hindus para os constranger a submeterem-se ao baptismo, barbeavam à força muitos deles e obrigavam-nos a comer carne de vaca e a pecar contra os seus ritos idólatras e supersticiosos, porque não podem viver sem os seus serviços, tanto no que diz respeito ao cultivo dos seus palmares e quintas, como no que se refere a outras tarefas necessárias, essenciais aqui».
O pensador e escritor Ernst Yunger nasce na Alemanha em 1897. No Nó Górdio, embora equacionando sobretudo o confronto guerreiro e político do Este e Oeste, reconhece que a Europa e a Ásia «são duas residências, dois estratos da natureza humana, que cada um traz consigo» e escreve: «A quem soubesse desfazer o nó górdio, uma velha profecia prometia o império do mundo. Como se deve interpretar o golpe de espada com que Alexandre cortou o nó? Este acto tem algo de forte e convincente; parece conter mais do que uma resposta paradoxal a um oráculo e ao colégio dos sacerdotes. Ele simboliza todos os grandes reencontros entre a Europa e a Ásia. Ele manifesta-se aí como um princípio espiritual capaz de submeter o espaço a decretos novos e mais concisos».
30-III. Afonso de Albuquerque recebe em Ormuz em 1515 o embaixador do Châh Isma’il, imperador da Pérsia, numa cerimónia deslumbrante. O Islão na Pérsia, teve de enxertar-se numa cultura antiquíssima, na religião de Zoroastro, no platonismo grego emigrado e nas sagas aventureiras e amorosas, do que resultou a florescência de grandes místicos, os sufis, e a adesão ao credo shiaa. Esta dinastia shiaa, iniciada por Isma’il, governará entre 1500 e 1732 a Pérsia e parte do Afeganistão e, havendo assim certa cisão da unidade islâmica, os conflitos surgiam, sobretudo com os turcos, enquanto os persas interessados em Ormuz procuravam aliança com os portugueses. Os vice-reis tentarão manter relações cordiais através do envio de embaixadas, como aquelas em que participaram Fernão Álvares e António Tenreiro, de que ficaram Relações, e da presença de missionários, sobretudo os Agostinhos.
Frei Pedro de Amarante, franciscano, morre em Cochim em 1585, depois de ter obrado muitos prodígios em vida e, consta, de ter assistido clarividentemente à distante e funesta batalha de Alcácer Kibir.
Morre empaulado o famoso capitão Filipe de Brito Nicote no Pegu (Birmânia), em 1613, depois de doze anos de vitórias e governo notáveis.
O P. António de Andrade parte de Agra em 1624 acompanhando o imperador mogol Jahanguir até Deli, porém aqui chegado separa-se dele e vai de boleia, com o irmão Manuel Marques, numa caravana de peregrinos hindus que se dirigia para as fontes quentes do Ganges, em Badrinath, mas o seu objectivo é o Tibete. Será uma jornada épica em luta com os demónios e os feros elementos («nos pés, mãos e rosto, não tinhamos sentimento, porque com o demasiado rigor, estávamos totalmente sem sentido»), em paragens a mais de 5.000 metros de altitude, movidos por uma atracção misteriosa pelo povo tibetano, do qual trará dois rapazitos no regresso a Agra, quem sabe se os primeiros cristãos do Tibete. Aquilino Ribeiro, nos Portugueses das Sete Partidas, reconstitui fabulosamente a viagem.
Partem de Belém no hidroavião Lusitânia em 1922 os dois aviadores Sacadura Cabral e Gago Coutinho na 1ª travessia transatlântica, que culminará nos rochedos de S. Paulo, provocando grande entusiasmo nos dois povos, agora unidos pela primeira vez através do ar.
31-III. O cristão macaísta João Fernandes, enviado a toda a pressa de Pequim pelo P. Ricci para socorrer o irmão Bento de Góis, que viajara quatro anos de difíceis aventuras com os islâmicos, nas paisagens mais inóspitas, indo de Lahore pela região a norte do Tibete, o Turquestão, até à China, chega ao fim de cem dias de árdua viagem àquela cidade, porta da China, onde o irmão Bento Góis se encontrava retido, em 1603. «Na noite precedente, Góis, no seu leito de sofrimento, sonhara que tinham chegado pessoas vindas de Pequim e dissera a Isaac (o seu fiel ajudante arménio) para ir ao mercado comprar algo que pudesse ser dado de esmola pelo amor de Deus; esperava assim conseguir o que tinha visto em sonho. Ora, lá, anunciaram-lhe que pessoas de Pequim o procuravam. Quando Góis viu João Fernandes, quando ele ouviu dizer em português que ele era da casa da Companhia (de Jesus) e as razões de vir, acolheu-o como um anjo vindo do céu, e segurando nas mãos as cartas de Pequim, elevou-as ao céu, cantando com lágrimas de consolação todo o cântico Nunc dimittis servum tuum Domine, Agora demite o teu servo, Senhor, pois pensava ter terminado a sua viagem e completado a sua obra. Beijou com gratidão as cartas, e depois de as ler, passou a noite com elas sobre o coração», flamejante na beatitude, por ter atravessado todas as provações e estar agora, mesmo que impedido de confessar-se nos últimos anos, «pela grandeza de Deus... sem experimentar a mínima perturbação de consciência», pronto a entrar nas moradas prometidas por Jesus.
Falece o arcebispo de Goa, em 1622, D. Cristóvão de Sá e Lisboa. O jesuíta inglês P. Tomás Estêvão, dedicou-lhe o famoso Puranna ou auto cristão relatando a vida do mestre Jesus, segundo ele, composto ao modo da terra e no estilo de que os naturais mais gostam. Em verso concanim, adquiriu grande popularidade e, como os antigos puranas religiosos, era recitado pelo sacerdote, por algum bardo-sacristão, ou pelo povo, com grande gosto e edificação dos presentes.
Keshav, chefe do exército marata, escreve em carta datada de 1737 ao seu general: «os portugueses, mesmo que percam tudo quanto possuem, não são capazes de se render e pedir pazes».
O 14º Dalai-Lama e os seus mais próximos refugiam-se na Índia neste dia em 1959, numa fuga memorável, acossados pelas tropas chinesas. Se por um lado o Tibete vai começar a ser modernizado e colonizado ou integrado no modelo chinês, por outro outro serão aos milhares os Tibetanos perseguidos e assassinados. Quanto ao Budismo Tibetano poderemos dizer que tombou das suas alturas míticas e quase inacessíveis e começou a desfraldar as suas bandeiras de orações e de ensinamentospelo mundo inteiro, embora o contingente maior de Tibetanos, forçados a emigrar, se mantenha nas regiões limítrofes da terra-mãe. Mas no Ocidente há já bastantes centros difusores de ensinamentos de acordo com as diversas seitas ou linhagens, até por vezes já bastante influenciados pelo materialismo espiritual de que precisamente se queixava um dos seus lamas mais escutado na USA, Chogyam Trungpa Rinpoche (1939-1987), que contudo não conseguiu equilibrar aspectos da sua vida, apressando a sua desencarnação.
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