Iniciação, certamente um dos poemas mais mágicos, esotéricos e iniciáticos de Fernando Pessoa (1888-1935) e escrito nos últimos anos da sua vida, foi publicado pela primeira vez na revista coimbrã Presença, no nº 35 de Março-Maio de 1932. Contemplemos a sua reprodução:
Pela sua difícil ou exigente interioridade iniciática e espiritual ainda não conseguiu ser lido e discernido condignamente pela gens pessoana, embora Rudolf G. Lind e Fernando de Moraes Gebra, por exemplo, já fizessem afluir uma boa luz sobre ele.
Mas como há muita desinformação e manipulação quanto ao caminho Espiritual, nomeadamente em Fernando Pessoa, convém tentarmos clarificar, na medida do possível ou parcelarmente, tal processo, realização e vivência...
Mas como há muita desinformação e manipulação quanto ao caminho Espiritual, nomeadamente em Fernando Pessoa, convém tentarmos clarificar, na medida do possível ou parcelarmente, tal processo, realização e vivência...
A Morte, qual esfinge, sobre a Roda da vida, e a borboleta ou psique humana voltejante, e sob o esquadro e compasso do grande Arquitecto do Universo, expressão tradicional do que se tem intuído de uma ordem divina, sincronizadora e inspiradora, e de um Ser Primordial, mais até do que um Demiurgo, a quem nos devemos religar, merecida, amorosa e gratamente. (Mosaico romano de Pompeia).
Meditemos
e sintamos então o que se transmite nos versos, tentando,
iniciaticamente, sairmos da identificação e apego ao corpo físico e à
personalidade e, consciencializando-nos das vestes e capas "assombrosas" dos corpos
subtis, passarmos, finalmente,
à nudez simples da consciência do Ser em si mesmo, do Espírito de
origem Divina, capaz então de comunicar ou ser instruído
supra-terrenamente pelos Mestres ou espíritos "mais" realizados, tal como o poema indica numa linguagem ascensional própria do ocultismo ou das ordens mágicas do começo do séc. XX, que Fernando Pessoa estudara e recriava numa linha sua, com bastante incidência no corpo:
INICIAÇÃO
Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
..........................................
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa:
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Pois não há sono no mundo.
..........................................
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa:
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
.........................................
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.
............................................
Néofito, não há morte.»
Ressurreição, no Tarot mais antigo (circa 1450), italiano, dos Visconti.
Embora sendo um poema de ensaísmo iniciático, quer tenha sido talhado racionalmente ou escrito inspiradamente, ele tem bastante sabedoria e força, condensando uma vida de estudos ocultistas, nos quais a demanda iniciática foi uma presença importante ou fundamental, tendo sido dado talvez até já à luz-sombra do pressentimento da aproximação da morte ou desincarnação, que ele aliás tentou prever astrologicamente.
Demanda na qual o entendimento dos símbolos e a sensibilidade a eles foi muito valorizada pois, por tais modos, os sentidos e caminhos ascensionais da vida se revelariam melhor; daí as suas múltiplas leituras ocultistas e simbolistas que a sua biblioteca espelha, hoje na Casa-Museu em Campo de Ourique, e das quais assinalou em carta juvenil de 1915 a Mário de Sá Carneiro, como das mais importantes no impacto anímico-espiritual, a de Hargrave Jennings, The Rosicrucians, their Rites and Mysteries (de 1907), e as de Teosofia que estava traduzir para a Editora A. M. Teixeira, leituras que depois foi aprofundando em várias direcções, em relação às teosóficas opondo-se mesmo, as quais se depreendem ou reflectem dos seus ensaios, fragmentos e poemas mágicos, ocultistas, iniciáticos.
No ano de 1915, em pleno período de euforia dos dois números da revista Orpheu, experimentou alvoradas dos sentidos supra-físicos, o que de certo modo constitui uma iniciação, ou um sinal dela, tal como escreveu, ainda que cinco anos, depois à sua namorada Ofélia Queiroz, para em parte justificar, exagerando ou não, o rompimento do namoro: «O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam».
Ora neste poema escrito já em idade madura podemos ver a morte tanto literal como morte interior em vida, em ambos os casos dentro um percurso iniciático, no qual os iniciadores de sucessivos planos - Anjos, Arcanjos e Deuses, ou seja, estes últimos as entidades ainda mais elevadas que os Arcanjos e às quais Fernando Pessoa se refere em alguns fragmentos acerca dos graus das Ordens Mágicas - abrem o iniciando a limpezas ou reduções de conteúdos de consciência exteriorizante, as quais culminam na entrada da gruta ou caverna, tanto telúrica como do íntimo Ser, onde se reconhece, verticalizado ou axializado entre os ciprestes, árvores de folha perene, como um espírito imortal e divino, e donde retorna iniciado, seja porque lhe dizem e o sente, seja porque o sente e o diz, ou nos diz: "Não há morte, Neófito!"...
Certamente que há outros aspectos subtis e simbólicos de estados conscienciais nas imagens e palavras empregadas por Fernando Pessoa, tais como a multicolorida e animada Estalagem do Assombro, ou ainda a nudez que corresponde ao silenciar de todo o pensamento e identificação externa, mas tal aprofundamento irá sendo realizado aqui progressivamente ou mesmo noutro texto futuro...
Certamente que há outros aspectos subtis e simbólicos de estados conscienciais nas imagens e palavras empregadas por Fernando Pessoa, tais como a multicolorida e animada Estalagem do Assombro, ou ainda a nudez que corresponde ao silenciar de todo o pensamento e identificação externa, mas tal aprofundamento irá sendo realizado aqui progressivamente ou mesmo noutro texto futuro...
A iniciação foi lida e estudada, concebida e intuída por Fernando Pessoa tantas vezes e por tantos modos (tendo tido mesmo projectos de livros, dos quais há textos de duas ou mais páginas) que consideraremos agora apenas alguns aspectos, tais como o intensificar da capacidade de compreensão sentida do interior dos seres e coisas, a que chama o lado simbólico ou espiritual da Vida, ou ainda o ser a iniciação como um sopro anímico-espiritual que é transmitido por símbolos, acontecimentos ou por alguém.
No seu caso devemos mencionar mais especificamente como seus relativos mestres ou iniciadores alguns dos seus familiares, como a tia Anica e, alegadamente em textos de escrita automática, o pretenso espírito do platonista de Cambridge Henry More e, depois, por presença real e forte o mago e ocultista inglês Aleister Crowley, com quem se encontra algumas vezes no ano 1930 quando o chefe da Ordem da Golden Dawn esteve em Lisboa, e, por fim, subtil e espiritualmente, o mestre Jesus Cristo.
Iniciação que foi e é também, como ele escreve, um dissipar gradual de ilusões ou um despertar energético-consciencial e unificador e unitivo, que abre o ser às dimensões subtis e espirituais, suas, dos outros e do Universo.
No seu caso devemos mencionar mais especificamente como seus relativos mestres ou iniciadores alguns dos seus familiares, como a tia Anica e, alegadamente em textos de escrita automática, o pretenso espírito do platonista de Cambridge Henry More e, depois, por presença real e forte o mago e ocultista inglês Aleister Crowley, com quem se encontra algumas vezes no ano 1930 quando o chefe da Ordem da Golden Dawn esteve em Lisboa, e, por fim, subtil e espiritualmente, o mestre Jesus Cristo.
Iniciação que foi e é também, como ele escreve, um dissipar gradual de ilusões ou um despertar energético-consciencial e unificador e unitivo, que abre o ser às dimensões subtis e espirituais, suas, dos outros e do Universo.
Este processo gradual foi também classificado por Fernando Pessoa como uma alquimia espiritual e em textos assinalou mesmo que tipos transmutações nos nossos metais interiores deviam acontecer, nomeadamente o Cobre do Egoísmo que devia passar a ser desinteressado e assim estar mais na Liberdade, a Prata da Vaidade que se deveria transmutar e aproximar-se da Igualdade entre os seres e, finalmente, o Ouro do Orgulho ultrapassado, sublimado, ao se aprender e ao realizar-se mais a Fraternidade, tal como Fernando Pessoa, contra ou vencendo a sua linha ou tendência mais individualista e selectiva, consegue afirmar em alguns raros textos.
Neste sentido corre a purificação final do poema da Iniciação, quando os Deuses, ou seres mais elevados, o despem de subjectividades e especulações e fica nu ou exposto ao núcleo ígneo e solar do espírito, algo que Fernando Pessoa contudo não vivenciou tanto como desejaria em vida. Mas reconhecer-se-á, tanto no poema como em vida, ainda assim, como irmão desses elevados seres, a quem chamou num poema de 1934 Superiores incógnitos, por mim lido e transcrito na obra Poesia Profética, Mágica e Espiritual, em 1989.
No sentido iniciático (interior e não de iniciações externas) da alquimia áurea, do processo de transformação espiritual incessante e longo, escreveu ainda: «A Grande Obra é o elaborar em nós, no sentido estrito e pessoal, a transmutação do chumbo do nosso ser perecível no ouro do nosso ser que não perece.»
Este poema dirige-se então, e orienta-nos, para a entrada profunda e libertadora em nós mesmos - espíritos supra-cerebrais - capazes de, chegada a hora da morte, atravessarmos o umbral ou abismo da extinção da consciência cerebral e entrarmos pelos planos energéticos, astrais e psíquicos, estando já unificados e identificados à centelha divina em nós e, quanto a mim, no corpo espiritual que conseguirmos talhar ou gerar em vida....
Na demanda de realização desta consciência superior interna convergem em Fernando Pessoa certas interrogações elevadas por ele feitas, que transcrevemos traduzindo do inglês:
«Individualmente alma e corpo são um, mas a alma é mestre do corpo no sentido inferior, assim como o Cristo é mestre no sentido interior. Está o mestre separado contudo inseparado? Quando a morte ocorre a unidade dual torna-se uma unidade dupla? É este o significado da frase Grega, “morrer é ser iniciado"?»
Refira-se que este "morrer é ser iniciado", que vinha da milenária Antologia Grega, fora também utilizado por Antero de Quental, como epígrafe inicial de um dos seus sonetos, donde Fernando Pessoa o deverá ter retirado, e por isso neste artigo inserimos então a imagem de um poema de Antero dessa luta entre Anteros, o Anjo do Amor correspondido, e Thanatos, o Anjo da Morte, que tanto ele como Fernando Pessoa viveram, por vezes bordejando e cultivando abismos perigosos e incomensuráveis nas suas repercussões, e que o Fausto e o Livro do Desassossego, a sua "produção doentia" como lhe chamava, muito contêm ou exalam...
Antero de Quental foi muito admirado-amado e elogiado, por Fernando Pessoa, sobretudo em jovem, traduzindo até muitos dos seus sonetos para inglês, mas mais tarde escreveu num apontamento que Antero sucumbira às provas iniciáticas da Ordem de Cristo, por ter tido relações maçónicas, num apontamento pouco claro e algo mistagógico, ou seja, imaginário, se bem que possamos pensar que Fernando Pessoa considerara maçónica a Ordem do Raio, que Antero de Quental estudante em Coimbra fundara com os irmãos Sampaio e dinamizara, quando tal ordem só mais tarde, e já quando Antero não estava nela, se tornou uma ordem maçónica.
Claro que Fernando Pessoa literariamente considerou-o sempre a grande ponte, com Cesário Verde, para o Modernismo do séc. XX. Ora Antero, como todos sabemos, escreveu muitos sonetos ligados à Morte que ele tanto cultuou, e afirma o "morrer é ser iniciado", mas não desenvolve a viagem iniciática no além, e em graus ascendentes, como vemos nesta descrição de Fernando Pessoa, que certamente podemos pôr em causa na exactidão da imaginação esquemática dada por Fernando Pessoa, na qual põe em acção duas das tradicionais ordens celestiais, Anjos e Arcanjos e, depois, seus superiores, os Deuses, a participarem no processo iniciático, trabalho ou processo de unificação interior que deve acontecer ainda em vida terrena, com a ajuda do Eu espiritual, do Anjo da Guarda, do Mestre e do Corpo místico da Humanidade a que tem acesso. Esta unificação também ocorre com a morte mas diz-se que mais demoradamente. E certamente em ambos os casos (vida e morte) sem esta presença de tantas entidades ou seres espirituais tipificadas, exigidas por preconceitos esquemáticos ascensionais especulativos, provavelmente por força sugestiva do que lera e aprendera pela ordem da Golden Dawn, então dirigida pelo mago algo extremista Aleister Crowley.
Quem deu uma valiosa visão do processo ascensional da morte iniciática foi o humanista do séc. XV Giovanni Pico della Mirandola, ao considerae a primeira morte como a separação da alma do corpo e a segunda morte como o beijo e abraço da alma com Vénus isto é o Amor Divino, algo que infelizmente nem Antero de Quental nem Fernando Pessoa conseguiram muito, embora Antero, na sua juventude, estudante e poeta do Mondego, tenha voado muito alto nas asas do Amor humano, platónico e não só, e no Amor divino à Verdade, ao Bem e ao Belo. Mas quando morreu, até onde ele subiu, libertando-se precoce ou voluntariamente da tumba (sema, como lhe chamavam os iniciados gregos órficos) do corpo (soma) e na, e rumo à, Mors-Amor libertadora, e quem o poderá ter ajudado, não é fácil intuir-se. De igual modo, a passagem transicional de Fernando Pessoa é, quanto aos seus guias no momento e no além, um mistério.
Antero de Quental foi muito admirado-amado e elogiado, por Fernando Pessoa, sobretudo em jovem, traduzindo até muitos dos seus sonetos para inglês, mas mais tarde escreveu num apontamento que Antero sucumbira às provas iniciáticas da Ordem de Cristo, por ter tido relações maçónicas, num apontamento pouco claro e algo mistagógico, ou seja, imaginário, se bem que possamos pensar que Fernando Pessoa considerara maçónica a Ordem do Raio, que Antero de Quental estudante em Coimbra fundara com os irmãos Sampaio e dinamizara, quando tal ordem só mais tarde, e já quando Antero não estava nela, se tornou uma ordem maçónica.
Claro que Fernando Pessoa literariamente considerou-o sempre a grande ponte, com Cesário Verde, para o Modernismo do séc. XX. Ora Antero, como todos sabemos, escreveu muitos sonetos ligados à Morte que ele tanto cultuou, e afirma o "morrer é ser iniciado", mas não desenvolve a viagem iniciática no além, e em graus ascendentes, como vemos nesta descrição de Fernando Pessoa, que certamente podemos pôr em causa na exactidão da imaginação esquemática dada por Fernando Pessoa, na qual põe em acção duas das tradicionais ordens celestiais, Anjos e Arcanjos e, depois, seus superiores, os Deuses, a participarem no processo iniciático, trabalho ou processo de unificação interior que deve acontecer ainda em vida terrena, com a ajuda do Eu espiritual, do Anjo da Guarda, do Mestre e do Corpo místico da Humanidade a que tem acesso. Esta unificação também ocorre com a morte mas diz-se que mais demoradamente. E certamente em ambos os casos (vida e morte) sem esta presença de tantas entidades ou seres espirituais tipificadas, exigidas por preconceitos esquemáticos ascensionais especulativos, provavelmente por força sugestiva do que lera e aprendera pela ordem da Golden Dawn, então dirigida pelo mago algo extremista Aleister Crowley.
Quem deu uma valiosa visão do processo ascensional da morte iniciática foi o humanista do séc. XV Giovanni Pico della Mirandola, ao considerae a primeira morte como a separação da alma do corpo e a segunda morte como o beijo e abraço da alma com Vénus isto é o Amor Divino, algo que infelizmente nem Antero de Quental nem Fernando Pessoa conseguiram muito, embora Antero, na sua juventude, estudante e poeta do Mondego, tenha voado muito alto nas asas do Amor humano, platónico e não só, e no Amor divino à Verdade, ao Bem e ao Belo. Mas quando morreu, até onde ele subiu, libertando-se precoce ou voluntariamente da tumba (sema, como lhe chamavam os iniciados gregos órficos) do corpo (soma) e na, e rumo à, Mors-Amor libertadora, e quem o poderá ter ajudado, não é fácil intuir-se. De igual modo, a passagem transicional de Fernando Pessoa é, quanto aos seus guias no momento e no além, um mistério.
Outro aspecto que resulta da demanda pessoana da Iniciação é inegavelmente a valorização da intuição pois, a iniciação, através do estudo e da sensibilidade simbólica, deveria resultar num desenvolvimento da compreensão e intuição do lado interno e divino dos seres e da coisas, dimensão que tanto nos inclui a nós como aos outros e os ambientes, pois para Fernando Pessoa também eles (ou mesmo paisagens) são dotados de alma, como por mais de uma vez o afirmou, numa certa intuição da unicidade da existência, a denominada anima mundi dos antigos greco-romanos.
Neste entendimento, a iniciação é primacialmente uma gnose, um auto-conhecimento espiritual e libertador cultivado, realizado e transmitido, embora com diferentes níveis, desde os tempos mais antigos em quase todos os povos, no Ocidente mais reconhecidamente nos Mistérios Gregos (algo que Fernando Pessoa afirmou repetidas vezes, referindo a filiação neles dos gnósticos, dos templários e das ordens secretas), até aos nossos dias, e assim, no seu testamento espiritual de 30 de Março de 1935, Fernando Pessoa afirma-se religiosamente Cristão Gnóstico e confessa-se iniciado na tradição e ordem Templária.
Neste sentido o seu Mestre principal (e tantos foram os textos e poemas em que referiu os Mestres e os Anjos, tal como demonstrei nas entradas respectivas no Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, coordenado por Fernando Cabral Martins) e o que terá mais invocado no fim da vida, e quem sabe à hora da morte, sempre misteriosa e sobre qual incide o seu último e humilde pensamento e texto conhecido: "I know not what tomorrow will bring", "Desconheço o que o amanhã trará", teria sido o mestre Jesus, o Cristo, directa ou indirectamente...
Muito provavelmente será a quem alude na carta autobiográfica a Adolfo Casais Monteiro, de 13-I-1935, talvez lembrando-se de Antero de Quental quando este se descreveu em 14-V-1887 a Wilhelm Storck. Nessa carta, explicando o seu ocultismo, refere o Grande Arquitecto do Universo, mas que não acredita na comunicação directa com ele, mas sim com seres intermediários. Será noutros fragmentos e textos que Pessoa afirmará ser Jesus um laço ou o laço entre a Humanidade e a Divindade...
Ora no seu testamento auto-biográfico de 30-III-1935, oito meses antes de desencarnar, reafirmará isso: «Posição iniciática: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.»
Porque preferiu Ordem Templária de Portugal à designação de Ordem de Cristo de Portugal, com que por vezes se identificou ou epigrafou textos, é significativo embora ainda pouco esclarecido...
Ora no seu testamento auto-biográfico de 30-III-1935, oito meses antes de desencarnar, reafirmará isso: «Posição iniciática: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.»
Porque preferiu Ordem Templária de Portugal à designação de Ordem de Cristo de Portugal, com que por vezes se identificou ou epigrafou textos, é significativo embora ainda pouco esclarecido...
Quanto à capa ao ombro do poema não será a de um cavaleiro templário em iniciação, pois não diz ele que foi iniciado nos três graus menores da Ordem?
Certamente que este poema e, no fundo, a Iniciação em Fernando Pessoa, em nós e na História é uma demanda da jóia ou cálice precioso do Graal, da comunhão do Espírito...
Possa a leitura recitada ou de cor, ou meditada silenciosamente, do poema da Iniciação produza harmonizar e despertar interno anímico-espiritual e florescimentos bemfajezos, é o que todos desejamos ou aspiramos, ou seja, que brilhe mais tanto a auto-consciência espiritual como o Dharma, missão e dever de cada um, no grande Campo unificado de consciência, energia e informação, tanto mais que planeta física e eticamente está tão necessitado de acolher e desenvolver mais a Luz, a Fraternidade e o Amor divinos...
Pax, Lux, Amor! Vale!
Unio Mystica, pintura do mestre alemão Bô Yin Râ.
11 comentários:
Muito espiritual, revelador de intensa caminhada ...
Sim, se foi intensa e constante ou antes insuficiente para o que ele quereria é uma questão...
Graças pela sua graça!
Parabéns, Pedro! Excelente artigo! É tão difícil compreender Fernando Pessoa! Obrigada!
Parabéns, Pedro! Excelente artigo! É tão difícil compreender Fernando Pessoa! Obrigada!
Muitas graças! Não está ainda muito perfeito o texto mas de facto interpretar e explicar estes vários níveis não é muito fácil ou exigiria bastantes mais linhas e citações... Contudo compreender Fernando Pessoa é mais fácil do que as pessoas pensam, sobretudo quem aprofunda mais a sua vida e obra sem preconceitos nem fanatismos e com uma consciência e prática espiritual...
Quando tiver dúvidas, força, e tentarei de algum modo clarificar...
Coitada da Ofélia...E porquê ciprestes e não acácia ?
Sim, Clerence, de certo modo ou em parte ela foi sacrificada a mais altos desígnios, mais ou menos mitificados. Os cipestres eram bastante mais utilizados na tradição greco-romana e pitagorica. A Acácia sempre viva está mais relacionada com a Maçonaria... Esta recriação da ascensão iniciática está mais afim das Altas Ordens ritualistas do séc. XIX e XX, ocidentais...
Até muito recentemente esta faceta espiritual de Pessoa ficou na penumbra do meu conhecimento
sabia vagamente o seu interesse pela astrologia, mas perante a Esmagadora obra ficou na sempre na penumbra ,assim como uma curiosidade, sobre ele vou descobrindo agora estas vertentes do poeta que tanta influência teve,tem e terá na minha personalidade,venho registar com apreço a existência deste espaço de conhecimento,certamente andarei por aqui descobrindo com algum deslumbramento confesso,sentindo-me mais enriquecido ,o meu obrigado e até breve
Álvaro de Moura Mendes de Sousa
Muitas graças pela sua apreciação, Álvaro. Na verdade é uma vertente bem importante em Fernando Pessoa, a do seu ocultismo e espiritualidade, embora tenha sido bastante menosprezada e mal aceite e interpretada... No Youtube também encontrará alguns vídeos de palestras. Alguma questão, força!
Também pensei na acácia da Maçonaria no lugar do cipreste.
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