O Festival Europeu O Mundo que nós Escolhemos, realizado de 27-29 de Maio em 1983, em Heizel, Bruxelas, foi um momento importante e significativo no panorama das alternativas e da espiritualidade na Europa.
Tendo participado durante os três dias e convivido com várias pessoas valiosas, e tendo partilhado algumas das suas mensagens em escritos, cartas e conversas, mesmo assim muitas não foram mencionadas, e basta lembrar que havia cerca de 500 pavilhões.
Tendo finalmente encontrado o catálogo do Festival, um in-4º de 85 páginas, vou resumi-lo e mencionar as pessoas, actividades e pavilhões ou stands, pois na internet quase nada se encontra e a História humana preserva-se e aprende-se na transmissão dos registos mais ou menos fidedignos dos acontecimentos e seus intervenientes...
Nos agradecimentos iniciais do catalogo é muito bem exposta a visão causal do que se estava a celebrar e debater: «Se as vias são múltiplas e diversificadas, por vezes mesmo contraditórias ou inconciliáveis, parece claramente que a melhoria das condições de vida sobre a Terra devem necessariamente responder às cinco condições que por ocasião do Festival desejamos afirmar claramente: consciência ecológica, crescimento pessoal, não-violência, dimensão comunitária da vida (e promoção dos mais desfavorecidos), autogestão.
Pertence a cada um de nós, através do nosso empenho pessoal na vida diária, de fazer a demonstração e de participar na irreversível conspiração em doçura, que levará firmemente o nosso mundo, em crise de crescimento, para um futuro à altura do seu destino».
Segue-se um pequeno texto, com algumas diferenças, em inglês, flamengo e francês, valioso também de ser transcrito para vermos a consciência holística então em grande força na Europa mais culta e avançada consciencialmente. Infelizmente sabemos como o capitalismo, o liberalismo e o imperialismo sabotaram quase todas as melhores semente e realizações mundiais.
«The present decade is a period of high tension, crucial chalenge and change for mankind. If disaster is to be avoided, major adjustment are necessary in global economy, ecology, food production, ressource use, disarmment, as well as in education and personal development. Because so many problems are becoming acute at the same time, they blend in a mega crisis in which no problem can be dealt separatly. A new approach is needed, which involves a major shift in our ways of seeing and doing things. Now more than ever, there is an oportunity to propose, develop and build new creative policies and structures more responsive to global huma need and to the long term requirements of the planet's ecosystem. Thousands of organizations of concerned people throughou the world have been conscious of the global crisis and have been respondding with activities to increase awareness and to offer positive alternative sugestions for a humane world... Their convergence can greatly strenghten their impact. It is time for the collective voices to be heard.»
Tradução: «A presente década é um período de alta tensão, desafios cruciais e mudanças para a humanidade. Para o desastre a ser evitado, são necessários grandes ajustamentos na economia global, ecologia, produção de alimentos, uso de recursos, desarmamento, bem como na educação e desenvolvimento pessoal. Dado que tantos problemas estão a tornar-se agudos ao mesmo tempo, eles misturam-se numa mega rise na qual nenhum problema pode ser tratado separadamente. É necessária uma nova abordagem, que envolva uma mudança significativa nas nossas formas de ver e fazer as coisas. Agora, mais do que nunca, há uma oportunidade de se propor, desenvolver e construir novas políticas e estruturas criativas que respondam mais às necessidades humanas globais e aos requisitos de longo prazo do ecossistema planetário. Milhares de organizações de pessoas preocupadas em todo o mundo têm consciência da crise global e têm respondido com atividades para aumentar a consciencialização e oferecer sugestões alternativas positivas para um mundo mais humano... A sua convergência pode fortalecer enormemente o seu impacto. É hora de as vozes coletivas serem ouvidas.»
Segue-se a descrição das Animações que se realizaram: Novos Jogos, com a norte-americana Janet Spector que vivia na Holanda./ Animação para Crianças, com Janet Spector e Lex Van Someren, que dinamizou também mímicas, palhaço e movimentos./ Danças Folclóricas, com o grupo Courtraisten "Den Eglantier"./ Danças Sufis com Sarawasti e Prajapati O'Neil./ Tai Chi, com o mestre Kuo-Chi/ e Aikido, com o Sugano Senzei./
Das Conferências, registemos: Ordem dos Rosa Cruz./ As transformações segundo Y Ching e a Sabedoria Chinesa, por Ezechiel Saad./ Unidade e Diversidade, por Solange Demeyer./ Ecologia, Alimentação e Vida moderna, por Bernardo Gentil./ Silva Mind control ou psico-orientologia Silva./ A Vida serviço, a Trindade da Esperança, por Michael A. Daddio./ A Árvore da Vida, Rowena Pattee./ - Pompedia de diálogo planetário, por Harrie Smeets./ "A Fome, eu jamais?", filme realizado por Irmãos dos Homens, Internacional e Terra dos Homens./ Escolher ou sofrer a informática, por Edouard Houtart, director do CREDOC./ O caminho da vida opera, ou A maneira na vida funciona, por Lindsay Rawlings, co-presidente da Human Unity Conference./ Como a publicidade mata o interhumano, por Luís Darms./ A imagem das mulheres e dos homens nos manuais escolares, por Rita Demonceau-Bonjean./ Homeopatia, medicina para o Mundo que nós escolhemos, por Jacques Grosjean./ A comunidade de Findhorn, uma vila planetária, por Michael Lindfield./ Para uma outra defesa pelo transarmamento, Robert Dedouai./ Uma economia extra Nações Unidas, para todos os seres, Peter Kooistra./ Esperanto, um instrumento de comunicação transnacional, por Marc Demont./ A drenagem linfática segundo o Dr. Vodder, por Evelyne Selosse./ Resiliência não-violenta, por Patricia Patfoort./ Os benefícios dos vegetais crus, por Jan Dries./ A importância das palavras neste mundo que nós escolhemos, por Jeannine e Guerino./ Cura por um modo de vida natural, pela irmã Myrian Verwilghen./ Existe um esoterismo científico: a resposta é a psicologia, por Pierre Lux, neuro-psiquiatra.
Vídeo: A Natureza da Mente: Discussão entre Krishnamurti, David Bohm, John Hidley./ Conferências: As cooperativas, um corrente que se reinicia, pelo Ita Gassel./ A comunidade de Eourres em França, por Gilles Roy./ Ser à escuta das pessoas, por Alfredo Vanesse./ A escravatura [ou tirania, asservisement] médica, pela Liga Nacional para a liberdade das vacinas da Haute Garonne, na qual se questionava: "Podemos libertar-nos da escravidão médica? Sim, por uma procura de informação séria e por uma tomada de consciência das verdadeiras causas da doença."/ Saúde da Pessoa, Saúde do Mundo, por Georges Demaitre, presidente do centro Gandhi em Bruxelas./ O Método natural de planeamento familiar, por Gerard Loriaux./ O Yoga e o Ocidente, por André van Lysebeth, com demonstração./ A Luz interna consciência, o meta-humano, por Michel Greeman, coordenador da Inner Light Consciousness na Bélgica [fundada por Paul Salomon, educado nos Baptistas e dava mensagens em transe; organização algo pró-sistema]/ A Luz Interna Consciência [do mesmo], a meta-mens, por Gerda Van Wenen./ Trabalhando no conhecimento e no ser, por Eric Mayeur./ O trabalho, a sabedoria e o Homem, por Ignace Vandaele./ A árvore da vida, filme de animação por Rowena Pattee./ Quarto Mundo, referência dum mundo para o homem, por André Modave.
Conferências e filmes no grande auditório, no Palácio 7, hall 7: Filme de longa metragem, "L'Homme aprés l'Homme", da televisão indiana, com intervenção de Satprem [discípulo de Sri Aurobindo e da Mother] e Indira Gandhi. [https://www.youtube.com/watch?v=l4bWn3g5BsI]
Conferência de Jean Charon, "Rumo ao homem do plano duplo: racional e intuitivo." Sobre as propriedades neguentropicas dos electrons que seriam o elemento espacio-temporal portador do espírito no nosso universo.
Conferência de Bernard Benson, "Guerra ou Paz, a escolha pertence-nos", onde transmitiu a sua convicção de que podemos escolher a paz, e os seus projectos de levar crianças aos chefes de Estado com mensagens de paz.
Conferência dos professores Agnes Lejnowicz, e de Allain Gauthier , "O Sol, como modelo de inteligência para a organização da vida." Ligados ao ensinamento de Omraam Mikael Aivanhov.
Conferência de Peter Schmidt: "A Arquitectura na emergência duma cultura nova".

Música e canções de hoje. Espectáculo musical do grupo EPISODE, com Maria de Martynoff, Yves Uzureau e o grupo flamengo SNAAR.
Meditação criativa: Luz e Paz. animada por Michael A. Daddio, Herman Elegast e Gudo Cassiman.
Interpretação teatral do Livro da Paz de Bernard Benson, por cinquenta crianças.
Debate: Passagem à Planetarização, moderado por Michael Greenman, e com Donal Keys, o Iniciador do Congresso Planetário a realizar em Toronto, em Junho; Michael Lindfield, da Fundação de Findhorn, coordenador da Iniciativa Planetária na Europa; Raymond Dury, membro do Parlamento Europeu, Thomas Okelo Odongo [faltou], e Bernard Benson, autor do Livro da Paz.
O debate quer explorar por um lado a necessidade de um reforço do poder real dos organismos internacionais como meio para assegurar a segurança e a cooperação internacional, por outro lado, a educação global ou o desenvolvimento duma consciência planetária indispensável à emergência duma nova atitude permitindo a síntese entre a autogestão e a cooperação.
Segue-se no catálogo a apresentação biográfica dos principais conferencistas. Jean Charon, Bernard Benson, Peter Schmidt (Roma, 1935) Donald Keys, Thomas-Okelo-Odongo, Raymonde Dury, Michael Lindfield, o coordenador europeu dos Planetary Citizens.

A Participação das Escolas constava de desenhos, dissertações, inquéritos, poemas, que foram resumidos em duas páginas.
Lista dos expositores por ordem alfabética e com o número do stand.

Houve também diariamente os networking meetings, os encontros de rede, numa sala, divididos pelos temas: paz e não-violência, crescimento pessoal, consciência ecológica, vida cooperativa ou comunitária e auto-gestão.
Por fim, da pág. 49 à 81 do catálogo, a lista, directório ou reportório dos participantes, onde destacamos Brunner, Ruth (Institute for Planetary Syntesis, e com quem fiz amizade e correspondência); Goetmann, Alphonse e Rachel (centro Betâmia, onde fui estar uns dias depois); Greenman, Michael & Donna (Inner Light Consciousness); Michel, Yves (Editora Soufle d´Or e Evéil a la Conscience Planetaire, bom amigo e em cujo centro em Chamarande estive duas vezes); Melikina, Monik, artista, pintora;/ Mota, Pedro (professor de yoga e militante ecológico); Patte, Rowena, artista (com quem dialoguei bem); Pelissier, Helene (Findhorn, Evéil a la Conscience Planetaire, e com quem fiz amizade e diálogos); Thelman, Key en Niko (Iniciativa Planetária).
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| Duas das páginas dos participantes, e onde estou mencionado. |
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E eis o catálogo resumido, e um pouco da história das movimentações e ideias alternativas valiosas dos anos oitenta, tão esperançosas mas que politicamente iriam ser algo marginalizadas dos centros de poder político. Já publiquei alguns artigos no blogue relacionados com a Iniciativa Planetária e este Festival O Mundo que nós escolhemos...