quarta-feira, 15 de outubro de 2025

A Utopia de Thomas More, por José V. de Pina Martins. Vídeo da tradução comentada do prefácio ao livro. João de Barros e o valor das fábulas e utopias.

 José Vitorino de Pina Martins, em 1983, homenageou Thomas More, publicando em francês Thomas More au Portugal, onde reúne dois estudos, um mais breve do seu amigo Fernando de Mello Moser, intitulado La Très ancienne renomée de More au Portugal,  e outro seu, L'Utopie de Thomas More au Portugal (XVI et début du XVIIª siècle), prefaciando-os com um texto também valioso, que resolvemos lê-lo e traduzi-lo em simultâneo, como pode ouvir em duas partes no Youtube. Muitos outros textos dedicou ele a Thomas More, que se tornou mesmo o seu humanista preferido, logo após Pico della Mirandola, Erasmo, Sá de Miranda e Damião de Goes, mas acabou por ser este em francês o que escolhi para traduzir e acrescentei-lhe alguns breves comentários que me brotaram espontaneamente. 

À introdução de nove páginas, assim lida e traduzida, segue-se  no livro transcrição do texto de Fernando de Mello Moser de nove páginas, onde apresenta os elogios de sete humanistas portugueses a Thomas More, e depois em trinta e seis páginas o ensaio de José V. de Pina Martins. As últimas quatorze páginas contêm textos de Damião de Goes e  Jerónimo Osório, sobre Thomas More, em latim, e traduzidos  em francês. 

Por fim, conclui-se com a defesa do valor das fábulas e utopias  que o historiador e  admirador de Erasmo, João de Barros (1496-1570) teceu no seu culto prefácio à Década Terceira, da Ásia, e que pela sua grande qualidade resolvemos em sintonia com o nosso querido amigo e sábio José de Pina Martins transcrever para este blogue e para a net. até pela afirmação da cavalaria de Amor e da Philosophia Perenis:  «Fábulas são as de  Homero em nome, e argumento; mas nelas vai ele enxertando o discurso da vida activa e contemplativa, e por isso o proémio das Pandectas do Direito Civil lhe chama o Imperador Justiniano pai de toda virtude. E Macróbio diz dele, que é fonte, e origem de todas divinas invenções, porque deu a entender a verdade aos sapientes debaixo de uma nuvem de ficção poética. Fábula é a Ciropédia de Xenefonte; mas nela quis ele debuxar, que tal havia de ser um Rei em o governo do seu Reino, e por isto era este livro o familiar por que [ou onde] estudava Cipião, e Cícero andando na guerra. Fábula moderna é a Utopia  de Thomaz Moro; mas nela quis ele doutrinar os Ingleses como se haviam de governar. Fábula é o Asno de ouro de Apuleio; mas no discurso dele mostra quão brutos animais são os homens que andam ocupados e envoltos em vícios, e fora deles ficam racionais em vida. Fábulas é a multidão das que escreveu o Filósofo Esopo; mas nelas estão pintados todos os afectos humanos, e como nos havemos de haver neles. Fábula é a Tábua do Filósofo Cebes ; mas nesta pintura está todo o processo da vida justa, e perfeita. Todas estas, e outras escrituras, ainda que sejam profanas, e de argumento fingido, quando vão verdadeiras em todas as partes, e afectos, que lhe convém, são muito aceitadas e recebidas de todos os doutos Barões; porque vendo eles com quanto fastio das gentes se recebiam a moral doutrina em argumento descoberto,e grave, ao modo de Platão, e Aristóteles, entenderam que os Escritores, que seguiram este género de escritura tiveram por fim dar na doçura da fábula o leite da doutrina; e por isso quando liam as tais escrituras, lançavam a casca do argumento fora, e gostavam do fruto da interior erudição. Mas escrituras, que não têm esta utilidade de lição, além de se nelas  perder o tempo, que é a mais preciosa coisa da vida, barbarizam o engenho, e enchem o entendimento de cisco com a enxurrada dos feitos e ditos que trazem. E o que é mais para temer, escandalizam a alma, concebendo ódio, e má opinião das partes infamadas por eles. (...)» 

   Fiquemos a relembrar os doutos Barões, designação que nos reenvia para os Cavaleiros de Amor da tradição espiritual perene, europeia e portuguesa, e que devemos continuar e ser, e um dos passos de Pina Martins sobre a Utopia:«Nada impede evidentemente um socialista ou um comunista de ver na organização ideal da Utopia o anúncio maravilhoso dos amanhas que cantam. Os cristãos, mesmo aqueles que se batem mais arduamente pela justiça social, pensam que ela só existe no Reino de Deus, e Thomas More - não enquanto autor da Utopia mas em quanto cristão autêntico - partilhava a fé deles, a ponto de morrer por ela, e o seu martírio testemunha-o. Os que não creem no papel soteriológico da Fé, dessa Fé, mas pensam que a Justiça pode reinar no mundo, esses consideram a Utopia uma previsão dos tempos novos e incluem-na entre os textos percursores duma sociedade perfeita. Também Thomas More, santificado pela primeira Roma, também o é pela terceira pois o seu nome foi glorificado pelos construtores do socialismo soviético.» Nesta linha de pensamento se inclui nos nossos dias o filósofo e geoestratega russo Alexandre Dugin, tal como a sua filha e também ela mártir Daria Dugina.

Possam todos os grandes seres nomeados, doutos barões e sapientes, influenciar e inspirar mais os portugueses e europeus nestes tempos de crise forte do humanismo no Ocidente algo infrahumanizado.

                        

terça-feira, 14 de outubro de 2025

O Festival Europeu "O Mundo que nós Escolhemos". Catálogo. Participantes, actividades e conferências. Linhas de força alternativas duma nova Era esperançosa consciencial e ecológica

 O Festival Europeu O Mundo que nós Escolhemos, realizado de 27-29 de Maio em 1983, em Heizel, Bruxelas, foi um momento importante e significativo no panorama das alternativas e da espiritualidade na Europa.

Tendo participado durante os três dias e convivido com várias pessoas valiosas, e tendo partilhado algumas das suas mensagens  em escritos, cartas e conversas, mesmo assim muitas não foram mencionadas, e basta lembrar que havia cerca de 500  pavilhões.

Tendo finalmente encontrado o catálogo do Festival, um in-4º de 85 páginas, vou resumi-lo e mencionar as pessoas, actividades  e pavilhões ou stands, pois na internet quase nada se encontra e a História humana preserva-se e aprende-se na transmissão dos registos mais ou menos fidedignos dos acontecimentos e seus intervenientes...

Nos agradecimentos iniciais do catalogo é muito bem exposta a visão causal do que se estava a celebrar e debater: «Se as vias são múltiplas e diversificadas, por vezes mesmo contraditórias ou inconciliáveis, parece claramente que a melhoria das condições de vida sobre a Terra devem necessariamente responder às cinco condições que por ocasião do Festival desejamos afirmar claramente: consciência ecológica, crescimento pessoal, não-violência, dimensão comunitária da vida (e promoção dos mais desfavorecidos), autogestão.

Pertence a cada um de nós, através do nosso empenho pessoal na vida diária, de fazer a demonstração e de participar na irreversível conspiração em doçura, que levará firmemente o nosso mundo, em crise de crescimento, para um futuro à altura do seu destino».
Segue-se um pequeno texto, com algumas diferenças, em inglês, flamengo e francês, valioso também de ser transcrito para vermos a consciência holística então em grande força na Europa mais culta e avançada consciencialmente. Infelizmente sabemos como o capitalismo, o liberalismo e o imperialismo sabotaram quase todas as melhores semente e realizações mundiais.
«The present decade is a period of high tens
ion, crucial chalenge and change for mankind. If disaster is to be avoided, major adjustment are necessary in global economy, ecology, food production, ressource use, disarmment, as well as in education and personal development. Because  so many problems are becoming acute at the same time, they blend in a mega crisis in which no problem can be dealt separatly. A new approach is needed, which involves a major shift in our ways of seeing and doing things. Now more than ever, there is an oportunity to propose, develop and build new creative policies and structures more responsive to global huma need and to the long term requirements of the planet's ecosystem. Thousands of organizations of concerned people throughou the world have been conscious of the global crisis and have been respondding with activities to increase awareness and to offer positive alternative sugestions for a humane world... Their convergence can greatly strenghten their impact. It is time for the collective voices to be heard.»

 Tradução: «A presente década é um período de alta tensão, desafios cruciais e mudanças para a humanidade.  Para o desastre a ser evitado, são necessários grandes ajustamentos na economia global, ecologia, produção de alimentos, uso de recursos, desarmamento, bem como na educação e desenvolvimento pessoal. Dado que  tantos problemas estão a  tornar-se agudos ao mesmo tempo, eles  misturam-se numa mega rise na qual nenhum problema pode ser tratado separadamente. É necessária uma nova abordagem, que envolva uma mudança significativa nas nossas formas de ver e fazer as coisas. Agora, mais do que nunca, há uma oportunidade de se propor, desenvolver e construir novas políticas e estruturas criativas que  respondam mais às necessidades humanas globais e aos requisitos de longo prazo do ecossistema planetário. Milhares de organizações de pessoas preocupadas em todo o mundo têm consciência da crise global e têm respondido com atividades para aumentar a consciencialização e oferecer sugestões alternativas positivas para um mundo mais humano... A sua convergência pode fortalecer enormemente o seu impacto. É hora de as vozes coletivas serem ouvidas.»

Segue-se a descrição das Animações que se realizaram: Novos Jogos, com a norte-americana Janet Spector que vivia na Holanda./ Animação para Crianças, com Janet Spector e Lex Van Someren, que dinamizou também mímicas, palhaço e movimentos./ Danças Folclóricas, com o grupo Courtraisten "Den Eglantier"./ Danças Sufis com Sarawasti e Prajapati O'Neil./ Tai Chi, com o mestre Kuo-Chi/ e Aikido, com o Sugano Senzei./

Das Conferências, registemos: Ordem dos Rosa Cruz./  As transformações segundo Y Ching e a Sabedoria Chinesa, por Ezechiel Saad./ Unidade e Diversidade, por Solange Demeyer./ Ecologia, Alimentação e Vida moderna, por Bernardo Gentil./ Silva Mind control ou psico-orientologia Silva./ A Vida serviço, a Trindade da Esperança, por Michael A. Daddio./ A Árvore da Vida, Rowena Pattee./ - Pompedia de diálogo planetário, por Harrie Smeets./ "A Fome, eu jamais?", filme realizado por Irmãos dos Homens, Internacional e Terra dos Homens./ Escolher ou sofrer a informática, por Edouard Houtart, director do CREDOC./ O caminho da vida opera, ou A maneira na vida funciona, por Lindsay Rawlings, co-presidente da Human Unity Conference./ Como a publicidade mata o interhumano, por Luís Darms./ A imagem das mulheres e dos homens nos manuais escolares, por Rita Demonceau-Bonjean./ Homeopatia, medicina para o Mundo que nós escolhemos, por Jacques Grosjean./ A comunidade de Findhorn, uma vila planetária, por Michael Lindfield./ Para uma outra defesa pelo transarmamento, Robert Dedouai./ Uma economia extra Nações Unidas, para todos os seres, Peter Kooistra./ Esperanto, um instrumento de comunicação transnacional, por Marc Demont./ A drenagem linfática segundo o Dr. Vodder, por Evelyne Selosse./ Resiliência não-violenta, por Patricia Patfoort./ Os benefícios dos vegetais crus, por Jan Dries./ A importância das palavras neste mundo que nós escolhemos, por Jeannine e Guerino./ Cura por um modo de vida natural, pela irmã Myrian Verwilghen./ Existe um esoterismo científico: a resposta é a psicologia, por Pierre Lux, neuro-psiquiatra.

Vídeo: A Natureza da Mente: Discussão entre Krishnamurti, David Bohm, John Hidley./ Conferências: As cooperativas, um corrente que se reinicia, pelo Ita Gassel./ A comunidade de Eourres em França, por Gilles Roy./ Ser à escuta das pessoas, por Alfredo Vanesse./ A escravatura [ou tirania, asservisement] médica, pela Liga Nacional para a liberdade das vacinas da Haute Garonne, na qual se questionava: "Podemos libertar-nos da escravidão médica? Sim, por uma procura de informação séria e por uma tomada de consciência das verdadeiras causas da doença."/ Saúde da Pessoa, Saúde do Mundo, por Georges Demaitre, presidente do centro Gandhi em Bruxelas./ O Método natural de planeamento familiar, por Gerard Loriaux./ O Yoga e o Ocidente, por André van Lysebeth, com demonstração./ A Luz interna consciência, o meta-humano, por Michel Greeman, coordenador da Inner Light Consciousness na Bélgica [fundada por Paul Salomon, educado nos Baptistas e dava mensagens em transe; organização algo pró-sistema]/ A Luz Interna Consciência [do mesmo], a meta-mens, por Gerda Van Wenen./ Trabalhando no conhecimento e no ser, por Eric Mayeur./ O trabalho, a sabedoria e o Homem, por Ignace Vandaele./ A árvore da vida, filme de animação por Rowena Pattee./ Quarto Mundo, referência dum mundo para o homem, por André Modave.
Conferências e filmes no grande auditório, no Palácio 7, hall 7: Filme de longa metragem, "L'Homme aprés l'Homme", da televisão indiana, com intervenção de Satprem [discípulo de Sri Aurobindo e da Mother] e Indira Gandhi. [https://www.youtube.com/watch?v=l4bWn3g5BsI]
Conferência de Jean Charon, "Rumo ao homem do plano duplo: racional e intuitivo." Sobre as propriedades neguentropicas dos electrons que seriam o elemento espacio-temporal portador do espírito no nosso universo.
Conferência de Bernard Benson, "Guerra ou Paz, a escolha pertence-nos", onde transmitiu a sua convicção de que podemos escolher a paz, e os seus projectos de levar crianças aos chefes de Estado com mensagens de paz.
Conferência dos professores Agnes Lejnowicz, e de Allain Gauthier , "O Sol, como modelo de inteligência para a organização da vida." Ligados ao ensinamento de Omraam Mikael Aivanhov.
Conferência de Peter Schmidt: "A Arquitectura na emergência duma cultura nova".

                 
Música e canções de hoje. Espectáculo musical do grupo EPISODE, com Maria de Martynoff, Yves Uzureau e o grupo flamengo SNAAR.
Meditação criativa: Luz e Paz. animada por Michael A. Daddio, Herman Elegast e Gudo Cassiman.
Interpretação teatral do Livro da Paz de Bernard Benson, por cinquenta crianças.
Debate: Passagem à Planetarização, moderado por Michael Greenman, e com Donal Keys, o Iniciador do Congresso Planetário a realizar em Toronto, em Junho; Michael Lindfield, da Fundação de Findhorn, coordenador da Iniciativa Planetária na Europa; Raymond Dury, membro do Parlamento Europeu, Thomas Okelo Odongo [faltou], e Bernard Benson, autor do Livro da Paz.
O debate quer explorar por um lado a necess
idade de um reforço do poder real dos organismos internacionais como meio para assegurar a segurança e a cooperação internacional, por outro lado, a educação global ou o desenvolvimento duma consciência planetária indispensável à emergência duma nova atitude permitindo a síntese entre a autogestão e a cooperação.
Segue-se no catálogo a apresentação biográfica dos principais conferencistas. Jean Charon, Bernard Benson, Peter Schmidt (Roma, 1935) Donald Keys, Thomas-Okelo-Odongo, Raymonde Dury, Michael Lindfield, o coordenador europeu dos Planetary Citizens.

                                                      
A Participação das Escolas constava de desenhos, dissertações, inquéritos, poemas, que foram resumidos em duas páginas.
Lista dos expositores por ordem alfabética e com o número do stand.

Houve também diariamente os networking meetings, os encontros de rede, numa sala, divididos pelos temas: paz e não-violência, crescimento pessoal,  consciência ecológica, vida cooperativa ou comunitária  e auto-gestão.
Por fim, da pág. 49 à 8
1 do catálogo, a lista, directório ou reportório dos participantes, onde destacamos Brunner, Ruth (Institute for Planetary Syntesis, e com quem fiz amizade e correspondência); Goetmann, Alphonse e Rachel (centro Betâmia, onde fui estar uns dias depois); Greenman, Michael & Donna (Inner Light Consciousness); Michel, Yves (Editora Soufle d´Or e Evéil a la Conscience Planetaire, bom amigo e em cujo centro em Chamarande estive duas vezes); Melikina, Monik, artista, pintora;/  Mota, Pedro (professor de yoga e militante ecológico); Patte, Rowena, artista (com quem dialoguei bem); Pelissier, Helene (Findhorn, Evéil a la Conscience Planetaire, e com quem fiz amizade e diálogos); Thelman, Key en Niko (Iniciativa Planetária).

 

Duas das páginas dos participantes, e onde estou mencionado. 

E eis o catálogo resumido, e um pouco da história das movimentações e ideias alternativas valiosas dos anos oitenta, tão esperançosas mas que politicamente iriam ser algo marginalizadas dos centros de poder político. Já publiquei alguns artigos no blogue relacionados com a Iniciativa Planetária e este Festival Mundo que nós escolhemos...        



                                                                                                           

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Macron escondeu ou roubou milhões. O acordo Rothschild para a Pfizer/Nestlé. Um escândalo do Estado. Video de um inquérito explosivo, pelo L' Actu integrale.

 Nestes dias outonais de acelerada queda de popularidade e de credibilidade do ambicioso e vaidoso presidente da França Emmanuel Macron, que se mantém como uma lapa agarrado ao poder quando sucessivos primeiros ministros, por ele nomeados, e seu governos se demitem, e tantos sectores da vida política o repudiam com as suas medidas políticas de apoio aos planos da oligarquia globalista infrahumanista e sionista, é bom relembrarmos não só a brutalidade da repressão dos Coletes amarelos, ou o belicismo ora traiçoeiro ora disfarçado anti-russa,  mas também certos aspectos do seu port-folio financeiro, que têm vindo ao de cima quanto aos políticos ocidentais, tal como ainda ontem 12 de Outubro de 2015, se soube pelo insuspeitado The Guardian, e outros mídia, uma corrupção escandalosa e mortífera de um milhão de euros que Boris Johnson recebeu de um fabricante inglês de armamentos, que viajou com ele até Kiev,  e que está por detrás da sua actuação que impediu o acordo de paz em Istambul entre a Ucrânia e a Rússia.
Demos a palavra ao grupo L'Actu impromptu, no vídeo que pode ver no fim e que está acompanhado do seguinte esquema-resumo do vídeo:  «Hoje, mergulhamos numa investigação exclusiva sobre Emmanuel Macron e os milhões controversos que ele teria acumulado durante a sua passagem pela Rothschild & Co (2008-2012). 💰
Este vídeo baseia-se em investigações jornalísticas sérias para analisar as suas declarações de património, as suas transações e o desaparecimento da sua carteira de ações.
Plano
[0:31] – Capítulo I – Declarações de património anormalmente baixas
2014: Macron substitui Arnaud Montebourg como ministro da Economia e deve declarar seu património à HATVP, Haute Autorité pour la transparence de la vie publique.
Declaração oficial mostra um património muito baixo e permite que ele escape do ISF, até uma correção fiscal.
Histórico: Macron entra no grupo Rothschild em 2008 como banqueiro de investimentos, e torna-se sócio-gerente graças a David de Rothschild, o que lhe permite receber dividendos significativos.
Apesar de um património considerável (apartamento no 15º bairro, casa de Brigitte Macron em Le Touquet).
As explicações de Macron sobre suas declarações (trabalhos de Brigitte, reembolso de empréstimos) são desmentidas pela Off Investigation.
O advogado tributarista Jean-Philippe Delsol alerta a HATVP e o procurador François Molins, sem sucesso.
[7:26] – Capítulo II – O acordo Pfizer/Nestlé "esquecido"
Em 2012, Macron fechou um acordo no Rothschild para a Pfizer/Nestlé, uma transação no valor de 9 bilhões de euros.
Emmanuel Macron consegue realizar o negócio graças às suas relações com Peter Brabeck (Nestlé) e Jean-Michel Darrois (advogado), que ele conheceu da comissão de Jacques Attali de 2007.
Segundo as suas declarações oficiais, ele não teria recebido nada por essa operação. Mas a investigação realizada por Christian Savestre para a Blast afirma que isso não é credível.
Este especialista em evasão fiscal propõe três hipóteses:
Renúncia voluntária ao bónus
Pagamento antecipado
Pagamento através de outra entidade Rothschild num paraíso fiscal (Trust)
Nem o palácio do Eliseu nem os banqueiros Rothschild confirmam essas informações.
 [14:39] – Capítulo III – O desaparecimento da carteira de ações
De 2008 a 2012, a carteira de ações de Macron desaparece.
Segundo Christian Savestre e a investigação do sítio jornalístico Blast, os montantes são consideráveis: milhões de euros!
A HATVP, a Haute Autorité pour la transparence de la vie publique,  nunca teria pedido contas sobre essas transações.

Fontes principais:
Blast – Investigação sobre as ações ocultas de Macron no Rothschild:
https://www.blast-info.fr/articles/20...
Blast – Os milhões que se evaporaram no negócio Nestlé/Pfizer:
https://www.blast-info.fr/articles/20...
Vídeo de investigação Blast. Que Macron se demita rapidamente e convoque eleições....

                           

domingo, 12 de outubro de 2025

Poesia russa contemporânea: Iulia Fedorinova, Lá onde os sonhos são feitos. Trilingue. Com uma pintura da "Tangla, canção de Shambhala" de Nicholai Roerich

Eis um valioso poema cheio de fogo de uma poetisa russa, Iulia Fedorinova, de Kursk. Está acompanhado de uma pintura de Nicholas Roerich intitulada Tangla: Canto de Shambhala, de 1943, na qual um monge budista contempla os Himalaias orientais, e entoa um canto ou invocação de Shambhala, o reino ou plano espiritual mais elevado, invisível, sobre os Himalaias. Inspirada por esta imagem, e uma frase dum livro do Agni Yoga, "Lá onde os sonhos são feitos", Iulia entoou a sua canção poema, entusiasmando-nos a avançar, por entre as dificuldades e ataques,  para este plano de Luz, de Aurora...
Oiçamos esta voz bela e sábia da Rússia perene, numa frágil tradução portuguesa (e inglesa), baseada em tradutor automático, e  aperfeiçoada por dicionário
 e bem dialogada com Iulia, e animada com o nosso (meu e de muitos portugueses) grande amor à  Rússia sagrada e abnegada e às suas almas ou gentes tão luminosas.

                                          Оттуда, где сны создаются. ЛСМ.
Вот ценное, полное огня стихотворение русской поэтессы Юлии Федориновой из Курска. Его сопровождает картина Николая Рериха под названием "Тангла: Песнь Шамбалы", 1943 года, на которой буддийский монах созерцает Восточные Гималаи и поет песнь или призыв к Шамбале, высшему духовному, невидимому царству или плану над Гималаями. Вдохновленная этой картиной и фразой из книги Агни Йоги "Там, где рождаются мечты", Юлия исполнила свою песню-поэму, воодушевляя нас двигаться вперед, сквозь трудности и атаки, к этому плану Света, к Авроре...
Послушаем этот прекрасный и мудрый голос вечной России в хрупком португальском переводе, основанном на машинном переводе и доработанном с помощью словаря, а также хорошо прокомментированном, но одушевленном нашей (моей и многих португальцев) великой любовью к святой России и ее таким светлым душам или людям.Послушаем этот прекрасный и мудрый голос вечной России в хрупком португальском (и английском) переводе, основанном на машинном переводе, усовершенствованном с помощью словаря и хорошо обсужденном с Юлией, и оживленном нашей (моей и многих португальцев) великой любовью к святой и самоотверженной России и ее таким светлым душам или людям.

 

Оттуда, где сны создаются.
ЛСМ, 13 апреля 1922

Оттуда, где сны создаются,
Где жертвы возносятся в свет,
Оттуда, где латы куются,
Оттуда привет.
Оттуда, где в шёпоте листьев,

Оттуда, где в плеске воды
Рождаются чистые мысли
И вещие сны.
Среди всех жестоких и тёмных,

Среди бесконечных иуд,
Среди равнодушных и скорбных
Отыщешь свой путь
Туда, где все сны создаются,

Где жертвы возносятся в свет,
Туда, где доспехи куются,
Туда — на рассвет.
Апрель, 2023 

 

 "De lá, onde os sonhos são feitos".
Folhas do Jardim de Morya, 13-IV-1922

«De lá, onde os sonhos são feitos,
onde os sacrifícios são elevados à luz,
De lá, onde as couraças são forjadas,
De lá, saudações luminosas.

De lá, onde no sussurro das folhas,
De lá, onde no murmúrio da água,
Nascem pensamentos puros
E sonhos proféticos

Por entre todos os cruéis e  trevosos,
Por entre os Judas infinitos,
Por entre os indiferentes e tristes,
Encontrarás o teu caminho.

Lá, onde todos os sonhos são feitos ou criados,
Onde os sacrifícios são elevados à luz,
Lá, onde as armaduras são forjadas,
Lá — rumo à Aurora.» 

Abril de 2023 

Photo from Iulia

 "From where dreams are made".
Leaves of Morya Garden,13-IV-1922

«From where dreams are made,
where sacrifices ascend to the light,
From where armour is forged,
Greetings from there.

From where in the whisper of leaves,
from where in the splash of water, 
are born pure thoughts
and prophetic dreams

Among all the cruel and dark,
Among the endless Judases,
Among the indifferent and sorrowful,
You will find your way.

There, where all dreams are made,
where sacrifices ascend to the light,
to where armour is forged,
There — towards dawn.»

April, 2023 

sábado, 11 de outubro de 2025

S. António, soneto de Oliva Guerra, em "Serenidade", 1933. Biografia, hermenêutica. Terá influenciado Fernando Pessoa?

                                 

Oliva Guerra, em 1933, quando publicou Serenidades, já dera à luz  sete livros de conferências, versos, prosa e novela para crianças e, com  42 anos,  amadurecida e serena, com a sua imensa sensibilidade, pode transmitir-nos neste livro  vinte e um poemas de grande qualidade,  vários, tal como o do Silêncio, merecendo a nossa leitura interiorizada e mesmo hermenêutica. Escolhemos o dedicado a Santo António de Lisboa, e que antecede S. Francisco de Assis, os únicos poemas expressamente religiosos, embora em todos vibre a sua grande sensibilidade e espiritualidade. 

Nascendo em Sintra a 18 de Maio de 1891, como viveu longamente, certamente apoiada por ser  pianista e musicóloga, professora de português e literatura, Oliva Guerra publicou ainda vários livros antes de partir para o além, que sempre sentira e poetisara, em 22 de julho de 1982. Foi condecorada  três vezes, e desde 1992 o prémio literário da Câmara Municipal de Sintra tem o seu nome, homenagem a quem nascendo em Sintra muito amou tal terra encantada, e sobre quem escreveu o belo Roteiro lírico de Sintra. Relembremos que  posteriormente em 1944 traduzirá de Gino Saviotti, o seu livro Santo António, e leiamos então o soneto...

                                     S. António de Lisboa 

Partiu um dia pelo mundo fora,
Demandando as paragens mais incertas,
Semeando a luz das suas mão abertas,
Volvendo noites em perpétua aurora.

Percorreu terras bárbaras, desertas,
Pregou a fé, seu sonho de hora a hora.
Foi - quem sabe? - no Portugal de outrora
O génio místico dos Descobrimentos.

Santo mais santo deste grande povo,
Vem teus milagres repetir de novo,
Vem missionar a Fé mais uma vez.
 
Numa ânsia remota de ternura
Andam os nossos tempos à procura
                           De um santo como tu tão português.»                                                                                                                                               A primeira quadra é maravilhosa de sugestões auricas e coloridas: mãos abertas, disponíveis, irradiam luz, semeiam-na mesmo, e transformam as trevas em dia, em amanhecer radioso. Que bela visão do ser que parte para a sua jornada diária, ou para a sua peregrinação, com este estado de alma e de corpo, transfigurando luminosamente o que o rodeia...
         A segunda quadra mostra-nos na grande seara do mundo, o trabalhador da palavra, da ideia, da crença, do sonho, que se vive ou se ergue hora a hora e que, nessa doação de descoberta e partilha com o outro do que lhe vai na alma de sagrado e de divino, S. António é um primeiro missionário dos Descobrimentos, embora só tenha tentado o norte de África e pela sua fraca saúde não pudesse concretizar o sonho. Serão os franciscanos que  irão depoismissionar o Oriente, com grandes momentos de amor e de luz. Génio místico dos Descobrimentos, lhes chama com valiosa intuição, Oliva Guerra. Génio, qual Djinn islàmico da lâmpada de Aladino, ou se quisermos, dos romanos, o Genius como o Anjo, místico, subtil, invisível, da pessoa, do local, da obra, dos Descobrimentos.
    O primeiro terceto parece que terá chegado aos ouvidos de Fernando Pessoa, ressoando em algumas passagens da Mensagem, nomeadamente acerca de Nuno Álvares Pereira e de D. Sebastião.
     No terceto final, que nos parece ressoar de novo em partes da Mensagem, nomeadamente na ânsia  remota e na procura de um profeta, santo, mestre ou avatar, Oliva Guerra ressuscita o amor ternura franciscano de outrora em novos peregrinos, semeadores, místicos, homens e mulheres  que consigam ser S. Portugal, ou o Arcanjo de Portugal em acção, ou simplesmente reflectido...
Oliva Guerra, uma alma da Cynthia artística de outrora mas perene, que bem merece ser revisitada, estudada e amada...
                                       
                    A letra musicalmente bela de Oliva Guerra...Lux, Amor!

Dos livros e da leitura, diálogo e escrita iluminante e libertadora. Inspirações de fotografias de mestres russos e particularmente de George Roerich.

Dostoievsky publicado popularmente em Portugal no começo da República. No canto, George Roerich, valioso filólogo e orientalista.

Somos todos almas leitoras e escritoras. Elos sucessivos ao longo dos séculos de uma perene busca da Humanidade de conhecimento, de verdade, de beleza, de justiça, de amor e da Divindade. 

 O que lês tu mais? Sobre quê dialogas ? O que meditas, ou escreves?   Consegues não te superficializar nas redes sociais e manter capacidade temporal e mental para aprofundares certas ideias, comentários, críticas?

Tens algumas pessoas amigas, ou autores preferidos, com quem estás num convívio intelectual e espiritual profundo que perdurará na eternidade? 

Há alguém para quem enviar textos ou mesmo escrever cartas, seja de demanda, seja de amor, seja de partilha, seja de sabedoria, faz sentido, acontece, é bom e iluminante ou libertador? 

Há  assuntos, ou temas, ou autores, sobre os quais as tuas reflexões, meditações e escritos podem-se considerar contributos valiosos para a melhoria da Humanidade?

Que nos inspirem os mestres eternos, de Dostoievsky e Berdiaev à família Roerich, e George ou Yuri Roerich, no cartãozinho inicial, dado em 1995 pela orientalista Helena em Calcuta, e que para vencermos as trevas da decadência, alienção e opressão ocidental saibamos ler, dialogar, escrever, publicar em satsangas ou companhias da verdade valiosas e luminosas.

Nicholas, Helena, Yuri e Svestolav Roerich, em Naggar, Kulu Valey, India.
O notável pintor Svetoslav Roerich, com o seu irmão Yuri, orientalista.

Yuri ou George Roerich, que dominava muitas línguas orientais, tais o sânscrito, o mogol e o tibetano, com um manuscrito tibetano nas mãos. Ao fundo pinturas do pai, Nicholas Roerich.

" - Ao trabalho, amigos e amigas. Forças, inspirações e perseverança! Aum Agni Aum, Aum Mani Padme Hum Hri!". 

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Miguel Trigueiros, e os seus poemas de "Deus", prefaciado por M.Trindade Salgueiro, Gilberto Kajawsky e Álvaro Ribeiro

                                  

 Miguel Trigueiros (10-V-1918 a 1999), formado e doutorado em Teologia, jornalista, poeta,  conselheiro cultural em três postos no Estrangeiro, quando publicou  o seu terceiro  livro de poesia Deus, em 1943, após o folheto prefaciado por Branca Gonta Colaço Palestra Rimada, 1933, e o Resgate,1939 (prémio Antero de Quental, do SNI, tal como Fernando Pessoa recebera com a Mensagem em 1934),  justificou o título «por ser Ele, na verdade, a aspiração constante, a Presença visível ou oculta e a soma de todos os caminhos poéticos percorridos, mesmo quando a comunicação das ideias e dos sentimentos se reveste de aspectos profanos», cobrindo assim com a diafinidade ou intensidade do seu Amor a Deus, os muitos belos poemas que ecoam ou transmitem o seu grande  amor pela mulher Maria Margarida (com quem virá a escrever, já em 1985, os Portugueses que somos). Não é pois um livro de poesia apenas religiosa, mas é também lírica, amorosa, social. 

Um dos mais belos poemas à sua mulher Maria Margarida.

Após inserir as palavras prefaciais e sábias do cardeal Trindade Salgueiro, que foi provavelmente seu professor, e de Gilberto Kujawsky, dedica a obra a sua mulher Maria Margarida e aos sete filhos  e apresenta o seu aforístico Manifesto, seguindo-se um texto, sob a forma de cruz latina, do filósofo Álvaro Ribeiro. E por fim os poemas, cuja Trajectória explicitou numa sucessão quádrupla: I - Entre o Vale e a Montanha (Resgate), II - Vozes da Escalada (Diálogo do Céu e da Terra), III - Primeiros Cimos (Sete Poemas do Natal) e IV - Cântico da Altura (Deus). Poemas cheios de aspiração e força. de compaixão e amor, mas que podem fazer perguntar a que nível de realização divina chegou? Apenas a fé ou há uma vivência, experiência, ou mesmo uma gnose mais íntima e espiritual? Veremos no fim... 

Transcrevamos do princípio do livro o início da carta do bispo Manuel Trindade Salgueiro (1898-1965): «Meu Amigo. Li com devoção o seu livro, que é largo bater de asas nos domínios luminosos da fé. Na sua carta a Frei Agostinho da Cruz escreve que:  "Só os versos feitos de alma/Trazem notícias de Deus." São feitos desse modo os seus versos e por isso as notícias que de Deus nos trazem, são harmoniosas, e límpidas e profundas, como vozes do Infinito.»

Valorizemos no valioso intelectual, teólogo e professor. natural de Ílhavo, que chegou a Arcebispo de Évora, a sua apreciação da poesia de Miguel Trigueiros como bater de asas, isto é, como raios em aspiração de amor, verdade, unidade, e que sondam e querem entrar nos domínios espirituais e divinos (e está no fundo a comentar o poema Mais Além).  E que a Fé, como aspiração e crença que Deus, o Bem, o Amor e a Ordem existem, nos fortalece para lutarmos por tais princípios e elevadas realidades. Finalmente, que só os versos  sentidos intimamente e de alma é que nos fazem vibrar nas escalas, frequências, vibrações, dimensões ou níveis  divinos, permitindo então captar-se ou intuir-se algo da voz, Palavra ou Logos do Infinito, transcendente e imanente.

Gilberto Melo Kujawsky (nascido em 1929 no Brasil, notável fílósofo anteriano e orteguiano) apresenta e contextualiza também muito bem Miguel Trigueiros, destacando o seu cristianismo e elevando-o até a um lídimo sucessor de Antero de Quental:  «(...) Líder de uma nova poesia cristã em Portugal, essencialmente caracterizada pelo teocentrismo e a re-aliança do sobrenatural na concepção e no conhecimento da realidade, a mensagem de Miguel Trigueiros é mensagem de revolução, de escândalo, na Babel dos nossos dias, porque sua poesia é antes de tudo a poesia da vontade, da vontade sobranceira a clamar bem alto pelos seus deveres, em vez de limitar-se à poesia de sentimentos implorando, apenas, pelos seus direitos.»  E depois de destacar a sua poesia como joanina (do evangelista João), como Palavra sagrada, como reveladora do Divino Verbo Criador em acção em tudo, mencionando mesmo Jakob Boehme, e dum modo excelente, "poesia de profunda comunhão interna a comunicar-nos a íntima voz das coisas, como esperava o místico Jakob Boehme ouvisse um dia toda a humanidade purificada", concluirá no último parágrafo, algo optimista ou generosamente: «Vemos em Miguel Trigueiros o primeiro grande poeta a cursar em Portugal (e talvez no Mundo) aquele sentido que Antero de Quental profetizava seria a orientação definitiva do pensamento europeu,  - "o sentimento do espírito como sendo o tipo, a forma da realidade; do bem, como sendo a essência do espírito; e da liberdade como a substância do bem". Anote-se que este resumo final entre ásperas não é transcrição exacta duma frase  de Antero, mas sim uma aproximação sintética ao essencial das Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, como sabemos o testamento filosófico de Antero de Quental». 

Segue-se, em três axiomas, o  Manifesto para uma Poesia Nova, e relembre-se que  ele pertenceu ao movimento Poesia Nova, com Sidónio Muralha, e de certo modo com Duarte de Montalegre ou José V. de Pina Martins, que estudara e convivera com ele em Coimbra: I - Nem arte pela arte, nem arte pelo homem, nem arte pela classe:arte pelo todo. II - Nem egocentrismo, nem antropocentrismo: teocentrismo. 3 - Nem arritmia, nem neo-formalismo: polirritimia.

  Por fim dá lugar ao seu mestre Álvaro Ribeiro que contribui com um belo texto em forma de Cruz, bem digno de se meditar mais atentamente, e  que como não está digitalizado, reproduzimos e transcrevemos:
«A poesia de Miguel Trigueiros, clara, harmoniosa, equilibrada, como todas as forças do Bem, representa um caso excepcional de directa superação do lirismo pelo exercício das virtudes teologais. A razão que vai sendo cada vez mais permeável à fé, e portanto cada vez mais animada de luz e calor, confere à poesia portuguesa uma inteligibilidade que a afasta, distingue e separa dos produtos modernistas de inspiração satânica. Miguel Trigueiros é fiel à tradição. Venccndo pela penitência o orgulhoso lirismo do homem natural, faz da oração a sua originalidade, e alegra-se pela graça de ser um cantor de Deus.»  Note-se um certo dualismo cxagerado, ao considerar a poesia modernista como satânica...
No ciclo dos poemas, e há vários de grande beleza e perfeição, em geral cheios de amor e admiração, aspiração e, vontade, e poderíamos pensar que seriam os últimos oferecerem as suas compreensões, experiências, ou mesmo visões de Deus. Não são eles porém poemas místicos de realização interior, mas sim os de alguém que aspira e ama a Deus, e que é sobretudo um amante da Humanidade, um ser animado de amor e compaixão pelo que o rodeia e que sente nessa fraternidade e simpatia a presença de Deus. Há contudo um mistico ou unitivo sentimento da Natureza, muito sentido e forte, bem patente no poema que o bispo Manuel Trindade Salgueiro destacara, dedicado a Frei Agostinho da Cruz, e intitulado Deus no Poeta, dos mais belos e elevados inegavelmente, mas também em outros, como no dedicado à ilha da Madeira e que é de antologia.
Após uma série de poemas sobre a mulher, as pessoas, os tipos profissionais ou socia
is, consagra alguns a Portugal, dando-nos no fundo a sua versão da Mensagem, de Fernando Pessoa,  e conclui com o seu Resumo da Escalada, belo, valioso, bem fundamentado até em termos de espiritualidade imanente mas que indiciará talvez uma certa carência de realização íntima de Deus, sem querermos estar a julgá-lo, tanto mais face à tão valiosa acção religiosa em Portugal e Brasil durante a sua vida, tal como Ferreira da Silva testemunha na breve notícia biográfica que lhe consagra na badana do livro: «O autor, ao percorrer como um cruzado os caminhos de Portugal, para levar a todo o lado na arte da sua poesia, a mensagem da sempre bela e imortal Verdade cristã, já mereceu com justiça a gratidão de todos os crentes da nossa terra». Oiçamo-lo, sob o título: 

     Deus em Tudo, em Todos e em cada Coisa (Resumo da Escalada) 

Deus é Presença e Luz. Para encontrá-lo,
E unir - à Sua voz - a nossa voz,
Não queiramos ir longe procurá-lO,
Pois Ele existe já dentro de nós.

Os caminhos são dois - Verdade e Amor.
O que espalha orações pelos escombros,
Do coração em festa e de alma em flor,
Sente as mãos do Senhor sobre os ombros.

Quem sabe o rumo do universo? Vede:
- Queima-se a Humanidade em chamas de ânsia...
Tanto espírito bom, morto de seda,
Com a Fonte a dois passos da distância!

Devemos, sob o signo da Humildade,
Se na Terra da vida cresce o vício,
Lavrá-la com o arado da vontade
E, depois semear-lhe o Sacrifício.

Onde há mundo de mais, há céu de menos.
Cansa o descrer... Acreditar não cansa.
Os píncaros mais altos são pequenos
Para quem leva as asas da esperança.

Deus redime e ilumina cada coisa
O seu olhar, feito de sonho e calma,
- Como poisa o luar na noite - poisa
Nas noites outonais da nossa alma.

E deixa de ser mudo o corpo mudo:
Um novo pensamento ascende em grito:
Traz do fundo de tudo, para tudo
As palavras do Livro do Infinito

São palavras de luz e de promessa;
Procuremos senti-las e entendê-las.
Penetremos além, onde começa
O sorriso profundo das estrelas.

E troquemos o instante pelo eterno.
Sigamos o caminho de Jesus.
- A Primavera vem depois do Inverno;
A alegria virá depois da cruz!

Passa o tempo velhinho; passam vidas;
Tal como passa o bem, passa a desgraça;
Passam todas as coisas conhecidas.
Só nome de Deus é que não passa.»
 
O poema, bem valioso, transparece um dos métodos da sua poesia, a inserção de frases ou ditos marcantes, poderosos, no meio das ideias ou doutrinas, em geral  bem sentidas e acreditadas, e com imagens activas que partilham o seu dinamismo anímico, nutrido no cristianismo, mas sem que citações dos Evangelhos surjam, com Jesus mesmo muito desaparecido face à sua aspiração a Deus, que começa neste poema por ser apresentado como Presença e Luz. Viu ele a Luz interior? Sentiu a sua presença? Como Amor, certamente, ou como destinatário da sua gratidão e adoração, certamente. Quanto ao ouvir a Sua voz e a unirmos a nossa à Dele, sabemos quão dificil é, ou mesmo do perigo da vozes ilusas. De qualquer modo,  poderemos discernir a sua voz ao trilhamos criativamente os dois caminhos, Verdade e Amor, dando-nos ele uma boa imagem sensação de algo da Presença ou influxo da Deus sentir as mãos divinas sobre os ombros, curiosamente algo que Fernando Pessoa também escreveu num belo poema inédito até 1989, quando  o publiquei.
De qualquer modo, Miguel Trigueiros adverte que Deus existe já dentro de nós e no ciclo do devir de constantes metamorfoses, e em que temos de lutar contra vícios e defeitos, com a força da vontade e o sacrifício. E se desabrocharmos as asas e olhos de esperança, conseguiremos tanto ouvir as palavras ou gritos que brotam do fundo  e que se sentidos e entendidos poderão elevar-nos ao sorriso profundo das estrelas, e poderia ter acrescentado à música das esferas, das harmonias planetárias e dos espíritos celestiais.
Os seus últimos conselhos aforísticos são bem valiosos: Troquemos o instante pelo eterno. Sigamos o caminho de Jesus. Tudo passa, só o nome de Deus é que não passa.
O "nome de Deus"?  Porque é só tal o que teremos sempre à nossa disposição anímica para as nossas orações e cantos, meditações e contemplações, e por isso Miguel Trigueiros intitulou e bem o seu livro Deus?
Esta palavra Deus, Deos, Dios, será então para um poeta, autor radiofónico, conferencista, a mais indicada para invocar, avatarizar, coalescer, sentir Deus, restando apenas, depois dos nossos esforços e amor com Ela e por Ela, recebermos (como médiuns prismáticos, dirá na entrevista de 1956) a graça Divina, seja como inspiração, Amor,  Presença ou Luz, o mais normal...
Demos graças pelos caminhos de Verdade, Luz e Amor  que conseguirmos trilhar, e saudemos neles Miguel Trigueiros e sua família e amigos mais chegados! 
Anote-se que este artigo e leitura mais detalhada e atenta do Deus, foi motivado por a excelente e bem cristã livreira alfarrabista Lurdes Paiva, da Ler com Gosto, no Porto, sabendo que eu possuía a obra me confessou que tinha uma  amiga muito interessada, pois alguns dos poemas são cantados em missas, tendo chegado à conclusão que ofereceríamos os dois (mais o Miguel Trigueiros) à senhora amiga o exemplar, que manuseei e aprofundei nestes dias 9 e 10 de Outubro no ano da graça de 2025.
Uma última questão, sobre o nome de Deus. Será que Miguel Trigueiros conhecia as tradições hesicastas ortodoxas e as dos mantras indianos, e terá usado algum tipo de oração repetição dum nome especifico de Deus, para além do nome "Deus"? Tal Jesus, ou Jesus e Maria? Claro, os nomes de Deus indianos e islâmicos, ou os seus mantras ou sons sagrados, como o nosso Amen, não terá utilizado.... 
Na valiosa entrevista, e bem psicológica, de Igrejas Caeiro, na RTP, realizada em 1956, audível hoje em: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/entrevista-a-miguel-trigueiros/, Miguel (Forjaz) Trigueiros (irmão de Luís Forjaz Trigueiros, com quem ainda dialoguei), na sua grande sensibilidade, delicadeza, jovialidade e musical voz, exclama algumas vezes "meu Deus", o que pode indiciar o uso de alguns dos mantras ou jaculatórias da tradição espiritual portuguesa, que o empregam, tal como o "Meu Deus, eu amo-vos de todo o meu coração" ou ainda o simples "meu Deus, meu Deus"...