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Uma das representações mais antigas, imperial, de Constantinopla, do séc. VI, em marfim. Museu Britânico.
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I- A maioria dos Ocidentais conhece o arcanjo Miguel por pinturas, esculturas, desenhos e gravuras, embora geralmente sem saber bem como essas representações nasceram. Se tiver certa cultura religiosa presumi-las-á originadas nas descrições visionárias do Apocalipse, atribuído enganadoramente a S. João evangelista, onde se refere apenas a luta vitoriosa dele contra o Demónio. Mas havia outras fontes mikaelicas, na literatura apocalíptica judaica, desde a primordial no Livro de Daniel aos extra-canónicos (e desconhecidos de quase toda a gente) Enochs e Assunção de Moisés, e acima de tudo na história, já no decorrer do IV século, quando o imperador romano Constantino (272-337), que oficializou o Cristianismo em 312, como religião do Império, e que se sentia investido por Deus e Cristo para se considerar o 13º apóstolo, antes de vencer em 324 a batalha decisiva contra o seu rival Licinus ou, noutra versão, ao dormir, junto a Constantinopla, no templo de cura pelas águas dedicado a Zeus Sostenios, um Deus pai, ou Júpiter, alado, recebeu uma visão de Mikael e compreendeu que era ele que já era adorado sob essa forma, erguendo-lhe então uma igreja, o Michaelion, Miguélio, com uma representação guerreira de Mikael, que aliás comissionou também ao pintor para fazer de si com os seus filhos a vencerem Licinus, representado como serpente. Este Michaelion vai-se tornar a fonte das igrejas erguidas ou dedicadas a Mikael, e a pintura, com o afluente imagético do Apocalipse, vai multiplicar-se e metamorfosear-se em milhares de igrejas, capelas, ícones, pinturas, portadas arquitectónicas, esculturas, estátuas, mosaicos, medalhas (nomeadamente de ordens e confrarias), selos, moedas, livros e livros de Horas, gravuras, registos e santinhos, com tantas variantes de especificidades belas, simbólicas e valiosas.
Podemos dizer que os criadores do nome Mikael para forças que se sentiam celestiais-divinas, ou os primeiros receptores ou descobridores clarividentes do nome desse ser celestial, foram então o profeta Daniel dos v Impérios e o imperador Constantino, casado com Helena, a "descobridora" da santa Cruz, cujos pedacinhos espalhados por todo o mundo dariam para algumas cruzes, e a fundadora da mítica Igreja do santo Sepulcro, sem dúvida muito poderosa ainda hoje, pese o que a rodeia, a entristece e ameaça.
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Um invulgar mosaico de S. Mikahil Estratega, pintado por Nicholai Roerich em 1906.
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II - Do imaginativo Apocalipse, nomeadamente quanto a um eventual e final julgamento dos mortos com a participação de Mikael, e dos receios quanto ao post-mortem ou estágio num purgatório, nasceram outras concepções, imagens e simbolizações populares que entroncando até com a tradição egípcia do deus Anubis pesar as almas dos defuntos, e ainda com a tradição grega do Hermes psicopompo, fizeram-no surgir como o típico ser celestial dotado de asas, já não com a espada ou lança apontada ou em luta com uma representação da do Mal, isto é, o revoltado Lúcifer, Satan ou Diabo, com um pé sobre a cabeça dele, que pode ser ainda uma serpente ou dragão, ou mesmo pessoas, mas com uma balança, com as almas por vezes representadas num dos pratos, representando ora a aceitação do juizo final ora uma visão de um julgamento particular ao morrer-se: Mikael pesa com as duas mãos as almas e ajuda-as (talvez as que lhe tiveram mais devoção em vida) a passarem a prova da morte e a encaminharem-se para o Céu.
A esta invocação-evocação micaélica acrescentou-se também bastante, com o Concílio de Trento (1545-1563) e a Contra-Reforma, tanto o culto dos seres celestiais como a devoção piedosa às alminhas do Purgatório pedindo orações nossas e ajudas do Arcanjo Mikael, que presidiria a elas, e que se espalharam pelas aldeias e caminhos rurais. E
assim nasceram milhares e milhões de representações artísticas, algumas
de grande beleza ou realismo, outras singelas e rurais, e que podemos admirar em igrejas, capelas, alminhas e
museus, colecções, livros e casas.
Uma
gravura do séc. XVII, pouco conhecida mas
bela e poderosa nos seus efeitos em quem a souber contemplar e assimilar,
mostra-nos São Miguel nessa sua função de ajudante ou intermediário
divino, com o pé, um escudo e uma espada suplantando um ser demoníaco e a serpente,
numa simbologia tanto exterior, Lúcifer ou as entidades malignas, como interior, o mal em nossa na alma. |
Mikael, um dos Príncipes, segundo os irmãos José e João Klauber. Séc. XVIII.
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III - Tentemos então discernir melhor a origem deste espírito celestial, anjo, príncipe, principado ou arcanjo (do grego arkhaggelos: αρχή, primordial, principal, comandante; άγγελος, mensageiro, o Arke-angellos, cujo nome Mikael, significa em hebraico: "Quem (é) como Deus", e que inscrito em latim surge em muitas representações de Mikael: Quis ut Deus.
A sua fonte original está no Antigo Testamento, no Livro de Daniel, escrito por volta de 166 a. C., que menciona pela primeira vez um espírito celestial chamado Mikael. Na obra, um profeta Daniel, no exílio do povo judaico na Babilónia (586-538 a. C., e donde trouxeram a existência dos Querubins [Kerubs ou Karibus, persas], embora a venham a inserir, manipuladoramente, aquando da redação por volta de 516 a. C., como já conhecida ao tempo do Êxodo) descreve num estilo apocalíptico as suas peripécias, visões e profecias sobretudo para o II séc a. C. (de que seria contemporâneo) e para o mítico fim dos Tempos, presumindo-se ser uma obra ficcional de mais de um autor com materiais diversos, nomeadamente do Deuterónimo, commos dois últimos capítulos a serem incorporados já tardiamente por S. Jerónimo, destinada a aumentar, com milagres e exageros, a fé no destino do povo judaico e no seu messiah, ou futuro ungido do Senhor. Significativa, Daniel não veio a ser considerado um profeta no Judaísmo mas sim no Cristianismo.
No Livro de Daniel, em hebraico "Deus é meu juiz" esse justo e vidente é levado da Judeia e educado com mais três companheiros na corte do rei da Babilónia, Nabucodonosor, destacando-se por ser "capaz de interpretar qualquer sonho e visão" pelo que o rei consultava-os em questões de sabedoria e discernimento considerando-os, com muito ou pouco exagero, "dez vezes superiores a todos os magos e adivinhos do seu reino", entre os quais se destacavam os sacerdotes caldeus, de cuja sabedoria sobreviverão os Oráculos Caldeus, transmitidos por Michael Pselus (1018-1096) e editados e comentados no Renascimento nomeadamente por Pico della Mirandola, Marsilio Ficino e Francesco Patrizi.
Ora será Daniel quem conseguirá desvendar um misterioso sonho de Nabucodonosor, que incluía a enigmática estátua compósita que figuraria os cinco Impérios, o qual admirado e reconhecido se teria "prostrado" aos seus pés, ordenando que lhe oferecessem "oblações e incensos", e declarado majestaticamente: «Em verdade o vosso Deus é o Deus dos deuses, o Senhor dos reis e o revelador dos mistérios, pois tu pudeste revelar este mistério» (II, 46,47), manifestando assim uma tremenda fé e confiante clarividência na interpretação profética do incomprovável sonho, e uma súbita mudança de religião...
Estamos a ver a mistificação, como se fosse possível o rei converter-se, fazer e dizer tal, tanto mais que logo em seguida Nabucodonosor II eleva uma estátua de ouro e queria que todos a adorassem.
Esta inventiva interpretação profética dos quatro reinos que seriam por fim suplantados pelo quinto, o verdadeiro e para durar para sempre, glosada e repisada ao longo dos séculos por judeus e cristão, veio a dar origem na Europa, no séc. XVII, em 1666, numa seita extremista puritana, à esperança ou miragem da V Monarquia em Inglaterra, e em Portugal à crença no V Império que o P. António Vieira (1608-1697) e depois outros, nomeadamente Fernando Pessoa, desenvolveram e, apesar do seu carácter mistificador e apocalíptico, é ainda hoje acreditada e ensinada por alguns mais caturras, em especial de esoterismos judaizantes.
IV - Ora enquanto os seis capítulos iniciais do Livro de Daniel apresentam uma unidade histórica ainda que cheia de fantasias e invenções, os sete seguintes acrescentados são visionários e apocalípticos (e assim a Bíblia dos Capuchinhos chama-lhes mesmo o Apocalipse de Daniel) e é no capítulo VIII que lemos a primeira menção de um outro importante ser celestial da história religiosa, o arcanjo Gabriel, e pode-se afirmar que foi o anónimo escritor do Livro de Daniel quem criou ou inventou os nomes angélicos que se tornariam tão famosos: Mikael ou Miguel, e Gabriel.
Primeiro, no cap. VIII-17, surge Gabriel a explicar uma visão de animais, o carneiro e o bode, que simbolizaria o que aconteceria no tempo do Fim do Mundo, e IX-21, aparece-lhe "em voo rápido" pela segunda vez.
Mikael surgirá no cap. X, após Daniel relatar a aparição de «um homem vestido de linho, com os rins cingidos de ouro puro, seu corpo tinha a aparência de crisólito, e seu rosto o aspecto de fogo, seus braços e suas pernas como como o fulgor do bronze polido e o som das suas palavras como o clamor de uma multidão. Somente eu vi esta aparição...»
Esse homem resplandecente, e que chegou a ser identificado ora a Gabriel (já que tinha sido o interlocutor anterior) ora a Jesus segunda Pessoa da Trindade, descreve a Daniel o que se está a passar, a luta que passou e dá-lhe uma visão fantasmagórica do Fim dos Tempos, como se o houvesse um para além dos que vamos assistindo há tantos séculos, em especial nos grandes conflitos e mortandades, como vemos hoje, para os palestiniano e eslavos mortos, feridos ou destroçados:
X, 13: "O Príncipe do reino da Pérsia resistiu-me durante vinte e um dias; mas Miguel, um dos primeiros Príncipes, veio em meu socorro. E deixei-o a abater-se com os reis da Pérsia.*14: Aqui estou para fazer-te compreender o que deve acontecer ao teu povo nos últimos dias; pois essa visão diz respeito a tempos longínquos.»
Eis-nos com a menção pioneira, na história religiosa e literária, de Mikael, em luta contra os Arcanjos dos outros países (numa concepção pouco fraterna deles, mas compreensível à luz do nacionalismo judaico), havendo apenas três menções em todo o Antigo Testamento, todas elas no Livro de Daniel. Mas há-os também noutros livros apocalípticos, em especial nos fantasiosos e arrogantes Livros de Enoch, o pai de Matusalém e bisavô de Noé, escritos pela mesma altura e que não foram aceites como canónicoa nem pelo Judaísmo nem pelo Catolicismo, no qual Mikael é apresentado como um dos sete principais espíritos celestiais, que se tornaram os arcanjos Uriel, Raguel, Rafael, Sariel, Gabriel e Remiel.
Esse ser vestido de linho, como poderia ser ele Jesus (como quiseram interpretar alguns dos primeiros cristãos), andando à luta com o chefe ou príncipe (que interpretaremos, como anjo, arcanjo ou principado, aceitando tal hierarquia) persa, vinte e um dias e antes de ser então ajudado por um dos primeiros Príncipes (celestiais), Miguel, e referindo a Daniel "o teu povo", parecendo assim mostrar que não era o dele
Seguem-se mais duas aparições de seres resplandecentes ditos homens, ou "ser em forma de homem", a última entidade acabando por afirmar ser a inicial ou a anterior, pois diz-lhe: "Sabes bem” – prosseguiu ele – “por que vim a ti? Vou voltar agora para lutar contra o chefe da Pérsia, e no momento em que eu partir virá o chefe de Javã [Grécia] 21. Mas (antes), te farei conhecer o que está escrito no livro da Verdade. 22. Contra esses adversários (ou Nestes trabalhos ninguém me ajuda) não há ninguém que me defenda, a não ser Miguel, vosso Príncipe."
Segue-se então desse enigmático ser resplandecente clarividente do livro da Verdade futura uma longa descrição das lutas no III e II séculos (quando o Império de Alexandre o Magno - 256 a 323 a. C. - por morte dele se desmembrou), entre o rei do Sul, Plotomeu, do Egipto, e o rei do Norte, Antíoco, do Império Selêucida, com algumas ilusões de durações ou erros. E, por fim, entra-se no fantasioso cap. XII, que influenciou certamente o enigmático e mistificador Apocalipse, e que seria o último capítulo, mas ao qual S. Jerónimo acrescentou dois capítulos, nomeadamente com a história da casta Susana que só nos chegou em grego, e que apesar dos seus aspectos semi-trágicos, bastante fortuna teve em pinturas e azulejos, por vezes para refrescar os claustros ou junto a tanques, como vemos na quinta da Bacalhoa, em Azeitão.
Oiçamos então o fim apocalíptico de Daniel, XII, 1:«Então se levantará o grande príncipe Miguel para tomar a defesa dos filhos do teu povo» [ou noutras versão «que se conserva junto dos filhos do teu povo», ou «que protege os filhos do teu Povo»]. Será um tempo de tal angústia como jamais terá havido até aquele tempo, desde que as nações existem, mas nesse tempo o teu povo escapará, isto é, todos os que se encontrarem inscritos no Livro da Vida. E muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbio, para o horror (reprovação) eterno».
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O arcano XIX do Tarot, um programa humanista nascido no séc. XV, na versão de Marselha, espelha a influência do Julgamento final judaico-cristão. Vide:https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2016/10/tarot-arcano-xx-o-julgamento.html ... Reflexão: Tragicamente, de forma não natural, tantas pessoas passando pelos portões da morte e pensando na ressurreição, nos nossos dias. É o ensino imaginal deste arcano, e no fundo o do Julgamento apocalíptico exterior suficiente para eles, ou para nos preparar para a morte, ou haverá sobretudo que agir bem e religar ao Anjo, ao Espírito e ao Divino em nós, já, aqui e agora? |
V - Como
sabemos, o género literário das visões apocalípticas é fruto de imaginações
fortes ou frondosas, por vezes emasiado ou zelotas, que, em geral, quanto muito, conseguiram captar no mundo
astral ou imaginal certas imagens e forças activas ou germinantes e que,
de acordo com a sensibilidade, desejos e receios dos seus autores, dão
origem a narrativas apresentadas nas escrituras como profecias
divinamente seladas, mas que não passam de sonhos, desejos e filmes, ainda que recheados de simbologia, numerologia, astrologia, profecia e enigmas, de tal modo que atraem sempre muitos comentadores ou hermeneutas, e no caso, ao ser considerado de S. João, o discípulo mais próximo de Jesus, ainda mais.
Neste
caso temos um escritor que
relata os feitos e visões de um profeta Daniel, uma
figura ficcional que serviu para fortificar os judeus face a outras
religiões e povos, descrevendo mistérios da História e do Ser Divino que
nem Jesus se atreveu mais tarde a enunciar, reservando unicamente para o
Pai que está nos Céus, seja Ele Jeová ou não, tal conhecimento dum fim do mundo que não acontecerá.
Se
houve mesmo tais, ou mesmo parciais, visões dessas duas entidades
celestiais, Mikael e Gabriel, ou se foi uma invenção não podemos ter a
certeza, embora fosse valioso saber-se pois trata-se da acta de nascimento
dos dois espíritos celestiais, seja qual for o seu nível, que mais serão cultuados na história frondosa das religiões, na arte,
na devocionalidade, ainda hoje vivos para milhões de
seres, atribuindo-se-lhes tantos feitos no passado como intervenções no
presente, ainda que certamente o princípio enunciado por Krishna, a Divindade (Vishnu) manifestada, a Arjuna no canto VII da Bhagavad Gita regeu em grande parte os começos: - Qualquer que seja a forma em que me adorares com fé, eu me manifestarei a ti através dela...
A
fortuna do profeta Daniel, um dos visionários apocalípticos,
logo a seguir à de Ezequiel e o seu carro de fogo, foi grande e na Europa cristã certamente teve
influências nas crises milenaristas e outra sazonais de fins do mundo.
Mas destacaram-se em especial, como já mencionámos, a Inglaterra dos puritanos, com a sua V
Monarquia e o Portugal de Bandarra e do P. António de Vieira, com os seus sonhos utópicos do V
Império, dessas tradições estando conhecedor e amplificador devoto Fernando Pessoa.
É
de Daniel também, por exemplo, que vem a ideia e a expressão «Será
salvo todo aquele que estiver inscrito no Livro da Vida», bem como a
materialização ou coisificação da ressurreição da carne, pois que se trata de um corpo subtil e espiritual, algo que a tantas
religiões e seitas se estendeu, embora hoje vá decaindo...
A obra, em que não houve mão restrita nas visões e profecias,
ainda que enriquecida com esse sedutor maravilhoso visionário, é contudo
bastante violenta, e mesmo nos acrescentos vemos os anjos a rachar a cabeça ao meio de
dois anciões que tentaram relacionar-se sexualmente com a casta Susana. Com o Livro de Daniel termina de certo modo o profetismo do Antigo Testamento,
talvez porque viesse Jesus, talvez porque foi tão imensa e pesada a avalanche de visões que mais ninguém se atreveu a levantar a voz em
nome do Deus Jehova, ou os que o fizeram ficaram excluídos do cânone da Torah e do Novo Testamento, como já nomeamos alguns.
Do fabuloso Ivan Bilibin (1876-1942), S. Miguel defensor radioso, de culto popular.
VI - Ora do arcanjo Mikael, tão escassamente referido no Antigo Testamento, embora admitido por detrás de algumas intervenções angélicas do Génesis, também no Novo Testamento (excluindo o Apocalipse) só encontramos uma referência, embora se prometa em dois passos o Julgamento Final, quando o apóstolo Judas Tadeu o apresenta como respeitador do ser glorioso caído Lúcifer-Satanás, num episódio
mítico seja a propósito do Deuterónio XXXIV-6, ao afirmar desconhecer-se o paradeiro do túmulo de Moisés, seja ecoando o hoje perdido apócrifo de Moisés"…o arcanjo Miguel, discutindo com o demónio (Erasmo preferiu traduzir por Diabolus, Diabo, o adversário) na contenda sobre o
corpo de Moisés, não se atreveu a proferir um juízo que o desonrasse;
ele apenas disse: Que o Senhor te repreenda!" (Judas 1, 9).
Na sua versão crítica pioneira do Novo Testamento, 1515, Erasmo explica ainda que, nessa passagem, os manuscritos mais antigos não mencionam sequer a palavra Arcanjo, o que sugere o estado de infância (ou de simplicidade) da hierarquização angeológica, traduzindo-a assim: «contudo Michael, que disputou em contenda contra o Diabo o corpo de Moisés, não teve coragem lançar-lhe uma maldição, mas disse-lhe: Que Deus te increpe».
Anote-se que esta epístola de Judas Tadeu, contém duas citações do Livro de Enoch, o tal que S. Jerónimo não aceitaria como inspirado divinamente e logo canónico, as que justificam Enoch como profeta: a primeira quando escreve, v. 7: «Enoch, o sétimo depois de Adão», que é uma citação de I Enoch, 60, e a segunda, quando partilha a espectacularidade do mítico Julgamento final: v. 8 «Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos para exercer o julgamento contra todos», a qual é uma citação de I Enoch 1:9. Acrescentemos outra declaração profética, e apocalíptica, desta carta ou epístola de Judas Tadeu, 6: «E aos
anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria
habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo
daquele grande dia», dando a entender que os anjos revoltados, estavam na escuridão e presos até ao grande dia, certamente, do Julgamento e ressurreição x danação. Quanto a estarem desterrados para a Terra e perturbando os humanos ou cristãos não se fala tanto.
Aduzem alguns que São Paulo, na sua primeira carta aos Tessalonicenses, quando revela, muito aereamente, pois «o próprio Senhor descerá, à ordem dada, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, descerá do Céu, e os mortos em Cristo ressurgirão primeiro. Em seguida nós, os vivos, os que ficamos, seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens, para irmos ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. (1 Ts 4, 16-17), estaria a referir nessa "voz de Arcanjo" (e como seria ela?) Mikael, mas diremos que tal não é certo e que até ao
não
mencionar de facto o seu nome pode ter dado um sinal
de que tais nomes dos Arcanjos eram arbitrários. E o que diria ele hoje face às tabelas com nomes dos Anjos para cada dia do ano e que seriam os anjos da guarda das pessoas que nasceram nesses dias e que tanta exploração comercial e mistificação se têm prestado? Do fabuloso Gerard David (1460-1523), um S. Miguel muito rico simbólica e energeticamente. Museu de Viena.
VII - Será então do autor do imaginativo e simbólico mas já tardio (por volta de 100 d. C.) Apocalipse segundo São João (mas que nada tem de joanino, de amor e de gnose), a ideia ou visão da luta, já não (como em Daniel estava) do Príncipe de Judá e contra os Príncipes ou Principados da Pérsia e da Grécia, mas contra a própria personificação do Mal, que da serpente do Génesis se elevou a dragão no Céu e besta na Terra, abrindo assim várias hipóteses simbólicas para se personificar o Mal, o Diabo, Satan: "Houve então
uma batalha no céu: Miguel, com seus anjos, teve que lutar contra o
Dragão. O Dragão também lutava com seus anjos, mas não foi o mais
forte; para eles, a partir de agora, não há lugar no céu." ou nunca mais encontraram lugar no céu: o grande dragão, a serpente antiga - a que chamam também Diabo e Satan, o sedutor de toda a Humanidade, foi lançado à Terra e com ele os seus anjos». 12, 7-8.
Prosseguindo, nesta incursão ao mistério do mal, com uma explicitação dualizante acentuada, tendo em conta o livro de Job, onde Lúcifer ou o advogado acusador-Diabo participava calmamente na Assembleia dos Anjos com Deus: «Porque foi precipitado o Acusador dos nossos irmãos, o que os acusava diante de Deus dia e noite, mas eles venceram-no pelo sangue do Cordeiro ... Ai da Terra e do mar porque o Diabo caiu sobre vós com grande furor, ao ver que pouco tempo lhe resta», leem-se em seguida as mais estrambólicas narrativas dos sinais, pragas, acontecimentos das Bestas, do Cordeiro, da Prostituta, da Babilónia, do Messias e da Nova Jerusalém, e no Epílogo com Jesus a surgir e afirmar : «Eis que venho em breve (...) Diga também o que escuta:«Vem!» (...), terminando assim: «O que é testemunha destas coisas diz: - Sim, virei brevemente.
- Amen! Vem, Senhor Jesus! A graça do Senhor Jesus esteja com todos vós.»
Teve-se pois de aguardar algum tempo, para já no seio do Cristianismo nascente, no mesmo veio hebraico apocalíptico, se manifestar e mencionar Mikael, sendo apresentado sob a autoria do apóstolo dito o mais querido de Jesus, João, mas sabendo nós hoje que é uma obra de um judeu cristão, escrita por volta de 90-100 d. C., um autor que não conheceu Jesus, mas muito bem as visões e profecias de Isaías, Ezequiel e Daniel, dos salmos de David, e dos livros de Henoch e de Tobias. E que as utilizou frequentemente na feitura da sua obra imaginativa, provavelmente escrita para estimular a fé e a esperança e também para afastar os cristãos de estabelecerem acordos ou acomodações com outras comunidades religiosas, dando continuidade de valor aos profetas do Antigo Testamento e ao seu estilo, em riscos de serem destronados caso o Cristianismo nascente cortasse com o Antigo Testamento, o que desgraçadamente sabemos que não aconteceu.
Como se deu o grande salto de tão poucas referências ao arcanjo S. Miguel à aceitação e expansão tão poderosa do seu culto cremos ter apresentado alguns factores, nomeadamente a acção de Constantino, cm templos e ícones.
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Um ícone russo do séc. XVII, Mikhail com a espada desembainhada e sob o olhar de Jesus. |
Já o discernirmos nas intervenções, visões e revelações micaelicas o que possa ter mesmo acontecido é dificílimo, restando-nos pois acrescentar alguns elos históricos, cultuais e artísticos que lhe foram consagrados, sem alongarmos demasiado o artigo que lhe consagramos neste seu dia 29 de Setembro de 2024.
Um dos aspectos que justificará o sucesso de Mikael foi o terem-se aproveitado bem os locais e os cultos dos deuses greco-romanos, tal como vemos no Michaelion de modo que podemos explicar a consagração de Constantino e depois de outros por duas razões: uma a de se cristianizar um local de culto de pedras e de águas pagão, já com fama miraculosa e portanto absorvendo facilmente os seus peregrinos, que sacrificavam e rezavam devotamente antes a Zeus Sostenos, ou noutros locais a Hermes, Mercúrio, Wotan, Lug, a Esculápio, Aegitania, a Endovelicus, como se verificou no Alentejo em S. Miguel de Terena e do qual vários testemunhos cultuais estão hoje no Museu de Arqueologia em Belém. Por outro, porque a necessidade ou apetecência de intermediários, tanto mais que Jesus não regressara logo como muitos erradamente esperaram, e o acesso ao Pai e ao Espírito Santo não era tão fácil, provavelmente foi crescendo, recorrendo-se aos anjos e e depois aos seres considerados santos, e sabemos que foi o papa João XV (985-996), em 993, a canonizar o primeiro, Santo Ulrico, Bispo de Augsburgo que morrera vinte anos antes.
A protecção do Arcanjo em templos ou capelas estabeleceu-se tanto em locais de cultos pagãos, geral fora das cidades, em sítios altos, ou de águas, como nas cidades, tal a cidade de Constantinopla que tantos (quinze) teve após o exemplo de Constantino e do Michaleion. Outro momento alto da sua expansão sucedeu no sul de Itália, na Lombardia, a 8 de Maio de 492, quando o Arcanjo Mikael se terá manifestado ao bispo Siponto numa gruta do Monte Gargano, para que lhe construisse um santuário dando azo a que muitas das igrejas construídas sob a sua invocação tivessem criptas ou se assemelhassem à gruta de Gargano.
Anos mais tarde, em 509, teria sido o papa Gregório a vê-lo aquando de uma peste, sobre o castelo do Santo-Anjo, em Roma. E em 709, passa-se o mesmo quando Mikael aparece e pede ao bispo e depois santo Aubert para lhe abrir uma gruta e templo no monte de S. Michel, na Bretanha e, numa hermenêutica anagógica, certamente a gruta é sobretudo a do coração e da devoção, e é por tal chama e luz do amor acessa que temos acesso aos Anjos e Arcanjos.
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Invulgar gravura ou registo de uma irmandade de S. Miguel portuguesa, séc. XVIII.
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Num sentido humilde muitas confrarias e irmandades de S. Miguel se criaram no mundo, em Portugal e em igrejas ou pequenas capelas se reuniam para cultuar e partilhar a fraternidade cristã sob as asas angélicas, ou para orar pelas almas já partidas, as alminhas no Purgatório e que tanto necessitam das nossas orações, como algumas das nossas freiras místicas do séc. XVII-XVIII souberam e confessaram, tal a venerável Mariana da Purificação de Beja, ou a soror Isabel do Menino Jesus, em Portalegre.
Também algumas profissões o invocaram como protector, por exemplos os boticários ou farmacêuticos medievais, quem sabe se por Mikael ser o mestre da pesagem do bem (virtutes) e do mal (pecata) na alma, e logo servir de analogia à sábia e atenta pesagem das poções dos medicamentos que poderiam salvar ou matar.
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S. Miguel pesador de almas, por Rogier van der Weyden (1399-1464) no museu de Beune. |
Este aspecto de pesar as almas implicava também, para as boas, guiá-las no além, servir-lhes de guia ou psicopompo e tal foi certamente uma das razões fortes do aumento do culto de Mikael: era um protector na hora tão temida da morte, não bastavam as Nossas Senhoras da Boa Morte, ou o Bom Despacho. Podemos ver nas fontes de tal alguma influência do Egipto, a terra mãe das religiões e tão
cuidadosa na pesagem das almas, presidida pelo psicopompo Anubis. O considerar-se Mikael o braço direito de Jesus já que fora erguido a seu principal príncipe, ou voz, no julgamento previsto no Apocalipse, referido também na epístola de Judas Tadeu, mas sem se mencionar a acção de Mikael nele. E uma urgência de destino no além, antecipando-se o julgamento do hipotético e suspeito do Fim dos Tempos: o julgamento era à hora da morte, conforme estava a alma, logo se caminhava para inferno céu e purgatório, como vemos na Divina Comédia de Dante, no Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente e em peças do teatro popular religioso europeu
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Anúbis, com cabeça de chacal, pesa o estado do coração, da piedade e da devoção.
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Outro ainda dos factores da fortuna do Arcanjo Mikael é ele ter sido considerado protector, ou o arcanjo, de locais e mesmo países, o primeiro caso sendo o de França, onde já em 709 lhe tinha sido consagrado o monte de Saint-Michel na Bretanha, mas também Israel, o Líbano, a Rússia e o Vaticano.
Também a Portugal foi considerado estar, infundadamente, sob custódia de S. Miguel, pois a instituição da festa do Anjo Custódio de Portugal pelo rei D. Manuel, realizada em 1507 e que se comemorava anualmente no dia 25 de Julho, não o refere de modo algum, ainda que ao longo dos séculos as forças guerreiras ou protectivas atribuídas a S. Miguel fossem invocadas por igrejas, capelas ou mesmo alguns seres nas suas batalhas interiores ou mesmo exteriores.
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O Arcanjo de Portugal, ou Anjo Custódio, que nunca foi o Arcanjo Mikael numa escultura quinhentista na Charola do Convento de Cristo, em Tomar
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As concepções violentas dos Anjos, provindas em grande parte do Judaísmo, algo derivadas da época e da concepção de Deus concretizada num Jehova cioso, violento e até cruel, talvez fosse bom serem postas de parte, acabando com a crença nas mortandades realizadas por Anjos, típicas do Antigo Testamento, tendo-se mesmo criado um Anjo Exterminador (pois seria demais ser o Arcanjo do país, e logo Mikael) que teria matado os primogénitos do Egipto, o que serviu de fundamentação à legenda evangélica de Herodes ter mandado matar as crianças até à idade de Jesus, dois anos]; outro dos exemplos sendo Isaías, um dos profetas violentos, narrando no cap. XXXVII que um Anjo celeste exterminou numa noite 200.000 Assírios comandados por Senaquerib, por terem blasfemado do nome santíssimo de Deus. |
Uma imagem de S. Miguel angélico, numa fotografia em Portugal mas não localizável.
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São certamente duas mistificações, como se Deus mandasse matar por um Anjo, tomando partido em guerras humanas, e logo duzentos mil homens. Um mau precedente se abriu com esta intrujice, pois ao longo dos séculos vimos sacerdotes a abençoar os povos antes de partirem para guerra ofensivas e injustas, e para chegarmos aos nossos tempos e ouvirmos criminosos de guerra, tais como Bush, Blair, Cameron e outros, afirmarem que Deus os mandara entrar nas guerras no Médio Oriente.
Se formos para outra religião da zona, o Islão, e no seu texto fundador, Mikael apenas aparece uma só vez, na II surata, al-Bacara, a Vaca, verso 98, «Quem for inimigo de Deus, dos Seus anjos, dos Seus mensageiros, de Gabriel e de Miguel, saiba que Deus é adversário dos incrédulos», e popularmente quando executa com o anjo Gabril ou Jibril a pesagem das almas, algo bastante presente na iconografia cristã, como se a impossibilidade no Islão de representarem figuras humanas gerasse uma reacção iconográfica no Cristianismo, tão grande que a Reforma Protestante veio por cobro ao culto das imagens, infelizmente destruindo muita imagem preciosa e tornando a religião Protestante bastante mais seca, impessoal, pouco piedosa, ao perder as imagens, imaginações e aceitação de intermediarizações e visitações seja dos santos e santos seja dos Anjos da Guarda e Arcanjos, ou mesmo de Maria, todos eles tão cultuados na Europa Católica e em especial em Portugal e em Fátima.
É natural então que a partir da Reforma protestante mais se acentuasse a apetência pelos anjos e arcanjos, e sabemos como o culto do Anjo da Guarda recebeu grande incremento então, tal como os Arcanjos. Mas a estatística do culto, das estátuas dos santuários, e das devoções ao longo dos séculos não está ainda bem feita (embora a Mariana esteja bem mais) e é difícil de se concretizar dada a pluridimensionalidade dos factores e a imensidade numérica de exemplares.
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Exemplar dos estatutos, deveres, festas e orações (a principal sendo: "Anjo de Deus, que sois o meu guardião, e a quem eu fui confiado pela bondade divina, esclarecei-me, defendei-me, conduzi-me, dirigi-me. Assim seja". Duma confraria dos Anjos da Guarda do séc. XIX, Lyon, França, Europa antiga.
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Chegado a este ponto, passando por tantas efabulações bíblicas, certamente não devemos pôr em causa a existência dos anjos e arcanjos, ou seja de espíritos celestiais, com diferentes níveis de ser e poder, tanto mais que embora as referencias escriturárias fundacionais a Mikael fossem poucas uma longa tradição se foi criando, com muitos seres obtendo visões dele e descrições, não estando bem estudado as que mais fidedignas serão, pese a moda dos Anjos que desde os 70 com o New Age se foi desenvolvendo, mas que em termos de estudos e livros ficou bastante no comercial, ainda que em circuitos académicos e religiosos alguns estudos valiosos se tenham publicado.
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A luta de Mikael com o dragão, por Max Wolffhügel, um pintor antroposófico, steineriano.
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Poderíamos referir ainda alguns pintores que pintaram ou desenharam Michael com tal qualidade que poderemos admitir que foram inspirados, ou ainda os nomes dos clarividentes que viram o Arcanjo e escreveram sobre ele, seja membros da Igreja Católica seja devotos e místicos de outras igrejas e religiões, ou mesmo esotéricos e espiritualistas, iniciados, ocultistas, e seria valioso.
Entre eles, Rudolfo Steiner (1861-1925) é certamente um dos que mais lhe consagrou meditações, reflexões, esquemas, teorias e palestras, ligando bem os quatro Arcanjos e os elementais da Natureza às quatro estações do ano, às festividades solsticiais e equinociais, celebradas em tantos povos, e estudando e valorizando extraordinariamente Mikael e a sua acção na ciclicidade histórica humana, e estaríamos agora, desde 1879, na era Mikaelica.
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A era de Micael, por Leonor Malik, a directora da escola Jardim do Monte, em Alhandra.
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Dediquei algumas horas de leitura e meditação a vários livros sobre anjos e no blogue encontra artigos, como por exemplo:https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2017/08/livros-sobre-anjos-os-melhores-e-os.html
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Do
fabuloso Hans Memling (1430-1494), um S. Miguel muito luminoso, clarificador,
pacificador, a espada da Verdade apenas para ligar a Terra e o Céu...
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Podemos perguntar-nos ainda assim o que fazem estes grandes seres nos nossos dias de hoje, e se até alguma diminuição de crença religiosa neles os afectará na sua plenitude de mensageiros e inspiradores? Aguardam os fins dos tempos para lutarem e julgarem as almas, como algumas escrituras imaginaram? Certamente não, mas mais modestamente inspiram aqueles que os invocam e meditam sentidamente, com necessidade e devoção amorosa, tal como os que desenvolvem boas qualidades anímicas e aspiram a ligar-se mais a eles, nomeadamente ao Anjo da Guarda, ou a um ou outro Arcanjo, e perseveram na aspiração e adoração a Deus?
Quem medita mais intensa ou perseverantemente no Arcanjo Mikael, usando até o mantra ora ternário Mi-ca-El ou Mi-ka-hil, ora polar Mi-guel ou Mi-cael, e com as associações energético-psíquicas que quiser, poderá receber por vezes certamente dele, ou do campo de forças psico-espirituais e angélicas ligado, as energias luminosas, cruzadas e dinamizadores que necessita nas suas lutas, meditações ou criatividades e assim o seu culto continuará a existir por vivências e será um factor de ligação entre o mundo humano e o espiritual e divino, e fonte de harmonia, beleza, coragem, paz no Mundus e Kosmos...