quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Livros de Pedro Teixeira da Mota, nas Publicações Maitreya.

Alguns dos meus livros, os editados pelas Publicações Maitreya e um em edição privada: 

                                               

       ASTAVAKRA GITA- O Cântico da Consciência Suprema.

A Colecção “Luz do Oriente” quer trazer aos leitores da língua portuguesa tanto textos clássicos como ensaios ligados à tradição religiosa, filosófica e metafísica do Oriente e em especial da Índia.
A Astavakra Gita, a que demos o subtítulo de Cântico da Consciência Suprema, obra anónima indiana da tradição Advaita Vedanta, é um ensinamento profundo de grande força iluminadora sobre a essência do Espírito, do Homem e do Universo, comparável em certos aspectos aos tratados de Shankara, na desvendação da Consciência individual e do Ser Primordial e da sua relação.
Este clássico da literatura espiritual, traduzido pela primeira vez do sãoscrito para o português pelo Dr. Pedro Teixeira da Mota, um conhecedor das vias de realização indianas, e em particular do Yoga Vedanta e da meditação, que aliás tem compartilhado ao longo dos anos, está enriquecido pela introdução, notas, comentários, posfácio e um glossário dos vocábulos e conceitos sãoscritos mais importantes utilizados.
Numa época de síntese de conhecimentos e de redescoberta da Unidade subjacente às várias religiões e tradições espirituais, só podemos congratular-nos por passarmos a ter acesso a um texto de grande força libertadora e de abertura à não dualidade, um daqueles que, segundo a expressão tradicional, quem o assimilar não provará a morte.
Possa a presente obra contribuir  para dissipar as trevas da ignorância, dos preconceitos e manipulações, revelando e fortalecendo a Unidade de todos os seres, povos e tradições para que surja um convivium mais justo, luminoso e universal, propício ao Conhecimento e Realização da Consciência Divina numa Humanidade fraterna e sábia.

                                 MODO DE ORAR A DEUS

Tradução de Álvaro Pereira Mendes e Pedro Teixeira da Mota, que a contextualiza e anota.
Título original: Modus Orandi Deum. 1ª edição em 1524, acrescentada em 1525, impressas ambas por Ioannes Froben em Basileia.
Entre o Céu e a Terra ergue-se, no fogo da oração intensa, a alma que se liga ao espírito, aos anjos, às santas e santos, ou que aspira ao bem, ao amor, à verdade, à Divindade.
Erasmo, o mais sábio dos estudiosos das primeiras décadas do séc. XVI, foi convidado pelo espírito do tempo, tal como Jesus fora, a aprofundar a sabedoria perene e a realização espiritual cristã e  a ensinar a ética viva, o livre-arbítrio, a comunhão mística da Humanidade, os modos de oração e meditação.
O que emanando da Ideia e Palavra eterna se pronunciou na sua fina boca chega-nos hoje às mãos e almas, numa tradução fiel de Álvaro Pereira Mendes e Pedro Teixeira da Mota, enriquecida por valiosas anotações e uma biografia do suave pedagogo da piedade douta e da união da sabedoria pagã com a cristã, o impulsionador da vida criativa, independente e solidária.
Passados 500 anos, em que o nome de Erasmo não pereceu antes pelo contrário é o santo protector da dinâmica estudantil da Europa, esta obra, lúcida nas críticas aos costumes e mentalidades, e luminosa no discernimento e nas revelações, é um colóquio acerca da religação  espiritual e divina, transmitida por Jesus à Samaritana, que lhe deu água a beber, a Maria Madalena, a mais amada, e aos Discípulos, que o acompanharam no seu curto e trágico percurso, e constitui uma valiosa aproximação à essência e dinâmica  do Cristianismo, a que Erasmo chamava a philosophia Christi.

                                          DA ALMA AO ESPÍRITO

Com a idade, a alma ou psique de cada um, o mar imenso de milhões de partículas e ondas que formam o conjunto das suas tendências e emoções, sentimentos e pensamentos, vai-se caracterizando e definindo e, ao fortificar as suas ligações com o Espírito, com a Centelha Divina e individualidade íntima, torna-se uma alma já não meramente animal ou racional, mas também e primacialmente estética e ética, ecológica e compassiva, sábia e espiritual, aberta ao Cosmos e aos seus seres, com os sentidos espirituais e o discernimento mais despertos.
A tal passagem se chama o Caminho que se vai fazendo e este livro, dividido em trinta e três capítulos ou ensaios,
testemunha essencialmente tal demanda, em alguns aspectos, e são meditações e reflexões, intuições e desvendamentos partilhados com o objectivo de poderem ajudar outras almas no Caminho a compreender melhor os sentidos da Vida, a conhecer alguns ensinamentos tradicionais e a receber ou a despertar mais a Luz, o Amor e o Poder nas suas peregrinações ou vidas.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

‘The Conference of the Birds’, (Manteq at-Tair), by Attar, with spiritual hermeneutics by Pedro Teixeira da Mota, and drawings and paintings by José Pinto Antunes.

Simurgh, by José Pinto Antunes. Much light and love in his soul, in the subtle worlds.
The beautiful metaphorical poem by Attar, alias Farïd al-dîn ‘Attâr (1142-1221, in Nichapour, Khorassan, Iran, and who was a perfumer, herbalist, healer), entitled Mantiq al-Tayr, the Colloquy or Language of the Birds, or Conference of the Birds, more than four thousand six hundred verses long, was the most successful of all Attar's works over the centuries, and some versions have been known in different languages since those early days. In the West, in France, there were translations in 1819 and 1863, and in the 20th and 21st centuries they were expanded.
One of the abbreviated and bad versions of the work is in circulation in Portugal and Brasil, under the name Conferência dos Pássaros (Conference of the Birds), published by Cultrix. It is a translation of the English version by C. S. Nott, who translated it from Garcin de Tassy's French translation of 1863, carrying out the feat of shredding and substantially altering it in the USA in 1954, removing much of the work's spirituality. A pity. Today there are other versions in Portuguese language of better quality.
After having been a perfume and herb apothecary, impressed by the detachment and command of the body and soul of a dervish, Attar was initiated into the spiritual path by Sheik Mudj al-din of Baghdad, and from his quest we have about a dozen works left, the most valuable of which are Pand-Nama, Book of Advice, Asrar-Nama, The Book of Secrets (his last work, and of which there is an excellent annotated translation by Christiane Tortel), Elahi-Nama, the Divine Book and Tadhkarat al-Auliya, Memoirs of the Saints, the latter containing the stories and teachings of 142 Sufis from Iran, Egypt and Arabia, including Jafar Sadiq, the Iraqi Rabia Basri, Junayd, Hazrat Abdul Jilani, Mansur al-Hallaj, all of whom truly surrendered ardently to Divine Love.
 The great specialist in Islamic and Persian mysticism Louis de Massignon was a scholar and admirer of Attar, and emphasised the statement of the famous Jalâl-ud dîn Rûmî: two centuries after the disincarnation of al-Hallâj, his light (nour), or spiritual soul, manifested itself in Farîd ‘Attar, becoming his spiritual master.
We don't know for sure if this was the case, but the communion of the friends of God, the community of saints or Sufis, the auliya, is known, it is real, all those who meditate more deeply and intensely experience it in one way or another by grace, so naturally Attar was blessed by the High and the Divine, by the Sufis, and Mansur al-Hallaj, a martyr in Islam for the affirmation of non-duality between the human and the divine, was certainly a potential inspiration for him and, who knows, his invisible master or guide. Rumi, who according to some versions would still have met Attar, forty-five years older than him, would also say that Attar was his inner soul, just as Sana'i was his spiritual eye.
Attar in pilgriamge and dialogue with other spiritual master and probably poet...

Attar, in the  Dialogue of the Birds, which is now among us inspiring the painter José Pinto Antunes [and much light and love to him, who died prematurely in the meantime] to illustrate it in more than a hundred drawings, compiles numerous traditional stories and adds some new ones, adding above all comments of a moral and spiritual nature, and proposing the traditional asceticism and renunciation of the world and its pleasures and beings (a methodology that is perhaps debatable in is rigour: ‘Until we die to ourselves and are indifferent to creatures, our soul will not be free. A dead man is worth more than one who is not entirely dead to creatures, because he cannot be admitted to the other side of the curtain"), in exchange for or in favour of an ardent love for the Divine, the only one that deserves and endures.
Love for God (bhakti, prema, in the Indian tradition) is then the ultimate goal and need, and many examples are given of extraordinary or very intense love between human beings, and how we can draw from this impulses for our journey of love towards God, in this 21st century that is less and less prone to devotional love as it once flared up in medieval or even later Christianity and Islam.
Among the weakest parts, for us with the 21st century eye, is the idea of the superiority of Islam, especially over Christianity and also Hinduism, because they worship idols, so there are some amusing stories but warped in that disapproving sense of them, what is not ncessary correct, as God can be felt and worshiped in infinite ways...
There are beautiful stories, there are valuable reflections, and it would be good to better discern what came from the Sufi tradition, what he himself generated, or even what al-Hallaj inspired him, although the final part, being the most unitive, should be the most relatable to him and the one that will deserve the most meditation and deepening, as it deals with our encounter both with our own spirits and with Divinity and Unity.
The Conference of the Birds then brings together thousands of birds in the quest to access the mysterious being, Simurgh, which will lead them, with doubts and enlightening dialogues, along a long and arduous path of individuation and initiation (per aspera ad astra) to Simurgh, where only thirty of them arrive, those who have believed in the master sparrow and in themselves and have kept alive the flame of aspiration and unitive Love strongly.
                                                                       
José Pinto Antunes, appreciating this work, decided to take inspiration from it and draw it in watercolours and oil paintings, and his painting of Simurgh is particularly excellent, and the Instituto Superior de Psicologia Aplicada decided to host the exhibition in its bookshop, in partnership with the Hélder Alfaiate Gallery, for there could be no better place than the gallery of a bookshop linked to Psychology, the Logos da Alma, to exhibit and evoke Attar's legendary work. [This revised article in english is a translation from the one published in 21 Marchj, 2018:  "A Conferência dos Pássaros", de Attar, desenhada e pintada por José Pinto Antunes. E sua hermenêutica espiritual por Pedro Teixeira da Mota, as I was invited by Helder Alfaiate and José Pinto Antunes to write a text on Attar's work and the paintings].
                             
The one who guides and advises the thousands of birds in their quest for individuation or fulfilment is the hoopoe, with its almost royal characteristics ("it had on its chest the sign that testified to its entry into the spiritual path and on its head the crown of truth. In fact, she had entered the spiritual path intelligently and discerned good and evil"), and she tells them stories from the Sufi tradition, full of psychology and morality, ethics, asceticism and discernment, which will help them to free themselves from the ignorance, illusions and traps of their nafs or instincts and of the world, and to reach the distant but also intimate Simurgh.
So we're on a pilgrimage, an inner quest for disidentifications, qualities and living realisations, in which patience, detachment, determination, light, truth and unity are unveiled. And so each bird will expose and see its inner specificities and difficulties clarified. Likewise, in this sense, whoever draws them will have to exercise almost the vision of a Hieronimus Bosh in order to discern when one of them is carrying a dog or a snake inside, which ones are more divided and tied up, and which ones reflect more the limitations of humans and their struggles and aspirations, or love, freedom and unity.
The path presented by Attar is simple and pure, or one of the possible etymologies of Sufi would not be the white wool worn by such ascetics and mystics: it is the love of God, of the primordial Source and Unity underlying everything, which is the most important because it is the only one that always lasts and is the final destination or goal; therefore, we must aspire to it, not letting ourselves get too involved in the world and its people and activities, detaching ourselves from them and from our desires and egos and unifying our soul forces in a single will for reintegration or divine union, undoubtedly a Herculean task, even then but especially in the 21st century.
In these senses of the multiple forces that constitute us, José Pinto Antunes also captures and in fine overlays draws in the birds and the stories involved or in symbiosis with the elements of nature, with the environmental conditions, with the mysteries of the subtle soul worlds, in the immense and infinite space of the pilgrimage in the divine manifestation of life, which in the poem is crossed in seven valleys, stages or phases of the Path of souls and birds, called successively Talab, the valley of Demand, Eshq, that of Love, Marifat, that of Gnosis or spiritual Knowledge, Istighnah, that of detachment, Tawhid, knowledge of Unity, Hayrat, admiration, Faqr, denudation and, finally, Fana, extinction or transmutation of the ego and union (more or less...) with Divinity or Primordial Unity.
In many of the drawings (and there were 120 of them), more strongly or more softly traced and watercoloured, or else painted more fleshly or intensely in oils, we feel that they are windows into such valleys and states, common to other traditions although with other names, of the poem's birds-souls and of us, who pilgrimage through them, experience them and aspire to the deepest or highest in them. 
                                     
Perhaps if we have a good discernment, or even a good intuition, we can discover which bird, valley or soul state is represented in the successive drawings by José Pinto Antunes, when he is questioning, painting and glossing with Attar the marvellous human dialogic pilgrimage of self-realisation, towards the supreme mystery, of the end that is also the beginning, because the Simurgh sought is the Source of which we are a mirror, a bird, a song, a part, metaphors for the mystery of our quest and historical participation in the Divine and Cosmic Unity, so lived and proposed by the Sufi and Persian Islamic tradition and so potentially current today, for example, in the scientifically proven notion of the unified field of energy-information-Consciousness.
Let's focus on some of the best teachings, the first two relating to conscious psycho-spiritual breathing:
End of Ch. XXV: ‘Each of the breaths that measure your existence is a pearl and each of your atoms is a guide for you towards God. The benefits of this Friend of yours cover you from head to toe; they manifest themselves visibly and marvellously in you.’
End of chapter XXIX: ‘He whom his desires subjugate, he cannot breathe for a moment in the company of his soul.’ So, conrol more yourself, and breath deeply....
What the master hoopoe, at the beginning of chapter XXXV, conveys to a questioning bird is very practical and effective, and illustrates the practice common to various religious and spiritual traditions of persistent or repetitive prayer or remembrance of a name, mantra, dikr or phrase:
‘As long as you live, replied the stern one, be content to remember (dikr) God recognisably, and avoid superficial talk and words. If your soul possesses this contentment, worries and sorrows will fade away. In the two worlds of the visible and the invisible, this is what is most appropriate for the contentment of human beings. It is for him that the heavenly vault is in motion. Remain content in the Divinity and move like the sun out of love for it’. So simple and straigt teaching...
Or the beautiful story told in the same chapter: ‘A wise man said: ’For seventy years I have been constantly in an ecstasy of contentment and happiness, and in this state I participate in the sovereign majesty and even unite with the Divinity. As for you, who are preoccupied with finding the faults or mistakes of others, how can you rejoice in the beauty of the invisible world? If you look for faults with a scrutinising eye, how can you ever see invisible things? First rid yourself of your faults so that you can truly be king over invisible things. You split a hair in two to see the faults of others, but you are blind to your own faults. Take care of your own faults: then, even if you have obscurities or faults, you will be honoured by God...


About the valley of Gnosis, of esoteric knowledge, Ma'rifa, or Irfan, chapter XL, Attar advises us to eat and sleep less and wake up more, indeed always fruitful:
‘If you deprive yourself of sleep during the night and if you don't eat during the day, you may find what you are looking for. Search until you lose yourself in the search by refraining from eating during the day and sleeping at night. Don't sleep if you're looking for spiritual things, but if you're content to talk about them, then sleep is good for you. Guard well the way of the heart, for there are thieves all around. The path is surrounded by thieves of the heart, so preserve the jewel of your heart from these bandits.
As soon as you have the virtue of knowing how to guard your heart, your love for spiritual science will readily manifest itself. This knowledge will undoubtedly come to the person who watches in the midst of the ocean of his heart's blood. He who has long endured wakefulness has his heart awake when he approaches God. Since it is necessary to deprive yourself of sleep in order to keep your heart awake, sleep little in order to keep your heart faithful. You must repeat to yourself when your existence is shattered: ‘He who is lost in the ocean of beings must not let out a moan of complaint. True lovers have all gone off to sleep intoxicated with love. Hit the nail on the head, for the excellent beings have done what they had to do. He who really has a taste for spiritual love holds in his hand the key to both worlds’.
And let's end with the final chapter, which encourages us not to fear the mysterious, fana, extinction, and with the beginning of his epilogue, in which he bids us farewell:
‘When the sun of poverty or spiritual nakedness shone on me, it burnt both worlds more easily than if it had been a grain of millet.
When I saw the rays of that sun, I wasn't isolated, the drop of water returned to the ocean. Although in my game I sometimes won and sometimes lost, I ended up throwing everything into the ocean.
I was erased, I disappeared; nothing remained of me; I was no more than a shadow, not the slightest atom remained of me. I was a drop lost in the ocean of mystery and today I can't even find that drop. Although it's not in everyone's nature to disappear like that, I was able to lose myself in annihilation, along with many others who were like me. Is there anyone in the world, from the fish to the moon, who doesn't want to get lost here?
 
Tomb of Attar, in Nihapur, Iran. May he inspire us!
Epilogue, beginning:
‘O you who are advancing on the spiritual path, do not read my book as a poetic or magical production, but read it as relating to spiritual love, and judge, by a single sensation of your love, what my hundred love pains might be. Whoever reads this book, enlivened by this love, will throw the ball of happiness to the finish line. Forget abstinence and vulgarity; all that is needed here is love, yes, love and renunciation. Whoever possesses this love has no choice but to renounce his soul’ and move forward in love in order to see or find Simurgh.
Asked by a bird what one could offer, or with what one should reach the divine Simurgh, the master hoope, replied: ‘Take the ardour of the soul and the effort of the spirit, because no one should give anything else.’


Of the trascendent and immanent Divinity in Iran: Ahura Mazda, Saoshyant, Madhi, Fravashi. The lucid Earth. Small contributions.

 Iran, which in ancient times, under the name of Persia, stretched over vast territories and had successive kingdoms and empires of great brilliance in the history of civilisation, owes many valuable spiritual aspects that any scholar of humanity and particularly of religion, art, ethics, philosophy and spirituality should know at least a little about.
This short text is an invitation to study the religiosity and spirituality of this historic civilisation and its people, and will briefly and almost superficially, given the complexity and subtlety of Mazdeism or Zoroastrianism, touch on a few aspects: the conception of Divinity in its transcendence, immanence and qualities, the vision of its manifestation, or descent to Earth or avatarisation, and the presence of heavenly spirits among us. Although many centuries have passed since the hymns, texts, dialogues and rites shone in their genesis, transformations and splendour, since Madzeism is one of the oldest historical religions, probably born between the 3rd and 2nd millennia BC, we believe that whenever, in a sincere quest, we study, think and meditate on the Divinity with aspiration and love, and from a good conception, some openness or connection between It and us is re-established, which is very beneficial, amid the superficialisation and dispersion of modern day-to-day life, both for us immortal spirits and for Humanity.

                                       

 The Persians achieved a vision, or came to a conception, of God or the Supreme Divinity, called Ahura (Lord) Mazda (Wisdom), for some better translated as the Sublime Wisdom, also called Hormazd, and expressed it in various hymns and texts, surviving well expressed in one of the gathas, or hymns of Zoroaster, or of whoever wrote in his name:

 When I conceived You, O Mazda,
As the First and the Last,
As the Most Adorable,
As the Progenitor of Good Thought,
As the Creator of the eternal Law of Truth and Light,
As the Lord Judge of our actions in Life,
Make room then in my vision for You.
Gathas: Yasna, or ch. 31-8.

They also discerned that Ahura Mazda had his holy or kindly aspect or spirit, Spenta (beneficent, increaser) Mainyu (spirit), and was the creator and preserver of a cosmic order (Asa, or asha), which was based on certain principles and qualities of his, the Amesha Spenta, explained as good mind (vohu mana), righteousness (asha), self-control or mastery (khshatra, hence the kshatryas in India, the other Indo-European branch, the warrior caste, and hence the strong presence of a spiritual cavalry in Iran), serenity (armayti), fulfilment (hauvartat) and immortality (ameratat, the same as the Indian amrita). These Amesha Spenta can therefore be identified both as six divine qualities and as great individualised celestial spirits, and it is believed that Jews and Christians formed the notion of Archangels from them. 

                                  

It wasn't until later, as they weren't mentioned in Zoroaster's primordial hymns or gathas, that the participation of the celestial counterpart of every human being, the Fravashi, was added to Divine Providence on Earth.
 Originally, Zoroastrianism was not a dualistic religion and it was only later that it was considered that the Divinity, with its emanations of light and good, was opposed by a being and mental state called Angra Mainyu, or Ahrimam, so that Life had to be seen as a struggle between good and evil, in the heavens, but not so much with Ahura Mazda, but between Spenta and Angra, and even more so, of course, on earth between evil beings and those who are just or kind, and this kind of Guardian Angel, Fravashi, then came into play.
It's therefore not surprising that the Iranians have never liked or accepted the name given to them by US or Western imperialism: the axis of evil. For them, for well-founded and constantly proven reasons, the source of evil on Earth is ignorance, arrogance, ambition and violence, and in recent times especially Western imperialism, which has caused so much conflict and suffering.

                               

Although the impact on the three Religions of the Book (Judaism, Christianity and Islam) is more widely recognised, the ever-changing Iranian religion also influenced Mahayana Buddhism, taking hold in the first centuries in the area of the Indo-Scythian kingdoms in eastern Iran, and from there spreading to Chinese Turkestan, China, Korea and Japan.
The first translators of Buddhist texts into Chinese were the Parthians from Persia, and through their influence the figure of Sakya Muni (Buddha, the silent sage of the Sakya clan) diminished, while that of the luminous beings and future Buddhas, the bodhisattvas, such as Amitabha Buddha, of the Infinite Light and who presides over the paradise of the West, sukhavati, similar to the land of Light or lucidity of Manichaeism, the religion that succeeded Zoroastrianism, grew.
Now it will be another bodhisattva Maitreya or Ajita who will correspond to Mitra invictus, the invincible Sun, and above all to the Saoshyant of Zoroastrianism, that divine manifestation who will come to bring the full Light to Earth, something that Jews and Christians, with the idea of the Messiah, and Islam, with the final coming of the prophet, especially the Shi'a, the majority in Iran and Iraq, who most believe in such a coming, through the unveiling of the hidden 12th imam, the Madhi.

                             

The coming of the divine envoy promised by Zoroaster had a correspondence in human beings, and nothing racist but universalist, as he explained in Yasna 48, 12:

‘The saviours (Saoshyants) who will come from the peoples
are those who, through good thought (vohuman),
commit themselves by their actions to fulfil
the duties that you, Mazda, Sublime Wisdom,
have transmitted as true justice. ’

Capa de livro trazido da Índia quando estive em Bombaim em diálogo com um sacerdote madzeísta ou parsi: Zoroastro resplandecente

 This aspect of the avatarisation or descent of the Divinity, in the dimension of initiatic Zoroatrism and the Perennial Wisdom, and which touches or is incumbent upon all of us, was explained in an even more spiritual way by a notable scholar and connoisseur of the sacredness of Iran, Henry Corbin, by the following phrase and idea:
‘The bond that unites each believer with the Saoshyant to come, the bond that makes him also a Saoshyant in this world, results from his realising or fulfilling the pre-existential choice [in the primordial emanation or before incarnating] of his fravarti or fravashi (his angelic counterpart, his heavenly Self): to make manifest, or to be, the world of Light.’ 

- Ó Fravashi, Fravashi...

How many of us are faithful to the call, the inspirations, the illuminations of our Guardian Angel, our Fravashi, our Spiritual Self, the divine face (or conception) that we love and adore the most? How many times during the day do we cultivate these connections, through prayer, breathing, giving thanks, meditating, sacrificing, loving?
Let's be more lucid in what forms and disinforms us, let's fight more creatively for the Light, the Good and the Truth and let's courageously radiate them in encounters with the forces of ignorance, lies, hatred, cruelty and therefore Evil that surround us so much today, so that we can deserve to feel the spiritual, celestial and Divine presence or connection in our heart and true being, and thus generate more lucid, peaceful and loving Earth in Humanity and the Cosmos in solidarity and multipolarity...

This text was written in portuguese, and today 0.9.24, translatd to english.


segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Sebastião da Gama: "Lugar de Bocage na nossa poesia de Amor". Uma visão do amor pleno, de corpo e alma unificados.

                                   

Sebastião da Gama, Lugar de Bocage na nossa poesia de Amor, Lisboa, 1953,  é uma separata in-4º de 23 páginas da Revista da Faculdade de Letras, do Tomo XVIII, 2ª série, de homenagem ao poeta e professor, que morrera a 7 de Fevereiro de 1952, nela se transcrevendo a palestra proferida por Sebastião da Gama em Setúbal em 15-IX-1950, e repetida em Estremoz em abril de 1951 e Vila Viçosa, junho de 1951, momentos certamente inesquecíveis para Sebastião Gama (1924-1952) e os seus ouvintes, tal como ele deixou registado nos manuscritos e foi inserido pela direcção da Revista em nota final: «Não pude no entanto deixar fugir a estas duas agradáveis coisas: primeira - ler a meia dúzia de Amigos que tenho nesta cidade (...) não chamo vaidade, no entanto a isto de me querer numerosamente ouvido: é mais suave aos olhos da minha consciência dizer que é prazer de pagar aos estremocenses, com leite do meu gado, o puro azeite da simpatia e do bom acolhimento». A palestra (esquematizada no seu início em Setúbal e Azeitão, 15-12-48) seria publicada mais tarde, nomeadamente na antologia O Segredo é Amar, publicada em 1969 na Ática pela suave Matilde Rosa Araújo.

                           

Sebastião da Gama era poeta, era jovem, era amoroso e aproximou-se de Bocage com o discernimento de companheiro de aventuras e ao mesmo tempo de professor, pelo que conseguiu extrair da sua vida e obra os aspectos fulcrais do Amor nele.  E, no seu modo de ser e estilo tão coloquial e fraterno, traça-nos uma visão geral e sumária da poesia de Amor portuguesa, mostrando-nos o lugar nela  do Bocage amoroso imortal, nos seus melhores sentidos e discernindo os seus íntimos sentimentos e tendências, comparando-o ao principal dos imortais sonetistas, Luís de Camões e sobretudo inserindo-o na sua especificidade e originalidade na tradição lírica portuguesa, que ele considera dividida em duas correntes: a que reza, de mãos postas e a que abraça, de braços abertos,  a que ama a alma e a que ama o corpo.
Triunfou mais a
corrente poética que amou a gemer e de joelhos, frequentemente diante da Dama indiferente e distante, embora inteligente, sensível, sensata, e mesmo Luís de Camões teve se sujeitar em parte a tal linha, escapando aqui e acolá, e sobretudo na Ilha dos Amores. Compreensível porém, acrescentaremos nós, face aos códigos vigentes religiosos e de moralidade, controlados pela Inquisição e que a contra-Reforma estava a intensificar puritanamente ou anti-sexualmente.
Já a visão
realista do Amor, diz-nos Sebastião da Gama, que «surge nas Cantigas de Amigo, continua-se no Cancioneiro de Garcia de Resende, aflora em Camões, recebe vigor novo em Bocage, e tem uma força já magnífica nalguns poetas modernos».
Nela,
vê bem e com perspicácia que «deixa  a mulher de ser pintura, deixa o amor de ser suspiro. Vê a gente afinal (isto nas Cantigas de Amigo, onde está o princípio da história) que não é o Poeta tão desamado, que não é a mulher tão dura. Nem é a mulher, vê a gente afinal, Nossa Senhora nenhuma: é uma criatura encantadora mas de carne, e que tem saudades verdadeiras, femininos caprichos. A Cantiga de Amor foi a convenção que ditou; a Cantiga de Amigo foi a própria realidade».
Sebastião da Gam
a menciona então como elos desta corrente do amor de corpo e alma, a seguir a Bocage, Tomás António Gonzaga (1744-1810) e a Marília de Dirceu, Almeida Garret (1799-1854), António Nobre (1867-1900), Alberto Serpa (1906-1992) e Armindo Cortes Rodrigues (1891-1971), omitindo com razão Fernando Pessoa, embora cite Álvaro de Campos «Todas as cartas de Amor são ridículas». E regressa de novo, e demoradamente, a Camões, destacando nos Lusíadas a figura de Leonardo que não segue apenas "o apelo do sexo": «Leonardo é a confirmação camoneana do que eu disse ao princípio: que o Amor, o Amor que o é, é uno e indivisível.»

Bocage, visto por Maria de Fátima Silva.

Será só após percorrer, sumariamente, o longo percurso temporal da tradição poética portuguesa do Amor - das Cantigas de Amigo até à Modernidade - ,  que vai, com bastante juventude, amor e ousadia abordar Elmano Sadino, isto é,  Bocage, confessando que ao contrário  de Luís de Camões, constata que a sua poesia «é mais de acordo com a experiência pessoal, menos sujeita ao, assim chamado por mim, pudor literário, mais independente de tudo que não seja o próprio amor como  realmente foi vivido. Ler Camões e pensá-lo - é dar-se a gente conta de que por detrás da sua poesia há uma ideia - de que a sua poesia obedece a uma teoria, a um conceito de Amor. A vida terá confirmado tal conceito, como já estabeleci, mas a confirmação não invalida o meu ponto de vista.  Com Bocage, o caso é outro. Também ele faz uma ideia do Amor - toda a cabeça pensante faz uma ideia do Amor; mas esta ideia não é senão a resultante de um conhecimento directo, uma lição aprendida fora dos livros. Tem-se a impressão de que Bocage vai para o amor ingenuamente [ou talvez mais, sincero e confiantemente]. Não sabe nada, não prevê nada. Por detrás de cada poema se entrevê a circunstância que lhe deu origem, como se cada apontamento fosse um apontamento tirado in loco. A sabedoria virá depois.
E que diferente da sabedoria camoneana vai ser a dele! Abalou para o amor de coração intacto; quanto muito, como todo o que parte sem medo, levava-o cheio de esperança. E logo o amor lhe foi uma coisa deleitosa, um risonho prazer. Eis o que o opõe terminantemente a Camões: o contentamento de amar. E daí o ar festivo de tantos dos seus versos de amor:

«No risonho prazer consiste a Vida»

- isto é o que ele aprendeu amando; e ainda que o Amor é um doce Nume, que os seus farpões, forjados no céu, são deleitosos.»
Após esta visão prazentosa, optimista, de sacralização do amor físico e afectivo que vê activa em Bocage, e certamente em ressonância com a sua jovem alma amorosa, Sebastião da Gama vai explicar como a Mulher nesse final do século XVIII era já bem mais real e menos submetida a idealizações e platonização, e exprime-se com belas e sentidas imagens. Oiçamo-lo com os seus vinte e seis anos, tão intensos de sede de conhecimento, de amor, de comunicação, de fraternidade e que infelizmente pouco tempo mais neste vale de amor e de dor passaria: «É de adivinhar que só vê assim o Amor quem viu a Mulher bem diferente da humana fera do século XVI. [Um pouco forte e extremizante a afirmação, pois nessas cortes de amor platonizante a distância não era tão negativa. Isto pode ter causado choque entre os seus professores]. Não será deleitoso senão o amor da mulher que se entrega em vez de recusar-se. Getrúria, Nise, Ulina, Marília, não viveram duramente fechadas numa redoma de indiferença; nem o Poeta pode calar o que para lá do simples consentimento houve entre ele e elas.»
O jovem professor, namorando e feliz do encontro do Amor plenamente correspondido, vai pois vibrar fortemente com Bocage e assim compreendê-lo e partilhá-lo na intimidade amorosa pura, como podemos observar na continuação: «Getrúria, Nise, Ulina, Marília ( e ainda Armia e quantas faltam para as sete mulheres e meia da tradição) suspiraram nos seus braços, consentiram gostosamente em ser a agua da sua sede. O que dá nervo e novidade à poesia amorosa de Bocage é o desejo que a percorre toda, desejo sequioso mas terno- (terníssimo - especifica ele, que se conhecia por dentro e por fora. E essa correspondência, essa dádiva total da mulher amada.
Luminosamente, escreverá Bocage:

«Se é doce no recente, ameno Estio
Ver toucar-se a manhã de etéreas flores,
E, lambendo as areias, e os verdores,
Mole, e queixoso, deslizar-se o rio:

Se é doce no inocente desafio
Ouvirem-se os voláteis Amadores,
Seus versos modulando, e seus ardores
De entre os aromas de pomar sombrio:

Se é doce mares, céus ver anilados
Pela Quadra gentil, de Amor querida,
Que esperta os corações, floreia os prados:

Mais doce é ver-te, de meus ais vencida,
Dar-me em teus brandos olhos desmaiados
Morte, morte de amor, melhor que a vida. 

Olha Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?

Vê como ali, beijando-e, os Amores
incitam os nossos ósculos ardentes:
Ei-las de planta em planta as inocentes
As vagas borboletas de mil cores (...)»

Sebastião da Gama discerniu bem a originalidade e o lugar pioneiro de Bocage na poesia de Amor portuguesa, ao conseguir unir o amor da alma com o amor carnal ou do corpo que se deseja e lhe é belo. Reconhece contudo os efeitos negativos que os ciúmes lhe causavam, e dos quais Bocage se queixava, e vai relembrar Antero (que contudo Sebastião da Gama esquece na sua poesia juvenil altamente amorosa, embora de facto bem mais platónica) e Mário de Sá Carneiro, que chegaram mesmo a dar fim "ao Fado acerbo e duro" que Bocage maldizia:
«E chega a propor-se a porta de saída de Antero e Sá de Carneiro:

«Eia, amante infeliz, teu fim procura:
Fantástico terror não te reporte»

Mas eu prefiro a solução luminosa, a ressurreição em saudade. Aí se depura o amor de Bocage, se transcende, se diviniza. A luz renovou-se no próprio chão em que Bocage sofria; o Amor que não a Morte, encheu de Claridade os olhos do Poeta:[No soneto à Memória de Ulina:]

«Sonho, ou velo? Que imagem luminosa,
Esclarecendo o manto à Noite escura,
A meus olhos pasmados se afigura?
Sopeia a tua dor, alma saudosa!

De mais vistoso objecto o Céu não goza,
A clareza do Sol não é mais pura...
Que encanto! Que esplendor! Que formosura!
Caiu-te um astro, abóbada lustrosa!...

Sorrisos da purpúrea madrugada,
Vós tão gratos não sois... Ah! Como inclina
A face para mim branda, apiedada!...

Refulgente visão, tu és de Ulina;
Tu és cópia fiel da minha amada,
Ou reflexo talvez da Luz divina.»


Que Bocage e Sebastião da Gama, as Musas e Anjos, nos inspirem e unifiquem na "Luz Divina", do Amor e do Espírito...

Reconhecendo que Bocage se deixa frequentemente colorir "pela queixa, a solidão e a morte", observa contudo que logo o Amor o resgasta: «No Amor se queima Bocage, para logo renascer, humana fénix, e renascer transfigurado.»
                                  
Joana Luísa da Gama, a namorada de Sebastião desde 1944, e casados no convento da Arrábida em 1951. A ela (com colaboradores valiosos) se deve o ingento trabalho da coordenação e publicação dos vários manuscritos do tão intenso quão fugaz poeta, professor e amante da Arrábida.

Os dois parágrafos finais são sinceros, ousados, sábios, belos, e vamos transcrevê-los (tanto mais que não estão na net), para ser mais completa a comunhão com Bocage e Sebastião da Gama: «Era uma vez (terminemos a história como é costume começá-las) um poeta moreno que nos emancipou do pudor literário. A esse tal repugnava complicar pelo pensamento o que nascera simples como as ervas; sublimar o que já de si mesmo era sublime; apodar de triste o que era a sua mais sincera alegria; ou encobrir-se, para cantar à vontade o que lhe ia pelo coração, na figura de amadores fantásticos. Bocage (o tal poeta é Bocage) vai direito ao fim sem nenhuma dessas subtilezas. No quadro da nossa poesia de Amor, em que há lugar, como acabámos de ver, para o recato e discreto atrevimento, Bocage é aquele poeta que nos diz de frente o que tem a dizer. (...)
Minhas Senhoras e meus Senhores, muito boa tarde e muito obrigado por me terem ouvido até ao fim [e com que alegria não terá pronunciado estas palavras cumprida a sua missão]. porque a meada acabou. Possa Bocage perdoar-me, se fiz afinal a sua caricatura. O mau, Senhoras e Senhores, foi querer figurar em palavras o que Bocage me deixou no espírito: que aí ficou dos seus versos de Amor apenas a luz puríssima que os distingue.»
Arrábida, Maio e Junho de 1950 (Esquema: Setúbal e Azeitão, 15-12-48).

domingo, 8 de setembro de 2024

Daria Dugina continua entre nós. Mensagem de Aleksandr Dugin, agradecendo aos que a saudaram ou comungaram na data do seu martírio.

                                     
Aleksandr Dugin publicou hoje dia 8 Setembro este texto belo e profundo, para meditarmos, em homenagem à Daria, ou Dasha!
«Caros amigos!
Agradeço do fundo do coração a todos os que comemoram o trágico dia 20 de agosto de 2022, quando a minha filha Darya foi brutalmente assassinada por uma terrorista ucraniana. Agradeço a todos os meus amigos e amigos de Darya pelas vossas condolências e por partilharem a minha profunda tristeza. Agradeço também a publicação dos vários livros escritos por Dasha ou dedicados à sua memória.
Dasha era, primeiro e acima de tudo, uma mulher da Tradição. E a Tradição para ela era tudo - a sacralidade, a filosofia, a política, a família, a amizade, o passado juntamente com o futuro - a própria Eternidade...
Dasha era muito frontal na sua lealdade à Tradição. Até à sua morte brutal... Foi assassinada quando regressava do festival “Tradição”, a 20 de agosto de 2022. Isso não pode ser pura coincidência. Isto é um sinal de Deus.
Só aquilo pelo qual as pessoas estão dispostas a sacrificar as suas vidas possui o verdadeiro valor. A tradição é o mais elevado valor. Para Darya. Para mim, para a minha mulher Natasha, para a minha família, para o meu povo. É o que faz da Mátria a Mátria, do povo o povo, da Igreja a Igreja, da cultura a cultura.
 
Dasha era a personificação da criatividade, era um lançamento para o futuro, vivia na fé e na esperança. Estava sempre a olhar para a frente e para cima. Erradamente, levou-o muito a peito, no que diz respeito a “para cima”.... Mas a sua mensagem continua viva entre nós e torna-se cada vez mais distinta, reunida, clara. A sua mensagem é um convite ao futuro russo e a um futuro verdadeiramente europeu. Um futuro que tem ainda que ser realizado. Por si, por nós.
Dasha sempre pensou em si própria como um projeto, como uma estimuladora da vontade criativa. Ardia com a filosofia, a religião, a política, a cultura e a arte. Viveu de forma tão rica, tão plena, precisamente porque estava interessada em tudo. Daí a variedade dos seus interesses, dos seus textos, dos seus discursos, da sua criatividade, dos seus esforços. Durante a sua vida, desejou fortemente que os russos avançasem, que o nosso país e a nossa cultura deixassem de estar parados e levantassem voo.
Considerava como sua missão viver pela Rússia e, se necessário, morrer pela Rússia. Foi o que escreveu nos seus Diários, “As alturas e os pântanos do meu coração”, que publicámos recentemente na Rússia. O segundo livro filosófico de Dasha, Optimismo Escatológico, será publicado em breve na Rússia. E é óptimo que já esteja publicado em inglês. Dasha é lembrada e amada em todo o mundo por aqueles que são fiéis à Tradição mesmo nos tempos mais sombrios, mesmo quando a própria Tradição já não existe, por aqueles que permanecem fiéis a Deus mesmo quando Ele está morto.
Viver para a Rússia é a sua mensagem, que deve ser transmitida sempre e sempre de novo
Temos muitos maravilhosos e verdadeiros heróis, guerreiros, defensores, pessoas com almas profundas e corações puros. Alguns deles deram a vida pela Mátria. Alguns deles vivem agora connosco. A memória de cada herói é sagrada. E a memória de Dasha também o é.
                                               
Mas o facto é que Dasha não é apenas um modelo de patriota e cidadã, ela é também portadora de um incrível potencial espiritual (mesmo que não tenha tido tempo para o desenvolver plenamente - foi morta demasiado jovem, aos 29 anos). Esforçou-se por encarnar a graça da Rússia imperial, o estilo da Idade da Prata da cultura russa do início do século XX e estava impregnada de um profundo interesse pela filosofia do neoplatonismo. A ortodoxia e a geopolítica russa. A arte moderna avant-garde - na música, no teatro, na pintura, no cinema - e a compreensão trágica da ontologia da guerra. Uma aceitação sóbria e aristocraticamente contida da crise fatal da modernidade e uma vontade ardente de a ultrapassar. Tudo isto é um otimismo escatológico. Enfrentar a desgraça e o horror da modernidade e, apesar do horror, manter uma fé radiosa em Deus, na sua Misericórdia, na sua Justiça.
                                                     
Gostaria que a recordação de Dasha não fosse tanto manter-se o foco nas imagens da sua vida como rapariga viva e encantadora, cheia de pura energia, mas fosse antes a continuação do seu ardor, a realização dos seus planos, dos seus sonhos imperiais puros e clarividentes.
Hoje, é claro para muitos que Dasha se tornou objetivamente a nossa heroína nacional. Poemas e pinturas, cantatas e canções, filmes e universidades, peças de teatro e produções teatrais são-lhe dedicados. As ruas das cidades e das aldeias têm agora o seu nome. Está a ser preparado um monumento para ser instalado em Moscovo e talvez noutras cidades.
                            
Uma rapariga que nunca tinha tomado parte em hostilidades, que nunca tinha apelado à violência ou à agressão, que era profunda e sorridente, ingénua e bem-educada, foi brutalmente assassinada à frente dos olhos do pai por um inimigo sem coração e sem escrúpulos, uma mulher terrorista ucraniana que também participou no festival “Tradição” e não hesitou em envolver a sua pequena filha de 12 anos no brutal assassínio. Foram as autoridades de Kiev e os serviços secretos do mundo anglo-saxónico, inimigos ferrenhos da Tradição, que a enviaram para cometer este ato. Há exatamente um ano, em 20 de agosto de 2022, dei uma conferência sobre o “Papel do Diabo na História” no Festival da Tradição. Dasha escutou. A assassina também ouviu. O diabo estava a ouvir o que eu dizia sobre o diabo, preparando-se para fazer o seu trabalho diabólico.
                                    
E Dasha tornou-se certamente imortal. A nossa nação não podia ficar indiferente a isto. E a minha tragédia, a tragédia da nossa família, dos amigos de Dasha, de todos aqueles que comunicavam e colaboravam com ela, tornou-se a tragédia de todo o nosso povo. E as lágrimas começaram a inundar as pessoas, tanto nas que conheciam esta rapariga como nas que ouviam falar dela pela primeira vez.
E estas não são apenas lágrimas de dor e tristeza. São as lágrimas da nossa ressurreição, da nossa purificação, da nossa Vitória vindoura.
Dasha tornou-se um símbolo. Ela já é um símbolo. Mas agora é importante que o significado essencial deste símbolo não desapareça, não se dissolva, não desapareça. É importante não só preservar a memória de Dasha, mas também continuar o seu trabalho. Porque ela tinha a Causa. A sua Causa.
Há santos que ajudam em determinadas circunstâncias: um ajuda na pobreza, outro na doença, o terceiro na peregrinação, o quarto no cativeiro. Os ícones russos individuais também são distribuídos de forma a apadrinhar pessoas em várias situações difíceis, por vezes desesperadas. “Aplacai as minhas dores” é o nome de uma das imagens da Mãe de Deus. E há um cânone que é lido quando se torna impossível viver e tudo se desmorona.....
Os heróis e as heroínas também são diferentes. Um encarna a valentia militar. Outro - a ternura sacrificial. O terceiro - a fortaleza. A quarta, - o auge da vontade política. Todos são belos.
                  
Dasha personifica a alma. A alma Russa.
Se não houver alma, não haverá Rússia, não haverá nada.
Muita gente boa ofereceu-se para levar consigo dinamicamente a memória de Dasha.
Existe o “Instituto Popular Daria Dugina”.
Há as “Classes de Coragem Daria Dugina”.
Há uma nova série de livros da excelente editora Vladimir Dal, “Os livros de Dasha”.
Há vários prémios e outras iniciativas.
E deixamos que as pessoas façam o que o seu coração lhes diz para fazer.
O importante é fazer tudo com a alma.»
                                                         

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Iter in Spiritu, Caminho no Espírito, exposição de pintura da Maria de Fátima Silva, na Biblioteca Camões. Contributo para folha de sala.

 Iter in Spiritu, Caminho no Espírito, é o título da exposição de pintura que a Maria de Fátima Silva, da sua profunda e grande sensibilidade, criatividade e alma, nos oferece num dos corações lisboetas, o Largo do Calhariz, num palácio oitocentista onde funciona a Biblioteca Municipal Camões, uma zona  onde outrora floresceu a tipografia Craesbeekiana, e ainda hoje a Livraria Antiquária do Calhariz.

É numa sala ampla, sob um tecto finamente revestido de motivos  vegetalistas em estuque, num entretecimento histórico bem adequado, que encontramos, com curadoria da Eunice Mestre, o conjunto de dezoito pinturas  apresentado pela Fátima sob a ideia constelada de itinerário ou caminho no espírito, e que é tanto seu e da sua família, como o nosso e o das personagens e simbolizações representadas, todas elas manifestando estações no caminho em si: o iter que liga a terra e o céu, os opostos e dualidades, através das escolhas (o y pitagórico presente), actos, devoções, peregrinações, beleza e bem, sacrifício e compaixão, sabedoria e amor e que ela exemplifica ou transmite através filões, veios, seres, símbolos, monumentos e mitos da tradição espiritual portuguesa, e não só já que esta é universalista, e que com muita criatividade e hermenêutica  própria, rasgando as trevas brancas de cada tela virgem, a Fátima convoca, avatariza e povoa segundo associações, ritmos e intencionalidades que no seu processo criativo se tornam manifestações interactivas tanto do seu subconsciente como da grande alma portuguesa e anima mundi a que tem acesso, resultando numa unidade da pluridimensionalidade do espaço e tempo, das perspectivas e épocas históricos, com o colorido, o dinamismo e a alegria que caracterizam o seu estilo de pintura.

 

A Fátima, com o autor do texto, evocando-invocando.

 Gerada toda a sua obra por uma grande sensibilidade e vigor, e em que história e religião, afectividade e devoção,  memória e conhecimento são alquimizados e reactualizados pelo seu espírito criativo, Santo, espontâneo, poético, tal como o caracterizava Agostinho da Silva, e que enraizando-o em D. Dinis, Isabel e os franciscanos espirituais e fioristas, muito o tentou explicar e partilhar nas suas conversas, cartinhas e teorizações, confiando numa vindoura Era fraterna e plena,   coroada pelas festas do Espírito Santo, com o culto do Menino como Imperador do Mundo,  a Fátima em alguns das pinturas desta exposição  assume mais tal tradição, com o Menino Jesus, ou o menino poeta, inocente ou criativo, representado e abençoando o mundo. São, portanto, pinturas do culto do Espírito Santo, dinamizadoras de quem as souber contemplar e acolher,  fermentos de esperançosas utopias, tão necessárias na nossa época de tanta normatização e controle, egoísmo e conflito.

Embora a exposição seja um conjunto de pinturas, sentido por quem entra na harmoniosa sala como um todo belo (um microcosmos), diluído  pelo chão antigo de madeira castanha, as paredes de uma pureza grande rasgadas pelas amplas janelas e o maravilhoso tecto estucado vegetalista, sem dúvida que é cada quadro que vai cumprir melhor ou pior a sua função de representar, de transmitir, de despertar o espírito no caminho, Iter in spiritu, o que a Fátima fez cuidadosamente e tanto subconsciente como eruditamente, com muito génio. 


 Se a intencionalidade da mensagem dela ou mesmo da pintura ou coisa em si é compreendida ou não, se o caminho espiritual que contemplamos é apenas histórico, estético, exterior ou se ressoa em partes internas nossas e nos impulsione nesta ou naquela energia, sentimento, direcção  ou consciencialização só cada um por si mesmo poderá realizar e discernir, e em especial contemplando e sentindo melhor ou mais demoradamente as obras e seus ícones. 

O conteúdo e os elementos de cada composição são em geral identificáveis (com maior ou menor dificuldade...), e expiram ou partilham a nossa tradição, desde os tempos pré-históricos, com os cultos misteriosos à volta dos menhires e cromelechs, aos medievais, com o amor até ao fim do mundo de Inês e Pedro, e o culto do Espírito santo, do menino imperador do mundo.  

                                

Encontramos também o culto do coração espiritual , como imagem piedosa, como emblemata, como local de teofania divina ou de confluência das correntes  entre os que se amam, ou que ligam o Céu e a Terra, a Humanidade e a Divindade; a abertura, harmonia e culto aos quatro elementos da Natureza; o culto dos antepassados, da família e da continuidade da fecundidade das três Mães; e a comunhão oceânica ou marítima, e em que nos Descobrimentos fomos os iniciadores e os artesãos mais esforçados (certamente com limitações e erros), da união do Ocidente e Oriente, e o Egito, a China, o Japão e a Índia  afloram em alguns quadros.

Mencionemos ainda o culto dos mensageiros, das aves, dos daimons, mercúrios, anjos e deusas que povoam bastante o imaginário anímico e pictórico tanto da história humana como da Fátima, e para bem nosso, pois face à virtualização digital crescente da percepção do mundo e da comunicação, mais do que nunca nos compete trabalhar para não esquecer que tanto somos corpos com mãos que pintam, escrevem, leem, trabalham, ajudam e abençoam, e elas estão muito presentes na exposição, como também espíritos no caminho da Vida eterna e que os Anjos, como os santos e santas, os guias, antepassados e mestres, ou as diferentes Faces Divinas (ishta devata, na Índia), são ajudantes e intermediários para a sintonização e manifestação do Espírito, do Bem, da Verdade e da Divindade e para uma melhor Humanidade.

O que é que cada pessoa valorizará mais no caminho para o Espírito ou já no Espírito, qual é a pintura ou os elementos nela que mais o tocam ou encantam, caberá a cada um de nós considerar, sentir, intuir; e talvez assim, para aprofundar melhor a qualidade icónica espiritual, adquira algum quadro, ou apenas o contemple suficientemente, para o ter de cor no coração e ser assim um psico-morfismo vivo e dinamizante no seu caminho no Espírito, luminoso, santo, beatífico como todos aspiramos e potencialmente merecemos e que a Arte tanto estimula, pois como o mestre russo Nicholai Roerich disse, “através da Beleza oramos, através da Beleza unimo-nos!”.

 Lisboa, Pedro Teixeira da Mota. 5 Setembro 2024.